Principais doenças do algodão: manejo e controle

Plantação de algodão

Doenças na cultura do algodão: sintomas e recomendações de manejo mais adequadas para cada uma delas 

Atualmente, estima-se que 40% das perdas em produtividade das culturas comerciais sejam causadas pelo ataque de pragas e pela presença de doenças nas lavouras. Portanto, a identificação dessas doenças é crucial para adoção das medidas de controle correto.

O algodão (Gossypium hirsutum L.), como uma importante cultura agrícola cultivada em território nacional, registrou no ano de 2023 um aumento da incidência das principais doenças por conta das chuvas. 

O clima é a principal variável ambiental que pode impactar a produção e qualidade do algodão em qualquer fase de seu desenvolvimento, sendo também capaz de criar condições favoráveis para o surgimento de patógenos.

Porém, mesmo com o aumento da incidência de doenças, a previsão é de aumento de produção. Segundo a CONAB, a estimativa para a safra 23/24 é de 3,28 milhões de toneladas de algodão em pluma, um aumento de 3,6% em relação à safra passada.

Portanto, para mantermos a rentabilidade do agricultor e minimizar as perdas, é necessário a diagnose certa e no momento certo para a escolha do manejo mais indicado.

Neste artigo iremos abordar a identificação e os métodos de controle mais indicados para as principais doenças da cultura do algodão.

Identificação e métodos de controle das principais doenças do algodão

Nas últimas safras de algodão no Brasil, algumas doenças frequentes têm afetado a qualidade da fibra e causado perdas de produtividade. Para facilitar a identificação e o manejo, serão apresentadas a seguir as características de cinco delas:

1. Mancha de Ramulária

Dada as condições de cultivo e as cultivares utilizadas, hoje em dia a mancha de ramulária é tida como a principal doença que afeta a cultura do algodão no Brasil, causando até 35% de redução na produtividade.

Trata-se de uma doença fúngica que, ao se desenvolver, causa a desfolha das plantas, reduzindo assim a capacidade fotossintética e consequentemente a capacidade da planta em produzir e atingir os tetos produtivos.

Além da perda em produtividade, caso a doença ocorra na fase reprodutiva de formação das maçãs, a perda da capacidade de fotossíntese afeta também a produção de fibras de qualidade, ou seja, além de produzir menos, o produto final será de baixa qualidade.

Portanto, um monitoramento ostensivo próximo ao período de florescimento é essencial para a manutenção de uma lavoura rentável e produtiva.

A mancha de ramulária é causada pelo complexo fúngico composto por Ramulariopsis gossypii e Ramulariopsis pseudoglycines e está presente em todas as áreas algodoeiras do Brasil.

A doença se beneficia de uma ampla faixa de temperatura para desenvolver (entre 16 e 34 ºC), sendo o intervalo entre 22 e 28 ºC o mais crítico. Noites úmidas, seguidas  de dias secos com temperaturas amenas são condições que favorecem a doença.

Os sinais da doença podem se manifestar tanto na parte superior da folha quanto na face inferior quando em estágio mais avançado, porém, iniciam na face inferior.

Folhas de algodoeiro infectadas com ramulária

Folhas de algodoeiro infectadas com ramulária (Fonte: Esalq)

Atualmente, além do uso de cultivares resistentes, o controle com defensivos agrícolas é recomendado por meio da aplicação de fungicidas, sendo eles: triazóis, organoestânico, estrobilurinas e carboxamidas. A recomendação é do uso dos produtos em mistura.

Porém, para uma eficácia no controle, reforçamos que o monitoramento, aplicações preventivas e a rotação de mecanismos de ação são essenciais para o controle da doença. Vale lembrar também que a rotação de mecanismo reduz a chance de resistência do fungo.

A assertividade no posicionamento dos produtos é essencial para evitar entradas a mais na lavoura e encarecer o cultivo. 

