Herbicidas residuais: como escolher o mais indicado
Sumário
Herbicidas residuais: sorção, dessorção e tempo de meia-vida de herbicidas residuais.
Em texto anterior já vimos a importância da escolha do herbicida utilizado na sucessão soja-milho para não haver problemas com carryover.
No artigo de hoje você vai entender como as características físico-químicas dos herbicidas tem a ver com o residual do produto e como escolher o mais indicado.
Primeiro, vamos entender a importância de utilizar um herbicida residual. Boa leitura!
Importância dos herbicidas residuais
O residual de um herbicida no solo pode ser curto ou longo.
Um herbicida com residual prolongado vai controlar por mais tempo o fluxo de germinação e emergência das plantas daninhas. Quando o propágulo (sementes, bulbo, tubérculo…) da planta daninha começa a germinação, ele também irá absorver o herbicida da solução do solo.
Por isso, na hora da escolha do herbicida é importante avaliar se o residual irá cobrir todo o período crítico de prevenção à interferência (PCPI), para que não haja plantas daninhas competindo com a cultura durante esse intervalo de tempo.
Após o PCPI, a cultura, por meio do fechamento das entrelinhas, consegue controlar a maior parte das plantas daninhas, pois a luz não consegue atingir o solo.
O herbicida aplicado no solo não estará todo na solução do solo e nem todo retido (adsorvido) aos coloides do solo, ele estará no processo de sorção e dessorção.
Esse processo de sorção e dessorção, como podemos ver é reversível, ficando parte das moléculas presa ao solo e parte disponível para as raízes das plantas absorverem.
Alguns herbicidas, como glyphosate e diquat, formam uma ligação muito forte com o solo, e por isso formam o que chamamos de resíduo ligado. Nesse caso o herbicida é inativado e não terá efeito no controle de plantas daninhas em pré-emergência.
Para alguns herbicidas, o residual é tão curto que não terá efeito em pré-emergência, como é o caso da maioria dos graminicidas e auxínicos (exceção ao picloram, que tem residual longo).
Na dessecação pré-semeadura da soja, por exemplo, usamos o herbicida 2,4-D e, depois é preciso esperar um intervalo em torno de 15 dias para o plantio, para que ocorra a degradação do produto que entrou em contato com o solo.
Vamos entender mais sobre os processos de sorção do herbicida no solo:
Retenção do herbicida no solo
Após a pulverização de um herbicida, ele poderá ser:
- Absorvido pelas plantas;
- Retido no solo;
- Sofrer deriva;
- Ser degradado.
A retenção é a habilidade do solo de reter um herbicida. Já, o processo de retenção é um processo geral de sorção do herbicida no solo e refere-se à absorção, precipitação e adsorção do herbicida ao solo.
O herbicida quando aplicado pode ser absorvido pelas plantas daninhas e/ou cultura, pode ser degradado ou ficar retido no solo. A absorção pode ocorrer pelas raízes, folhas ou raízes e folhas, a depender do ingrediente ativo.
Herbicidas pós-emergentes como glyphosate, diquat, glufosinate, haloxyfop, clethodim, entre outros, são absorvidos apenas pelas folhas das plantas daninhas.
A degradação do herbicida pode ocorrer de física, química ou biológica. A principal via de degradação dos herbicidas é a biológica por meio dos microrganismos do solo.
A luz também pode influenciar no processo de degradação, o que não é ideal para herbicidas aplicados sob a palha.
O processo de adsorção do herbicida acaba sendo determinado pelo desaparecimento do herbicida da solução do solo. Como é difícil saber por qual ou quais processos isso está acontecendo, acabamos usando o termo sorção. Vamos ver agora como são classificados os herbicidas de acordo com a sorção.
Classificação do herbicida quanto a sorção
Os herbicidas podem ser classificados de acordo com suas estimativas de sorção. Um herbicida que tenha uma maior sorção com o solo, provavelmente terá um maior efeito residual.
