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Conheça as doenças das plantas agravadas pelas mudanças climáticas

Mudanças climáticas

Sumário

Como a alteração de padrões de condições climáticas poderá causar o aumento da pressão de doenças específicas de plantas e causar sérios danos em um futuro próximo.

As mudanças climáticas podem agravar as doenças de plantas e causar grandes danos ao agronegócio. A alteração de padrões normais ou a maior frequência de eventos extremos pode ser de grande prejuízo para a produtividade agrícola.

Isso pode acontecer, diretamente, por meio de estresses abióticos como seca, inundação, chuvas de pedra, ventos etc. Porém, há também o impacto indireto das alterações de condições ambientais, que pode causar a alteração no ciclo de vida de microrganismos causadores de doenças em plantas

Atualmente, estima-se que cerca de 40% da produção potencial no campo é perdida pela influência de pragas e doenças. O favorecimento do ciclo da disseminação e sobrevivência dos patógenos pode causar ainda mais dano, gerando perdas de produção e quebra de safra, influenciando grandemente a segurança alimentar regional e global.

Neste artigo abordaremos os principais pontos sobre a influência da alteração do clima nas doenças de plantas, informando também sobre seu controle.

O ciclo das doenças de plantas

Para que uma doença ocorra em uma planta, são necessários 3 fatores, que formam o chamado triângulo de infecção de doenças de plantas. Esses três vértices do triângulo são: o patógeno, o ambiente e a planta hospedeira.

Mudanças climáticas

Triângulo de infecção das doenças de plantas (Fonte: Stoller)

As três condições são limitantes e necessárias para a expressão da doença. Por exemplo, pode haver condições ambientais ideais e plantas em uma área, porém, se não houver o patógeno, não há como haver infecção.

Da mesma maneira, a presença do patógeno em condições ambientais favoráveis, porém sem hospedeiro também não permite o desenvolvimento da doença, do mesmo modo que a presença do patógeno e da planta, porém sem um ambiente ideal.

Na agricultura como conhecemos hoje em dia, há um número muito restrito de espécies utilizadas na maioria da área agrícola do país. Dessa forma, é muito comum haver o patógeno e a planta em um ambiente, sendo que os fatores ambientais podem definir se haverá potencial de infecção maior ou menor

Por exemplo, uma doença fúngica que se propaga e causa danos na região Centro-Oeste pode não ter importância na Região Sul, por exemplo. Nesse contexto é que é necessário entender os cenários de alterações climáticas e o possível impacto deles no potencial de infecção de certas doenças de plantas ao redor do país.

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Como as condições climáticas afetam os patógenos?

Toda e qualquer alteração com potencial para influenciar o ciclo de um ser vivo deve atuar em uma de suas três fases principais de vida: sobrevivência, reprodução e dispersão. No caso das condições ambientais, elas podem favorecer ou limitar as condições de completar o ciclo de vida do patógeno, o desenvolvimento de suas estruturas reprodutivas ou a sua forma de colonização de outros indivíduos.

As principais condições climáticas que afetam o ciclo de vida de patógenos são: temperatura, umidade (e consequentemente, precipitação), radiação e ventos. Alterações, ao longo prazo, nas condições climáticas de uma região podem causar 3 tipos principais de impacto a uma determinada doença:

  • Efeito deletério: quando as novas condições climáticas não permitem o desenvolvimento da infecção na região, mesmo na presença do patógeno e do hospedeiro;
  • Efeito benéfico à doença: quando as novas condições ambientais favorecem o desenvolvimento do patógeno e o seu ciclo de vida e reprodução, aumentando a expansão e o possível impacto da doença;
  • Efeito neutro: quando alterações nas condições climáticas não influenciam uma determinada doença.

De acordo com os cenários de mudanças climáticas propostos por diversos órgãos, o Brasil deve apresentar, em geral, um aumento da temperatura média de todos os meses e uma distribuição mais irregular de chuvas, com possível diminuição da precipitação acumulada. Esse padrão pode ser inverso para algumas áreas específicas, uma vez que depende de outros fatores, como relevo, latitude e continentalidade, por exemplo.

