5 principais plantas de cobertura para o Brasil
Sumário
Neste artigo, serão apresentadas as principais características das plantas de cobertura, os tipos mais utilizados no Brasil e como elas podem agregar valor ao sistema de produção.
O Sistema de Plantio Direto (SPD) ocupa atualmente cerca de 35 milhões de hectares no Brasil, sendo responsável por transformar a agricultura em uma das atividades mais competitivas do país.
No entanto, para que o SPD funcione adequadamente, é imprescindível que os solos estejam cobertos por culturas ao longo de todo o ano, o que torna as plantas de cobertura elementos indispensáveis.
Essas espécies ajudam a proteger o solo contra processos erosivos e reduzem a dependência de insumos químicos, permitindo economia em fertilizantes e herbicidas. Além disso, estudos apontam que a integração de plantas de cobertura em sistemas agrícolas pode gerar retorno financeiro através do aumento na produtividade das culturas comerciais subsequentes, variando entre 10% e 20%.
No âmbito global, práticas agrícolas que envolvem plantas de cobertura têm atraído investimentos e incentivos, especialmente devido à mitigação de emissões de carbono. Esse interesse reflete-se também no Brasil, onde essas práticas ajudam a conservar a saúde do solo, prolongando sua vida útil e, consequentemente, reduzindo custos futuros com recuperação ou degradação.
O Brasil, com sua diversidade de condições climáticas e de manejo, conta com uma ampla gama de plantas de cobertura adaptáveis a diferentes regiões e culturas. A possibilidade de utilização em consórcios ou como cultivo único permite aos produtores diversificar os sistemas agrícolas de maneira econômica e estratégica. Contudo, para maximizar os resultados, é preciso conhecer bem as espécies, sua época de plantio, o volume de sementes necessário e os ciclos produtivos.
Boa leitura!
O que são plantas de cobertura?
As plantas de cobertura, como o próprio nome sugere, têm a função de proteger o solo, formando uma camada vegetal que reduz os impactos da erosão e ajuda a reter nutrientes.
Além disso, essas plantas são importantes no equilíbrio biológico do solo, favorecendo processos como a ciclagem de nutrientes e contribuindo para a qualidade do ambiente agrícola.
Essas espécies são utilizadas em sistemas de plantio direto, ajudando a manter o solo protegido durante períodos em que não há cultivo de culturas principais.
Sua presença no campo também promove condições que facilitam o manejo do solo, otimizando o uso de recursos naturais e prolongando a vida útil das áreas agrícolas.
Figura 1. Impactos das plantas de cobertura na qualidade do solo. Fonte: Schiebelbein (2024).
Mas, como as plantas de cobertura funcionam no sistema?
Imagine um campo onde, mesmo fora do período de cultivo comercial, o solo está ativo, sendo cuidado e preparado para as próximas safras. É exatamente isso que as plantas de cobertura proporcionam. A partir de agora, vamos entender esses processos.
Durante seu desenvolvimento, suas raízes liberam compostos orgânicos como ácidos, açúcares e aminoácidos, que não só alimentam os microrganismos do solo, mas também influenciam positivamente a comunidade microbiana, ajudando a criar um ambiente mais equilibrado e menos propício ao desenvolvimento de patógenos.
Além disso, a biomassa produzida por essas plantas enriquece o solo com carbono, nutrientes e metabólitos secundários. Esse aporte orgânico impulsiona a atividade microbiana, o que, na prática, melhora as condições químicas, físicas e biológicas do solo. Como resultado, o solo ganha uma condição ideal para o próximo ciclo agrícola.
Por que adotar plantas de cobertura?
Elas são a chave para proteger o solo de impactos erosivos e preparar o campo para maximizar os resultados das culturas comerciais. Durante o intervalo entre uma safra e outra, essas plantas ajudam a manter o solo coberto, evitando perdas e promovendo um ambiente mais saudável para os próximos cultivos.
