Agricultura Regenerativa: práticas sustentáveis para o futuro do agro

Sumário
Entenda o que é agricultura regenerativa, suas principais práticas e como essa abordagem sustentável pode transformar o futuro do agro, recuperando solos, promovendo biodiversidade e aumentando a produtividade com respeito ao meio ambiente.
Em um contexto de crescente pressão sobre os recursos naturais e demanda por sistemas agrícolas mais sustentáveis, a agricultura regenerativa se mostra necessária para o futuro do agro no Brasil.
Um vez que, metade das áreas agrícolas do Brasil adotam o sistema plantio direto, demonstrando compromisso com práticas que preservam o solo e aumentam a resiliência ambiental.
Além disso, 32% do território nacional apresenta características de solo com bom a muito bom potencial agrícola, sinal de que há grande espaço para expansão sustentável, sem a necessidade de desmatar novas áreas.
O incentivo a práticas regenerativas também está sendo impulsionado por programas públicos, como o Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), e uma adoção de tecnologias verdes: mais de 60% dos produtores utilizam bioinsumos para melhorar a saúde do solo.
Ao longo deste artigo, vamos destacar como essas iniciativas, desde o plantio direto ao uso de biofertilizantes e sistemas integrados estão pavimentando uma transformação no campo, conduzindo a uma produção agrícola mais eficiente, resiliente e alinhada com os compromissos climáticos globais.
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Boa leitura!
O que é agricultura regenerativa?
Conceito e origem
Em um cenário de mudanças climáticas, degradação do solo e esgotamento dos recursos naturais, surge uma pergunta: como continuar produzindo alimentos sem comprometer o futuro da terra?

Imagem 1: O que é Agricultura Regenerativa? Fonte: EOS Data Analytics
Bom, a resposta está na agricultura regenerativa, um sistema de produção que vai além da sustentabilidade, propõe restaurar os ecossistemas agrícolas e melhorar a saúde do solo, dos ecossistemas e da biodiversidade local.
Esse modelo entende a terra como um organismo vivo e valoriza as práticas que aumentam a fertilidade natural do solo, a retenção de água, o sequestro de carbono e a resiliência ecológica.
Esse sistema de produção se desenvolveu entre as décadas de 1970 e 1980, como uma resposta à degradação ambiental provocada pela agricultura convencional, dependente de insumos químicos e técnicas destrutivas ao solo e à biodiversidade.
Inspirada por conhecimentos tradicionais, entre eles, a agroecologia, a permacultura e práticas indígenas, a agricultura regenerativa propõe um redesenho do sistema agrícola, onde o foco não é só manter o que existe, mas regenerar o que foi danificado.
Diferença entre agricultura regenerativa, sustentável e orgânica
Além da agricultura regenerativa há outros modelos de produção agrícola com foco na preservação dos recursos naturais e à produção responsável de alimentos, sendo elas a agricultura sustentável e a agricultura orgânica.
Embora compartilhem princípios comuns, como a redução do impacto ambiental e o uso racional dos recursos, essas abordagens apresentam diferenças importantes em seus objetivos, práticas e resultados.
A tabela a seguir mostra as diferenças entre agricultura regenerativa, sustentável e orgânica, destacando seus princípios, práticas, objetivos e impactos no meio ambiente e na sociedade
Diferença entre agricultura regenerativa, sustentável e orgânica
Característica | Agricultura Regenerativa | Agricultura Sustentável | Agricultura Orgânica |
Objetivo central | Restaurar e melhorar os recursos naturais | Manter os recursos naturais ao longo do tempo | Produzir sem insumos químicos sintéticos |
Solo | Revitalização profunda e contínua do solo | Manutenção da fertilidade do solo | Solo saudável, livre de agrotóxicos |
Enfoque ecológico | Alto – promove biodiversidade, água, carbono, vida do solo | Médio – evita degradação, mas pode manter práticas extrativistas leves | Médio – evita químicos, mas nem sempre regenerativo |
Uso de insumos | Mínimo, com foco em processos naturais | Pode usar fertilizantes naturais ou reciclados | Proíbe agrotóxicos e fertilizantes sintéticos |
Relação com o ambiente | Ativa – melhora o ecossistema | Passiva – evita danos | Passiva/ativa – depende das práticas adotadas |
Tabela 1: Diferenças entre as formas de agricultura. Fonte: Gomes (2025)
Quais são as principais práticas da agricultura regenerativa?
