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Mosca-branca: pequeno inseto, grande desafio fitossanitário!

Mosca-branca na plantação

Sumário

Cientificamente chamada de Bemisia tabaci, a mosca-branca é uma das pragas mais temidas pelos agricultores de todo o Brasil. Confira como identificar, monitorar e controlar este inseto para proteger o seu cultivo!

A mosca-branca é hoje considerada uma superpraga e supervetora de vírus em diversas culturas de grande importância econômica no cenário agrícola brasileiro e mundial. 

Ocupando o oitavo lugar na lista das 83 pragas de maior risco para o Brasil, a mosca-branca se destaca pelo enorme potencial de causar expressivas perdas de produtividade em culturas como a soja, algodão, feijão, uva, olerícolas, e plantas ornamentais. Mas não para por aí, Bemisia tabaci pode colonizar mais de 600 espécies de plantas, principalmente, anuais e herbáceas.

Considerada uma praga secundária por décadas, adquiriu o status de uma das principais pragas em agroecossistemas tropicais e subtropicais ao redor do mundo. Foi constatada em solo brasileiro pela primeira vez em 1923, e acredita-se que tenha sido introduzida a partir da importação, por comerciantes paulistas, da planta ornamental poinsétia, Euphorbia pulcherrima, em 1990. 

Desde então, se disseminou por quase todo o país, sendo frequentemente registrada em lavouras de soja do Mato Grosso, Goiás, Bahia e Maranhão. Durante a entressafra, a praga polífaga ainda se mantém em plantas daninhas, migrando para os cultivos subsequentes.

Ficou curioso?! Acerte na mosca! Continue a leitura deste artigo para saber mais sobre a identificação, ciclo de vida, espécies crípticas, monitoramento e métodos de controle desta conhecida e tão temida praga agrícola da atualidade! 

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Como identificar a mosca-branca?

Atualmente, a mosca-branca, Bemisia tabaci, pertencente à família Aleyrodidae, é considerada um complexo de espécies crípticas, ou seja, um complexo de cerca de 43 espécies que não são podem ser distinguidas a olho nu, apenas pela análise do DNA destas. 

Para identificar visualmente uma espécie críptica de mosca-branca, precisamos conhecer as características morfológicas destes insetos durante as suas fases de desenvolvimento. São elas:

  • Fase de ovo

Os ovos da mosca-branca são branco-amarelados, alongados, possuem formato de pêra, e medem de 0,2 a 0,3 milímetros. São, geralmente, ovipositados na parte inferior das folhas, de forma irregular ou em círculos.

  • Fase imatura

A fase imatura da mosca-branca compreende quatro ínstares de desenvolvimento, dos quais apenas o primeiro é móvel.  Os insetos de primeiro e segundo ínstares possuem um corpo plano e oval, de coloração branco-esverdeada. No terceiro ínstar, estes assumem uma coloração verde-pálida translúcida e olhos avermelhados. Já no quarto e último instar, também chamado de pseudo-pupa, as ninfas são planas, ovais, transparentes, e apresentam olhos vermelhos bastante visíveis.

  • Fase adulta

Os adultos da mosca-branca ficam, normalmente, na parte abaxial das folhas. Estes medem de 1 a 2 milímetros, possuem dorso de coloração amarelo-palha, e quatro asas membranosas recobertas por uma camada pulverulenta de coloração branca. Quando estão em repouso, as asas são mantidas separadas, paralelamente, tornando o abdômen, de coloração amarelada bastante característica, bastante visível (Figura 1). As fêmeas são ligeiramente maiores que os machos.

Adultos de Bemisia tabaci — mosca-branca.

Figura 1. Adultos de Bemisia tabaci. Fonte: CABI.

Dentre as fases apresentadas, os adultos são de fácil constatação na lavoura, uma vez que, em altas infestações, basta caminhar entre as linhas de cultivo para notar uma “nuvem” de moscas-brancas voando entre as plantas.

Qual o ciclo de vida da mosca-branca?

Como já apresentado no tópico anterior, o ciclo reprodutivo da mosca-branca apresenta as fases de ovo, ninfa e adulto. A reprodução de Bemisia tabaci pode ocorrer de forma sexuada ou sem fecundação (partenogênese arrenótoca). A reprodução sexual origina prole composta por fêmeas e machos, já a reprodução por partenogênese do tipo arrenótoca, dá origem apenas a machos. 