Principais opções de plantas de cobertura:
- Aveia preta: resistente e adaptável, ideal para retenção de matéria orgânica;
- Milheto: excelente para cobertura de solo em áreas tropicais;
- Nabo forrageiro: ajuda na descompactação de solos;
- Ervilhaca: rica em nitrogênio, uma excelente opção para solos pobres;
- Capim-sudão: contribui com alta produção de biomassa;
- Centeio: muito eficiente para controle de plantas daninhas.
Independentemente da escolha, investir em plantas de cobertura é apostar em um sistema agrícola mais equilibrado, onde o solo se mantém produtivo e protegido em todas as etapas do ano.
Vantagens para o produtor
As plantas de cobertura são soluções acessíveis para problemas recorrentes no campo. Veja como elas contribuem em diferentes aspectos da produção:
1. Prevenção da erosão
Elas atuam como uma “cobertura viva“, protegendo o solo contra o impacto direto da chuva e o escoamento superficial da água.
2. Manejo de temperatura e umidade
Ao formarem uma camada de palha sobre o solo, essas plantas ajudam a reduzir as variações extremas de temperatura e a taxa de evaporação da água.
3. Barreira contra pragas e doenças
As plantas de cobertura ajudam a quebrar o ciclo de pragas e doenças, já que, muitas vezes, não são hospedeiras dos mesmos organismos que atacam as culturas comerciais.
4. Reciclagem e fixação de nutrientes
Espécies como milheto e braquiária possuem alta eficiência na reciclagem de nutrientes, enquanto leguminosas têm a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico.
Plantas de cobertura no manejo de nematoides
O manejo de nematoides em sistemas de plantio direto exige atenção e planejamento. Plantas de cobertura podem ser aliadas importantes, mas sua escolha deve levar em conta o histórico fitossanitário da área.
Por exemplo, em uma lavoura com alta incidência de nematoides, algumas espécies de crotalária são especialmente eficazes no manejo desses organismos:
Crotalaria ochroleuca
Reduz populações do nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis).
Crotalaria juncea
Diminui a infestação do nematoide das galhas (Meloidogyne javanica).
Crotalaria spectabilis
Atua contra o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus).
5 plantas de cobertura de destaque no Brasil
Algumas culturas de cobertura recomendadas para o manejo de solo, são:
1. Brachiaria - Brachiaria ruziziensis
A Brachiaria ruziziensis, uma gramínea perene da família Poaceae, é utilizada como forragem animal e para melhorar a estabilidade do solo. Com metabolismo C4 e porte ereto, adapta-se a solos de média a alta fertilidade e bem drenados, sendo indicada para o bioma Mata Atlântica no Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Além de reduzir a erosão e reter água no solo, destaca-se por sua integração em pastagens com Urochloa brizantha e Urochloa decumbens. Embora apresente menor tolerância a herbicidas, é uma escolha eficaz para sistemas agrícolas e pecuários.
Brachiaria – Brachiaria ruziziensis. Fotos: Larissa Bortolo (2024).
2. Nabo forrageiro - Raphanus sativus
O nabo forrageiro é uma espécie anual da família Brassicaceae, com metabolismo C3, originária da Ásia Ocidental e Europa. Adaptado a climas frios e úmidos, é tolerante à seca e geadas, sendo indicado para cultivo no outono e inverno.
Com raízes pivotantes, descompacta solos densos e explora camadas profundas, enquanto sua alta produção de biomassa contribui para o enriquecimento do solo com matéria orgânica.
Utilizado em adubação verde e na rotação de culturas como soja, milho e trigo, cobre o solo completamente em cerca de 60 dias.
Nabo forrageiro – Raphanus sativus. Fonte: Viviana Meneghini (2024).
3. Milheto - Pennisetum glaucum
O milheto é uma gramínea anual da família Poaceae, com metabolismo C4 e crescimento ereto. Possui um sistema radicular profundo e agressivo, capaz de penetrar em camadas compactadas do solo. Essa característica o torna uma opção valiosa para melhorar a estrutura do solo e contribuir com a ciclagem de nutrientes.
