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Colheitabilidade: o que é e como otimizar a produtividade?

colheitabilidade na lavoura

Sumário

Descubra como a colheitabilidade impacta a colheita mecanizada da cana-de-açúcar e grãos, influenciando eficiência, perdas e qualidade da matéria-prima. Veja fatores, índices e estratégias para otimizar sua produção.

A ampliação das lavouras de cana-de-açúcar e grãos, especialmente soja e milho, no Brasil tem impulsionado a adoção da colheita mecanizada como uma estratégia para atender à crescente demanda e aprimorar a eficiência operacional. 

O país é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com uma área plantada superior a 8 milhões de hectares e uma produção que ultrapassa 650 milhões de toneladas por safra. 

Já na produção de grãos, destaca-se a soja, com mais de 40 milhões de hectares cultivados e uma colheita que superou 150 milhões de toneladas na safra 2022/23, consolidando o Brasil como líder global no setor.

Apesar dos avanços tecnológicos, a grande diversidade de condições de solo, relevo e clima nas diferentes regiões produtoras impõe desafios na escolha dos equipamentos mais adequados para cada cenário. 

Fatores como inclinação do terreno, umidade do solo e uniformidade da lavoura influenciam diretamente a eficiência da colheita, impactando o rendimento operacional e a qualidade da matéria-prima colhida.

A colheitabilidade, conceito que avalia a viabilidade e a eficiência da colheita mecanizada, desempenha um papel fundamental na redução de perdas e na maximização da produtividade. 

No caso da cana, perdas excessivas podem representar até 10% da produção total, enquanto em culturas de grãos como soja e milho, perdas superiores a 5% podem resultar em prejuízos significativos ao produtor.

Neste artigo, discutiremos como a colheitabilidade influência a colheita mecanizada, os principais fatores a serem considerados para otimizar a operação e minimizar perdas, além das inovações tecnológicas e boas práticas que contribuem para uma colheita mais eficiente e rentável.

Boa leitura!

O que é colheitabilidade?

A colheitabilidade pode ser entendida como “a capacidade de uma cultura ser colhida de maneira eficiente, levando em conta fatores como características do relevo, tipo de solo, condições climáticas, variedade cultivada e tecnologias disponíveis”.

Embora ainda não exista uma definição padronizada em normas técnicas, o termo é utilizado para avaliar a qualidade da lavoura no contexto da colheita, influenciando diretamente o desempenho operacional e as perdas durante o processo.

Fatores que afetam a colheitabilidade incluem:

  • Porte da cultura: se os colmos estão eretos ou acamados.
  • Produtividade agrícola: impacta diretamente a velocidade e a eficiência da colheita.
  • Sistematização do terreno: o nivelamento influencia o desempenho das colhedoras.
  • Declividade do solo: terrenos mais inclinados dificultam a operação e aumentam o desgaste das máquinas.
  • Alinhamento entre fileiras: um plantio bem alinhado favorece a colheita mecanizada.
  • Tipo de maquinário disponível: a compatibilidade das colhedoras com a cultura e as condições do solo pode otimizar a operação.
  • Umidade dos grãos ou colmos: umidade elevada pode comprometer a colheita, dificultando a separação do material e reduzindo a eficiência das máquinas.
Representação do perfil de corte de cana-de-açúcar.

Figura 1. Representação do perfil de corte de cana-de-açúcar. Créditos: Volpato, 2001 e Braunbeck; Magalhães, 2002.

A colheitabilidade não é apenas uma questão de tecnologia, mas também de planejamento agrícola

A escolha correta das cultivares, o manejo adequado da lavoura e a adoção de técnicas modernas de plantio podem facilitar a colheita mecanizada, resultando em maior eficiência operacional e menor desperdício.