A duração do ciclo de vida da mosca-branca varia de 19 a 73 dias, a depender das condições de temperatura e umidade do ambiente, e da espécie de planta hospedeira da praga. Em condições ideais, a praga pode chegar a ter de 11 a 15 gerações por ano

As fêmeas de mosca-branca vivem, em média, 19 dias, e podem ovipositar de 100 a 300 ovos ao longo de sua vida. Os ovos levam cerca de 6 a 12 dias até a eclosão das ninfas. No primeiro ínstar, as ninfas são móveis, e, portanto, capazes de se locomoverem até um local mais adequado para o seu desenvolvimento. Em seguida, do segundo instar em diante, fixam-se nas folhas para iniciar a sucção de seiva até se tornarem adultas. O quarto e último ínstar de Bemisia tabaci é também chamado de “pupa” ou “pseudo-pupa”, ou “ninfa T”, a depender da literatura consultada acerca da descrição da praga.

Vejamos, a seguir, os danos causados pela mosca-branca e como realizar o monitoramento desta superpraga na lavoura.

Quais espécies crípticas de mosca-branca existem no Brasil?

Como abordado anteriormente, Bemisia tabaci se trata, na verdade, de um complexo de espécies crípticas, formado por, pelo menos 43 espécies. A diferentes espécies, diferenciadas apenas a nível molecular, podem apresentar preferência por hospedeiros diferentes, além de possuírem diferentes eficiências de transmissão de fitovírus.  

Dentre as espécies crípticas de mosca-branca, no Brasil destacam-se a Middle East Asia Minor 1 – MEAM1 (também conhecida por biótipo B) e a Mediterranean – MED (biótipo Q). Os nomes fazem menção aos distintos centros de origem de tais espécies: MEAM1 é provavelmente originária do Oriente Médio Ásia Menor e a MED é originária da região Mediterrânea da Europa. 

Tanto MEAM1, quanto MED, são consideradas as espécies mais invasivas mundialmente, causando danos expressivos em culturas como o tomate, pimentão, soja, feijão, etc. Até o momento, a espécie predominante na agricultura brasileira é MEAM1. Contudo, MED vem causando sérios problemas aos produtores de pimentão sob cultivo protegido nos últimos anos.

No Brasil também existe um complexo de espécies crípticas nativas do grupo Novo Mundo (NW). Estas têm sido alvo de diversas pesquisas a respeito de seu potencial de transmissão de vírus. 

Danos e monitoramento da mosca-branca

Os danos causados pela mosca-branca são decorrentes da alimentação de ninfas e adultos que, por serem insetos sugadores, ao introduzirem o aparelho bucal no floema da planta, injetam toxinas. Isso induz alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das plantas, reduzindo a produtividade da cultura. 

Ao se alimentarem, adultos e ninfas, ainda, excretam uma substância açucarada, chamada de “honeydew”, que serve de substrato para o crescimento de fungos oportunistas e causadores da fumagina. Tais fungos, como os do gênero Capnodium, colonizam a superfície das folhas das plantas, reduzindo expressivamente a capacidade fotossintética destas.

Entretanto, o dano mais temido é um dano indireto: transmissão de vírus causadores de fitoviroses. Bemisia tabaci já foi relatada como inseto vetor de mais de 100 espécies de vírus, como os vírus do mosaico-comum em algodoeiro; do mosaico-anão em soja; do mosaico-crespo em soja; e do mosaico-dourado em feijoeiro.

A mosca-branca também foi detectada transmitindo geminivírus e o vírus da necrose-da-haste em lavouras de soja brasileiras. 

Em algodão, o principal problema causado é a secreção de honeydew, favorecendo o fungo causador da fumagina. Em consequência, ocorre a redução da capacidade fotossintética das plantas e o fungo causa a mela no algodão, afetando o processamento das fibras além da redução do valor comercial destas.

A mosca-branca é uma praga de difícil manejo, uma vez que apresenta alto potencial reprodutivo, ciclo de vida geralmente curto, fácil dispersão, e elevada capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas. Além disso, por se tratar de uma praga polífaga, adapta-se a diferentes plantas hospedeiras, contribuindo para a sua dispersão em diversos cultivos agrícolas. Bemisia tabaci também apresenta, comumente, o desenvolvimento de resistência a inseticidas, contribuindo para a dificuldade de controle e consequente disseminação de doenças nas lavouras.

