EUDR: como preparar a fazenda para a rastreabilidade?
Sumário
A Lei Antidesmatamento da União Europeia, chamada de EUDR, começa a valer em 30 de dezembro de 2025. Veja como garantir a rastreabilidade da sua fazenda
A EUDR (European Union Deforestation Regulation) está prestes a entrar em vigor e dar início a uma nova era nas relações comerciais do agronegócio brasileiro com o continente europeu.
Na prática, a EUDR proíbe a importação e comercialização de commodities produzidas em áreas desmatadas (legal ou ilegalmente) após 31 de dezembro de 2020.
Aprovado em 2023, o regulamento entrará em vigor em 30 de dezembro de 2025, mas sem exigência de cumprimento, ou seja: ainda não haverá fiscalização imediata.
Isso porque a Comissão Europeia, responsável pela criação, implementação e fiscalização da legislação, irá simplificar e escalonar a Lei Antidesmatamento, cedendo à pressão de empresas e governos com dificuldades de cumprir o regulamento à tempo.
O principal problema está relacionado à rastreabilidade dos produtos agrícolas e formas aceitas de comprovação sobre a origem dos mesmos. Saiba mais neste artigo!
O que é a EUDR e por que ela importa para o agro brasileiro?
A EUDR (European Union Deforestation Regulation) é um regulamento antidesmatamento aprovado em 2023 pela União Europeia que proíbe a importação de commodities produzidas em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. Compõe a lista dessas commodities a soja, cacau, café, óleo de palma, carne, madeira e borracha.
No discurso, a União Europeia afirma que o objetivo é frear o desmatamento global e estimular as cadeias produtivas sustentáveis, alinhadas à transição verde do continente – a EUDR foi criada no contexto do Green Deal Europeu (ou Pacto Verde Europeu), cujo objetivo é tornar o continente neutro em emissões de gases de efeito estufa até 2050.
O Green Deal Europeu tem como principais metas:
- reduzir o impacto ambiental gerado pelo uso da terra nos países da União Europeia, estimulando o consumo de produtos oriundos de cadeias produtivas livres do desmatamento;
- fortalecer a cooperação com países produtores, promovendo práticas sustentáveis e evitando que os acordos de desenvolvimento da UE contribuam, direta ou indiretamente, para o avanço do desmatamento;
- ampliar a colaboração internacional no combate ao desmatamento e à degradação florestal, integrando esforços públicos e privados em escala global;
- direcionar investimentos para incentivar o manejo sustentável do solo, com foco na conservação das florestas e no uso racional dos recursos naturais;
- aprimorar a coleta e a qualidade das informações sobre as florestas e as cadeias produtivas de commodities, tornando os dados mais acessíveis, transparentes e confiáveis.
Para o Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo e um dos maiores de soja e carne, tem sido grande o desafio para se adaptar às regras da EUDR, que, ao mesmo tempo, representam também uma oportunidade estratégica de reforçar a imagem do setor como referência em sustentabilidade e rastreabilidade agrícola.
Novas atualizações e prazos da EUDR
Quando da sua aprovação, a EUDR tinha como prazos para entrar em vigor 30 de dezembro de 2025 para grandes e médias empresas e em 30 de junho de 2026 para micro e pequenas empresas, mas a pressão feita pelas companhias e governos fez com que houvesse uma flexibilização.
Agora, conforme proposta da Comissão Europeia divulgada em outubro de 2025, haverá um novo plano de implementação, com a criação de um período de adaptação escalonado e redução da burocracia do processo.
O novo cronograma da EUDR prevê o seguinte:
- Grandes e médias empresas: 30 de dezembro entra em vigor, mas há seis meses de adaptação sem penalidades antes do início da fiscalização;
- Micro e pequenas empresas: 30 de dezembro de 2026, seguindo o mesmo fluxo.
Outra atualização importante é que o sistema de declarações de due diligence, documento obrigatório que comprova a origem do produto livre de desmatamento, também foi simplificado.
Será exigida apenas uma declaração por produto, no ponto de entrada no mercado europeu. Ou seja, o importador de um lote de cacau, por exemplo, será responsável pelo envio da declaração, sem necessidade de que todos os intermediários repitam o processo.
Com essa alteração, a Comissão Europeia estima que a simplificação reduza em até 30% os custos administrativos das empresas, respondendo aos desafios de implementação sem reduzir a ambição climática da Europa.
Quem será impactado pela EUDR e o que muda na prática?
O alcance da EUDR vai muito além das fronteiras europeias, atingindo qualquer empresa ou produtor que comercializa produtos agrícolas destinados ao continente europeu, de forma direta ou indireta.
