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Manejo de doenças na cultura do café: da diagnose ao controle

Sumário

É de comum conhecimento entre os produtores e profissionais do ramo agrícola que todas as culturas exploradas economicamente estão, assim como nós humanos, sujeitas a diversas enfermidades durante seu ciclo de vida. 

Sendo assim, a identificação e controle eficaz se tornam extremamente necessários de modo a reduzir as perdas de produtividade decorrentes pelos danos causados pelo ataque de patógenos nas lavouras e, na cafeicultura, não é diferente.

A lavoura cafeeira pode ser acometida por vários problemas fitossanitários, podendo ser eles causados por agente infecciosos ou por problemas de origem ambiental. Sendo assim torna-se necessário bom conhecimento para um manejo de doenças eficaz.

Na maioria dos casos, as doenças do cafeeiro podem ser evitadas ou minimizadas por práticas culturais adequadas e, o sucesso do tratamento depende da rapidez no diagnóstico e adoção de manejo adequado.

Continue conosco a leitura deste artigo e veja como diagnosticar corretamente as doenças na cultura do café, bem como escolher o método de controle mais adequado para cada situação.

Quais as principais doenças na cultura do café?

1) Ferrugem do cafeeiro

A primeira doença apresentada é a ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, a principal doença causadora de prejuízos na cafeicultura. O primeiro registro desta doença no Brasil foi na década de 70.

Figura 2. Folhas do cafeeiro arábica com sinais da ferrugem. Fonte: EPAMIG, 2013.
Legenda: A – Sinais nas faces adaxial e abaxial da folha; B – Uredosporos do patógeno;

A ferrugem, assim como todas as doenças, necessita de condições favoráveis para seu desenvolvimento: temperaturas entre 22 e 28º C, molhamento foliar, alta umidade relativa do ar, adubações nitrogenadas pesadas e, alta carga pendente de frutos.

Portanto, de acordo com a última condição exposta acima, o ano em que a ferrugem é mais danosa é o ano em que o cafeeiro possui alta carga de frutos (bienalidade positiva). Os principais danos da doença são: desfolha intensa e seca de ramos.

Nestas condições favoráveis, os uredosporos da ferrugem-do-cafeeiro germinam na face abaxial das folhas e, por meio dos estômatos, penetram nas plantas. Sendo assim, é importante que a aplicação foliar de agroquímicos seja feita de modo a preencher esta face da folha quando eles estiverem de contato (protetivos).

Um controle eficaz se inicia antes mesmo do estabelecimento da doença, com um monitoramento consistente para constatar o aparecimento dos primeiros sinais de forma eficiente. Mas, como realizar o monitoramento?

  1. Dividir a lavoura em talhões uniformes;
  2. Coletar 5 a 10 folhas por planta (terço médio), totalizando de 100 a 300 folhas por talhão;
  3. Contar o número de folhas com ferrugem e, determinar o percentual de infecção. O nível de dano econômico para aplicações curativas dos fungicidas é de 5%.

% de infecção= nº de folhas com ferrugemnº total de folhas x 100 

Figura 3. Método de monitoramento. Fonte: Epamig

Como controle com base no ambiente e hospedeiro, o cafeicultor deve optar por plantios mais espaçados (reduzir sombreamento), adubação nitrogenada adequada e, a utilização de variedades de café resistentes à ferrugem-do-cafeeiro.

Além disso, o controle químico é eficaz, tanto de forma protetiva quanto após os primeiros sinais. A aplicação preventiva vem com produtos à base de cobre. Os sistêmicos (estrobilurinas, trazóis e carboxamidas), são eficazes no controle, e melhor ainda quando aplicados de forma preventiva aliados aos fungicidas cúpricos.

Além do controle químico, recentemente o controle biológico tem-se mostrado eficaz no manejo de doenças aliado ao uso de defensivos agrícolas. Um exemplo são produtos à base de Bacillus subtilis.

Lembre-se sempre, o intuito é atrasar ou até mesmo impedir o desenvolvimento da doença na área. O aparecimento dos sinais como mostra a figura 2, indica que o fungo se estabeleceu e já está causando danos à lavoura cafeeira.

Também é interessante que você consultor/técnico esteja sempre atento e atualizado quanto aos produtos registrados para a doença pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Através do Compêndio Agrícola do AgroReceita, você pode realizar a consulta fitossanitária dos defensivos registrados no Brasil de forma gratuita e ilimitada. Cadastre-se no formulário abaixo e comece já a sua pesquisa.