Índice de colheitabilidade na produção de cana

Na cultura da cana-de-açúcar, a colheitabilidade pode ser medida por um indicador chamado ICOÍndice de Colheitabilidade, desenvolvido por Ramos (2016)

Esse índice leva em conta fatores como altura do canavial, organização do plantio, inclinação do terreno e disposição das soqueiras.

A metodologia consiste na atribuição de notas (1 a 5) para cada fator, resultando em um índice que orienta ajustes na operação de colheita.

Exemplo de critérios para avaliação da declividade do solo

DeclividadeAvaliaçãoNota
Acima de 12°Muito ruim1
9,1° a 12°Ruim2
6,1° a 9°Regular3
3,1° a 6°Bom4
0° a 3°Ótimo5

O cálculo do índice de colheitabilidade (ICO) é feito por meio da seguinte fórmula:

ICO=
F1*P1*+F2*P2+…Fn*Pn
P1+P2+Pn

Em que

  • ICO = Índice de Colheitabilidade;
  • = Fator de influência;
  • P = Peso atribuído ao respectivo fator;

Esse tipo de análise ajuda a otimizar as operações, garantindo menor desperdício e maior qualidade da matéria-prima

Além disso, permite identificar quais áreas do canavial exigem ajustes estruturais, como nivelamento do solo e melhorias na sistematização do plantio.

Perfil de máquinas sem levar em consideração a colheitabilidade na produção

Figura 2.Perfil de máquinas sem levar em consideração a colheitabilidade na produção. Créditos: John Deere (2015) e Ramos (2016).

Outro ponto importante é o posicionamento das soqueiras, que influencia diretamente a eficiência do corte. 

Soqueiras desalinhadas dificultam o trabalho das colhedoras, resultando em perdas na produção.

Mas, qual é a metodologia para determinação do índice de colheitabilidade?

Para avaliar a colheita mecanizada da cana, foi desenvolvida uma metodologia qualitativa baseada em fatores culturais, de solo, plantio e sistematização do canavial. 

Esse método permite mensurar o Índice de Colheitabilidade (ICO), que auxilia na tomada de decisão quanto ao uso de colhedoras adequadas e nos ajustes operacionais necessários para maximizar o desempenho e a qualidade da colheita.

Etapas da metodologia:

  1. Coleta de dados pré-colheita: análise do estado do canavial, porte da cultura, alinhamento das fileiras e condições do solo.
  2. Atribuição de notas: cada fator recebe uma pontuação de 1 a 5, sendo 1 a condição mais desfavorável e 5 a mais favorável.
  3. Cálculo do Índice de Colheitabilidade: a média ponderada das notas determina o ICO, que orienta ajustes nas colhedoras.
  4. Avaliação dos resultados operacionais: com base no índice obtido, recomenda-se a adaptação das máquinas e a melhoria das condições de colheita.

A aplicação dessa metodologia permite uma colheita mais eficiente e econômica, reduzindo perdas, otimizando o tempo de operação e garantindo melhor qualidade da matéria-prima.

Esquema gráfico ilustrativo demonstrando os itens necessários para boa colheitabilidade.

Figura 3. Esquema gráfico ilustrativo demonstrando os itens necessários para boa colheitabilidade. Adaptado de Ramos (2016).

Colheitabilidade na colheita de grãos

O conceito de colheitabilidade também se aplica a culturas como soja e milho, influenciando diretamente a produtividade e a qualidade dos grãos colhidos.

Tecnologias que melhoram a colheitabilidade de grãos

  • Colhedoras Axiais: equipadas com sistema Trident, oferecem alta eficiência na separação de grãos.
  • Colhedoras Híbridas: permitem ajuste rápido entre diferentes culturas, otimizando o tempo de colheita.
  • Tecnologia de Reposicionamento de Colheitadeiras: diminui o tempo de colheita em até dois dias e possibilita uma economia de combustível de até 25%.
  • Sensores de umidade e peso: permitem ajustes dinâmicos na velocidade e pressão das colhedoras para otimizar a separação dos grãos.

