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Como fazer o manejo proativo de plantas daninhas e evitar a sua resistência

manejo proativo de plantas daninhas

Sumário

O manejo proativo de plantas daninhas é essencial para prevenir a seleção de espécies resistentes a herbicidas.

No mundo, até o momento, há 515 casos de plantas daninhas resistentes a herbicidas, referente a 267 espécies (154 eudicotiledôneas e 113 monocotiledôneas), envolvendo 21 dos 31 sítios de ação e a 165 herbicidas.

Há casos de resistência relatados em 97 culturas em 72 países.

Hoje, no Brasil, há 54 casos de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas. No texto de hoje vamos ver como acontece o processo de seleção e quais os manejos proativos que devemos nos atentar. 

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Número de casos de plantas daninhas resistentes no mundo. Fonte: Heap (2022).

Como acontece a seleção de plantas daninhas resistentes

O desenvolvimento de plantas daninhas resistentes na área acontece por meio da seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes dentro de uma população suscetível. 

Ano após ano a pressão imposta pelo herbicida mata as espécies suscetíveis, deixando os biótipos resistentes. 

Isso porque naturalmente existem biótipos dentro da espécie que são resistentes ao produto.

A resistência a herbicidas começa a ser perceptível no campo, geralmente, quando pelo menos 30% das plantas mostram-se resistentes.

No início a resistência apresenta-se em manchas, aumentando sua proporção com a aplicação do mesmo ingrediente ativo.

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Fonte: Christoffoleti e López-Ovejero (2008).

Fatores que afetam a evolução da resistência

Os fatores que afetam a evolução da resistência são divididos em fatores genéticos, bioecológicos e agronômicos.

Fatores genéticos que afetam a evolução da resistência

Os fatores genéticos dependem de características das plantas daninhas. Dentro dos fatores genéticos temos:

  • Frequência inicial do biótipo resistente;
  • Característica genética da herança;
  • Fluxo gênico.

A frequência inicial é um dos principais fatores que mais afetam o desenvolvimento da resistência.

Quanto maior a frequência inicial do biótipo resistente, em menor período aumentará a proporção de indivíduos resistentes na população, caso continue com as aplicações do mesmo herbicida.

Além da frequência inicial, a dominância do alelo e o tipo de fecundação influenciam na evolução da resistência.

Na maioria dos casos, a resistência é determinada por genes dominantes, que podem ocorrer em maior frequência.

Portanto, se compararmos os inibidores da tubulina que possuem o gene de resistência em um alelo recessivo, com os outros mecanismos nos quais o gene de resistência está em alelos dominantes ou semi-dominante, no caso dos inibidores da tubulina será mais difícil selecionar biótipos resistentes.  

O fluxo gênico pode acelerar o processo de dispersão da resistência de uma população resistente para outra suscetível. 

Em espécies alógama a dominância do gene viabiliza a rápida dispersão da característica a cada geração, além da maior probabilidade de ocorrência de múltiplo mecanismos de resistência, devido à polinização que permite maior recombinação gênica. 

Fatores bioecológicos que afetam a evolução da resistência

Os fatores bioecológicos são relacionados às características das plantas daninhas como:

  • Ciclo de vida curto: quanto menor o ciclo, mais gerações reprodutivas tem em um ano, mais sementes a planta pode produzir e maiores as chances de passar o gene de resistência;
  • Elevada produção de sementes: quanto mais sementes a planta produz e libera, mais chances de passar a frente o gene de resistência;
  • Baixa dormência da semente: quanto maior o período de dormência, maior o tempo necessário para esgotar o banco de sementes;
  • Extrema suscetibilidade ao herbicida: uma espécie que tem alta suscetibilidade ao herbicida acaba morrendo todas as suscetíveis e deixando apenas as resistentes;
  • Densidade da espécie de planta daninha: quanto maior a densidade, maior a chance de ter biótipos resistentes.

Fatores agronômicos que afetam a evolução da resistência

Os fatores agronômicos que favorecem o rápido desenvolvimento da resistência estão relacionados com as características do herbicida e as práticas culturais

Fatores agronômicos relacionados ao herbicida

  • Grupos químicos com maiores riscos: alguns grupos químicos apresentam maiores riscos de desenvolvimento da resistência, principalmente os mais específicos, como por exemplo os inibidores da ALS e ACCase;
  • Herbicidas com residuais prolongados: herbicidas com residuais prolongados proporcionam alta pressão de seleção, pois as germinações sucessivas das diversas gerações ficam expostas ao herbicida. 

