ESG no agronegócio: como surgiu?
Sumário
O Brasil é referência em produtividade e qualidade no agro mundial. Por isso, entender sobre ESG no Agronegócio é fundamental para o setor.
ESG é uma sigla em inglês para Environment, Social e Governance, que traduzido para o português diz respeito ao meio ambiente, social e governança. Antes de aprofundar na origem, é importante salientar que a ideia de considerar impactos sociais e ambientais nas operações empresariais não é algo novo ou como falsamente disseminado restrito a uma agenda política.
O conceito de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) ou Responsabilidade Sócio Ambiental existe há décadas, com empresas reconhecendo a importância de contribuir positivamente para as comunidades onde operam e minimizar seu impacto ambiental.
Um exemplo é o Triple Bottom Line, introduzido por John Elkington na década de 1990. Esse modelo propôs que as empresas avaliassem seu desempenho com base em lucros financeiros, em impactos sociais e ambientais e tem sido adotada desde então por empresas líderes em todo o mundo.
Um estudo recente da Harvard Business Review, referência internacional, descobriu que empresas que priorizam práticas sustentáveis e sociais tendem a ter uma vantagem competitiva (lê-se livre concorrência) significativa, incluindo maior inovação, maior lealdade do cliente e maior retenção de funcionários. Esses benefícios são resultantes de uma abordagem de negócios que reconhece a interconexão entre o sucesso econômico e o bem-estar social e ambiental.
Continue a leitura deste artigo para saber mais!
O que significa o ESG no agronegócio?
O termo ESG no agronegócio, veio só em 2004, quando o secretário geral da ONU, fez um desafio aos presidentes das 50 maiores instituições financeiras do mundo para abraçarem a causa social e ambiental, já que o poder de realizar mudanças significativas mundiais está intimamente ligado ao dinheiro.
Então, foi criado um documento “Who Cares Wins” que reflete a ideia de que empresas que se preocupam com questões sociais e ambientais são as que obtêm sucesso a longo prazo. Esse documento destaca que empresas responsáveis desempenham um papel crucial na promoção do desenvolvimento sustentável e na mitigação dos desafios sociais e ambientais globais.
Assim, prevê benefícios como acesso a novos mercados, facilidade no acesso a capital, taxas de financiamento reduzidas, além de aumento no valor e na reputação da marca. Outra dúvida comum, é que para fazer parte da iniciativa, as empresas não se inscrevem diretamente, é necessário seguir as recomendações do relatório, integrando práticas ambientais, sociais e de governança em sua gestão, finanças e investimentos. Pode-se também aderir ao Pacto Global da ONU que facilita essa participação oferecendo diretrizes, inclusive tem um grupo de trabalho da ONU que é chamado Agro Sustentável. Ou ainda, fazendo accountability através de relatórios dos quais falarei mais a frente.
Os três pilares do ESG no agronegócio
Environment
Quando falamos em ESG no agronegócio, especificamente sobre as práticas ambientais em propriedades rurais brasileiras, pode-se com certeza afirmar que, mesmo na agricultura de larga escala, somos exemplo para o mundo.
Segundo o Censo Agropecuário 2017 do IBGE, Embrapa e dados do Cadastro Ambiental Rural de 2023, cerca de 25,6% do território brasileiro em áreas rurais é dedicado à preservação de vegetação nativa.
Enquanto os Estados Unidos, tem apenas cerca de 15%, com uma meta de chegar a 30% até 2030. Além disso, métodos como plantio direto acontecem no nosso país desde a década de 70, sendo amplamente difundido a partir dos anos 90. Hoje, somos líderes globais na adoção do plantio direto com mais de 32 milhões de hectares, ajudando a preservar a saúde do solo segundo a Embrapa.
Cumprindo rigorosamente a legislação ambiental brasileira, o produtor rural já pode se considerar cumprindo com as diretrizes ambientais mais modernas a nível mundial.
Outras formas de mostrar responsabilidade sobre o campo ambiental são: integração da lavoura, pecuária e floresta, manejo integrado de pragas, destinação correta de resíduos, implantação de terraços e curva de nível, uso de madeira certificada ou de reflorestamento para caldeiras e outras atividades que necessitem de queima, utilização de fontes de energias renováveis como placas solares ou PCH`s, captação de água da chuva para irrigação, manutenção de nascentes cercadas para evitar pisoteio do boi e conservação de mata ciliar e continuar trabalhando para garantir maior produtividade sem precisar abrir novas áreas.