2) Cercosporiose

A cercosporiose, causada pelo fungo Cercospora coffeicola, é uma das doenças mais antigas da cafeicultura. Grande causador de danos à produtividade, é um patógeno que sobrevive em restos culturais. Portanto, em área com histórico, fique atento.

Esta doença pode se estabelecer tanto em plantas adultas quanto na fase de muda, quando constata-se a doenças em viveiros, conforme a figura abaixo (figura 4).

Figura 4. Cercosporiose no cafeeiro.
Fonte: Epamig. Legenda: A – face abaxial e adaxial de folhas com cercosporiose; B – Mudas em viveiro com cercosporiose.

A doença se beneficia de períodos de alta insolação, alta umidade relativa, temperaturas amenas e, principalmente, o que mais favorece a entrada da cercosporiose no cafeeiro é o desbalanço nutricional entre cálcio e potássio no solo.

O desbalanço da relação cálcio e potássio é um importante fator para a entrada da doença. O excesso de potássio na área, aliado a baixos teores de cálcio no solo, inibem a absorção de cálcio pelas plantas.

Com isso, sendo o cálcio importantíssimo na formação da parede celular das plantas, uma planta com baixo teor de cálcio é uma planta com parede celular menos espessa e, consequentemente, um alvo fácil para a cercosporiose.

Portanto, antes mesmo de se valer de aplicações excessivas de fungicidas para o controle da doença, verifique por meio de análises se o seu solo está equilibrado.

Além de acometer as folhas, a cercosporiose acomete os frutos também, local onde o estrago vai além da produtividade, afetando a qualidade da bebida, fator extremamente importante na agregação de valor do produto final.

Figura 5. Fruto do cafeeiro com cercosporiose. Fonte: Epamig, 2013.

Portanto, em caso de histórico de cercosporiose na área, o indicado é a aplicação de fungicidas cúpricos logo após a florada, quando a flores secam e caem. Isso é necessário pois é neste momento que a doença entra na estrutura que se tornará o fruto.

Paralelamente, é interessante, assim como para a ferrugem e outras doenças, trabalhar com fungicidas sistêmicos antecipadamente juntamente com o tratamento de protetivo de contato.

Para prevenir o aparecimento em situação de viveiro de mudas, recomenda-se: locais secos e arejados, umidade equilibrada, baixa insolação e livre de ventos frios. Além disso, escolha um substrato adequado e adote uma adubação balanceada.

3) Mancha de Phoma

A mancha de phoma é uma doença do cafeeiro que pode acometer essa cultura desde a fase de muda até a fase de produção. Esta enfermidade é causada por fungos da espécie Phoma spp.

Figura 6. Incidência de mancha de phoma no cafeeiro. Fonte: Epamig.
Legenda: A – Folhas novas com a doença; B – Rosetas necrosadas pela doença

A doença causa desfolha, necrose em ramos, queda de botões florais e flores por necrose da roseta (figura 6 – B), mumificação e queda de frutos no estágio chumbinho e seca de ponteiros. As perdas, caso a doença não seja controlada, podem passar de 50%.

Regiões de elevada altitude, com incidência de ventos frios, baixas temperaturas noturnas e presença de orvalho são locais com condições ideais para o desenvolvimento da mancha de phoma.

Além disso, adubações desbalanceadas podem contribuir (e muito!) para a incidência deste fitopatógeno. O excesso de nitrogênio induz a produção de muitos tecidos jovens, com uma barreira muito fraca para impedir a entrada do fungo.

Assim como para a cercosporiose, níveis de potássio nos solos acima do normal também foram determinantes para o aparecimento da doença, induzindo à deficiência de cálcio e consequentemente no “enfraquecimento” da parede celular das folhas do cafeeiro.

Portanto, lembre-se sempre de uma adubação equilibrada. Evite o excesso de nitrogênio e, em solos com alto potássio na CTC opte por reduzir a dosagem de cloreto de potássio. Em casos extremos, realize a aplicação de cálcio via foliar para minimizar os danos causados pela sua falta.

Como forma de controle, pensando no controle cultural, oriente o produtor a evitar o plantio em áreas com as condições ideais. Caso a área já esteja implantada, oriente para a instalação de quebra ventos ao redor da área de produção.

Quanto ao controle químico, utilize fungicidas específicos durante os períodos mais favoráveis à doença (agosto a outubro; março a maio). Lembre-se sempre de rotacionar o princípio ativo dos defensivos agrícolas utilizados.