Pensando nisso, a AgroReceita disponibiliza, de forma gratuita e ilimitada, o Compêndio de Defensivos Agrícolas, contendo todos os produtos registrados no Brasil para auxiliar na escolha do agroquímico recomendado para cada ocasião.

Além do controle químico, práticas como a destruição de soqueiras é essencial para inibir o aparecimento de algodoeiros tiguéra, que seriam hospedeiros da doença para a próxima safra.

Por fim, é recomendável o produtor utilizar a estratégia de reguladores de crescimento visando atrasar a formação de um microclima favorável ao patógeno e favorecer a ação dos fungicidas utilizados.

2. Mancha-alvo

A mancha-alvo é uma doença que afeta a cultura do algodão causada pelo fungo Corynespora cassiicola. Este problema é muito comum na região do cerrado, uma vez que o fungo migra da soja (safra) para o algodão (safrinha).

O fungo em questão, assim como todas as doenças, necessita de condições adequadas para seu desenvolvimento. 

Ele se beneficia de períodos chuvosos e alta umidade relativa do ar (>80%). Assim como a mancha de ramulária, a mancha-alvo se beneficia da alta população de plantas e menor espaçamento. Portanto, não renuncie ao regulador de crescimento.

Neste caso, o monitoramento é essencial, principalmente em áreas com histórico da doença. Nestes locais é normal que os sinais da doença apareçam após o fechamento das entrelinhas.

Os sinais desta doença se caracterizam por pequenas manchas em formato de círculo nas folhas das plantas. As lesões são contornadas por um halo amarelo e um ponto preto no meio. Com o crescimento da lesão ela vai se parecendo com um alvo.

Os sinais podem acontecer em diversas partes das plantas, sendo mais evidentes nas folhas. Com o avanço da doença, o fungo promove a necrose das lesões, perda de área foliar e, consequentemente, redução na produtividade.

Como controle, caso o agricultor seja produtor de soja (safra) é necessário um controle eficiente nesta cultura antes de pensar no algodoeiro. Outra fonte de inóculo são plantas daninhas, que devem ser controladas antes, durante e depois do cultivo.

O uso de sementes tratadas com fungicidas e de cultivares tolerantes, principalmente em áreas com histórico da doença.

Por fim, o controle químico é necessário para evitar que a doença evolua e cause prejuízos. Dentre as moléculas registradas podemos encontrar produtos à base de misturas de triazóis, estrobilurinas, carboxamidas, trazolintiona etc.

Folha de algodoeiro com sinais de mancha-alvo

Folha de algodoeiro com sinais de mancha-alvo (Fonte: Portal do Agronegócio).

3. Mela do algodoeiro

A mela do algodoeiro é uma enfermidade causada pelo agente Rhizoctonia solani Kuhn. Este fungo é um patógeno de solo capaz de infectar a cultura do algodão nas fases iniciais do desenvolvimento da lavoura.

O primeiro relato da doença é recente e foi notificado na safra 2004/05 no estado do Mato Grosso. Desde então se disseminou e já possui ocorrência em lavouras produtivas nos estados da Bahia e Mato Grosso do Sul.

O fungo produz escleródios como estrutura de resistência e seu desenvolvimento é favorecido em áreas de monocultivo de algodão, preparo intensivo do solo, solos alagados/encharcados (épocas muito chuvosas e solos mal drenados) e, temperaturas na faixa entre 25 e 30 ºC.

A mela do algodoeiro é identificada com a formação de lesões de aspecto oleoso que evoluem à características de escaldadura ou podridão mole.

As perdas de produtividade e rentabilidade se dão (pelo fato de atacar nas fases iniciais) na redução do estande de plantas na área (tombamento). Além disso, nas plantas que sobrevivem há a perda intensa de área foliar (mela foliar), reduzindo a produtividade.

Ou seja, em um caso o fungo causa o tombamento e no outro (mela foliar) a planta irá morrer em pé.

Rhizoctonia solani causando tombamento e a mela foliar (Fonte: Embrapa)

Evolução da mela em plântulas de algodoeiro (Fonte: Embrapa).