Diante de uma praga desafiadora, o monitoramento frequente da lavoura é essencial para nortear o momento ideal para o posicionamento assertivo dos métodos de controle. A mosca-branca pode ser monitorada a partir de amostragens de plantas e do uso de armadilhas adesivas amarelas para a captura de adultos da praga.

Durante o monitoramento, é importante amostrar as partes das plantas preferencialmente atacadas pela mosca-branca, são elas: no terço inferior das folhas, onde encontram-se as ninfas de 2º, 3º e 4º ínstares; no terço mediano, onde encontram-se ninfas de 1º, 2º e 3º ínstares e; no terço superior das plantas, onde geralmente se encontram adultos, ovos, e ninfas dos dois primeiros ínstares.

Principais métodos de controle da mosca-branca

O controle deve ser posicionado assim que se notar a presença de mosca-branca em uma área de cultivo, a fim de se evitar a transmissão de vírus às plantas. Os métodos comumente empregados no controle de Bemisia tabaci são:

  • Cultural

Consiste na adoção de práticas agrícolas antes, durante de depois do cultivo, tais como: manter o cultivo livre de plantas daninhas hospedeiras da praga; plantio de barreiras vivas para reduzir a dispersão de adultos da mosca-branca pelo vento; eliminar plantas com sintomas de fitoviroses; plantio de cultivares resistentes; vazio sanitário entre culturas hospedeiras da praga ou rotação com culturas que não sejam hospedeiras; dentre outras.

  • Biológico

O controle biológico da mosca-branca pode ocorrer de forma natural na lavoura. O uso de inseticidas seletivos aos inimigos naturais, por exemplo, favorece o controle biológico conservativo. Existem diversos agentes biocontroladores de mosca-branca: percevejo Orius insidiosus (Figura 2), ácaros predadores, joaninhas, bicho-lixeiro e parasitoides como os das espécies Encarsia inaron e Encarsia formosa.

Percevejo Orius insidiosus predando ninfas de Bemisia tabaci.

Figura 2. Percevejo Orius insidiosus predando ninfas de Bemisia tabaci. Foto: Jack Dykinga | Wikipédia Commons.

Fungos entomopatogênicos também têm sido utilizados no controle biológico de Bemisia tabaci. Produtos à base de isolados de Beauveria bassiana, Cordyceps javanica e Cordyceps fumosorosea já estão sendo comercializados para o manejo da superpraga em extensas áreas de cultivo.

  • Químico

Certamente o método mais utilizado para o manejo da mosca-branca, consiste na pulverização de inseticidas na lavoura. Muitos destes, pelo uso intensivo, perderam eficiência de controle da praga, uma vez que populações resistentes foram selecionadas. 

Algumas das moléculas inseticidas mais utilizadas para o controle de Bemisia tabaci são: mistura de espiropidiona + acetamiprido, mistura de piriproxifem + acetamiprido, abamectina, ciantraniliprole, clotianidina, tiametoxam, e diafentiurom.

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Conclusão

O complexo de espécies crípticas de mosca-branca tem certamente “tirado o sono” de muitos agricultores ao redor do mundo. Para além dos danos diretos, a transmissão de vírus causadores de doenças que podem dizimar plantações inteiras é o principal e mais temido problema causado por Bemisia tabaci. Diante deste desafio fitossanitário tão presente nas lavouras, o caminho mais promissor a ser seguido é, com certeza, o constante desenvolvimento de pesquisas que facilitem a identificação e monitoramento das espécies de mosca-branca, além da otimização de programas de manejo integrado de pragas.

Referências

DE MORAES, L. A. et al. Distribution and phylogenetics of whiteflies and their endosymbiont relationships after the Mediterranean species invasion in Brazil. Scientific reports, v. 8, n. 1, p. 14589, 2018. DOI: 10.1038/s41598-018-32913-1.

Sobre o Autor

Gabryele Silva Ramos

Engenheira Agrônoma (UFV), Mestre em Proteção de Plantas (UNESP/Botucatu),  MBA em Marketing (USP/Esalq) e Doutoranda em Entomologia (Esalq/USP)

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