Nesse contexto, estão incluídos:
- operadores que introduzem os produtos no mercado europeu;
- comerciantes e exportadores, mesmo fora da UE;
- produtores rurais e cooperativas que fornecem matéria-prima para indústrias exportadoras.
A grande novidade é que todos deverão comprovar a rastreabilidade da origem dos produtos, o que envolve informações detalhadas, como:
- coordenadas geográficas da área de produção;
- período de cultivo e colheita;
- documentos de conformidade ambiental e fundiária;
- comprovação de que não houve desmatamento após 2020.
Assim, o processo de due diligence (ou diligência prévia) é o pilar da EUDR. Ele exige que empresas realizem uma avaliação de risco sobre suas cadeias produtivas, considerando fatores como o histórico de desmatamento da região, disputas fundiárias, além da presença de povos indígenas e comunidades tradicionais.
Trator na lavoura realizando trabalhos de plantio. Fonte: Canva.
Como a rastreabilidade vai transformar a gestão agrícola?
A rastreabilidade será a base da conformidade com a EUDR. Ela consiste em comprovar a origem de cada lote de produção. No campo, isso significa uma mudança profunda na forma de registrar e gerenciar informações sobre a fazenda.
Tecnologias e práticas essenciais para adequação
- Georreferenciamento preciso das áreas produtivas, com coordenadas exatas de talhões e glebas;
- Atualização constante do CAR (Cadastro Ambiental Rural) e integração com mapas de uso do solo;
- Monitoramento por imagens de satélite para acompanhar eventuais alterações de cobertura vegetal;
- Sistemas de gestão rural com módulos ambientais e de rastreabilidade;
- Auditorias e certificações ambientais reconhecidas internacionalmente.
Ferramentas de sensoriamento remoto, geoprocessamento (GIS) e análise de imagens de satélite já estão sendo utilizadas para verificar a conformidade de propriedades rurais.
Essas tecnologias permitem a evolução do uso da terra, identificar desmatamentos recentes e gerar relatórios que podem ser apresentados como evidência de conformidade.
Além disso, produtores que já mantêm práticas de agricultura de precisão e uso de dados geoespaciais terão vantagem competitiva, pois boa parte das informações exigidas pela EUDR já faz parte das rotinas de manejo.
Desafios e oportunidades para o agro brasileiro
A adequação à EUDR traz importantes desafios, especialmente para pequenos e médios produtores rurais que ainda não possuem estrutura digital consolidada. Entre os principais entraves, estão:
- a integração de sistemas de dados ambientais e comerciais;
- a capacitação técnica para uso de plataformas de monitoramento;
- o custo de implementação de soluções tecnológicas.
Por outro lado, o Brasil parte de uma posição privilegiada, já que possui instrumentos avançados de monitoramento ambiental, como o CAR, Sicar e MapBiomas, além do sistema de satélites do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Essas bases podem ser integradas aos processos de rastreabilidade exigidos pela EUDR, reduzindo custos e aumentando a confiabilidade das informações. Além disso, o cumprimento da lei europeia abre novas oportunidades de mercado, como:
- valorização de produtos certificados e livres de desmatamento;
- acesso facilitado a linhas de crédito verde e financiamento internacional;
fortalecimento da imagem do agro brasileiro como líder em sustentabilidade.
Como preparar sua fazenda para a EUDR?
Para quem exporta café, soja, cacau ou carne bovina, o momento é de adequação antecipada. Veja alguns passos essenciais:
- Mapeie suas áreas produtivas com precisão geográfica e atualize o CAR;
- Organize a documentação ambiental e fundiária da propriedade;
- Implemente controles internos para registrar a origem e o destino de cada lote;
- Adote sistemas de monitoramento e mantenha registros atualizados de uso do solo;
- Engaje parceiros e cooperativas, garantindo que toda a cadeia siga os mesmos padrões;
- Invista em capacitação, tanto em tecnologias digitais quanto em boas práticas ambientais.
Essas ações não apenas garantem conformidade regulatória, como também agregam valor ao produto e aumentam a confiança do mercado europeu na origem da produção brasileira.
Dicas para produtores rurais, responsáveis técnicos e revendas
No cumprimento das normas da EUDR, os produtores rurais terão papel central, e por isso precisam agir desde já para garantir que suas áreas estejam regularizadas, documentadas e georreferenciadas.
A atualização do CAR, por exemplo, é algo que deve se ter como prioridade no momento, caso você ainda não esteja com ele em dia. Além dele, atualize também, se necessário, a comprovação da posse e a conformidade fundiária, com todas as suas obrigações cumpridas perante à Receita Federal.
