Trapoeraba: identificação e manejo

Trapoeraba: conheça as principais espécies, veja as características para ajudar na identificação e como manejar.

A trapoeraba é considerada uma planta daninha de difícil controle, sendo encontradas com frequência nas lavouras, principalmente no final do ciclo do milho. Isso, porque, ela tem sua propagação por meio de sementes aéreas e subterrâneas, além de pedaços dos ramos poderem dar origem a novas plantas.

Além disso, a trapoeraba é uma planta tolerante ao herbicida glifosato. A tolerância é uma característica inata da espécie, ou seja, a planta não é controlada com a dose de herbicida que seria letal para outras espécies, mesmo que ela nunca tenha entrado em contato antes com o produto. Portanto, a trapoeraba não passou por um processo de seleção no qual as plantas suscetíveis são controladas, restando apenas as resistentes. A trapoeraba é tolerante e não resistente.

Como há várias espécies de trapoeraba, vamos ver como diferenciá-las.

A família Commelinaceae

As trapoerabas pertencem à família Commelinaceae. Saber identificar algumas características da família botânica da espécie nos ajuda a entender mais sobre elas e a identificar corretamente.

As comelináceas têm distribuição pantropical, sendo encontradas em torno de 40 gêneros e 650 espécies no mundo. No Brasil são em torno de 14 gêneros e cerca de 100 espécies.

O caule dessas espécies é cilíndrico e nodoso, com bainha fechada. São plantas monocotiledôneas, pois possuem raízes fasciculadas, nervuras paralelinérveas, entre outras características fisiológicas e morfológicas que as classificam como monocotiledôneas.

Commelina benghalensis. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Na família Commelinaceae há gêneros nativos e introduzidos no Brasil. Nos gêneros nativos temos: Aneilema, Buforrestia, Callisia, Commelina, Dichorisandra, Floscopa, Geogenanthus, Gibasis, Murdannia, Plowmanianthus, Siderasis, Tinantia, Tradescantia e Tripogandra. Nos gêneros introduzidos temos: Palisota.

As trapoerabas (Commelina spp.) são plantas daninhas comuns nos sistemas agrícolas. A trapoerabinha (Murdannia nudiflora) também pode ser encontrada em lavouras. Ela é uma planta de ciclo anual ou perene, herbácea, tenra, ramificada e com muitos nós. Sua propagação ocorre por meio de sementes.

Trapoerabinha (Murdannia nudiflora). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Quais as espécies de trapoeraba e como diferenciá-las?

Há diversas espécies de trapoerabas, entre elas, as que podemos encontrar com mais frequência são:

  • Commelina benghalensis;
  • Commelina diffusa;
  • Commelina erecta;
  • Commelina villosa.

As trapoerabas também são conhecidas pelos nomes comuns de rabo-de-cachorro, andacá e maria-mole. A identificação da espécie correta é importante para o manejo da trapoeraba, pois estas espécies têm comportamento diferente a depender do herbicida.

Vamos ver agora como diferenciar essas espécies.

Commelina benghalensis

A trapoeraba é uma planta perene, tenra e suculenta. Tem hábito de crescimento semiprostrado, sendo ramificado com enraizamento nos nós.

Possui sementes subterrâneas com capacidade de emergir de até 12 cm de profundidade no perfil do solo. As sementes produzidas na parte aérea conseguem germinar de até 2 cm de profundidade. Uma planta consegue produzir em torno de 1.600 sementes. A germinação é favorecida por temperaturas entre 18 e 36°C e, a luz favorece a germinação, mas não é essencial.

As sementes possuem dormência, o que garante vários fluxos de emergência ao longo do tempo. O ciclo de vida é perene, com reprodução sexuada, por meio de sementes e, assexuada, por meio rizomas e estolões.

Na planta adulta as folhas têm maior acúmulo de tricomas e ceras, o que dificulta a absorção dos herbicidas.  Essa espécie é a única, entre as trapoerabas, em que você vai visualizar no sistema radicular raízes e flores subterrâneas fechadas, que depois irão se transformar em frutos com sementes.

O hábito de crescimento é prostrado, ou seja, a planta cresce rente ao solo. O caule tem coloração verde e é muito piloso. A bainha possui pelos longos de cor marrom.

Como você pode perceber a primeira forma de distinção entre as espécies é analisar o sistema radicular, se houver flores subterrâneas é a Commelina benghalensis. A Commelina benghalensis é muito presente no final do ciclo do milho, precisando ser controlada.

