Percevejo barriga-verde na cultura trigo

De acordo com relatos de agricultores e técnicos, a presença de percevejos em trigo tem aumentado ao longo dos anos e causando perdas na cultura. O percevejo barriga-verde é a principal espécie encontrada em lavouras de trigo. 

Que tal aprender um pouquinho mais sobre essa praga? Desejamos uma boa leitura!

Identificação do percevejo barriga-verde em trigo

Com a mudança do sistema de cultivo de grãos e adoção do sistema plantio direto a partir dos anos 2000, houve um favorecimento da incidência de percevejos. Restos culturais acabam servindo de abrigos para esses insetos, além disso, sementes caídas no solo servem de alimento, como também as plantas daninhas.  

As principais características das espécies do percevejo barriga-verde (Diceraeus) são: 

  • Tamanho entre 9 e 12mm;
  • Cabeça com jugas agudas; 
  • Ângulos umerais na forma de espinhos, podendo ser longos ou arredondados; 
  • Abdômen de coloração verde.

Seus ovos são de coloração verde-clara, formados por três ou mais fileiras mais ou menos definidas, conforme maturam vão escurecendo. As ninfas geralmente são marrom-acizentada na região dorsal e verde na abdominal; nos últimos ínstares apresentam tecas alares esverdeadas e corpo castanho-esverdeado (PEREIRA, 2008).

São duas as principais espécies de percevejo popularmente conhecidas como percevejo-barriga verde, o Diceraeus melacanthus e Diceraeus furcatus, ambos do mesmo gênero, mas apresentam algumas características visuais que permitem a diferenciação.

Foto 1 e 2. Diceraeus furcartus e Diceraeus melacanthus. Fonte: AgroLink e ManejeBem

Os percevejos estão em todo território nacional, porém a espécie Diceraeus furcatus é  encontrada com mais frequência em regiões temperadas e Diceraeus melacanthus em regiões quentes.

Foto 3. Distribuição geográfica do percevejo barriga-verde Fonte: Agronômico

Vale destacar que nos meses mais frios do ano, em especial durante o inverno (trigo se encontra no campo), a coloração verde  no lado ventral altera para marrom-acizentada, perdendo a cor original verde, típica do verão.

Dano do percevejo barriga-verde em trigo

Os danos do percevejo barriga-verde acontecem principalmente por conta da alimentação de adultos e ninfas na base das plântulas. Ao se alimentar causam danos pela introdução do estilete e injeção de toxinas nos tecidos da planta, em ataques mais severos podem levar a planta à morte.

Dano que pode ser responsável pela redução do estande de plantas na lavoura, que em muitas situações os produtores são obrigados a realizar replantio de suas áreas. Quando atacada no período vegetativo, a planta promove a emissão de um número maior de afilhos e menor altura de plantas.

Quando o ataque ocorre no período de emborrachamento, podem ocasionar redução de altura da planta, desenvolvimento atrofiado e aparecimento de espigas deformadas e brancas (espigas sem grãos ou com formação parcial de grãos).

Foto 4 e 5: Dano causado pelo percevejo barriga-verde Diceraeus melacanthus em trigo,MS 2007 Fonte: Marcela Marcelino Duarte (Embrapa).

Foto 6. Sintomas do ataque de percevejo em trigo. (A) perfurações transversais; (B) morte da porção superior da folha;(C) folhas com aspecto filiforme; (D) planta atrofiada; (E) espiga branca ocasionada pelo dano no emborrachamento Fonte: Panizzi, A.R e Barbosa, V.R.C (mais soja)

Um trabalho realizado pela Embrapa, com o intuito de avaliar o nível de dano do percevejo barriga-verde em trigo, mostrou que o aumento da densidade populacional afeta negativamente o rendimento de grãos na cultura. Estimou-se que 1,0 percevejo por metro quadrado causa redução de aproximadamente 1,80% na produção de grãos de trigo (Foto 6).

Foto 7. Relação entre a densidade populacional do percevejo barriga-verde e o rendimento de grãos do trigo, MS, 2007.

Controle do percevejo barriga-verde em trigo

As orientações técnicas para a cultura do trigo determinam que o controle do percevejo barriga-verde  na fase vegetativa deve ocorrer quando atingido o nível de ação de 4 percevejos por metro quadrado e na fase reprodutiva (emborrachamento e grão leitoso) com 2 percevejos por metro quadrado. Com no mínimo 5 pontos amostrais por talhão.

O monitoramento das áreas de cultivo ainda nos períodos iniciais de desenvolvimento do trigo é essencial para evitar maiores danos à cultura, principalmente em lavouras de sucessão a soja, onde a praga pode estar presente e permanecer no ambiente de cultivo infestando lavouras de trigo. Levando em consideração que os percevejos podem ficar abrigados em plantas hospedeiras (capim carrapicho, capim-amargoso e trapoeraba) ou sob palhada.

Para o controle do percevejo barriga-verde no trigo podemos realizar a associação dos inseticidas químicos com bioinseticidas (biológicos). Em relação aos químicos,  produtos pertencentes ao grupo  dos neonicotinóides, e misturas com piretróides. Em um cenário com alta densidade populacional é necessário o controle com associação de grupos químicos, aliando o efeito de choque dos piretróides com a longa ação residual dos neonicotinoides.

É recomendado ainda que se faça um manejo rigoroso de dessecação de daninhas previamente à semeadura da cultura, aliado a um tratamento de sementes eficiente e monitoramento constante da lavoura.

Vale destacar que os inseticidas registrados para o controle da praga, constam no App Compêndio Agrícola do AgroReceita, permitindo realizar a consulta fitossanitária gratuita e ilimitada e descobrindo o produto mais indicado para o alvo.

Conclusão

O percevejo barriga-verde é a principal espécie encontrada em lavouras de trigo, ocorrendo do plantio até o espigamento, podendo reduzir significativamente a produção de grãos

No Brasil as espécies mais comuns são Diceraeus melacanthus e furcatus, estando mais concentrada no sul do país e distribuída do Paraná em direção ao Norte (Foto 3)

Para a redução populacional da praga: inseticidas na dessecação ou pós plantio, controle de plantas daninhas, redução nas perda da colheita, tratamento de sementes industrial, inseticidas químicos e biológicos.

Esperamos que esse artigo tenha sido útil para você!

Sobre o Autor

Samira Fredi

Técnica em Agronegócio (SENAR-RS)
Graduanda em Agronomia (Unicruz-RS)
Atua na pesquisa em manejo de insetos-praga na Intagro

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