Glifosato: mecanismo, modo de ação e resistência das plantas daninhas

Herbicidas inibidores da EPSPs: quem são, quais plantas controlam, seletividade, fitotoxicidade e casos de resistência.

No texto anterior você aprendeu sobre os herbicidas inibidores da biossíntese de carotenoides.

Hoje você vai ver os herbicidas inibidores da EPSPs. Vamos começar vendo quais são estes produtos, que no caso de hoje é apenas um: o glyfosate, também conhecido como glifosato.

Desejamos uma ótima leitura!

Quem são os herbicidas inibidores da EPSPs?

Os herbicidas desse mecanismo de ação inibem a enzima 5-enolpiruvilchiquimato-3-fosfato sintase (EPSPs). Nesse mecanismo de ação temos o herbicida glyphosate, que faz parte do grupo químico das glicinas (G).

Na tabela abaixo você pode ver todos os ingredientes ativos desse mecanismo de ação registrados no mundo.

O glyphosate está no grupo G da classificação do HRAC e na classificação 9 da WSSA (Weed Science Society of America).

Agora que você já viu qual é o ingrediente ativo inibidor da EPSPs, vamos ver quais são as características gerais desse mecanismo de ação.

Características gerais do herbicida glifosato

O glifosato é usado para o controle de mono e eudicotiledôneas anuais e perenes, ou seja, folhas estreitas e largas. É um herbicida sistêmico, ou seja, transloca pelo xilema e floema. Por ser sistêmico é utilizado para o controle de plantas daninhas perenes, que tem propagação vegetativa.

A absorção do glifosato é foliar, portanto é usado apenas em pós-emergência das plantas daninhas. O glifosato não tem ação como herbicida pré-emergente, pois fica fortemente adsorvido aos coloides no solo, formando um resíduo ligado.

Algo que temos que lembrar é que águas de pulverização contendo muitos sais solúveis (Ca e Mg) diminuem a atividade do glifosato. Isso acontece porque o glifosato liga-se com estes e acaba precipitando, não tendo ação no controle de plantas daninhas. Portanto, é preciso ter atenção à qualidade da água utilizada na pulverização. 

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Mecanismo e modo de ação do glifosato

O glyphosate tem sua ação inibindo a enzima EPSPs. Essa enzima é responsável por catalisar a ligação dos compostos 3-fosfato (S3P) e fosfoenolpiruvato (PEP), produzindo o enolpiruvilchiquimato-3-fosfato e fosfato inorgânico. 

Sem ocorrer a reação de chiquimato 3-fosfato para 5-enolpiruvilchiquimato-3-fosfato, não há a produção de 3 aminoácidos aromáticos essenciais para as plantas: o triptofano, a fenilalanina e a tirosina

Na figura abaixo você pode observar onde o glifosato age na planta.

Fonte: HRAC-BR.

Seletividade do herbicida glifosato

O glifosato é um herbicida não-seletivo. A seletividade pode ser obtida por meio das plantas tolerantes ao herbicida, como a soja RR, milho RR e algodão RR, ou seja, as plantas transgênicas.

Quando as culturas são tolerantes ao glifosato, é possível aplicar o herbicida em pós-emergência da cultura em área total.

A seletividade também ocorre quando aplicamos o herbicida quando a cultura não está presente no campo, como por exemplo na dessecação pré-semeadura ou no pós-plantio da cultura, mas antes dela emergir. Nesse mecanismo de ação, o sintoma observado no campo é a murcha das plantas.

Mamona (Ricinus communis) com sintomas
da aplicação do herbicida glyphosate. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Usos dos herbicida glifosato

Além dos usos do glifosato para controle de plantas daninhas em cultivos anuais, temos outros momentos em que este herbicida é usado. Ele pode ser utilizado no controle de plantas daninhas em áreas não-cultivadas, como em rodovias, ferrovias, ruas e parque de indústria.

