Como fazer mistura de defensivos agrícolas e fertilizantes em tanque?

Produtor rural realizando a mistura de defensivos agrícolas

Sumário

A mistura de defensivos agrícolas em tanques é essencial no manejo fitossanitário e amplamente adotada por agricultores brasileiros. Embora estudos sobre compatibilidade tenham avançado, ainda faltam informações detalhadas sobre procedimentos e riscos.

A prática de defensivos agrícolas e fertilizantes em tanques é amplamente adotada no campo e desempenha um papel crucial no manejo fitossanitário. 

Uma pesquisa conduzida por Gazziero (2015) em 17 estados brasileiros revelou que 97% dos agricultores realizam misturas em tanque, sendo que 95% deles utilizam entre dois a cinco produtos em suas operações.

Agricultores e técnicos ainda enfrentam dificuldades devido à falta de informações detalhadas sobre os procedimentos corretos de preparo, a sequência de adição dos produtos, os riscos de incompatibilidades físicas e químicas e os possíveis impactos das misturas no controle de pragas, doenças, plantas daninhas e na nutrição das plantas. 

A realidade agrícola atual requer a mistura de diversos produtos e compostos de diferentes formulações nos tanques de pulverização, resultando em caldas de alta concentração e variadas condições físico-químicas. 

Isso exige o uso de máquinas com sistemas eficientes de agitação da calda e a presença de profissionais qualificados para recomendar técnicas de aplicação e selecionar pontas de pulverização adequadas.

O cenário é complexo e a informação ainda é escassa, o que demanda uma abordagem técnica bem informada para garantir a eficácia e segurança das operações de mistura de tanques com fertilizantes e defensivos agrícolas.

O que é mistura de defensivos agrícolas e afins em tanque?

A mistura em tanque de agrotóxicos e afins refere-se ao processo de combinar vários produtos químicos, como pesticidas, herbicidas, fungicidas e fertilizantes, em um único tanque de pulverização para aplicação simultânea nas culturas. 

Essa prática visa otimizar o controle de pragas, doenças e plantas daninhas, além de melhorar a nutrição das plantas, permitindo uma aplicação mais eficiente e econômica dos produtos. 

No entanto, é essencial seguir procedimentos corretos e considerar a compatibilidade dos produtos para evitar reações adversas e garantir a eficácia e segurança da mistura.

Benefícios das misturas de defensivos agrícolas em tanques

  • Controlar simultaneamente plantas daninhas, pragas, doenças e corrigir deficiências nutricionais;
  • Prevenir e manejar a resistência de plantas daninhas, pragas e doenças;
  • Manejar alvos biológicos difíceis, reduzindo as doses de produtos usados;
  • Combinar agrotóxicos seletivos que minimizam efeitos sobre organismos não-alvo;
  • Coincidir aplicações com condições meteorológicas e estádios de desenvolvimento das culturas;
  • Otimizar o uso de recursos como água, combustível, equipamentos e mão de obra.

Problemas técnicos na mistura em tanque

Incompatibilidade física

  • Misturas exibem fases distintas mesmo após agitação;
  • Formação de flocos, grumos, espuma excessiva, aglomerações ou pastas;
  • Pode ser causada por agitação inadequada, ordem incorreta de adição dos produtos ou ausência de emulsificantes;
  • Exemplo: adicionar concentrados emulsionáveis (EC) antes de pós molháveis (WP) resulta em uma pasta insolúvel;
  • Consequências: obstrução dos sistemas de filtragem e pontas de pulverização, variação da vazão da calda.

Incompatibilidade química

  • Redução da eficácia dos produtos devido a interações químicas adversas;
  • Exemplo: presença de cálcio, magnésio, ferro na água dura inativa o ingrediente ativo;
  • Alteração do pH da calda, afetando volatilidade e outras características físico-químicas;
  • Consequências: efeitos negativos aparecem horas ou dias após a aplicação, exigindo estudos técnicos detalhados;
  • Importância de monitorar mudanças de pH e realizar testes simples, como o Teste da Jarra, para evitar problemas.
Incompatibilidades no Teste da Jarra

Figura 1. Incompatibilidades no Teste da Jarra: Floculação (A), Decantação (B) e Formação de Espuma (C). Créditos: Fotos: Arquivo UENP/Nitec (2015).