O ideal é que o herbicida haja apenas durante o PCPI (Período Crítico de Prevenção à Interferência) e que os próximos fluxos sejam controlados pelo sombreamento da cultura;

  • Herbicidas sem residual, mas aplicados muitas vezes;
  • Herbicida altamente eficiente: o herbicida altamente eficiente controla todos os biótipos suscetíveis deixando apenas os resistentes, assim, o banco de sementes do biótipo resistente tende a aumentar enquanto o do biótipo suscetível a diminuir;
  • Doses elevadas ou subdoses: doses elevadas ou subdoses proporcionam uma pressão de seleção muito grande sobre o biótipo resistente. 

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Fatores agronômicos relacionados às práticas culturais

Entre as práticas culturais que aceleram a seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes temos:

  • Manejo exclusivo com herbicidas;
  • Uso repetitivo do mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação durante muitos anos;
  • Falta de rotação de culturas;

A rotação de culturas permite o uso de diferentes ingredientes ativos.

  • Não utilização de outros métodos de controle como o cultural, mecânico e preventivo;
  • Não eliminação de escapes que irão se reproduzir e passar o gene de resistência;
  • Não utilização de misturas ou sequência de herbicidas.

Na mistura de herbicidas com objetivo de evitar a resistência é importante associar herbicidas de diferentes mecanismos de ação, mas de mesmo espectro de controle.

Como fazer um manejo proativo e evitar a resistência de plantas daninhas

A prevenção e manejo proativo da resistência passa por várias estratégias, que juntas configuram o manejo integrado de plantas daninhas.

A rotação de cultura é essencial, pois assim são usados diferentes ingredientes ativos, além de explorar outro volume de solo, sem falar na liberação de compostos aleloquímico;

Portanto, o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação é um dos principais pontos para evitar a seleção de biótipos resistentes.

Caso haja suspeita na área ou na região de resistência naquela espécie, o ideal é já trocar o ingrediente ativo.

O uso de outros métodos de controle é uma prática que auxilia, é possível em determinados momentos substituir o herbicida pela roçada, dependendo da espécie presente na área.

Uma estratégia fundamental é usar herbicidas pré-emergentes.

Os pré-emergentes vão segurar o fluxo de germinação de plantas daninhas, sendo possível reduzir uma aplicação em pós-emergência.

Dessa forma, é essencial que o manejo não seja feito apenas em pós-emergência da cultura e planta daninha, pois nessa situação temos menos opções de produtos, além de aumentar a pressão de seleção.

Para reduzir a pressão de seleção a cultura deve ser semeada no limpo, após uma dessecação pré-semeadura de qualidade, também é preciso o uso de pré-emergentes e caso ainda haja escapes o uso do pós-emergente.

O uso dos herbicidas em pré-emergência é fundamental para o controle de plantas daninhas até o final do PCPI.

A dose aplicada de herbicida também deve estar de acordo com a época de maior suscetibilidade da planta daninha.

A maior eficácia de controle, quando a aplicação é feita em pós-emergência, é quando a planta daninha ainda é jovem.

Em plantas adultas a dificuldade de controle é maior, necessitando de mais aplicações, é só vermos o estádio recomendado na bula.

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Como avaliar o risco de seleção de biótipos resistentes na área

Algumas estratégias de manejo utilizada podem acelerar ou retardar a seleção de plantas daninhas resistentes na área.

Alto risco de seleção de plantas daninhas resistentes:

  • Uso de apenas um mecanismo de ação;
  • Uso de apenas um herbicida por muito tempo;
  • Controle de plantas daninhas feitos somente com herbicidas;
  • Alto nível de infestação de plantas daninhas;
  •  Ausência de rotação de culturas;
  • Baixo controle de plantas daninhas nos últimos três anos;
  • Áreas deixadas em pousio.

Baixo risco de seleção de plantas daninhas resistentes:

  • Rotação de cultura;
  • Uso de dois ou mais métodos de controle: químico, cultural e mecânico;
  • Rotação de mecanismos de ação;
  • Uso de herbicidas em pré-emergência;
  • Evita deixar áreas em pousio;
  • Faz o controle de escapes de plantas daninhas;
  • Faz o controle de plantas daninhas na entressafra;
  • Baixo nível de infestação de plantas daninhas na área;
  • Bom controle de plantas daninhas na área nos últimos anos.

Conclusão

Muitos fatores afetam a evolução da resistência de plantas daninhas a herbicidas. Há fatores genéticos, bioecológicos e agronômicos.

Dessa forma, concluimos que para evitar a seleção de espécies resistentes temos que ter um manejo proativo.

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios. Atualmente sou professora da UNIFEOB.

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