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3 principais nematoides da soja: como identificar?

Namatoide da soja

Sumário

Os nematoides da soja representam uma ameaça para a produtividade das lavouras, comprometendo a saúde das raízes e a absorção de nutrientes. Esses organismos microscópicos, que habitam o solo, podem causar danos severos, resultando em perdas na safra se não forem controlados adequadamente. 

De acordo com um estudo da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), os nematoides são responsáveis por prejuízos anuais estimados em R$ 16,2 bilhões somente na cultura da soja.

Em casos de infestação por nematoides das galhas, a produtividade pode ser reduzida entre 30% e 90%, caso não sejam adotadas medidas de controle eficazes.

Ao se alimentarem das raízes, os nematoides afetam não apenas o crescimento das plantas, mas também sua resistência a doenças e estresses ambientais.

Para os sojicultores, entender a biologia e o comportamento desses parasitas é fundamental para o manejo assertivo. Neste artigo, vamos explorar os três principais tipos de nematoides que afetam a cultura da soja, suas características e os sintomas que indicam sua presença nas lavouras. 

Além disso, discutiremos estratégias e práticas de manejo eficazes para minimizar os danos e proteger a lavoura, garantindo uma colheita adequada.

A prevenção e o controle adequado desses “vermes” são fundamentais para manter a competitividade e a sustentabilidade na produção de soja.

Boa leitura!

Nematoides da soja: o que são e quais os impactos?

Os nematoides são vermes microscópicos de corpo cilíndrico, com tamanho entre 0,3 mm e 3 mm, que atacam as raízes da soja, prejudicando seu desenvolvimento. 

Eles são classificados como fitonematoides e, na maioria dos casos, os que afetam a soja são endoparasitas, vivendo e se alimentando no interior das raízes.

O ataque dos nematoides provoca dificuldades na absorção de água e nutrientes, resultando em sintomas como crescimento reduzido, folhas amareladas (clorose), murchamento e queda na produtividade. 

Além dos danos diretos, os nematoides também podem introduzir fungos, bactérias e viroses nas plantas, aumentando os prejuízos na lavoura.

Você sabe quais são os principais nematoides da soja?

Veremos a seguir como identificá-los!

Lavoura de soja com possível sintoma de infestação de nematoides.

Figura 1. Lavoura de soja com possível sintoma de infestação de nematoides. Créditos: Isla Fernandes e Agropos (2020).

Quais são as principais espécies de nematoides que atacam a soja?

1. Nematoide das galhas (Meloidogyne spp.)

Esse grupo inclui mais de 80 espécies, com destaque no Brasil para Meloidogyne javanica e M. incognita.

Diferença entre espécies

  • M. javanica: amplamente disseminada e responsável por maiores prejuízos.
  • M. incognita: comum em áreas que foram cultivadas com café ou algodão.

Características e danos dos nematoides

Endoparasitas que vivem dentro das raízes e formam nódulos chamados galhas. As galhas resultam do estímulo à formação de células gigantes durante a alimentação.

Sintomas

Manchas em reboleiras, crescimento reduzido, folhas amareladas, abortamento de vagens e amadurecimento precoce.

Raízes infectadas com espécies de nematoide Meloidogyne spp

Figura 2. Raízes infectadas com espécies de nematoide Meloidogyne spp. Fonte: CDFA, 2007.

2. Nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines)

Conhecido como NCS, é um endoparasita com ciclo de vida curto, de aproximadamente 23 dias.

Características

Fêmeas fertilizadas armazenam até 500 ovos em seus corpos. Após a morte, os corpos se transformam em cistos rígidos e marrons que protegem os ovos por até 7 anos.

Danos e sintomas

Dificulta a absorção de água e nutrientes, causando clorose e crescimento reduzido. Provoca sintomas de estresse hídrico e é conhecido como “doença do nanismo amarelo”.

Figura 3. Nematoide de cisto em soja em área de produção. Créditos: Elevagro (2020).

3. Nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus)

Esse nematoide é um endoparasita migrador que se movimenta entre os tecidos ao longo do ciclo de vida.

Características e danos

Alimenta-se das raízes e causa lesões que facilitam a entrada de patógenos como o Fusarium. Injeta secreções tóxicas que destroem os tecidos, formando lesões necróticas.

Condições de sobrevivência

Sobrevive em solos secos, compactados ou em fragmentos de raízes por até 7 meses, mesmo na ausência de hospedeiros. Intensidade dos danos aumenta em situações de baixa fertilidade, solos arenosos, compactados ou com déficit hídrico.

