Bicho-mineiro do café: da identificação ao manejo!

Sumário
O bicho-mineiro, nome popular atribuído à pequena e nada inofensiva mariposa Leucoptera coffeella, é considerado uma das pragas mais preocupantes do cafezal. Descubra, neste artigo, o porquê deste inseto ser chamado de “mineiro” e os principais métodos de controle dessa praga!
O bicho-mineiro do café, cientificamente chamado de Leucoptera coffeella, é uma espécie de mariposa pertencente à família Lyonetiidae. Tal inseto é originário do continente africano e foi encontrado no Brasil, pela primeira vez, por volta de 1850. Desde então, é considerado uma praga cosmopolita, atacando os cafezais na África, Ásia, e países Neotropicais que compreendem a América Central, as ilhas caribenhas e a América do Sul. Em solo brasileiro, já se encontra disseminada em todas as regiões produtoras de café.
Por ser a praga mais disseminada pelos cafezais ao redor de todo o mundo, ocasiona perdas de produção em escala mundial. A principal consequência de seu ataque é a perda de área foliar e, portanto, de potencial fotossintético, tornando os cafeeiros menos produtivos.
O bicho-mineiro se desenvolve melhor em regiões de temperatura elevada e menor disponibilidade de água, podendo reduzir a capacidade produtiva do cafeeiro de 50% a 70% diante destas condições climáticas, a depender da época, intensidade e duração do ataque da praga.
Leucoptera coffeella é um dos principais desafios que os cafeicultores brasileiros enfrentam durante o cultivo do café: pode ocasionar perdas de até 87% da produtividade em países neotropicais, as quais não se limitam à quantidade produzida, uma vez que a qualidade dos grãos também pode ser comprometida.
Diante da importância dessa mariposa tão pequena, é crucial que essa praga seja monitorada e manejada no cafezal. Neste artigo, abordaremos como identificar, monitorar e controlar o bicho-mineiro do café!
Enquanto lê este artigo, aproveite para tomar uma xícara de café e conferir também as notícias mais relevantes do agro!
Como identificar o bicho-mineiro no cafezal?
Buscando otimizar o monitoramento e a adoção de métodos de controle do bicho-mineiro no cafezal, é de suma importância saber identificá-lo corretamente.
Podemos nos deparar com as diferentes fases de desenvolvimento do bicho-mineiro ao examinarmos as plantas de café, são elas:
- Os ovos são geralmente encontrados na parte superior das folhas, em folhas diferentes ou em pontos isolados da mesma folha, possuem formato oval e côncavo, e coloração que varia do branco ao amarelo-esverdeado, com aspecto translúcido;
- As larvas podem atingir cerca de 3,5 milímetros de comprimento, possuem coloração amarelo-esverdeada translúcida e são encontradas se alimentando do mesofilo foliar;
- As pupas do bicho-mineiro são comumente encontradas na face inferior das folhas do terço inferior do cafeeiro, sob casulos de seda, bastante característicos, de coloração branco-leitosa e em formato de X (Figura 1);
- Os adultos da praga são pequenas mariposas de, aproximadamente, 2 mm; coloração branco-prateada; asas franjadas e enrugadas com manchas escuras circulares e; cabeça com escamas brancas e longas. Durante o dia, podem ser encontrados na parte abaxial das folhas e, ao anoitecer, abandonam o “esconderijo” para iniciarem a oviposição.

Figura 1. Casulo característico de Leucoptera coffeella, construído com fios de seda em formato de X. Fonte: Revista Cultivar.
Agora que as principais características do bicho-mineiro foram apresentadas, vamos conhecer, a seguir, como é o ciclo reprodutivo da praga nos cafezais:
Ciclo de vida do bicho-mineiro do café
O ciclo de vida do bicho-mineiro abrange as fases de ovo, larva, pupa e adulto (Figura 2). É iniciado a partir da oviposição dos ovos nas folhas do terço superior do cafeeiro. Cada fêmea adulta da praga oviposita, em média, sete ovos sobre uma mesma folha.

Figura 2. Fases de desenvolvimento do bicho-mineiro do café, da esquerda para a direita: ovo, larva, pupa e adulto. Fotos: Refugio Lomeli.
Após a eclosão dos ovos, as larvas iniciam a infestação da planta. Estas adentram a epiderme e passam a se alimentar, exclusivamente, do mesofilo foliar do cafeeiro, da parte superior em direção ao canto interno das folhas. Em estágios mais avançados do desenvolvimento das larvas, é possível observar a formação de “minas”, ou galerias, nas folhas (Figura 3). E é justamente a presença de tais minas que deu origem ao nome popular da praga: bicho minador ou bicho-mineiro do cafeeiro.