O uso de colhedoras modernas, com sistemas de monitoramento em tempo real e sensores que ajustam a altura de corte conforme as condições do terreno, permite minimizar perdas e garantir melhor aproveitamento da colheita.

Como melhorar a colheitabilidade?

Para otimizar a colheitabilidade, algumas práticas devem ser seguidas:

  1. Escolha de variedades adequadas: cultivares com porte uniforme e colmos eretos são mais fáceis de colher.
  2. Sistematização do terreno: nivelar o solo reduz impactos no desempenho das máquinas.
  3. Manutenção das máquinas: ajustes na altura de corte e na velocidade de trabalho são fundamentais.
  4. Monitoramento climático: colher no momento adequado minimiza perdas.
  5. Alinhamento das fileiras: um plantio bem organizado melhora a eficiência da colheita.
  6. Capacitação da equipe: operadores treinados maximizam a eficiência da colheita.
  7. Uso de sensores e monitoramento em tempo real: Permitem ajustes imediatos na operação.
  8. Planejamento da logística de colheita: o transporte rápido dos grãos e a coordenação eficiente entre colheita e armazenamento evitam perdas por deterioração.
  9. Uso de mapas de produtividade: a análise de mapas de produtividade auxilia no ajuste das operações e no planejamento futuro da lavoura.
  10. Adaptação da velocidade da colheita: ajustar a velocidade da colhedora conforme as condições da lavoura evita perdas por dano mecânico e maximiza o rendimento operacional.
  11. Redução de perdas pós-colheita: o armazenamento adequado e o transporte eficiente garantem que os grãos colhidos mantenham sua qualidade.
Quadro de identificação de possíveis danos no momento da colheita e os cortes da soqueira. Adaptado de Kroes (1997), citado por Mello & Harris (2003).

Figura 4. Quadro de identificação de possíveis danos no momento da colheita e os cortes da soqueira. Adaptado de Kroes (1997), citado por Mello & Harris (2003).

Estudo de caso — Colheita mecanizada da cana-de-açúcar: como fazer o manejo ideal?

Um estudo avaliou o desempenho operacional e a qualidade da colheita mecanizada da cana-de-açúcar, destacando o impacto das condições do canavial no índice de colheitabilidade

Foram realizados dois ensaios experimentais com diferentes colhedoras, rotações do extrator primário, produtividades agrícolas e velocidades de trabalho, totalizando 48 tratamentos. 

Os resultados mostraram que fatores como porte do canavial, produtividade, sistematização do terreno e alinhamento das fileiras influenciaram a eficiência da colheita. 

Canaviais com menor índice de colheitabilidade apresentaram maior altura de toco e abalo da soqueira, enquanto o aumento da velocidade e da produtividade resultou em perdas mais elevadas de matéria-prima.

Delimitação de zonas para quantificação e retirada de peso das perdas no campo

Figura 5. Delimitação de zonas para quantificação e retirada de peso das perdas no campo. Adaptado de Ramos (2016).

A pesquisa reforça que ajustes operacionais e um planejamento detalhado são essenciais para otimizar a colheita, reduzir perdas e melhorar a qualidade da matéria-prima colhida.

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Conclusão

A colheitabilidade é um fator determinante para otimizar a eficiência da colheita e garantir a qualidade da matéria-prima da cana e soja. 

A aplicação de boas práticas agrícolas e o uso adequado das tecnologias de colheita, como as colhedoras avançadas e o monitoramento contínuo das condições de solo e clima, são fundamentais para reduzir perdas e maximizar os rendimentos.  

Investir na escolha de variedades adaptadas, no alinhamento das fileiras e na capacitação das equipes operacionais, além de adotar tecnologias de precisão, são passos importantes para melhorar a colheitabilidade, tanto na cana-de-açúcar quanto em grãos como a soja.

Sobre o Autor

Alasse Oliveira

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Especialista em Produção Vegetal e, Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)

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