Lagarta do cartucho: como controlar na cultura do trigo?

lagarta do cartucho

As lagartas do gênero Spodoptera possuem grande importância, pois quando falamos em danos,  elas são responsáveis por uma grande perda econômica, devido sua voracidade. Na cultura do trigo a presença da Spodoptera frugiperda, pode causar danos significativos. 

Conhecida popularmente como lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar, a Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) possui um potencial de dano agrícola bem expressivo, normalmente associada à cultura do milho

Entretanto, a praga é polífaga sendo capaz de se alimentar de diversos tipos de plantas.

Então, vamos aprender um pouquinho mais sobre essa praga? Desejamos uma boa leitura!

Identificação da lagarta do cartucho

Muitas vezes surgem dúvidas na identificação da lagarta-do-cartucho, confundida com a lagarta-rosca (Agrotis ípsilon), devido ao dano semelhante.Contudo é importante essa diferenciação para melhor direcionarmos o controle. 

Podemos levar em consideração algumas características da espécie para identificar: 

  1. Cabeça escura com uma mancha clara em forma de “Y” invertido
  2. Quatro pontos pretos que formam um quadrado na parte inferior do abdômen 

Em seu ciclo inicial de vida apresentam coloração clara, mudando conforme maior tempo de vida

lagarta do cartucho

Foto 1: pontos a considerar na identificação da praga. Fonte: SANBI

Uma fêmea tem a capacidade de ovopositar nas folhas em torno de 250 ovos,  que possuem coloração amarelada e o período de incubação é de aproximadamente 3 dias. As larvas adquirem coloração pardo-escura até quase preta, dependendo da idade. O período larval varia de 15 a 25 dias, passando por 4 a 7 ínstares, dependendo das condições de ambiente e alimento disponíveis. 

As pupas são de coloração marrom-avermelhada e ficam abrigadas no solo. Após aproximadamente 10 dias de período pupal ocorre a emergência dos adultos, que são mariposas com alta mobilidade, medindo em torno de 4 cm de envergadura e com longevidade de aproximadamente 12 dias.

Danos da lagarta do cartucho

Em gramíneas (Poaceae) como o trigo, seus danos são observados em manchas nas lavouras, no período inicial do desenvolvimento da cultura (da emergência ao afilhamento), atacando plântulas, consumindo folhas e, em casos mais severos, reduzindo estande de plantas, ou seja, perdendo plantas de trigo por hectare. Essas lagartas cortam as plantas rentes ao solo com sintomas semelhantes ao ataque da lagarta-rosca (Agrotis ipsilon).

A praga pode estar presente nas culturas antecessoras, plantas hospedeiras ou serem provenientes de posturas realizadas pelas mariposas, logo após a emergência do trigo. Sabendo a capacidade de dano que essa lagarta possui, o controle dessa praga nos primeiros ataques é imprescindível para evitar perdas maiores de produtividade. 

Recomendações técnicas da Embrapa sugerem o controle da praga no início da infestação, realizando o monitoramento por meio da contagem direta das lagartas no solo, a partir da emergência das plantas.

Manejo da lagarta do cartucho

Uso de inseticidas na dessecação

pragas que sobrevivem de uma safra para a outra. Lagartas do gênero Spodoptera conseguem sobreviver o ano todo no sistema, pois tem a capacidade de se abrigar na palha junto ao solo até a cultura emergir, quando cortam as plântulas. Com a utilização dos inseticidas conseguimos reduzir essa população e iniciar a semeadura da cultura comercial “no limpo”. 

No sul do país, aveia, azevém e ervilhaca são comuns estar presente como plantas de cobertura verde na entressafra, já na região Centro-Oeste, milheto, braquiária e crotalária pode ser destacado. Disponibilizando assim alimento constante para esses insetos. 

Os produtos com ação inseticida utilizados na dessecação são normalmente piretróides, carbamatos e organofosforados. Eles possuem como vantagem o menor custo, porém não são seletivos aos inimigos naturais. Tendo em vista esse entrave, novas moléculas estão surgindo para contornar esse problema, agindo como ferramentas estratégicas do MIP.

Monitoramento

Características como alto potencial reprodutivo, ciclo biológico relativamente curto, polifagia e sobreposição de culturas hospedeiras na área têm favorecido o aumento das populações e criado situações de dificuldade no controle. Dessa forma, o controle dessas lagartas não tem sido uma tarefa fácil. Falhas de controle de inseticidas têm sido frequentemente relatadas.

O monitoramento é estratégia fundamental para auxiliar no controle, essencialmente porque o tamanho das lagartas e nível de infestação influenciam diretamente na eficácia do controle químico. Aplicar no momento certo aumenta as opções de inseticidas, a eficácia de controle é maior e os custos poderão ser menores. 

O uso de armadilhas são ferramentas essenciais para o estabelecimento de medidas preventivas de manejo, com a captura de adultos, conseguimos tomar a decisão do manejo fitossanitário com pelo menos dez dias de antecedência em função do ciclo do inseto. Constatadas densidades populacionais, as tomadas de decisão devem ser estabelecidas em função do hábito do inseto, dando preferência para a noite, momento em que se encontra exposto.

Foto 2 e 3: Armadilha luminosa, Cruz Alta-RS, por Samira Fredi

Controle da lagarta spodoptera frugiperda:

Para o controle de Spodoptera frugiperda, o método mais expressivo é o controle químico, realizando aplicação de inseticidas conforme a necessidade e utilizando produtos registrados para a cultura. 

Na aplicação química devemos levar em consideração o tamanho das lagartas, podendo utilizar ferramentas do grupo dos fisiológicos e diamidas para lagartas menores. Já para lagartas maiores ativos, como espinetoram, clorfenapir, endoxicarbe e benzoate (Pasini, 2023).

Vale destacar que os inseticidas registrados para o controle da praga, constam no App Compêndio Agrícola do AgroReceita, permitindo realizar a consulta fitossanitária gratuita e ilimitada e descobrindo o produto mais indicado para o alvo.

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Importante ressaltar que para o controle dessa espécie temos algumas opções de produtos biológicos registrados à base fungo (Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae), de bactéria (B. thuringiensis), de vírus (Baculovírus), de nematoide entomopatogênico (Heterorhabditis bacteriophora e Steinernema carpocapsae) e de parasitoide (Trichogramma pretiosum).

Conclusão

A correta identificação da lagarta Spodoptera frugiperda é importante para entrar com a medida de controle eficiente.

Seus danos são expressivos no período inicial da cultura, pela redução do estande de plantas e consequentemente atrasos no desenvolvimento da lavoura. 

O uso de inseticidas na dessecação se torna uma alternativa para a eliminação das lagartas que ficam no sistema na entressafra, tornando a lavoura mais eficiente para a posterior implantação da cultura comercial. 

O monitoramento das áreas é indispensável, pois conseguimos identificar a população antes mesmo de estar presente na área, com o uso de armadilhas. E quando já presentes, tomamos a decisão buscando sempre o melhor manejo.

O controle químico e biológico pode ser realizado, conforme a necessidade e utilizando produtos registrados no Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento (MAPA), que estão disponíveis no app Compêndio AgroReceita.  

Esperamos que esse artigo tenha sido útil para você!

Sobre o Autor

Samira Fredi

Samira Fredi

Técnica em Agronegócio (SENAR-RS)
Graduanda em Agronomia (Unicruz-RS)
Atua na pesquisa em manejo de insetos-praga na Intagro

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