Herbicidas inibidores do Fotossistema I (FSI): quem são e quais plantas controlam?

Herbicidas inibidores da FSI: quem são, quais plantas controlam, seletividade, fitotoxicidade e casos de resistência.

No texto anterior você aprendeu sobre os herbicidas inibidores do Fotossistema II (FSII).

Hoje você vai ver os herbicidas inibidores do FSI.

Vamos começar vendo quais são estes produtos.

Quem são os herbicidas inibidores do FSI?

Os herbicidas desse mecanismo de ação inibem o fotossistema I.

Os produtos desse mecanismo de ação pertencem a um grupo químico: Bipiridílios.

Na tabela abaixo você pode ver todos os ingredientes ativos desse mecanismo de ação registrados no mundo.

Os herbicidas inibidores do FSI estão nos grupos D da classificação do HRAC (Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas) e no grupo 22 na WSSA (Weed Science Society of America). No Brasil, o único herbicida registrado é o diquat. 

Agora que você já viu quais são os ingredientes ativos inibidores do FSI, vamos ver quais são as características gerais desse mecanismo de ação.

Características gerais dos herbicidas inibidores do FSI

Os herbicidas desse mecanismo de ação possuem algumas características em comum. São herbicidas aplicados em pós-emergência, ou seja, o alvo são as folhas das plantas. Absorvidos pelas folhas e não translocam dentro da planta, sendo classificados como herbicidas de contato.

A absorção ocorre pelas folhas e não tem ação no solo, por isso não são utilizados como pré-emergentes. Por serem produtos de contato, não conseguem controlar plantas daninhas perenes, pois o produto não chega nas raízes, rizomas, bulbos e tubérculos.

Os herbicidas desse mecanismo de ação são derivados da amônia quaternária (diquat). São herbicidas muito utilizados na dessecação pré-semeadura, no plantio direto, em jato dirigido as entrelinhas e, também, como dessecantes na pré-colheita.

São cátions fortes (base forte), por isso quando chegam ao solo ficam sorvidos e inativados. A absorção pelas folhas é rápida, por isso se ocorrer chuva 30 minutos após a aplicação não vai afetar a ação do produto.

A ação destes herbicidas é tão rápida que impede que eles transloquem, sendo que essa ação é mais rápida na presença de luz.

Mecanismo e modo de ação dos herbicidas inibidores do FSI

Os herbicidas inibidores do FSI são aceptores de elétrons. Isso significa que eles conseguem desviar o fluxo de elétrons da fotossíntese. Com isso, formam radicais livres que sofrem auto-oxidação, nesse processo ocorre a formação de radicais de ânions superóxidos que formam peróxido de hidrogênio. 

O peróxido de hidrogênio e os superóxidos reagem com magnésio e produzem radicais hidroxil, estes vão degradar rapidamente as membranas, o que chamamos de peroxidação de lipídios.

A peroxidação de lipídios causa o vazamento do conteúdo da célula e a morte do tecido.

Desvio do fluxo de elétrons por herbicidas inibidores do FSI. Fonte: Taiz e Zeiger (2017).

Seletividade dos herbicidas inibidores do FSI

Os herbicidas inibidores do FSII são classificados como não-seletivos. Por isso, quando entram em contato com as folhas da cultura causam injúrias que podem levar a morte.

A seletividade destes herbicidas só vai acontecer quando forem aplicados em jato dirigido às entrelinhas da cultura. Também são seletivos quando aplicados antes da semeadura da cultura nas dessecações pré-semeaduras.

Como identificar os sintomas de injúrias nas plantas?

Os sintomas de injúrias nas plantas suscetíveis são: murcha severa seguida de necrose.

Estes sintomas podem ser vistos algumas horas após a aplicação destes herbicidas, principalmente quando há intensa luminosidade.

Na figura abaixo é possível observar os sintomas pontuais do diquat nas folhas da soja. Por ser um herbicida de contato, as injúrias são pontuais, ou seja, os sintomas são vistos no ponto onde a gota de pulverização atingiu a folha.

Sintomas de diquat nas folhas de soja. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Controle de plantas daninhas e registro para as culturas

O diquat, herbicida registrado no Brasil, tem amplo espectro de controle. Isso significa que ele controla plantas daninhas mono e eudicotiledôneas (folhas estreitas e largas). Entretanto, por ser um produto que não transloca sua ação será mais eficaz em plantas pequenas.

Por isso, ele é muito utilizado na dessecação pré-semeadura na segunda aplicação do manejo sequencial. Na primeira aplicação na dessecação pré-semeadura aplica-se herbicidas sistêmicos como o glyphosate + auxínico ou glyphosate + graminicida.

Já, na segunda aplicação, para finalizar a dessecação podemos usar o diquat. O diquat também é muito utilizado no controle de plantas daninhas em jato dirigido as entrelinhas do café e citros.

Também é usado para dessecação das culturas de soja, feijão e batata. A dessecação de culturas tem como objetivos antecipar a colheita, uniformizar a colheita e controlar os escapes de plantas daninhas.

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Carryover: residual de herbicidas

Não há problemas com residual de diquat, já que é um produto que fica inativado no solo, sem ação em pré-emergência.

Plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores do FSI

No mundo há 32 relatos de espécies de plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores do fotossistema I.

A tabela abaixo mostra os casos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores do FSI no Brasil.

Fonte: Heap, I. The International Herbicide-Resistant Weed Database.

Em relação ao diquat há dez casos de espécies resistentes no mundo, nenhum deles ocorre no Brasil. 

Porém, como é possível ver na tabela abaixo, os casos relatados no mundo são de resistência cruzada, ou seja, as espécies são resistentes ao paraquat e ao diquat.

Como no Brasil houve os relatos de resistência ao paraquat, é preciso ficarmos atentos ao diquat também.

Fonte: Heap, I. The International Herbicide-Resistant Weed Database.

Conclusão

Os herbicidas inibidores do FSI são não-seletivos, de contato e de amplo espectro de controle.

O diquat é o único com registro no Brasil. Produtos absorvidos pelas folhas, com ação pós-emergente. São bases fortes, não tendo ação como herbicidas pré-emergentes.

Há casos de resistência simples e múltipla no Brasil e, simples e cruzada (diquat e paraquat) em outros países do mundo.

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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