1. Plantio direto
Com o plantio direto é possível cultivar sem arar a solo, pois nele as sementes são colocadas em um meio previamente coberto por resíduos vegetais, sem a necessidade de arar, resultando em uma diminuição da erosão, maior retenção de água, proteção da matéria orgânica e um solo mais fértil.

Imagem 2: Comparativo entre sistemas agrícolas. Fonte: LaborGene (2024)
Essa prática reduz o desgaste do solo e promove seu equilíbrio natural. Solos bem manejados são solos vivos, ricos em nutrientes e microorganismos.
2. Rotação de culturas
A rotação de culturas alterna espécies cultivadas em uma mesma área ao longo das safras, como, por exemplo, milho, seguido de feijão, depois uma leguminosa.
Tal prática traz benefícios como, a quebra de ciclos de pragas, reduz a dependência de agrotóxicos, melhora a estrutura do solo e otimiza o uso de nutrientes.
Esquecer a monocultura é o primeiro passo para regenerar, pois diversificar é proteger e, também, produzir mais com menos impacto.
3. Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF)
A natureza não separa floresta, pasto e lavoura e a agricultura regenerativa também não, a ILPF integra essas três frentes produtivas, criando um ambiente sinérgico e eficiente.
As árvores somam-se à pastagem e aos cultivos, oferecendo sombra para os animais, proteção contra ventos e erosão, além de melhorar o microclima e aumentar a produtividade. Esse é um sistema integrado que tem por consequência maior resiliência e rentabilidade.
4. Cobertura do solo e compostagem
O solo nu é um solo vulnerável, por isso, é uma regra de ouro manter a cobertura vegetal viva ou morta. Restos de culturas, palhadas e até plantas daninhas manejadas se transformam em barreiras naturais contra erosão e perda de umidade.
Esse processo, quando unido à compostagem, que aproveita resíduos orgânicos para formar um adubo rico e natural, nutre o solo e reduz a necessidade de fertilizantes sintéticos, é o ciclo natural da fertilidade.
5. Uso mínimo de insumos químicos
Na agricultura regenerativa, menos é mais, dessa forma, o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos é reduzido ao mínimo necessário, priorizando defensivos biológicos, práticas preventivas e manejo integrado de pragas.
O solo saudável é naturalmente mais fértil e menos suscetível a doenças, diminuindo a dependência de produtos caros e poluentes. Isso se traduz em segurança para quem planta, para quem consome e para o meio ambiente.
Tais práticas auxiliam agricultores a transformar seus sistemas produtivos, de forma mais eficiente, reduzindo custos e devolvendo ao solo a vida que dele foi retirada.
Quais os benefícios da agricultura regenerativa?
Além das práticas regenerativas no campo, o acesso a informações técnicas atualizadas é fundamental para apoiar uma produção mais sustentável. Nesse sentido, o Compêndio Agrícola da AgroReceita é uma ferramenta gratuita e de uso ilimitado que permite a consulta fitossanitária de todos os defensivos agrícolas registrados no Brasil.
Ele auxilia técnicos e produtores a escolherem os produtos mais adequados para cada cultura, alvo ou problema, promovendo o uso mais responsável de insumos e reforçando o compromisso com práticas agrícolas de menor impacto ambiental.
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Agricultura regenerativa: os benefícios de um solo mais vivo e produtivo
Como já discutido anteriormente a agricultura regenerativa, diante da exaustão dos modelos convencionais de plantio, apresenta-se como a melhor alternativa de produção, pois ela é capaz de restaurar o equilíbrio ecológico e garantir uma produtividade a longo prazo.
Mas afinal, o que ela traz de concreto para o campo e para o planeta?
Recuperação da fertilidade do solo
Solos desgastados, pobres em matéria orgânica e dependentes de insumos químicos são reflexo de um modelo que retira mais do que devolve.
Porém na agricultura regenerativa com práticas como plantio direto, uso de adubos verdes, compostagem e cobertura vegetal, o solo volta a ser um organismo vivo cheio de matéria orgânica e nutrientes disponíveis.
Nesse sentido, a fertilidade do solo é recuperada, ela deixa de ser imposta por químicos e passa a ser nutrida naturalmente, com foco em um cultivo sustentável e duradouro.