Como forma de controle é um bom manejo preventivo. Portanto, não abra mão de um planejamento da implantação da lavoura para não ter dores de cabeça com este patógeno.

Listamos abaixo alguns cuidados para evitar a mela do algodoeiro:

  • Limpeza de maquinários e implementos agrícolas;
  • Utilização de sementes certificadas e tratadas;
  • Rotação de culturas (redução do inóculo);
  • Sistema de plantio direto (não revolvimento do solo e cobertura de palhada);
  • Evitar períodos muito chuvosos no plantio;
  • Eliminar plantas que forem hospedeiras.

Como visto acima, o manejo com defensivos agrícolas de forma curativa não é recomendado.

4. Ramulose

A ramulose é causada pelo fungo Colletotrichum gossypii South var. cephalosporioides. Ele se dissemina tanto internamente quanto externamente pelas sementes de algodão e, os danos podem chegar em até 80%.

Além disso, a ramulose pode se disseminar também pela água, solos contaminados, vento, trânsito de pessoas e implementos agrícolas na propriedade.

A infecção das sementes que serão plantadas no próximo ciclo está diretamente relacionada ao estágio em que as plantas estão mais “suscetíveis” à infecção: a formação das maçãs.

As condições favoráveis para seu desenvolvimento são áreas com temperatura entre 25 e 30 ºC e alta umidade relativa do ar (> 80%). Além disso, o patógeno sobrevive em restos culturais de um ciclo para outro.

Os primeiros sinais da doença são observados nas folhas mais novas, com o aparecimento de manchas necróticas. Com o desenvolvimento da doença, a mancha necrosada cai, deixando perfurações nas folhas (mancha estrelada).

Folha de algodoeiro com ramulose (Fonte: Embrapa).

As principais formas de controle do patógeno se dão pela rotação de culturas, uso de sementes sadias e tratadas, limpeza de maquinários e implementos agrícolas, uso de variedades resistentes e controle químico.

O controle químico por meio de agroquímicos é fundamental quando se trata em impedir que o fungo se desenvolva e produza estruturas de resistência. Portanto, um monitoramento ostensivo é necessário para identificar a entrada da doença.

5. Mofo branco

O mofo branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é um patógeno que depende bastante das condições ambientais para se desenvolver. Em áreas com o patógeno, os escleródios são a forma de inóculo. Em áreas livres, as sementes (infectadas) são o inóculo.

De um modo geral esta doença tem aumentado nos cultivos de algodão, principalmente em áreas irrigadas com rotação de soja-algodão ou feijão-algodão.

Como o próprio nome da doença nos diz, o desenvolvimento do patógeno é identificado por meio da formação de um micélio branco em praticamente todo o tecido lesionado.

Mofo branco em haste de algodoeiro (Fonte: Revista Cultivar).

Como principais formas de controle, destacam-se: utilização de sementes sadias, formação de palhada (redução de escleródios), utilização de cultivares de porte mais ereto, rotação de culturas não hospedeiras, controle químico e biológico.

Como controle químico, temos um leque de oportunidades para defensivos agrícolas à basea de fluazinam, tiofanato-metílico, ciprodinil + fludioxonil, boscalida + dimoxistrobin.

Conclusão

Como sempre pontuamos, quando o assunto é o ataque de patógenos às nossas culturas, é importante que o consultor/a esteja ciente das formas de disseminação e condições favoráveis ao patógeno para a adoção dos melhores métodos de controle.

Sendo assim, a AgroReceita conta com uma gama de ferramentas para auxiliar na resolução dos problemas com as doenças no campo, disponibilizando um banco de dados das bulas defensivos, de acordo com as alterações do MAPA. Tudo para facilitar o correto, preenchimento do receituário agronômico e, finalmente, a prescrição assertiva de agroquímicos.

Cássio

Cássio Honda

Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fisiologia Vegetal e Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras.

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