Faça uso, para o cumprimento dessas regras, de tecnologias de mapeamento e monitoramento. É importante também organizar os registros de uso do solo e insumos, visando a comprovação de boas práticas agrícolas com manejo sustentável, conservação de áreas de preservação e cumprimento da legislação ambiental.
Cada talhão da sua fazenda precisa estar devidamente identificado e registrado para fortalecer a credibilidade da sua produção e a transparência na informação, o que certamente, irá fortalecer suas relações comerciais.
E o nível de responsabilidade dos produtores rurais é semelhante ao dos técnicos e das revendas agrícolas, tendo em vista que o trabalho precisa ser feito de forma conjunta para garantir a adequação ao regulamento da EUDR.
Os técnicos, particularmente, é que vão atestar a conformidade legal das aplicações agrícolas, assegurando, por exemplo, que o uso de defensivos, fertilizantes e demais insumos esteja ocorrendo de forma controlada e rastreável.
As revendas e lojas agropecuárias das cooperativas deverão compartilhar responsabilidades, oferecendo produtos devidamente registrados, fazendo o controle das receitas agronômicas emitidas e dando o apoio necessário aos clientes na adoção de práticas sustentáveis.
Como suporte, plataformas digitais, como a AgroReceita, podem auxiliar no registro, padronização e comprovação do histórico de manejo, transformando o receituário agronômico em um instrumento estratégico de rastreabilidade e sustentabilidade, alinhado às novas exigências do mercado europeu.
O papel da AgroReceita na adequação à EUDR
A AgroReceita é uma aliada estratégica para quem busca segurança, eficiência e sustentabilidade na gestão agrícola.
Com mais de 20 mil receituários agronômicos emitidos por mês e 84 milhões de hectares tratados, a plataforma permite que engenheiros agrônomos, florestais, técnicos agrícolas e produtores mantenham um controle sobre o uso de defensivos e o histórico de aplicação em cada talhão, atendendo às conformidades ambientais da EUDR.
Com a AgroReceita, esse processo se torna mais simples e seguro:
- Registro digital completo de todas as aplicações;
- Dados de geolocalização e informações da propriedade;
- Conformidade com as Defesas Agropecuárias estaduais;
Relatórios que auxiliam na comprovação de conformidade ambiental.
Assim, o receituário agronômico deixa de ser apenas uma obrigação legal e passa a ser uma ferramenta estratégica de rastreabilidade.
Teste grátis e confira todas as funcionalidades do plano Pro. Não precisa inserir cartão de crédito:
A plataforma AgroReceita ainda oferece:
- Emissão digital e segura do receituário agronômico, com validade jurídica e integração direta com as Defesas Agropecuárias;
- Banco de dados das bulas dos defensivos agrícolas, atualizado em tempo real, conforme o Ministério da Agricultura, garantindo o uso de produtos devidamente registrados e autorizados por estado;
- Relatórios e métricas inteligentes que ajudam a monitorar o manejo e registrar práticas agrícolas sustentáveis;
- Integração com ERPs e sistemas de gestão rural, facilitando o fluxo de informações entre o campo, o escritório e os órgãos de controle;
- Assinatura eletrônica e digital e emissão em campo, permitindo agilidade e rastreabilidade em cada etapa do processo.
Ao digitalizar e padronizar a emissão de receituários, a AgroReceita reduz a burocracia, evita erros e aumenta a transparência, pilares essenciais para conformidade com as novas regras de rastreabilidade da União Europeia.
Em um cenário em que a origem e a responsabilidade ambiental serão diferenciais de mercado, a AgrorReceita ajuda sua fazenda a transformar o cumprimento da lei em vantagem competitiva, convectando tecnologia, sustentabilidade e gestão inteligente no campo.
Conclusão
A EUDR marca um novo capítulo para o agronegócio global, em que a rastreabilidade e a transparência passam a ser requisitos básicos para quem quer permanecer competitivo.
Mais do que cumprir uma exigência europeia, preparar-se para a lei é assumir o protagonismo em sustentabilidade.
E com o apoio da AgroReceita, produtores e técnicos podem unir tecnologia, conformidade e eficiência, garantindo registros confiáveis, manejo responsável e decisões baseadas em dados.
É a combinação ideal para construir um agronegócio mais seguro, conectado e pronto para o futuro.
Sobre o Autor
Mário Bittencourt
Jornalista, SEO Copywriter e Mestre em Agricultura de Precisão pela UFSM