A eficácia dos herbicidas pré-emergentes após períodos de seca
Sumário
Os herbicidas pré-emergentes são aqueles produtos utilizados em pré-emergência da planta daninha e/ou cultura, antes que elas emerjam no solo. O foco destes produtos é agir no banco de propágulos do solo (sementes, bulbos, tubérculos, rizomas etc.).
Mas nem sempre é fácil escolher qual herbicida vamos usar, não é mesmo? Isso porque os herbicidas pré-emergentes são produtos mais técnicos, que exigem conhecimento sobre a dinâmica do produto no solo.
Nesse artigo vamos ver quais as características que temos que conhecer para a escolha mais assertiva de produtos pré-emergentes e como os períodos de seca interferem na sua eficácia. Aproveite a leitura!
Fatores que interferem na escolha do herbicida pré-emergente
Podemos separar em três grupos os fatores que afetam a eficácia dos herbicidas pré-emergentes:
- Características do solo: textura do solo, teor de matéria orgânica do solo, pH, relevo, teor de água e microrganismos;
- Características do herbicida: solubilidade em água (Sw), tempo de meia-vida (t1/2), pressão de vapor (PV), coeficiente de partição octanol-água (Kow), capacidade de dissociação eletrolítica (pKa) e coeficientes de sorção (Kd e Koc);
- Condições ambientais: temperatura, pluviosidade, luminosidade, umidade relativa do ar e vento.
Para um herbicida pré-emergente o teor de água no solo é muito importante, pois a água é responsável pela ativação do produto no solo.
Um herbicida só consegue ser absorvido se ele estiver na solução do solo e, para isso, é necessário que tenha umidade adequada. Por isso, períodos de seca prolongados podem afetar a ação destes produtos.
Portanto, a escolha de qual herbicida utilizar em condições de seca prolongada deve ser baseada também na solubilidade do produto em água.
Vamos entender como a solubilidade do herbicida em água é um fator muito importante na escolha do produto para ser aplicado em condições de seca.
Solubilidade do herbicida em água (S ou Sw)
A solubilidade em água é uma característica físico-química dos produtos. Quanto maior a solubilidade em água do herbicida, menos água é necessária para a sua ativação no solo. Já quanto menor a solubilidade, mais água é preciso para que o herbicida tenha sua ação.
As categorias de solubilidade são separadas em:
Herbicidas como o Diclosulam, Indaziflam e Isoxaflutole possuem muito baixa solubilidade e o Flumetsulam e o Imazapyr são extremamente solúveis em água. Já, produtos como o Flumiclorac, Flumioxazin, Pendimethalin e Trifluralin são insolúveis em água.
Fonte: Pesticide Properties DataBase.
Além da solubilidade em água, outros fatores interferem na escolha do herbicida e agora vamos te mostrar o que deve ser considerado nessa escolha.
Como escolher o herbicida pré-emergente?
A escolha de herbicidas para o controle de plantas daninhas depende de quatro pontos importantes:
- Identificação correta das espécies de plantas daninhas presentes na área;
- Época de aplicação do herbicida;
- Características físico-químicas do herbicida;
- Uso da dosagem correta.
As épocas de aplicação levam em conta as condições ambientais da região onde será aplicado o produto. Por isso, é importante que você saiba quais a condições climáticas no mês de aplicação, como o histórico de chuvas, por exemplo:
Conhecendo o regime de chuvas da região você poderá escolher o herbicida mais apropriado. Por exemplo, se for uma época de seca, o ideal é escolher herbicidas com extremamente alta solubilidade em água (> 5.000 ppm).
Isso porque uma menor quantidade de água no solo será suficiente para ativar o produto e garantir sua eficácia no controle de plantas daninhas.
Se for uma época de muita chuva, a escolha poderá ser feita entre herbicidas insolúveis até alta solubilidade (Sw < 151 ppm).
Produtos com solubilidade acima disso poderão sofrer lixiviação, o que pode causar contaminação ambiental, além da perda de eficácia do produto.
Se o herbicida lixivia para baixo da camada de 0 a 10 cm no perfil do solo, ele não estará em contato com a região do banco de sementes com mais propágulos de plantas daninhas.
Agora, se você estiver em uma época de transição, pode optar por herbicidas de alta (> 500 ppm) a muito alta solubilidade em água.
Categoria de solubilidade de substâncias e sua interpretação (sugestiva) para aplicabilidade aos herbicidas. Fonte: Boletim técnico, 229, IAC, 2021.