4) Mancha aureolada

Diferentemente das doenças mencionadas acima, a mancha aureolada não é causada por um fungo, mas sim pela bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae. 

Constatada em lavouras cafeeiras pela primeira vez no ano de 1955, esta doença adentra a planta do cafeeiro, basicamente por ferimentos e/ou abertura naturais (hidatódios, estômatos, nectários etc).

Esta doença se manifesta mais em lavouras novas (até quatro anos), porém, é necessário muita atenção em lavouras velhas que foram podadas (ferimento) e em viveiro de mudas submetidos a ventos frios. 

Figura 7. Incidência de mancha aureolada em folhas de cafeeiro. Fonte: Epamig

Como controle, tratando-se de uma bactéria, a melhor alternativa é sempre de forma preventiva. No caso do viveiro de mudas, opte sempre por locais sem incidência de ventos muito frios e com excesso de umidade.

Em caso de lavouras implantadas em locais sujeitos a ventos frios, utilizar a mesma estratégia que a usada para a mancha de phoma, opte pela adoção de quebra ventos na sua lavoura. 

Antes mesmo de adotar esta técnica, procure a ajuda de um agrônomo capacitado, uma vez que a escolha da planta incorreta para usar como quebra vento pode trazer mais dores de cabeça ao produtor do que benefícios.

No caso do controle químico, as aplicações preventivas são as mais eficientes. Em caso de viveiro de mudas, tem-se recomendado a aplicação de cúpricos à base de hidróxido de cobre.

Em lavouras adultas, a utilização de cúpricos também é recomendada. Sendo assim o produtor pode escolher entre: hidróxido de cobre, oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre + mancozeb ou, até mesmo produtos à base de carbonato de cobre.

Produtos mais insolúveis como os hidróxidos e os carbonatos permitiram uma proteção maior da superfície da folha e, de forma secundária, uma nutrição gradativa por serem fontes de nutrientes insolúveis.

5) Mancha anular do cafeeiro

Para finalizarmos este artigo, passaremos por esta doença virótica do cafeeiro. Causada pelo Coffee ringspot vírus – CoRSV, tem como seu vetor o ácaro Brevipalpus phoenicis, o famoso ácaro da leprose que ataca espécies de citrus.

Figura 8. Folhas de cafeeiro infectadas pela do vírus da mancha anular. Fonte: Rehagro.

A incidência deste ácaro em lavouras cafeeiras é acompanhada de intensa desfolha das plantas, o que pode reduzir muito a produtividade por conta da redução da fotossíntese do cafeeiro.

No dia a dia, pode-se ouvir produtores e técnicos utilizando o termo “planta oca”. Isso se deve, pois o ácaro se concentra nas regiões mais internas da planta, fazendo com que a desfolha ocorra de dentro para fora.

Portanto, tratando de um vírus disseminado por um ácaro, o foco no controle que aqui se dará no vetor, pois sem o mesmo não há a disseminação da doença.

Ingredientes ativos como dos grupos químicos das tiazolidinacarboxamida, cetoenol e sulfito de alquila são registrados para o ácaro da mancha anular na cultura do café. Portanto, cheque sempre os produtos que possuem registro para o alvo em questão.

Além do controle químico, assim como na cultura dos citros, a aplicação de enxofre elementar se mostra de grande valia neste caso. Além disso, atente-se ao tamanho e enfolhamento das plantas. Plantas maiores e com alto enfolhamento exigem um maior volume de calda.

Conclusão

Assim como para todas as outras culturas, o manejo eficiente de doenças na cultura do café começa sempre com um bom planejamento. Desde a área em que se vai implantar um talhão até qual fungicida devemos utilizar.

Um bom monitoramento das lavouras permite que o produtor não seja pego de surpresa. Organize bem a equipe para monitoramentos frequentes e lembre-se, o manejo antecipado e consciente (de doenças, pragas e nematóides) minimiza as perdas de produtividade.

Pensando especificamente na utilização de defensivos agrícolas atente-se ao que dizem os rótulos e bulas desses produtos. O uso consciente dos agroquímicos é essencial para a saúde e bem-estar dos operadores de máquina e para o meio ambiente,  além de evitar a seleção de patógenos resistentes na área.

Sobre o Autor

Cássio

Cássio Honda

Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fisiologia Vegetal e Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras.

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