Produtor rural segurando planta ao pôr do Sol. (Fonte: Canva)
Social
Já no campo social, pode-se dizer que não caminhamos tanto como na esfera ambiental, ainda predomina-se o pensamento de menor esforço possível. Ao seguir a legislação trabalhista, proprietários e CEOs afirmam já estar exercendo seu papel dentro do campo social.
Porém, o campo social é formado por 4 pilares: bem-estar, desenvolvimento, comunicação e diversidade e quando nos aprofundamos em cada um deles, ainda estamos com situações precárias. E infelizmente não é o que dizem e sim o que vivenciamos dia após dia abrindo as porteiras das propriedades rurais.
Um exemplo claro ocorreu no início de outubro de 2024, quando um proprietário rural de grande notoriedade foi exposto nas redes sociais por manter dormitórios em condições extremamente degradantes, gerando ampla repercussão negativa. Claro, que ele não reflete o todo, e que existem muitos tentando fazer o correto, mas ainda não são o bastante.
Como pensar em responsabilidade social externa, como impacto em comunidades ao entorno, se não estamos cuidando da nossa comunidade de colaboradores?!
Para saber como está o S do ESG no agronegócio em sua propriedade rural existe o Checklist ESG Social de Fazendas, um instrumento de auto avaliação gratuita e protegido pela LGPD que entrega um diagnóstico sobre como está a responsabilidade social na sua fazenda com dicas para tomada de decisão em cada um dos pilares. Clique no banner abaixo para ter acesso:
Eu, na Namaskar – Comunicação & Projetos ESG, atuo especificamente com o S do ESG ou o Campo Social do Triple Bottom Line, ou a Responsabilidade Social Corporativa Interna e Externa e sempre nas consultorias faço a primeiras perguntas:
- Você, sendo funcionário da sua empresa ou indústria, como gostaria de ser tratado?
- Você, morando na sua fazenda, gostaria de dormir no dormitório que oferece? Comeria a comida que você serve?
E mais uma série de perguntas de reflexão, que tendo bom senso e vontade de fazer diferente, o empresário ou proprietário entende que se trata de responsabilidade de desenvolvimento e empatia por aqueles seres humanos que convivem conosco e trabalham para que nossas empresas prosperem.
Governance
A governança dentro da agroindústria — como as revendas, cooperativas agrícolas ou lojas agropecuárias — e propriedades rurais se manifesta por meio de políticas bem estabelecidas, processos, manuais, organogramas bem definidos e comunicados. Além claro, dos próprios objetivos organizacionais (missão, visão e valores), solidez financeira, planos de sucessão.
Normalmente propriedades maiores que contam com departamento jurídico próprio e aquelas que utilizam financiamento de instituições financeiras para suas operações estão com a governança em dia, pois é pré-requisito para acesso aos bancos. Se o produtor perceber que algum desses itens acima está precário em sua propriedade o ideal é procurar apoio jurídico e de especialistas em governança.
Vantagens da aplicação do ESG no agronegócio em propriedades rurais e agroindústrias
Como vocês puderam observar nos últimos anos, o conceito ESG no agronegócio não é moda passageira, ele veio para ficar e é necessário que o produtor rural se adeque à essa realidade. Bem verdade que por enquanto, os mesmos órgãos que exigem essa nova postura, ainda não conseguiram destravar os valores financeiros destes ativos ambientais, sociais e de governança no mercado.
Por exemplo, hoje a soja que vem de uma fazenda ambientalmente e socialmente responsável tem o mesmo preço de uma que não tem esse nível de responsabilidade, a mesma coisa para gado e outras culturas.
Porém essa discussão já está em pauta há mais de 3 anos e agora é questão de pouco tempo para que de fato esses valores consigam ser destravados no mercado nacional e mundial.
Por outro lado, produtores que estão já há mais tempo trabalhando a sustentabilidade nesses três aspectos (social, ambiental e governança) em suas fazendas já conseguem por exemplo financiamento com juros mais atrativos e liberação de crédito facilitado em instituições como Rabobank e Banco do Brasil e como dito anteriormente é só questão de pouco tempo até os outros bancos lutarem por essa fatia do bolo.