Veja, portanto, que a solubilidade do herbicida está relacionada com o seu posicionamento no solo.
Como períodos prolongados de seca afetam a eficácia dos herbicidas?
Períodos de seca prolongados afetam tanto os herbicidas pré como os pós-emergentes. Em pós-emergência, não é recomendado aplicar um herbicida sobre uma planta daninha que está passando por um período de seca prolongado.
Plantas daninhas passando por um período de seca (estresse) vão absorver menor quantidade de herbicida, translocar menos produtos dentro da planta, o que reduz a eficácia de controle.
A absorção do produto é dificultada nessas situações, pois plantas daninhas sob estresse hídrico podem produzir maior quantidade de cera e espessar a epiderme, o que reduz a absorção de herbicida.
Para aplicações em pré-emergência já vimos que a água é um fator essencial para ativar o herbicida. Assim, produtos que serão aplicados em períodos de seca precisam ser mais solúveis em água, não serem fotodegradáveis e não podem ser voláteis, pois assim eles permaneceram no solo até as primeiras chuvas ou irrigação.
Períodos de seca prolongada no campo vão sempre acontecer, e temos que escolher qual a melhor opção de herbicida para controlar o fluxo de emergência de plantas daninhas.
Situações assim acontecem por exemplo em cana-de-açúcar, onde há aplicações em períodos de seca, em épocas de entressafra, após a colheita do milho safrinha e culturas de inverno.
Herbicidas aplicados em época seca devem apresentar:
- Alta solubilidade em água;
- Fraca ou moderada adsorção ao solo.
Com estas características, mesmo com baixa umidade no solo, parte do produto sofrerá o processo de dessorção e ficará disponível na solução do solo para ser absorvido.
Em cana-de-açúcar, por exemplo, alguns dos herbicidas mais utilizados em época seca são: Tebuthiuron, Sulfentrazone, Imazapic, Amicarbazone, Hexazinone, Isoxaflutole e Clomazone + Hexazinone.
No geral, herbicidas pré-emergentes vão precisar de uma chuva de ao menos 20 mm para serem ativados no solo (alguns podem precisar de mais), e o tempo entre a aplicação e a chuva é um fator que acaba afetando a eficácia do herbicida.
Por isso, estes produtos precisam conseguir ficar no solo até as primeiras chuvas, e para isso as características de alta solubilidade em água, baixo coeficiente octanol-água (Kow), fraca a moderada adsorção ao solo (Koc, Kd), baixa pressão de vapor (não volátil) e não ser fotodegradável são essenciais.
Características do solo que influenciam na escolha do herbicida pré-emergente
Além da solubilidade em água, outras características físico-químicas como a textura e teor de matéria orgânicas são muito importantes e podem influenciar na escolha do herbicida e da sua dosagem.
Em solos com maior teor de argila e matéria orgânica as doses são maiores, pois mais produto ficará retido no solo.
Já, em solos arenosos, as doses são menores, tanto que dependendo do herbicida pode ser que não haja a recomendação, pois pode ter problema com lixiviação, uma vez que menos produto ficará retido no solo.
A presença de palha também afeta a eficácia do herbicida pré-emergente, pois é uma barreira física que o produto tem que atravessar para chegar no solo. Nesses casos é importante optar por herbicidas mais solúveis em água, com baixo coeficiente octanol-água (baixa lipofilicidade, mais hidrofílicos), que não sejam voláteis e não foto degradem.
Na presença de palha, a chuva é importante para fazer com que o herbicida lixivie pela camada de palha e chegue ao solo.
Onde encontrar as características e recomendações dos herbicidas?
Às vezes é bem difícil encontrar informações sobre características físico-químicas dos herbicidas. E para realizar a consulta das bulas desses produtos, você pode contar com o Compêndio de Defensivos Agrícola Online do AgroReceita.
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Conclusões
Herbicidas pré-emergentes precisam de água para serem ativados. A sua eficácia pode ser reduzida em períodos de seca, caso seja escolhido o herbicida errado.
Em condição de seca deve-se priorizar herbicidas de alta solubilidade em água, baixa lipofilicidade, não voláteis e não fotodegradáveis.
Espero que este conteúdo seja útil para você!
Sobre o Autor
Ana Lígia Giraldeli
Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios. Atualmente sou professora da UNIFEOB.
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