Plantas daninhas resistentes aos graminicidas

Plantas daninhas resistentes aos gramicidas

Plantas daninhas resistentes a herbicidas: veja quais delas são resistentes aos graminicidas no Brasil.

Um dos maiores desafios no manejo de plantas daninhas é o controle das espécies resistentes aos herbicidas, e dentre elas as plantas daninhas resistentes aos graminicidas.

No Brasil, o primeiro relato registrado de resistência a herbicidas, foi no ano de 1993 e remete às espécies de picão-preto (Bidens pilosa) e leiteiro/amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla).

Ambas as espécies resistentes aos herbicidas inibidores da ALS (acetolactato sintase).

O primeiro relato de espécies resistentes aos graminicidas (herbicidas inibidores da enzima ACCase – Acetil Coenzima A Carboxilase) foi no ano de 1997, na espécie Urochloa plantaginea (capim-marmelada).

De lá para cá, o Brasil registrou, até o momento, 54 casos de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas, destes 10 são relatos de resistência a graminicidas.

No texto de hoje apresentamos quais são estes 10 casos, quais as espécies resistentes e quais herbicidas

Plantas daninhas resistentes aos gramicidas

Casos de resistência aos herbicidas inibidores da ACCase no mundo.Fonte: Heap (2022).

Antes de falar sobre as plantas resistentes, temos que relembrar quais são os herbicidas graminicidas que pertencem aos Inibidores da ACCase.

O que são herbicidas graminicidas?

Os herbicidas graminicidas atuam inibindo a enzima ACCase. São também conhecidos por inibidores da síntese de lipídeos ou inibidores da síntese de ácidos graxos.

Os herbicidas deste mecanismo de ação apareceram no mercado a partir de 1975. São muito utilizados para o controle de gramíneas anuais e perenes, utilizados em pós-emergência das plantas daninhas gramíneas.

As espécies não-gramíneas (plantas de folhas largas – eudicotiledôneas) são todas tolerantes. São absorvidos pelas folhas das plantas; por isso, são usados em pós-emergência da planta daninha.

A translocação varia entre espécies, mas ocorre tanto pelo floema quanto pelo xilema, portanto, são produtos sistêmicos.

No geral, vemos que é recomendado a adição de adjuvante, pois aumentam a absorção e/ou a translocação do produto.

A recomendação é a aplicação em plantas jovens e que não tenham passado por períodos de déficit hídrico (plantas estressadas).

Plantas jovens têm menor barreira cuticular, menor deposição de cera na superfície das folhas e translocam o produto de forma mais rápida e eficiente.

A morte das gramíneas suscetíveis é lenta, requerendo uma semana ou mais para a morte completa. 

Os sintomas vistos no campo após a aplicação dos graminicidas são:

  • Rápida parada do crescimento das raízes e da parte aérea;
  • Troca de pigmento nas folhas dentro de dois a quatro dias;
  • Necrose: começa nas regiões meristemáticas e se espalha pela planta toda.
  • A incompatibilidade com outros herbicidas em misturas no tanque pode acarretar antagonismo.

Entre os herbicidas que já mostraram ação antagônica, podem ser citados: sulfonilureias, imidazolinonas, MCPA, 2,4-D, dicamba, bentazon e metribuzin.

A incompatibilidade química afeta a absorção foliar dos graminicidas, o que reduz a eficácia de controle. Espaçando-se as pulverizações por alguns dias, o problema é minimizado e, até mesmo, eliminado.

A tabela abaixo traz uma relação dos graminicidas divididos nos seus respectivos grupos químicos.

Plantas daninhas resistentes aos gramicidas

Fonte: Feito pela autora com base no Guia de Herbicidas (2018) e no site Agrofit.

Agora que você já relembrou quais os herbicidas graminicidas, vamos entender os tipos de resistência.

Resistência simples, cruzada e múltipla

Para entender sobre os casos de plantas daninhas resistentes é preciso saber o que é cada tipo de resistência.

A resistência simples é quando um biótipo de planta daninha é resistente a um ou mais herbicidas do mesmo mecanismo de ação e do mesmo grupo químico.

A resistência cruzada ocorre quando o biótipo de planta daninha é resistente a dois ou mais herbicidas do mesmo mecanismo de ação, porém de grupos químicos diferentes.

Já, a resistência múltipla acontece quando o biótipo de planta daninha é resistente a dois ou mais herbicidas de diferentes mecanismos de ação.

Para planejar melhor os herbicidas utilizados na lavoura você pode consultar o E-book Como planejar o uso de defensivos agrícolas, do AgroReceita.

Agora sim podemos ver quais as espécies resistentes a graminicidas no Brasil.

Capim-marmelada (Urochloa plantaginea)

O capim-marmelada resistente a graminicidas foi relatado no ano de 1997, no estado do Paraná, em lavouras de soja.