Também é muito usado como dessecante para implantação do plantio direto. Em pastagem, o glifosato é usado para a renovação das pastagens. Em culturas com espaçamento entrelinhas maiores, o glifosato é usado em aplicações dirigidas, como na cultura do café, frutíferas e reflorestamento.

É usado também no controle seletivo de plantas daninhas em culturas geneticamente modificadas.

E, como regulador de florescimento em cana-de-açúcar.

Carryover: residual de herbicidas

No caso do glyphosate não teremos problemas com residual, pois o herbicida não tem ação no solo.

Na foto abaixo você pode observar que não houve sintomas de injúrias nem controle das plantas daninhas quando o glyphosate foi aplicado em pré-emergência do milho, soja, capim-amargoso e picão-preto.

Glyphosate aplicado em pré-emergência, mostrando que o herbicida não tem efeito nessa modalidade de aplicação. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Na figura abaixo você pode observar que a molécula do glyphosate tem fósforo (P), o que leva a uma forte adsorção ao solo.

Plantas daninhas resistentes ao glifosato

No mundo há 58 casos de biótipos de plantas daninhas resistentes ao herbicida glyphosate.

Casos de resistência ao herbicida glyphosate no mundo. Fonte: Heap (2023).

O glifosato é um herbicida utilizado desde a década de 70. Os principais mecanismos que conferem às plantas daninhas a resistência ao glifosato são a alteração no sítio de ação, a redução da translocação, a ampliação do gene e a compartimentalização. No caso da alteração do sítio de ação, as plantas resistentes têm um aminoácido diferente em determinada posição, e isso já é suficiente para a planta não morrer após ser exposta ao herbicida.

A redução da translocação do produto reduz o que chega aos tecidos meristemáticos.

As plantas que conseguem produzir mais cópias da enzima EPSPs através da ampliação do gene também não morrem com o glyphosate, pois a planta produz tantas cópias que o herbicida não consegue inibir todas as enzimas.

Já, no caso da compartimentalização do herbicida, a planta consegue sequestrar o glyphosate e levar para o vacúolo da célula, onde é inativado.

Na figura abaixo podemos observar que o glyphosate é o segundo ingrediente ativo com mais espécies resistentes no mundo, ficando atrás apenas da atrazine (herbicida inibidor do Fotossistema II – FSII).

Número de plantas resistentes de acordo com o ingrediente ativo. Fonte: Heap (2023).

Na figura abaixo você pode observar a evolução dos casos de resistência de acordo com os mecanismos de ação.

O mecanismo de ação do glyphosate (Inibidor da EPSPs) está em terceiro lugar, ficando atrás dos herbicidas inibidores da ALS e do FSII.

Número de casos de resistência de acordo com o mecanismo de ação. Fonte: Heap (2023).

Na tabela abaixo você pode ver quais são as plantas daninhas resistentes ao glyphosate no Brasil.

Há casos de resistência simples e múltipla. Na resistência múltipla a planta daninha é resistente a dois ou mais herbicidas de diferentes mecanismos de ação.

Capim-amargoso (Digitaria insularis) rebrotando após
a aplicação do herbicida glyphosate. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Também não podemos confundir tolerância com resistência. Algumas plantas daninhas são naturalmente tolerantes a um determinado herbicida, isso devido a características morfológicas e/ou fisiológicas da planta.

É o exemplo de trapoeraba, erva-de-touro, erva-quente e poaia-branca que são de difícil controle pelo herbicida glifosato.

Essas plantas não são resistentes, pois não passaram pelo processo de seleção imposto pelo uso repetitivo do glifosato.

Capim-amargoso (Digitaria insularis) rebrotando após a aplicação do herbicida glyphosate. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Conclusão

O glifosato é o herbicida representante do mecanismo de ação dos inibidores da EPSPs.

O herbicida glifosato é um produto não-seletivo, sistêmico, de amplo espectro de controle e usado na pós-emergência das plantas daninhas. Há vários casos de resistência ao glifosato no mundo. 

É um herbicida muito utilizado em diversas situações, geralmente associado a outros herbicidas para ampliar o espectro de controle.

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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