Desafios da safrinha 2024

Plantação na fazenda de segunda safra ou safrinha

As especificidades da segunda safra nas áreas produtoras brasileiras e os principais desafios do produtor em um ano com alta influência climática e com incertezas de mercado.

O calendário agrícola brasileiro é bastante dinâmico devido às diferentes condições ao longo do território. A distribuição de culturas tem se alterado de acordo com a evolução das técnicas de manejo e de variedades mais adaptadas por meio do melhoramento genético.

Em boa parte do território nacional a prática mais comum é do plantio da soja na primeira safra, entre outubro e dezembro, com colheita entre fevereiro e abril. Também há, é claro, áreas que optam pela primeira safra com milho, algodão e arroz, dependendo da região geográfica.

A sequência do calendário agrícola, entretanto, é, normalmente, mais dinâmica, com mais opções de plantio de segunda safra. Essa decisão é baseada, principalmente, nas condições climáticas, na evolução da primeira safra, na capacidade de investimento do produtor e nos preços de mercado.

Nesse artigo, falaremos sobre o panorama da segunda safra brasileira, as principais culturas empregadas em 2024 e as especificidades e desafios para o manejo da segunda safra.

O que é a safrinha ou segunda safra?

A safrinha é o cultivo que acontece após a primeira safra. Na maior parte do território brasileiro, a primeira safra, chamada safra de verão, consiste dos cultivos plantados entre outubro e dezembro. Após a colheita dessa primeira safra, há ainda condições para o desenvolvimento de mais uma cultura no campo, a chamada safrinha.

O nome safrinha vem do fato de que a produção da segunda safra era muito menor que da primeira safra. Porém, isso vem se alterando. Hoje, para o milho, por exemplo, a segunda safra é tão produtiva quanto ou mais produtiva que a primeira safra. Por isso, a nomenclatura vem se alterando de safrinha para segunda safra.

Gráfico demonstrando série histórica de áreas de milho em primeira e segunda safra no Brasil.

Série histórica de áreas de milho em primeira e segunda safra no Brasil (Fonte: CONAB)

A evolução da segunda safra se deve a diversos avanços como:

  • Melhoramento genético de variedades adaptadas ao clima e com tolerância a doenças;
  • Evolução dos maquinários agrícolas que agilizam o plantio e colheita;
  • Desenvolvimento de variedades de ciclo mais curto;
  • Uso de sistemas de irrigação;
  • Conhecimento técnico dos profissionais agrícolas;
  • Mapeamento de condições climáticas;
  • Gestão agrícola.

O que é plantado na segunda safra?

A segunda safra se confunde com a safrinha do milho, pois esta é a cultura de maior representatividade na segunda safra. Grande parte do território nacional tem como praxe o plantio de soja na primeira safra, seguido de milho na segunda safra.

Porém, há outras culturas de importância na segunda safra que variam a cada temporada, com a região do país e com a previsão climática e de preços. Abaixo detalhamos as principais culturas de segunda safra no Brasil:

  • Milho: responde pela maior parte da área de segunda safra no Brasil, sendo que atualmente tem alto potencial produtivo, mesmo em segunda safra. Em 2023/24, a segunda safra responde por 80% da área total de milho;
  • Sorgo: é uma alternativa interessante ao milho na região central do país por ainda poder ser semeado de maneira mais tardia. Seu uso para alimentação animal e biocombustíveis aumenta o apelo pelo seu uso em segunda safra;
  • Algodão: a entrada do algodão em segunda safra, após a soja, tem sido bastante comum, principalmente no Mato Grosso e em partes das regiões Norte e Nordeste. A cultura tem se destacado na substituição ao milho pelos melhores preços de venda atuais;
  • Trigo: historicamente, o trigo é uma opção de segunda safra na região Sul do país, principalmente no Paraná, apesar de estar em desvantagem em comparação ao milho, nesta safra. O adiantamento da colheita da soja no estado, favoreceu a entrada do milho, além do fato de que a rentabilidade também não tem sido favorável ao trigo. No entanto, a segunda safra de milho tem crescido em outras áreas do Sudeste e Centro-Oeste;
  • Feijão: o feijão é feito em 3 safras no Brasil, sendo que a segunda safra responde por 50% do total. Normalmente a segunda safra ainda é possível em condições de sequeiro;
  • Amendoim: na região Sudeste, alguns produtores fazem a segunda safra com a cultura do amendoim, apesar da grande maioria da cultura ser plantada em primeira safra;
  • Arroz: apesar de não ser tão comum, alguns produtores têm investido no arroz em segunda safra, em substituição ao milho;

Demais culturas: milheto, gergelim, girassol e outros cereais de inverno (aveia, canola, centeio, cevada e triticale) também aparecem como opções viáveis para a segunda safra.

Panorama da segunda safra brasileira

Segundo o acompanhamento de safras da CONAB, a área total plantada no Brasil, na safra 2023/24, incluindo safra e safrinha, em culturas de grãos, deve atingir cerca de 78,1 milhões de hectares. Desse total, 20,4 milhões de ha serão de milho, com grande predominância da segunda safra, com 15,8 milhões de ha.