Nessa época o milho seca, e as entrelinhas começam novamente a receber luz solar, o que estimula o desenvolvimento das plantas daninhas. Os manejos nessa época precisam ser feitos para evitar que as plantas daninhas fiquem cada vez mais difíceis de serem controladas.

Commelina diffusa

Essa espécie tem o hábito de crescimento prostrado. O ciclo de vida é anual ou perene, com propagação por meio de sementes e estolão.

Possui caule aéreo, ereto a decumbente, pouco ramificado, glabro (sem pelos), cilíndrico, verde ou fortemente pigmentado por coloração avermelhada. É a única que apresenta três pétalas expandidas.

Commelina diffusa (trapoeraba). Fonte: Moreira e Bragança (2010).

Commelina villosa

Essa espécie tem o hábito de crescimento ereto, ou seja, o caule consegue ficar em pé. O caule tem coloração verde, é muito piloso e, apresenta manchas avermelhadas quando exposta ao sol.

Hábito das plantas de Commelina benghalensis (esquerda) e Commelina villosa (direita). B: Estrutura da flor de Commelina villosa. C: Estrutura da flor de Commelina benghalensis. Barra = 2 mm (B – C). Fonte: Rocha et al. (2000).

Commelina erecta

Essa espécie tem o hábito de crescimento ereto. O caule é verde-escuro, podendo ter manchas avermelhadas.

É a única das espécies que apresenta aurícula (expansão da bainha), que pode ser facilmente visualizada nas plantas adultas. Para diferenciar das outras espécies observe que as flores apresentam as duas pétalas maiores bem encostadas e a terceira muito reduzida.

A propagação também é por meio de sementes e fragmentação do caule.

Folhas das trapoerabas. a. Commelina benghalensis; b. Commelina villosa; c. Commelina diffusa; d. Commelina erecta. Fonte: Penckowski e Rocha (2006).

Agora que você já sabe quais são as principais espécies que podemos encontrar no campo e como diferenciá-las, vamos ver algumas formas de manejo.

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Como fazer o controle da trapoeraba?

No manejo integrado de plantas daninhas temos as opções de uso dos métodos de controle preventivo, cultural, mecânico, físico, biológico e químico.

No caso das trapoerabas é muito importante o método preventivo, que tem por objetivo evitar a entrada de espécies em áreas onde ainda não estão presentes. Uma vez que a trapoeraba é de difícil controle devido as suas formas de propagação e tolerância a herbicidas, é essencial evitar que ela entre em outras áreas.

O método de controle mecânico por meio da capina não é indicado para as trapoerabas, por serem espécies que apresentam propagação vegetativa, onde pedaços do caule, principalmente nos nós, podem dar origem a uma nova planta. Imagine que, cada vez que você corta a planta com a enxada ou com a roçadeira, você estimulará a planta a brotar e dar origem a outras plantas.

O uso do controle químico por meio de herbicidas é uma das estratégias de manejo. Para o manejo com herbicidas em pós-emergência a boa cobertura da planta é essencial e, também, a aplicação na época de maior suscetibilidade, ou seja, com a planta com no máximo até 4 folhas.

Algumas opções de herbicidas para o controle de trapoeraba em pós-emergências são o carfentrazone, o glyphosate, o 2,4-D, o chlorimuron, a atrazina e o nicosulfuron.  Já, em pré-emergência as opções são o sulfentrazone e o flumioxazin.

Mesmo sendo uma planta tolerante ao glyphosate, quando utilizado em plantas pequenas a chance de sucesso no controle é maior. Caso as plantas estejam maiores, será necessário realizar uma aplicação sequencial, sendo a primeira com herbicidas sistêmicos, ou seja, que translocam dentro da planta.

A escolha dos herbicidas vai depender da época de aplicação, da cultura de interesse, seletividade do herbicida e de quais outras plantas daninhas estão presentes na área.

Conclusão

Há diversas espécies de trapoerabas e é muito importante definir quais são as espécies presentes na sua área. O controle com herbicidas é o mais utilizado, devendo ter uma boa cobertura da planta quando a aplicação for em pós-emergência.

A aplicação em pós-emergência tem maior eficácia em plantas pequenas, com no máximo quatro folhas.

O uso de herbicidas pré-emergentes auxilia no manejo dos fluxos de germinação e emergência e, são estratégicos para redução do banco de sementes do solo.

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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