A tabela abaixo mostra a classificação dos herbicidas de acordo com o coeficiente de sorção padronizado para carbono orgânico (Koc).
O Koc leva em consideração no cálculo a fração orgânica do solo, por isso, é mais utilizado do que o Kd (coeficiente de sorção).
O Kd é estimado em laboratório através da divisão da concentração de herbicida no solo pela concentração de herbicida em água.
No solo o herbicida está em constante processo de sorção e dessorção. A parte das moléculas que está na solução do solo, ou seja, que sofreu o processo de dessorção, é a parte que estará disponível para as plantas absorverem.
Assim, quanto maior a estimativa de sorção do herbicida, ou seja, Kd ou Koc, maior a sua sorção com o solo e menos produto disponível na solução do solo.
A tabela abaixo tem exemplos de herbicidas e seus coeficientes de sorção.
Fonte: Guia de Herbicidas (2018) e PPDB (Pesticide Properties DataBase).
A sorção de herbicidas ao solo aumenta com:
- incremento da CTC (capacidade de troca catiônica);
- área superficial específica das partículas coloidais da fração argila;
- teores de carbono orgânico do solo.
O valor de Koc do herbicida, associado à CTC efetiva, teor de matéria orgânica do solo e textura determinam a dose recomendada do herbicida.
É só vermos que na bula, um herbicida pré-emergente terá uma dose maior em solos argilosos e menor em solos arenosos. Isso, porque, em solos arenosos, é mais fácil ocorrer a lixiviação do produto, inclusive sendo fator limitante para recomendação de acordo com a textura.
Já, solos argilosos terão maior retenção, precisando de doses maiores. Porém, não é só o Koc e o Kd que vão influenciar o residual do herbicida no solo.
Vamos entender agora qual a relação do tempo de meia-vida do herbicida com o residual e qual o mais indicado.
Tempo de meia-vida e herbicida residual: qual o mais indicado
O tempo de meia-vida do herbicida também é uma característica físico-química, e irá influenciar no residual do produto. Quanto maior for o tempo de meia-vida do herbicida maior será seu residual.
O tempo de meia-vida é o tempo necessário para que ocorra a dissipação de 50% da quantidade inicial do herbicida aplicado.
A tabela abaixo mostra a classificação dos herbicidas quanto a sua persistência de acordo com o tempo de meia–vida (t1/2).
Quando usamos um herbicida residual com alto tempo de meia-vida, é preciso analisar se a cultura em sucessão também é tolerante ao produto.
Um exemplo de herbicida com residual longo é o tebuthiuron. O tebuthiuron é um herbicida Inibidor do Fotossistema II, cujo tempo de meia-vida é de 12 a 15 meses e seu Koc é de 80 mg/L. É um herbicida que pelo Koc é possível visualizar que tem média mobilidade no solo. Já o tempo de meia-vida é alto, o que deve ser levado em consideração na escolha do produto.
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O tebuthiuron é um herbicida utilizado em cana-de-açúcar e que não deve ser utilizado em áreas que será feita a reforma do canavial com outra cultura.
O intervalo entre a aplicação do tebuthiuron e o plantio de uma cultura sensível a ele é de dois anos.
Outro exemplo de herbicida com residual elevado é o sulfentrazone, quando utilizado em determinada cultura deve-se esperar 18 meses para o plantio de culturas sensíveis, como o algodão.
A tabela abaixo traz exemplos de herbicidas e seus tempos de meia-vida.
Fonte: Guia de Herbicidas (2018) e PPDB (Pesticide Properties DataBase).
Conclusão
O uso de herbicidas residuais é muito importante para controlar os fluxos de germinação e emergência de plantas daninhas.
Os herbicidas pré-emergentes residuais ajudam a prevenir e a manejar plantas daninhas resistentes. As características físico-químicas dos herbicidas, como Koc, Kd e t1/2, influenciam no residual do produto.
Sobre o Autor
Ana Lígia Giraldeli
Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.
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