Com relação a esses dois parâmetros, sabe-se que, o aumento da temperatura, se dentro dos limites máximos de tolerância da espécie, leva a um aumento da população de patógenos e consequentemente da pressão da doença. Já a umidade, que caminha de mãos dadas com a temperatura, tem valores ótimos para disseminação e sobrevivência do patógeno, entre 40 e 80%.

Assim, as alterações climáticas podem gerar um efeito de agravamento das doenças de plantas em cenários climáticos favoráveis, já nos próximos anos.

Quais as doenças com maior potencial de agravamento no Brasil?

De acordo com o IPPC (Convenção Internacional de Proteção de Plantas, da sigla em inglês), órgão da FAO (Organização da Agricultura e Alimento) da ONU (Organização das Nações Unidas), há grande potencial para aumento da incidência de algumas doenças de alto impacto na agricultura mundial.

  • Requeima da batata (Phytophthora infestans): o fungo causador dessa doença, que ataca as culturas da batata e tomate com maior impacto, tem o potencial de se adaptar facilmente às condições ambientais, sendo favorecido por condições quentes e úmidas. As alterações climáticas podem causar sua expansão para áreas onde não conseguia se desenvolver, como o Egito, por exemplo;
  • Ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix): a ferrugem é uma doença fúngica que causa severos danos aos cafeeiros ao redor do mundo. Estima-se que o aumento da temperatura irá encurtar o ciclo de vida do fungo, aumentando a pressão por um maior número de gerações desenvolvidas no campo;
  • Murcha de fusarium (Fusarium oxysporum): essa doença causada por um fungo de solo que se desenvolve na presença de água, causa bloqueio dos vasos condutores da planta, fazendo que haja murcha da parte aérea. Bastante importante na cultura da banana, ela tem potencial de aumento com a maior incidência de ciclones e aumento da temperatura média do ar;
  • Xylella fastidiosa: essa bactéria é causadora de doenças em diversas culturas de interesse, entre elas plantas frutíferas, ornamentais e florestais, causando murcha e seca da parte aérea. Ela é transmitida por insetos vetores, como a cigarrinha, que tende a ser beneficiado pelas alterações climáticos, aumentando o potencial de expansão e transmissão da doença;
  • Míldio da videira (Plasmopara vitícola): o míldio da videira causa danos às plantas de uva, atacando folhas e diminuindo grandemente a capacidade fotossintética, o que limita o crescimento da planta e o acúmulo de açúcar nos frutos. O aumento das temperaturas tende a impactar fortemente na aceleração do ciclo do fungo, gerando ainda mais prejuízos.

No Brasil, estudos mostram que várias doenças, principalmente fúngicas, também serão favorecidas pelas alterações climáticas, como mostrado abaixo em quadro resumo de estudo publicado pela Revista Pesquisa FAPESP.

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Doenças de plantas com tendência de aumento no Brasil (Fonte: FAPESP)

Conclusão

Mais do que conseguir prever qual o cenário climático futuro de uma região, é preciso que o responsável pelo controle de doenças esteja antenado aos padrões de disseminação e potencial de infecção de doenças na área.

Alguns pontos são cruciais para o controle eficiente de pragas, seja ele preventivo ou curativo:

  • Monitoramento de condições ambientais;
  • Prevenção e eliminação de possíveis focos de patógenos;
  • Em caso de infecção, identificação correta do patógeno e da doença;
  • Recomendação do melhor princípio ativo, dose e momento de aplicação;
  • Avaliação do controle e monitoramento da projeção da evolução da doença.

Apesar de ser importante se atentar para as condições ambientais que favorecem o desenvolvimento de uma doença específica, é primordial conhecer as ferramentas e produtos disponíveis para o uso correto de defensivos agrícolas para controle eficiente de doenças.

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Sobre o Autor

João Paulo Pennacchi
João Paulo Pennacchi
 

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e Doutor em Fisiologia de Plantas pela Lancaster University.

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