Fêmeas de Pratylenchus brachyurus e Pratylenchus zeae, encontrados em raízes de soja e cana de açúcar

Figura 3. Fêmeas de Pratylenchus brachyurus e Pratylenchus zeae, encontrados em raízes de soja e cana de açúcar, respectivamente. Fonte: Daniel Nascimento e Ana Lopes (2022).

O controle do Pratylenchus brachyurus é desafiador, pois não existem cultivares de soja, milho ou algodão com resistência efetiva devido ao hábito migrador desse nematoide e sua ampla gama de plantas hospedeiras. 

Assim, é necessário adotar uma combinação de estratégias culturais, biológicas e químicas.

Manejo cultural

A rotação de culturas com plantas de cobertura como Crotalaria spectabilis, C. ochroleuca e C. breviflora é eficaz, pois esses nematoides não se reproduzem nessas raízes. Quanto maior o tempo de cultivo das plantas de cobertura, melhor o controle. 

No entanto, é preciso atenção ao fotoperíodo, evitando o crescimento de plantas daninhas ou tigueras que possam hospedar o nematoide.

Manejo genético

Embora não existam cultivares resistentes no mercado, algumas são tolerantes ou apresentam baixo fator de reprodução. No entanto, em áreas com alta pressão, o uso dessas variedades pode aumentar a população do nematoide, exigindo monitoramento contínuo.

Manejo biológico e químico

O tratamento de sementes com produtos biológicos ou químicos oferece proteção inicial das raízes, especialmente nas fases iniciais do desenvolvimento da cultura (30-50 dias).

Produtos biológicos, especialmente à base de Bacillus spp., têm maior residual e podem proteger durante todo o ciclo da cultura, formando um biofilme protetor nas raízes.

Com o Compêndio Agrícola da AgroReceita é possível realizar a consulta fitossanitária dos defensivos químicos e biológicos, registrados no Brasil, de forma gratuita e ilimitada para a cultura da soja, que esteja afetada pelos nematoides.

Consulte através do Aplicativo — disponível para Google Play — ou via web. Preencha o formulário abaixo e comece já:

Como fazer o manejo de nematoides na soja?

A forma mais eficaz de controlar os nematoides na soja é por meio do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina práticas agronômicas preventivas e controle químico estratégico. 

A prevenção é importante, pois, uma vez instalada a infestação, torna-se difícil manejar a praga durante a safra. Principais estratégias de manejo:

  • Cultivares resistentes: utilizar variedades adaptadas aos nematoides identificados na área;
  • Rotação de culturas: alternar com plantas não-hospedeiras para reduzir a população de nematoides;
  • Higienização de equipamentos: limpar maquinário, reservatórios e sistemas de irrigação para evitar a disseminação;
  • Exposição solar do solo: expor camadas profundas à radiação solar durante períodos mais quentes;
  • Monitoramento constante: coletar amostras de solo e usar ferramentas digitais para acompanhar a presença de pragas;
  • Controle químico: aplicar produtos recomendados, como o nematicida Verango® Prime e o tratamento de sementes CropStar®.

Conclusão

Os nematoides são um dos principais desafios para a cultura da soja, causando sérios prejuízos econômicos e afetando o desenvolvimento das plantas. 

Entre as espécies mais prejudiciais estão o nematoide das galhas (Meloidogyne spp.), o nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) e o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus).

Cada um possui características específicas e causa diferentes tipos de danos, como galhas, cistos e lesões nas raízes, comprometendo a absorção de água e nutrientes.

A prevenção é a chave para evitar infestações e perdas na lavoura. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) oferece uma abordagem eficiente ao combinar estratégias como o uso de cultivares resistentes, rotação de culturas, higienização de equipamentos e controle químico com produtos especializados. 

Além disso, o monitoramento contínuo é essencial para identificar precocemente a presença desses parasitas.

Referências

CÂMARA, G. M. S. Fenologia da soja. In: CÂMARA, G. M. S. (Ed.). Soja: tecnologia da produção. Piracicaba: ESALQ/Departamento de Agricultura 1998. p. 26-39. 

Ferraz, C.C.B., Monteiro, A.R. Nematoides. In: Bergamin Filho, A. Kimati, H., Amorin, L. (2008) Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. Ed. Agronomia Ceres

Ferraz, S., Freitas, L.G.; Lopes, E.A.; Dias-Arieira, C.R. Manejo sustentável de fitonematoides. Viçosa, MG, Ed. UFV, 2010. 306p.   

Sobre o Autor

Alasse Oliveira

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Especialista em Produção Vegetal e, Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)

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