O mais importante para o produtor nesse momento é saber como aplicar isso, na prática, para isso é necessário a criação projetos, temas materiais, de indicadores e claro, comunicar tudo isso depois em um formato amplamente utilizado e já validado pela maioria das instituições que é o Relatório, que pode ter vários nomes, Relatório Sócio-Ambiental, Relatório de Desenvolvimento Sustentável, Relatório de Sustentabilidade, Relatório ESG ou até mesmo dentro do demonstrativo contábil serem sinalizadas essas iniciativas.
Conclusão
É crucial valorizar e enaltecer o perfil dos produtores rurais do Brasil, até mesmo das agroindústrias familiares que comemoram décadas e às vezes até centenário de existência.
Não é fácil se manter em um mercado tão cheio de desafios como no nosso país. Essas conquistas são notáveis, gerando emprego e contribuindo significativamente para o crescimento econômico nacional.
Quando vamos conversar com produtores sobre ESG no agronegócio, mas principalmente em ambientes que exigem gestão de processos complexos, que enfrentam competitividade de mercado e demandas regulatórias, escutamos muitas vezes, que a própria legislação já é rígida o suficiente dentro das operações.
No entanto, apesar das contribuições significativas para o setor e país, há uma lacuna de reconhecimento sobre as realidades e desafios enfrentados pelos seus colaboradores na ponta.
Muitos founders já não estão mais tão perto da operação e desconhecem as condições de trabalho, os riscos à saúde, segurança, falta de comunicação, e também como estão e de quem são os esforços para garantir a qualidade e eficiência dos produtos ou serviços oferecidos.
O Brasil é referência em produtividade e qualidade no cenário do agronegócio mundial. Essa reputação se deu pelo esforço de cada um em manter os níveis altos de exigências do mercado interno e externo.
Um agronegócio brasileiro produtivo, sustentável e responsável é factível e está próximo de acontecer. Basta cada um fazer sua parte e continuar trabalhando afinco em busca de seus objetivos para que possamos deixar um legado sustentável para as futuras gerações.
Referências
HARVARD BUSINESS REVIEW. The comprehensive impact of ESG on corporate performance. Disponível em: www.hbs.edu/ris/Publication%20Files/SSRN-id1964011_6791edac-7daa-4603-a220- 4a0c6c7a3f7a.pdf Acesso em: 10 de setembro de 2024.
UNITED NATIONS. Who cares wins: connecting financial markets to a changing world. Nova Iorque: United Nations Global Compact, 2004. Disponível em:https://d306pr3pise04h.cloudfront.net/docs/issues_doc/Financial_markets/who_c ares_who_wins.pdf Acesso em: 10 setembro de 2024.
CAP (Center for American Progress). How much nature should America keep? Disponível em:https://www.americanprogress.org/article/much-nature-america-keep/. Acesso em: 10 out. 2024.
NEWTON, John. More than 140 million acres in federal farm conservation programs. American Farm Bureau Federation, 2019. Disponível em: https://www.fb.org/market-intel/more-than-140-million-acres-in-federal-farm-conserva tion-programs. Acesso em: 10 out. 2024.
OLIVEIRA, Ticiana. Prova de valor: o impacto direto do ESG. LinkedIn, 2024. Disponível em:
https://www.linkedin.com/pulse/prova-de-valor-o-impacto-direto-do-esg-ticiana-oliveir a-yd3nf/. Acesso em: 10 out. 2024.
OLIVEIRA, Ticiana. Agroindústria: a responsabilidade do crescimento. LinkedIn, 2024. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/agroindústria-responsabilidade-do-crescimento-tician a-oliveira-wmadf/. Acesso em: 10 out. 2024.
Sobre o Autor:
Ticiana Oliveira
Gestora de Projetos no Setor de Desenvolvimento – PMD PRO – Project Management for Development. Comunicadora Social com ênfase em Publicidade e Propaganda e especialista em Gestão Social e Desenvolvimento Sustentável. Com formação complementar em Psicologia Organizacional e do Trabalho, Comunicação Não Violenta e Dinâmicas Colaborativas, é também membro da Sociedade Brasileira de Educomunicação.
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