Redução da erosão
Outro importante benefício é o da redução da erosão, pois essa leva embora não apenas o solo, mas também nutrientes e a capacidade produtiva do solo, tornando-o vulnerável.
Nesse sentido, a cobertura vegetal constante cria uma barreira natural contra o impacto da chuva e o escoamento da água, elementos responsáveis por perdas que podem ultrapassar 10 t de solo por h/ano.
Além disso, práticas como o cultivo em curvas de nível e a subsolagem estratégica ajudam a manter a estrutura do solo intacta, prevenindo a compactação e favorecendo a infiltração da água.
Sequestro de carbono
Na agricultura regenerativa, o solo deixa de ser um mero suporte para as plantas e passa a ser protagonista na luta contra as mudanças climáticas.

Imagem 3: Processo de Sequestro de Carbono. Fonte: EOS Data Analytics
Com o uso de plantas de cobertura, compostagem, rotação de culturas e ausência de revolvimento mecânico (como o plantio direto), ocorre o acúmulo de matéria orgânica, que retém carbono no solo.
Esse processo, conhecido como sequestro de carbono, reduz o CO₂ atmosférico e transforma as lavouras em sumidouros naturais de carbono, melhorando a estrutura física, a fertilidade do solo e o aumento da capacidade de infiltração e retenção de água.
Preservação da biodiversidade
Neste modelo de produção é possível promover a convivência de diferentes espécies vegetais e animais, o que proporciona ambientes agrícolas mais ricos e estáveis. Isso se traduz em sistemas menos dependentes de agrotóxicos, com controle biológico mais eficiente e solo mais fértil.
Ao preservar polinizadores, insetos benéficos, microrganismos do solo e espécies vegetais nativas, o sistema se torna mais equilibrado e resiliente.
É a agricultura e a biodiversidade caminhando juntas, com benefícios diretos para a produtividade e a saúde ambiental da propriedade.
Resiliência climática e aumento da produtividade
A agricultura regenerativa atua diretamente no aumento da resiliência climática, graças à melhora na capacidade do solo de absorver e reter água, à proteção contra erosão e à redução de perdas de nutrientes.
Um solo saudável age como uma esponja, enfrentando melhor tanto o excesso quanto a escassez de chuvas.
Isso permite manter a produção mesmo sob condições climáticas adversas, garantindo colheitas mais estáveis e rentáveis ao longo do tempo.
É a segurança alimentar e econômica que nasce de práticas sustentáveis e bem conduzidas.
É possível notar após tantos benefícios que ao adotar princípio dos sistemas regenerativos, agricultores passam a produzir de forma mais consciente, eficiente e conectada com os ciclos naturais.
Os benefícios não são apenas ambientais, são produtivos, sociais e econômicos, em vez de extrair, a agricultura regenerativa devolve, em vez de esgotar, ela restaura. E nesse ciclo, todos ganham: o solo, o clima, a biodiversidade e quem vive da terra.
Desafios e barreiras para adoção da agricultura regenerativa
Mas, se os benefícios são tão evidentes, por que sua adoção ainda avança em passos lentos no campo?
A resposta está em uma combinação de fatores, como o custo da cultura, a falta de assistência técnica e a resistência ao novo.
A seguir, abordamos os principais desafios que travam a transição para os sistemas regenerativos e o que pode ser feito para superá-los.
Custo de transição
Transformar um sistema convencional em um sistema regenerativo não acontece do dia para a noite. Exige planejamento, adaptação e recursos financeiros.
O custo inicial pode incluir desde a compra de sementes para cobertura vegetal, correção do solo, adequação de máquinas, até o tempo necessário para que os resultados apareçam.
Infelizmente, nesse processo de transição muitos produtores esbarram na falta de crédito ou linhas de financiamento específicas para a transição agroecológica.
Falta de conhecimento técnico
Para a mudança de um modelo agrícola é necessário que se tenha um acompanhamento constante e profissionais capacitados para isso, pois a agricultura regenerativa exige um olhar atento sobre o solo, o clima, a biodiversidade local e as interações entre os componentes do sistema.
O desafio está em fazer com que o produtor entenda por que diversificar culturas, usar compostagem, manejar a cobertura do solo e confiar menos em insumos artificiais.