Tolerante ao estresse hídrico, adapta-se bem ao Cerrado brasileiro, mas também é cultivado no Sul do país, tanto para cobertura do solo quanto como forragem.
Sua biomassa é de alta qualidade, apresentando até 24% de proteína bruta, o que o torna útil em sistemas de integração lavoura-pecuária.
Milheto — Pennisetum glaucum.
4. Aveia-preta — Avena strigosa
A aveia-preta, também chamada de aveia-negra ou aveião, é uma gramínea anual da família Poaceae, com metabolismo C3. Originária da Europa, é amplamente cultivada no Brasil, especialmente para cobertura de solo e como forrageira.
Com hábito de crescimento cespitoso e ereto, a aveia-preta pode atingir alturas de 0,8 a 1,2 metros. Seu sistema radicular fasciculado e profundo permite explorar bem o solo, auxiliando na prevenção da erosão e na melhora da sua estrutura.
Adapta-se a temperaturas entre 10 e 20°C, com boa distribuição de chuvas, e é frequentemente cultivada em consórcio com leguminosas como a ervilhaca, que fixa nitrogênio e complementa os benefícios para o solo, criando um sistema equilibrado para proteção e enriquecimento do terreno.
Aveia-preta — Avena strigosa. Fonte: Piraí Sementes (2024).
5. Trevo-branco — Trifolium repens
O trevo-branco é uma leguminosa conhecida por suas raízes rizomatosas, que contribuem para descompactar o solo de forma eficiente. Além disso, possui a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico, enriquecendo o solo de forma natural e aumentando o teor de matéria orgânica.
Para obter melhores resultados com o trevo-branco como cultura de cobertura, é essencial avaliar as condições do solo, o sistema produtivo, o clima da região e a época ideal de semeadura. Essa análise garante que a planta cumpra seu papel no manejo do solo, promovendo melhorias significativas para a agricultura.
Trevo-branco — Trifolium repens. Fonte: Canva Pro (2024).
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Conclusão
As plantas de cobertura são aliadas no manejo agrícola, proporcionando proteção ao solo e promovendo a ciclagem de nutrientes de maneira eficiente. Espécies como Brachiaria ruziziensis, nabo forrageiro, milheto, aveia-preta e trevo-branco se destacam no cenário brasileiro, adaptando-se a diferentes regiões e sistemas produtivos.
Com um manejo bem planejado, essas plantas ajudam a conservar o solo e a prepará-lo para as culturas subsequentes. Escolher as espécies adequadas para cada contexto agrícola é um passo importante para fortalecer a eficiência e a sustentabilidade dos sistemas de produção.
Se tiver dúvidas ou quiser compartilhar suas experiências, deixe um comentário abaixo!
Referências
CÂMARA, G. M. S. Fenologia da soja. In: CÂMARA, G. M. S. (Ed.). Soja: tecnologia da produção. Piracicaba: ESALQ/Departamento de Agricultura 1998. p. 26-39.
CALEGARI, A.; COSTA, M.B.; MONDARDO, A.; WILDNER, L. do P.; ALCÂNTARA, P.B.; MIYASAKA, S.; AMADO, T. ; Adubação Verde no Sul do Brasil. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1993. 2ª edição. p. 346
CALEGARI, A.; DONIZETI CARLOS, J.A.; Recomendações de plantio e informações gerais sobre o uso de espécies para adubação verde no Brasil. In: LIMA FILHO, O. F. de; AMBROSANO, E. J.; ROSSI, F.; CARLOS, J. A. D. (Ed.). Adubação verde e plantas de cobertura no Brasil: fundamentos e prática. Brasília, DF: Embrapa, 2014. v. 2, cap. 27, p. 453-478.
CARVALHO, M. L. et al. Guia prático de plantas de cobertura: aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo. Piracicaba: ESALQ-USP. Disponível em: https://doi.org/10.11606/9786589722151. Acesso em: 19 dez. 2023. , 2024
Sobre o Autor
Alasse Oliveira
Engenheiro Agrônomo, Mestre e Especialista em Produção Vegetal e, Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)
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