Figura 3. Folhas com minas do bicho-mineiro do café. Fonte: Revista Cultivar.
Ao completarem os quatro ínstares de desenvolvimento, as larvas deixam as minas e começam a tecer um casulo de seda, geralmente na parte abaxial da folha, e empupam. Após alguns dias, os adultos emergem das pupas e iniciam o período de acasalamento. As fêmeas acasaladas, por sua vez, passam a ovipositar sobre as folhas do cafeeiro, iniciando uma nova geração da praga.
Sob condições de temperatura média de 25 °C, o ciclo de vida de Leucoptera coffeella é de 22 dias até chegar à idade adulta, compreendendo 5 dias em fase de ovo, 12 dias em fase larval e 5 dias em fase de pupa.
Danos e monitoramento do bicho-mineiro do café
Como abordado anteriormente, durante o estágio larval, o bicho-mineiro se alimenta apenas do mesofilo foliar. Com isso, o principal dano associado ao ataque de Leucoptera coffeella é a necrose dos tecidos afetados durante a formação das minas pelas larvas.
Uma única larva é capaz de consumir entre 1 a 2 cm² de área foliar durante o seu desenvolvimento, podendo ocorrer a necrose de mais de 80% da folha, quando as minas de uma mesma folha se fundem.
Com isso, o cafeeiro passa a apresentar área foliar reduzida e a queda prematura de folhas. A alta incidência da praga pode levar à desfolha generalizada da planta, a depender da intensidade do ataque e do período de ocorrência. Em consequência, a capacidade fotossintética da planta é drasticamente afetada, reduzindo expressivamente o número de botões florais e a produção de grãos de café.
Os danos podem ser ainda mais expressivos em regiões com período seco prolongado e baixa umidade relativa do ar. Lavouras localizadas em face soalheira, ou seja, em faces quentes e ensolaradas; menos adensadas; adubadas excessivamente com nitrogênio; sob o uso excessivo de produtos cúpricos e inseticidas pouco seletivos, que ocasionam a mortalidade de inimigos naturais; são as “preferidas” do bicho-mineiro, favorecendo a severidade do ataque do minador.
Sem o monitoramento constante da praga e o posicionamento assertivo dos métodos de controle, a alta infestação pode levar à morte dos cafeeiros. Portanto, é importante monitorar o bicho-mineiro durante todo o ano a partir da divisão da área em talhões, preferencialmente homogêneos, seguida da escolha e inspeção de 20 a 30 plantas/talhão.
De cada cafeeiro escolhido, devem ser amostradas 5 folhas do terço médio, em ramos laterais, avaliando-se a presença de minas ativas, ou seja, minas que possuem larvas vivas em seu interior. O controle deve ser realizado quando a incidência de minas ativas for igual ou superior a 20% do total de minas avaliadas.
O monitoramento do bicho-mineiro também pode ser realizado com o auxílio de armadilhas de feromônios. O número de mariposas capturadas pelas armadilhas indicará o nível de infestação e a necessidade de manejo. É recomendado que a praga seja intensamente monitorada durante os períodos mais secos e quentes do ano, geralmente, de março a setembro, podendo coincidir com a colheita do café.
Métodos de controle do bicho-mineiro
Os métodos de controle do bicho-mineiro englobam diversas metodologias, e a adoção destas metodologias em integração aumenta a eficiência de controle da praga e diminui os danos ao cafezal.
Os métodos comumente empregados no controle de Leucoptera coffeella são:
- Cultural
Consiste na adoção de práticas culturais que influenciam negativamente o ciclo de vida do bicho-mineiro, tais como: adensamento de plantas; uso de quebra-ventos; plantio de leguminosas em consórcio com o café; adubação orgânica e; manejo nutricional correto do cafezal.
- Genético
Consiste no desenvolvimento de cultivares de café resistentes ao bicho-mineiro, a partir de estratégias de melhoramento clássico, resistência e modificação genéticas. Atualmente, melhoristas brasileiros de café enfrentam problemas como a baixa variabilidade genética do café arábica, sendo necessário realizar processos de hibridação interespecífica para obter variedades resistentes. Algumas cultivares que apresentam resistência ao bicho-mineiro na atualidade são: Siriema AS1 e Siriema VC4. Além disso, estudos na área revelaram que algumas cultivares resistentes à ferrugem-do-cafeeiro, como as pertencentes ao grupo Sarchimor, são mais tolerantes ao ataque do minador.
- Biológico
O controle biológico do bicho-mineiro do café é realizado através da liberação e/ou conservação dos inimigos naturais da praga no cafezal. Pesquisas indicam que a introdução de novas espécies de parasitoides ou a liberação inundativa de parasitoides e predadores nativos do minador pode ser uma estratégia de manejo promissora. Além dos parasitoides; crisopídeos; formigas e vespas predadoras, são relatados, ainda, como inimigos naturais do bicho-mineiro, os fungos entomopatogênicos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana.
- Químico
Provavelmente o método mais utilizado para o manejo do bicho-mineiro, consiste na pulverização de inseticidas no cafezal. Os principais grupos químicos de inseticidas utilizados para o controle de Leucoptera coffeella são: piretroides, neonicotinoides, carbamatos, diamidas antranílicas, espinosinas, organofosforados e inseticidas fisiológicos. Dentre os ingredientes ativos mais utilizados estão o tiametoxam, clorantraniliprole e a molécula inseticida-fungicida cloridrato de cartap. É válido ressaltar que a rotação de mecanismos de ação de inseticidas é essencial para evitar a seleção de insetos resistentes.
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Conclusão
A identificação e o monitoramento de Leucoptera coffeella são etapas cruciais para o sucesso do manejo dessa praga nos cafezais brasileiros. Além disso, o constante desenvolvimento de programas de manejo integrado do bicho-mineiro se configura como o melhor caminho a ser seguido para que essa pequena mariposa afete cada vez menos a cadeia produtiva de café no Brasil e no mundo.
Referências
BASF. Como identificar o bicho-mineiro no café? BASF. Disponível em: agriculture.basf.com. Acesso em: 24 nov. 2024.
DE ALMEIDA, J. D. et al. Bicho mineiro (Leucoptera coffeella): uma revisão sobre o inseto e perspectivas para o manejo da praga. 2020. Disponível em: infoteca.cnptia.embrapa.br. Acesso em: 25 nov. 2024.
Sobre o Autor

Gabryele Silva Ramos
Engenheira Agrônoma (UFV), Mestre em Proteção de Plantas (UNESP/Botucatu), MBA em Marketing (USP/Esalq) e Doutoranda em Entomologia (Esalq/USP)