O biótipo foi relatado resistente a vários graminicidas, de dois grupos químicos (resistência cruzada): butroxydim, diclofop, fenoxaprop, fluazifop, haloxyfop, propaquizafop, quizalofop e sethoxydim.

Plantas daninhas resistentes aos gramicidas

Capim-marmelada (Urochloa plantaginea). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Capim-colchão (Digitaria ciliaris)

O capim-colchão resistente a graminicidas foi relatado no ano de 2002, no estado do Paraná, em lavouras de soja.

O biótipo foi relatado resistente a vários graminicidas, de dois grupos químicos (resistência cruzada): cyhalofop, fenoxaprop, fluazifop, haloxyfop, propaquizafop e sethoxydim.

Capim-colchão (Digitaria ciliaris). Fonte: Heap (2022).

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)

O primeiro relato de capim-pé-de-galinha resistente a graminicida foi no ano de 2003, em lavouras de soja.

O biótipo foi relatado resistente a três graminicidas, de dois grupos químicos (resistência cruzada): cyhalofop, fenoxaprop e sethoxydim.

No ano de 2017, no estado do Mato Grosso, em lavouras de feijão, milho, algodão e soja, foi relatado a resistência múltipla aos herbicidas fenoxaprop e haloxyfop (Inibidores da ACCase) e ao glyphosate (Inibidor da enzima EPSPs – 5-enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintase).

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Azevém (Lolium perenne ssp. multiflorum)

O primeiro relato de azevém resistente a graminicida foi no ano de 2010, no Rio Grande do Sul, em lavouras de soja, milho e trigo.

O biótipo foi relatado com resistência múltipla ao clethodim (Inibidor da ACCase) e ao glyphosate (Inibidor da EPSPs).

No ano de 2016, em lavouras de trigo, foi relatado a resistência múltipla aos herbicidas clethodim (Inibidor da ACCase) e ao iodosulfuron (Inibidor da ALS).

Azevém (Lolium perenne ssp. multiflorum).Fonte: Heap (2022).

Aveia-selvagem (Avena fatua)

A resistência aos graminicidas do biótipo de aveia-selvagem foi relatada no ano de 2010, no estado do Paraná.

O biótipo foi relatado resistente ao herbicida clodinafop (resistência simples).

Aveia-selvagem (Avena fatua).Fonte: Heap (2022).

Capim-arroz (Echinochloa crus-galli var. crus-galli)

O primeiro relato de capim-arroz resistente a graminicida foi no ano de 2015, no estado de Santa Catarina, em lavouras de arroz.

O biótipo foi relatado com resistência múltipla a três mecanismos de ação: cyhalofop (Inibidor da ACCase), penoxsulam (Inibidor da ALS) e quinclorac (Inibidor da Biossíntese de Celulose – mecanismo de ação quando aplicado em monocotiledôneas).

Capim-arroz (Echinochloa crusgalli var. crusgalli) Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Capim-amargoso (Digitaria insularis)

O primeiro relato de capim-amargoso resistente a graminicida foi no ano de 2016, na região centro-oeste, em lavouras de soja.

O biótipo foi relatado com resistência simples aos graminicidas fenoxaprop e haloxyfop.

No ano de 2020, nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em lavouras de soja, foi relatado a resistência múltipla aos herbicidas fenoxaprop e haloxyfop (Inibidores da ACCase) e ao glyphosate (Inibidor da EPSPs).

Capim-amargoso (Digitaria insularis).Foto: Ana Ligia Giraldeli.

A tabela abaixo relaciona os 10 casos de biótipos de plantas daninhas resistentes a graminicidas no Brasil.

Quais são os fatores que afetam a evolução da resistência das plantas daninhas aos graminicidas?

Para evitar a seleção de plantas daninhas resistentes é importante rotacionar os mecanismos de ação que usamos para o controle das gramíneas.

Para evitar a evolução da resistência é preciso:

  • Rotacionar ingredientes ativos de diferentes mecanismos de ação;
  • Rotação de culturas;
  • Rotação de eventos transgênicos;
  • Não deixar a área em pousio;
  • Associar herbicidas de diferentes mecanismos de ação, mas com o mesmo espectro de controle;
  • Aplicar na dose recomendada e no estádio de desenvolvimento correto da planta daninha;
  • Usar dois ou mais métodos de controle.

Conclusão

O Brasil tem 54 casos relatados de plantas daninhas resistentes, destes, 10 casos são de plantas daninhas resistentes a graminicidas.

São 7 espécies que apresentam resistência simples, cruzada ou múltipla.

Os graminicidas são importantes ferramentas de controle de plantas daninhas em pós-emergência.

É preciso rotacionar com outros ingredientes ativos, usar os herbicidas pré-emergentes, para que se evite a seleção de mais biótipos resistentes. 

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios. Atualmente sou professora da UNIFEOB.

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