Recomendações para evitar problemas de incompatibilidade na mistura em tanque

Qualidade da água

Utilize água de qualidade, considerando pH, concentração de cátions, dureza e turbidez. Materiais em suspensão podem inativar ingredientes ativos.

Temperatura

Dissolução e dispersão dos produtos são mais rápidas em água quente. Produtos podem formar géis em temperaturas baixas, exigindo mais tempo para dissolver.

Agitação

Mantenha agitação constante desde o início até a aplicação para evitar sedimentação dos produtos no fundo do tanque. Agitação excessiva pode gerar espuma e desestabilizar emulsões.

Ordem de mistura

Siga a sequência correta de adição dos produtos para evitar incompatibilidades químicas e físicas.

Comece com água, adicione condicionadores, pós molháveis, granulados, suspensões concentradas, concentrados solúveis, emulsionáveis, adjuvantes e fertilizantes foliares.

Taxa de aplicação (volume)

Alterações na taxa de aplicação afetam a solubilidade dos produtos. Use volumes adequados de calda para garantir dissolução adequada dos produtos.

Tempo de armazenamento

Use as misturas imediatamente após o preparo para evitar degradação dos ingredientes ativos.

Armazenar por muitas horas pode comprometer a estabilidade da calda.

Teste da jarra

Realize um teste preliminar em pequena escala para verificar a compatibilidade dos produtos antes de fazer a mistura completa no tanque.

Use um recipiente transparente e adicione água em quantidade suficiente, seguindo a mesma fonte de água planejada para o preparo da calda.

Cuidados no preparo de calda

Para garantir a segurança e eficácia no preparo da calda de pulverização, é fundamental seguir uma série de cuidados específicos. 

Primeiramente, é imprescindível utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) durante todo o processo para proteger a saúde do aplicador. 

Além disso, o local onde o preparo da calda é realizado deve ser sombreado, bem ventilado e aberto, proporcionando condições adequadas para evitar a exposição prolongada aos produtos químicos e garantir uma ventilação adequada para dissipação de vapores.

É importante evitar o contato direto com os produtos químicos, utilizando ferramentas apropriadas como balanças, baldes e copos graduados para medição e mistura dos ingredientes. 

Em relação às condições climáticas, é recomendável realizar o preparo da calda em períodos com temperaturas amenas e sem ventos fortes, evitando também a aplicação durante chuvas, que podem comprometer a eficácia do produto e sua distribuição uniforme sobre as plantas.

Outro cuidado essencial é verificar e ajustar, se necessário, o pH da água utilizada para preparar a calda, pois isso pode influenciar na estabilidade e eficácia dos produtos aplicados. 

Conhecer a compatibilidade entre os produtos que serão misturados é fundamental para evitar reações indesejadas que poderiam comprometer a eficácia da pulverização. 

Após o uso, todas as embalagens devem ser fechadas corretamente e armazenadas de acordo com as instruções específicas de cada produto, garantindo a segurança do ambiente e a integridade dos produtos químicos.

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  1. Orientações sobre modalidade e época de aplicação;
  2. Dosagem recomendada e volume de calda;
  3. Cálculo preciso da área a tratar;
  4. Lista de produtos mais recomendados por estado para controle de pragas, doenças e plantas daninhas.

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Conclusão

A prática da mistura de agrotóxicos em tanques é essencial para o manejo eficaz das culturas agrícolas, permitindo o controle integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, além da correção de deficiências nutricionais. 

Embora amplamente adotada, ainda persistem desafios significativos relacionados à compatibilidade física e química dos produtos. 

A utilização de água de qualidade, a correta ordem de adição dos produtos, a temperatura adequada e a realização do teste da jarra são fundamentais para evitar problemas durante a preparação das caldas de pulverização.

Sobre o Autor

Alasse Oliveira

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Especialista em Produção Vegetal e, Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)

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