Mesmo assim, essa área é cerca de 8% menor que a da segunda safra de 2022/2023, que atingiu 17,2 milhões de ha. Essa redução na área de milho se deve, principalmente, ao atraso do plantio, e consequentemente colheita, da soja, o que expõe a safrinha do milho a maiores riscos climáticos, podendo ocasionar redução ou quebra de produção.

Além da diminuição da área, há estimativa de redução de cerca de 7% na produtividade de milho safrinha em 2023/24, em comparação com o ano anterior.

Em termos de plantio, até o final de março do ano corrente, mais de 90% das áreas já estão semeadas, considerando as principais regiões produtoras do país.

Tabela de dados da CONAB demonstrando a semeadura do milho segunda safra no Brasil

Semeadura do milho segunda safra no Brasil (Fonte: CONAB)

Quais os desafios da segunda safra em 2024?

A safra 2023/24 tem sido marcada por alterações substanciais em comparação às safras anteriores. Isso se deve principalmente aos preços de venda das commodities agrícolas e dos fenômenos climáticos.

Dessa forma, a segunda safra tem se tornado ainda mais desafiadora do que normalmente já é. Abaixo citamos alguns pontos de importância:

Atraso no plantio e colheita da soja no Centro-Oeste:

Houve grande atraso no plantio da soja por falta de chuvas, o que causa um atraso na entrada do milho de segunda safra. Apesar do encurtamento do ciclo da soja por temperaturas mais elevadas amenizar esse problema, isso desmotivou alguns produtores a utilizar o milho em segunda safra, sendo substituído pelo algodão.

O fenômeno do El Niño:

A volta do fenômeno El Niño alterou as condições climáticas com relação às últimas safras. Ele foi o causador das baixas pluviosidades no Centro-Oeste e do excesso de chuvas no Sul. Além do impacto na safra da soja, pode haver restrição hídrica ao final da safrinha no Centro-Oeste. Por outro lado, a chegada do fenômeno La Niña pode causar baixas temperaturas no Sul, potencializando a ocorrência de geadas ao final da safrinha.

Os preços de venda de milho:

 Apesar de certa recuperação de preços no final de 2023, os preços de venda do milho no mercado futuro não são muito favoráveis, em combinação à maior oferta de milho nos Estados Unidos.

Capacidade de investimento:

A redução dos preços do milho, e também da soja, têm impactado significativamente a capacidade de investimento do produtor. Soma-se a isso o costume dos produtores de reduzir investimento na segunda safra, o que leva a um nível tecnológico mais baixo da produção.

A incidência de pragas e doenças:

O plantio tardio pode impactar na incidência de pragas e doenças na cultura do milho. A diminuição do plantio do milho safra tem reduzido as fontes de inóculos para a safrinha, mesmo assim, as doenças de solo e a incidência do complexo do enfezamento tem causado grande impacto na safrinha. Especificamente nesta safra, as temperaturas mais altas na safrinha devido ao El Niño, favorecem a proliferação da cigarrinha e de outras doenças.

Pontos importantes de manejo na segunda safra

O assistente técnico agrícola responsável pela assistência técnica, definição de manejo e recomendação de produtos agrícolas aos produtores, deve se atentar aos desafios específicos da safrinha.

Há diferenças claras entre o manejo das culturas de safra e safrinha. Especificamente para o milho, a precocidade do ciclo, os inóculos de pragas e doenças da safra e as condições climáticas, geram um panorama completamente diferente.

Outro ponto de grande importância é o nível de investimento que o produtor dedica a essa cultura, uma vez que as variações dos preços das commodities no mercado e dos insumos agrícolas alteram a previsão de custo. Normalmente, ainda é prática da maioria dos produtores utilizar maior aporte financeiro na cultura de primeira safra, principalmente a soja.

Isso faz com que a recomendação de produtos tenha que ser ainda mais assertiva, sem espaço para qualquer ineficiência no manejo da cultura de segunda safra. A AgroReceita oferece serviços que auxiliam o técnico de campo na recomendação de defensivos e no monitoramento do clima, por exemplo. 

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É crucial que o técnico tenha em mente que uma lavoura bem implantada e com rápido desenvolvimento inicial, tem maiores chances de enfrentar os estresses bióticos e abióticos, e permitir alta produtividade, mesmo nas condições desafiadoras da safrinha.

Conclusão

A segunda safra é uma realidade da agricultura brasileira que permite maior renda ao produtor. Cada vez mais ela assume papel de destaque, tanto em área, produtividade e investimento.

Porém, a produção em segunda safra tem uma série de desafios que devem ser cuidadosamente avaliados, permitindo que a atividade apresente rentabilidade econômica para o produtor.

O sucesso da segunda safra depende do bom planejamento da safra como um todo e de um manejo de alta eficiência, recomendado ao agricultor pelos assistentes técnicos de campo.

A lição que deve ser levada para o milho safrinha, mais até do que para o milho safra, é: “se for plantar, faça o serviço de base da lavoura bem-feito”.

Sobre o Autor:

João Paulo Pennacchi

João Paulo Pennacchi

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e Doutor em Fisiologia de Plantas pela Lancaster University.

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