Pragas quarentenárias: o que são e como realizar o manejo?

Sumário
Conheça os riscos das pragas quarentenárias para a agricultura brasileira, como Anastrepha curvicauda, Bactrocera dorsalis e Lobesia botrana, e as medidas fitossanitárias necessárias para proteger cultivos estratégicos e garantir a competitividade no mercado agrícola.
A agricultura brasileira, com sua ampla diversidade de cultivos, enfrenta riscos constantes relacionados à introdução de pragas quarentenárias.
Organismos como Anastrepha curvicauda, Bactrocera dorsalis e Lobesia botrana, embora ainda ausentes no Brasil, são conhecidos por causar sérios danos em áreas onde já estão presentes. Se introduzidos, esses organismos podem atacar cultivos importantes, resultando em perdas expressivas e restrições comerciais.
Essas pragas apresentam grande adaptabilidade, favorecida pelas condições climáticas e pela presença de cultivos hospedeiros. Além de impactarem diretamente os cultivos, podem alterar as práticas de manejo nas regiões agrícolas afetadas.
A identificação das áreas mais vulneráveis, considerando fatores climáticos e fitossanitários, é essencial para orientar as medidas necessárias. Métodos como o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e o uso de agentes biológicos ou químicos específicos para esses organismos são ações que devem ser planejadas com base em estudos técnicos.
Boa leitura!
A importância do manejo de pragas para o Brasil
O manejo de pragas é uma prática indispensável para preservar a qualidade e a continuidade das atividades agrícolas no Brasil. O país, como um dos principais produtores globais de alimentos, enfrenta constantes desafios impostos pelas condições climáticas tropicais, que favorecem o surgimento e a disseminação de organismos nocivos às culturas.
Entre as pragas de maior impacto estão a Helicoverpa armigera, a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a ferrugem asiática da soja, que colocam em risco a produção agrícola e demandam atenção contínua dos produtores.
Esses organismos afetam diretamente o desenvolvimento das plantas, comprometendo o uso adequado dos insumos e impactando a qualidade dos produtos finais. A ausência de práticas de manejo pode tornar áreas produtivas inviáveis, colocando em risco a competitividade do setor agrícola no cenário nacional e internacional.
No Brasil, o cultivo intensivo e a predominância de monoculturas agravam os desafios associados às pragas. Para lidar com esses problemas, são necessárias medidas planejadas, que considerem as características das regiões produtoras e as especificidades das culturas, visando mitigar os impactos dessas ameaças na produção agrícola.

Figura 1. A importância do manejo de pragas quarentenárias para o Brasil. Créditos: AGENCIA Agro (2021).
Pragas quarentenárias: um perigo para o agro
Bactrocera dorsalis: potenciais impactos e áreas de risco no Brasil
A Bactrocera dorsalis, conhecida como mosca-das-frutas-oriental, é uma praga quarentenária com alta capacidade de adaptação e dispersão, amplamente reconhecida por atacar diversas culturas frutíferas e hortaliças.
Entre as principais culturas suscetíveis a essa praga estão: abacate, banana, cacau, café, caju, caqui, citros, feijão, goiaba, maçã, mamão, manga, maracujá, melão, melancia e tomate.
Os meses de julho a outubro foram identificados como o período mais favorável ao desenvolvimento da Bactrocera dorsalis devido às condições climáticas que predominam em grande parte das áreas produtoras.
As regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste apresentam microrregiões com condições propícias para a proliferação da praga, sendo que, em algumas localidades do Nordeste, o risco de infestação é contínuo ao longo do ano.
A introdução dessa praga em território nacional traria impactos para a produção e a comercialização de frutas e hortaliças. A confirmação oficial de sua presença no Brasil poderia resultar em barreiras comerciais, restringindo o transporte, a distribuição no mercado interno e as exportações, além de elevar os custos de manejo nas áreas afetadas.
O monitoramento constante e a implementação de medidas fitossanitárias específicas são indispensáveis para evitar a entrada e a dispersão dessa praga no Brasil, preservando a competitividade das cadeias produtivas que dependem de exportações e garantindo a segurança do comércio agrícola nacional.

Figura 2. Bactrocera dorsalis. Fonte: Canva.
Anastrepha curvicauda: riscos para a produção de mamão e manga no Brasil
A Anastrepha curvicauda, conhecida como mosca-das-frutas-do-mamão, é considerada a principal praga dessa cultura em países onde está presente.
No Brasil, segundo maior produtor mundial de mamão, sua introdução representaria uma ameaça à cadeia produtiva, afetando também a manga, outra fruta de alta relevância comercial e de exportação.
Estudos de zoneamento indicaram que 721 municípios de todas as regiões brasileiras apresentam condições favoráveis para o estabelecimento da praga. Estados das regiões Sudeste, Sul e Nordeste, com destaque para áreas produtoras de mamão e manga, estão entre os mais vulneráveis.
Além disso, regiões próximas a países sul-americanos onde a praga já foi registrada foram identificadas como zonas de risco, devido à proximidade geográfica e ao potencial de dispersão do inseto.
A introdução da Anastrepha curvicauda poderia comprometer a competitividade do Brasil no mercado interno e internacional, elevando os custos de manejo e restringindo as exportações dessas frutas.

