Herbicidas inibidores da ALS: mecanismo e modo de ação

Herbicidas inibidores da ALS: quem são, quais plantas controlam, seletividade, fitotoxicidade e casos de resistência.

No texto anterior vimos sobre os herbicidas inibidores da ACCase. Hoje vamos ver sobre os herbicidas inibidores da ALS, um dos grupos de herbicidas com mais ingredientes ativos.

Vamos começar vendo quais são estes produtos. Desejamos uma ótima leitura!

Quem são os herbicidas inibidores da ALS?

Os herbicidas desse mecanismo de ação inibem a enzima acetolactato sintase (ALS) ou aceto-hidroxiácido sintase (AHAS).

São conhecidos por inibidores da biossíntese de aminoácidos (valina, leucina e isoleucina), sendo utilizados para controlar espécies de folhas largas (eudicotiledôneas), e alguns ingredientes ativos, também as gramíneas e ciperáceas.

Os produtos desse mecanismo de ação são divididos em cinco grupos químicos: sulfonilureias, imidazolinonas, triazolopirimidinas, pirimidinil (tio) benzoatos e sulfonilaminocarbonil triazolinonas.

Na tabela abaixo você pode ver todos os ingredientes ativos desse mecanismo de ação registrados no mundo.

Os herbicidas inibidores da ALS estão no grupo B da classificação do HRAC (Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas) e no grupo 2 na WSSA (Weed Science Society of America).

No Brasil, os herbicidas registrados são: chlorimuron, ethoxysulfuron, flazasulfuron, foramsulfuron, halosulfuron, iodosulfuron, metsulfuron, nicosulfuron, pyrazosulfuron, sulfometuron, sulfosulfuron, trifloxysulfuron, imazamox, imazapic, imazapyr, imazaquin e imazethapyr, cloransulam, diclosulam, flumetsulam, penoxsulam, pyroxsulam, bispyribac e pyrithiobac.

Para realizar a consulta fitossanitária dos herbicidas inibidores da ALS, registrados no Brasil, o AgroReceita disponibiliza o Compêndio de Defensivos Agrícolas Online.

Agora que você já viu quais são os ingredientes ativos inibidores da ALS, vamos ver quais são as características gerais desse mecanismo de ação.

Características gerais dos herbicidas inibidores da ALS

Os herbicidas desse mecanismo de ação possuem algumas características em comum.

O grupo químico das sulfonilureias é usado no controle de folhas largas (eudicotiledôneas), e algumas também têm ação de controle de gramíneas.As sulfonilureias podem ser absorvidas pelas folhas e pelas raízes. 

O grupo químico das imidazolinonas é utilizado no controle de folhas largas e gramíneas, em pré ou pós-emergência.

Os herbicidas inibidores da ALS são sistêmicos (translocam pelo floema).

Ingredientes ativos do grupo das imidazolinonas tem persistência moderada a longa no solo.

Mecanismo e modo de ação dos herbicidas inibidores da ALS

A enzima ALS ou AHAS catalisa reações na via de biossíntese de aminoácidos de cadeia ramificada (valina, leucina e isoleucina).

Com a inibição da enzima não há produção de aminoácidos, interrompendo a produção de proteínas, que acabam interferindo na produção de DNA e no crescimento celular, o que leva a planta a parar de crescer.

Fonte: Vargas et al. (2016).

Seletividade dos herbicidas inibidores da ALS

Os herbicidas inibidores da ALS são classificados como seletivos para algumas culturas. Algumas culturas tolerantes a um ou mais herbicidas desse mecanismo de ação são soja, trigo, arroz, cana-de-açúcar, algodão, coníferas, arroz, milho, batata, feijão e beterraba.

Algumas plantas daninhas são tolerantes a estes herbicidas.

A seletividade nesse mecanismo de ação ocorre devido a alterações na estrutura química das moléculas e, também pelo metabolismo diferencial, na qual a planta consegue metabolizar o produto em um composto não tóxico.

As culturas do trigo e arroz, por exemplo, conseguem metabolizar o metsulfuron em compostos não fitotóxicos.

Já, o nicosulfuron, a sua seletividade vai depender da tolerância do híbrido.

Como identificar os sintomas de injúria nas plantas?

Os sintomas de injúrias nas plantas suscetíveis são: cloroses; murchas e plantas ficam vermelhas por causa do acúmulo de antocianinas.

Da aplicação do herbicida até a morte da planta leva-se em torno de 7 a 14 dias

Nervuras avermelhadas, sintomas de herbicidas inibidores ALS. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Controle de plantas daninhas e registro para as culturas

Os herbicidas inibidores da ALS são usados para controle de plantas daninhas de eudicotiledôneas (folhas largas), monocotiledôneas (folhas estreitas) e ciperáceas, a depender do produto.

O metsulfuron, por exemplo, é usado no controle de plantas daninhas de folhas largas na cultura do trigo, cevada, aveia, arroz, cana-de-açúcar e pastagem.

O nicosulfuron é utilizado para controlar gramíneas e eudicotiledôneas na cultura do milho

O chlorimuron é usado no controle de plantas daninhas eudicotiledôneas anuais, na cultura da soja, com tempo de meia-vida de 7,5 semanas.

O herbicida imazaquin também é recomendado para o controle de plantas daninhas eudicotiledôneas na cultura da soja e, possui um tempo de meia-vida de 7 meses.

Já o herbicida imazathapyr possui um tempo de meia-vida de 60 dias, é recomendado para o controle de monocotiledôneas e eudicotiledôneas na cultura da soja.

O imazamox é registrado para as culturas de soja e feijão, tem tempo de meia-vida de 15 dias e controla, também, monocotiledôneas e eudicotiledôneas.

O herbicida imazamox também é utilizado nas culturas tolerantes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas: trigo, girassol e canola.

Para o controle de tiririca (Cyperus rotundus) e outras espécies de plantas daninhas perenes, o imazapyr é um dos herbicidas recomendados.

O imazapyr é um produto que consegue translocar para as raízes e rizomas das plantas perenes.

A associação de imazapyr + imazapic, por exemplo, é utilizada no controle de arroz-vermelho e capim-arroz na cultura do arroz tolerante a imidazolinonas.

Carryover: residual de herbicidas

Alguns dos herbicidas inibidores da ALS podem causar problemas de carryover na cultura em sucessão.

Isso acontece quando o residual do herbicida utilizado em uma cultura ultrapassa o seu período de cultivo e causa injúrias na cultura em sucessão. 

A tabela abaixo mostra o intervalo entre a aplicação de alguns herbicidas inibidores da ALS e o plantio de algumas culturas em sucessão.

Plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ALS

No mundo há 171 relatos de espécies de plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ALS.

A tabela abaixo mostra os casos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ALS no Brasil.

Fonte: Heap, I. The International Herbicide-Resistant Weed Database.

O mecanismo de ação dos herbicidas inibidores da ALS é o com maior número de casos de plantas daninhas resistentes no mundo.

Isso aconteceu porque são herbicidas que foram e são muito utilizados devido à baixa toxicidade, baixas doses, elevada eficácia no controle de plantas daninhas e seletividade a diversas culturas.

Fonte: Heap, I. The International Herbicide-Resistant Weed Database.

Conclusão

Os herbicidas inibidores da ALS controlam monocotiledôneas e eudicotiledôneas, dependendo do ingrediente ativo.

São herbicidas sistêmicos, utilizados em pré ou pós-emergência e que impedem a biossíntese de aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, valina e isoleucina) por meio da inibição da enzima ALS.

Há casos de resistência simples, cruzada e múltipla aos herbicidas desse mecanismo de ação.

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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