A carência de assistência técnica especializada em agroecologia e regeneração do solo ainda é um entrave real, principalmente entre pequenos e médios produtores. Capacitar quem está na terra é tão essencial quanto investir nela.
Resistência a mudanças nos sistemas convencionais
A tradição pesa e no campo, muitas vezes, ela é medida em safras, décadas e heranças. Mudar o sistema produtivo é, também, mudar uma forma de pensar, de planejar e de trabalhar.
Para muitos agricultores, abandonar práticas convencionais que há anos garantem produtividade em nome de um novo modelo ainda pouco conhecido pode parecer arriscado demais.
Essa resistência à mudança é reforçada pela insegurança diante de uma transição que ainda carece de políticas públicas claras, acompanhamento técnico confiável e apoio do mercado consumidor.
Romper esse ciclo exige informação, diálogo e exemplos práticos de que a regeneração é não apenas viável, mas também lucrativa e duradoura.
Investir em capacitação, ampliar o acesso a crédito verde, fomentar redes de apoio entre produtores e valorizar produtos oriundos de cultivo sustentável são caminhos urgentes para acelerar essa transformação.
Porque regenerar o solo é regenerar também as relações com a terra, com o ambiente e com a vida.
O futuro do agro com a agricultura regenerativa
Tendência global e interesse do mercado
De grandes multinacionais a cooperativas locais, o mercado está voltando os olhos para práticas que promovem cultivo sustentável e solo saudável.
A agricultura regenerativa deixou de ser nicho e se tornou tendência global, impulsionada pela urgência climática, pela escassez de recursos e pela pressão dos consumidores por alimentos mais éticos e sustentáveis.
Empresas que atuam com responsabilidade socioambiental já firmam parcerias com produtores que adotam práticas como plantio direto, rotação de culturas e sequestro de carbono no solo.
O agro que regenera é, cada vez mais, um diferencial competitivo no mercado.
Apoio de políticas públicas e certificações
Nenhuma mudança estrutural acontece sem apoio institucional, para que o futuro da agricultura regenerativa se consolide, é fundamental que políticas públicas de fomento incentivem essa transição.
Isso inclui crédito rural facilitado para práticas sustentáveis, assistência técnica especializada em agroecologia, linhas de financiamento para recuperação de solos degradados, entre outros benefícios.
Com o respaldo do Estado, práticas hoje consideradas alternativas podem se tornar norma para um novo modelo agrícola, baseado em regeneração do solo, diversidade biológica e resiliência climática.
Papel do consumidor na demanda por alimentos regenerativos
Não há agricultura regenerativa sem consumo consciente, o que colocamos no carrinho de compras tem poder de influenciar o que será cultivado no campo.
Ao priorizar produtos provenientes de práticas agrícolas sustentáveis, o consumidor envia uma mensagem clara: queremos um agro que respeite a terra, valorize a biodiversidade e preserve o futuro.
Mais do que nunca, o consumidor se tornou coprodutor de impactos ambientais positivos, ao buscar alimentos que trazem em sua origem o compromisso com a saúde do solo e a regeneração dos ecossistemas.
O futuro do agro está sendo desenhado com novas sementes de respeito ao ciclo natural, valorização da vida no solo e integração entre produção e preservação.
Com apoio do mercado, políticas públicas comprometidas e consumidores engajados, a agricultura regenerativa pode deixar de ser exceção e se tornar a espinha dorsal de um novo paradigma agrícola
Conclusão
Por fim, vemos que a agricultura regenerativa surge como um caminho promissor e necessário diante dos desafios ambientais e produtivos enfrentados pelo setor agrícola.
Ao promover práticas que restauram a saúde do solo, aumentam a biodiversidade e reduzem a dependência de insumos químicos, ela se consolida como uma alternativa viável para garantir a produção de alimentos de forma equilibrada e duradoura.
No entanto, para que esse modelo ganhe escala e se torne realidade no cotidiano da produção rural, é necessário superar alguns obstáculos como o alto custo de transição.
Nesse sentido, é importante que essa transformação passe pela união de esforços entre produtores, políticas públicas, empresas e consumidores, pois regenerar a terra é, também, regenerar as formas de produzir e consumir, sendo esse um compromisso coletivo com o futuro.
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Sobre o Autor

Jhonatah Albuquerque
Engenheiro Agrônomo e Doutorando em Fitotecnia.