Figura 3. Municípios com condições favoráveis para o desenvolvimento. Fonte: Rafael Mingoti – Embrapa Territorial (2024)

Figura 4. Anastrepha curvicauda. Fonte: Yoatzin Penãflor (2024).
Lobesia botrana: riscos para a produção de uva e outras culturas no Brasil
A Lobesia botrana, conhecida como traça europeia dos cachos da videira, é uma praga que atinge diversas culturas no exterior, incluindo uva, maçã, pêssego, nectarina, pera, ameixa, kiwi, caqui, oliveira e amora.
Reconhecida como uma das pragas mais significativas da uva em diversas regiões do mundo, sua presença é monitorada em países das Américas do Norte e do Sul devido ao seu elevado potencial de impacto econômico.
Zoneamentos realizados identificaram as áreas brasileiras mais suscetíveis à instalação dessa praga, considerando tanto videiras quanto outras culturas hospedeiras.
Para a uva, as condições favoráveis para o desenvolvimento da Lobesia botrana foram registradas durante todos os meses do ano nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste.
No Nordeste, a favorabilidade foi observada na maior parte do ano, com variações mensais. Na Região Sul, que apresenta maior proximidade com países sul-americanos onde a praga já ocorre, o período de maior risco foi identificado entre outubro e abril, dependendo das condições locais.
A introdução da Lobesia botrana no Brasil representaria uma séria ameaça à viticultura e a outras culturas sensíveis, elevando os desafios para os produtores e comprometendo as exportações de frutas.

Figura 5. Lobesia botrana. Fonte: Ivesklein iNaturalist (2022).
Práticas integradas no manejo de pragas quarentenárias
A aplicação de práticas integradas permite tratar os desafios fitossanitários de maneira planejada, reduzindo a dependência de métodos isolados e contribuindo para maior equilíbrio nas áreas agrícolas.
Entre as práticas utilizadas, destacam-se:
1 - Monitoramento agrícola
A observação contínua das lavouras possibilita identificar o surgimento de pragas com maior precisão e determinar o momento mais adequado para intervenções. Isso contribui para evitar aplicações excessivas de produtos químicos, favorecendo a manutenção do equilíbrio ambiental.
2 - Métodos culturais
Técnicas como rotação de culturas, diversificação de plantios e manejo adequado do solo alteram as condições do ambiente agrícola, dificultando o estabelecimento e a proliferação de pragas quarentenárias.
3 - Manejo biológico
O emprego de inimigos naturais, como predadores, parasitoides e microrganismos benéficos, auxilia no manejo das populações de pragas, reduzindo o uso intensivo de defensivos químicos e promovendo um ambiente mais equilibrado.
4 - Uso de tecnologias aplicadas
A implementação de ferramentas tecnológicas, como drones, sensores e softwares agrícolas, permite intervenções direcionadas e precisas, reduzindo desperdícios e otimizando os recursos aplicados.
5 - Defensivos agrícolas
A aplicação de produtos químicos de forma criteriosa, baseada em diagnósticos técnicos e limites de ação, contribui para reduzir os impactos das pragas quarentenárias sem comprometer a saúde das culturas e do ambiente.
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Conclusão
A introdução de pragas quarentenárias como Anastrepha curvicauda, Bactrocera dorsalis e Lobesia botrana traria impactos expressivos à agricultura brasileira, afetando diretamente as cadeias produtivas e gerando desafios para o manejo das culturas.
Além de comprometer cultivos importantes, a presença dessas pragas poderia resultar em barreiras comerciais, dificultando o acesso a mercados internos e externos.
A adoção de práticas preventivas, aliada ao monitoramento contínuo e a medidas fitossanitárias bem planejadas, é indispensável para proteger as áreas agrícolas, garantindo a segurança e a continuidade das atividades no campo.
Referências
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Ciência mapeia regiões com risco de desenvolvimento de novas pragas agrícolas. Disponível em: embrapa.br. Acesso em: 21 nov. 2024.
SANTOS, J. R.; OLIVEIRA, M. A.; FERREIRA, L. A. Riscos associados à introdução de pragas quarentenárias na agricultura brasileira. Revista de Fitossanidade, v. 12, n. 3, p. 345-357, 2023. Disponível em: revistafitossanidade.org.br. Acesso em: 21 nov. 2024.
Sobre o Autor

Alasse Oliveira
Engenheiro Agrônomo, Mestre e Especialista em Produção Vegetal e, Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)
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