Manejo fitossanitário e produtivo da cultura do algodão

engenheiro-agrônomo realizando o manejo fitossanitário na cultura do algodão

Um guia das principais atividades de manejo na cultura do algodão, visando controle de pragas, doenças e plantas daninhas, e permitindo alto rendimento e qualidade de fibra.

A cultura do algodão é reconhecida como uma cultura de alto valor agregado, ou seja, que gera um produto com bom preço de venda, devido à alta demanda do mercado. Porém, para alcançar esse alto preço de venda, o foco da produção não deve ser apenas a quantidade, mas, sobretudo, a qualidade de fibra.

São vários os desafios para manutenção da qualidade do algodão, dentre eles o controle de plantas daninhas, de pragas e doenças e o bom “timing” de dessecação e desfolha. Isso permite potencializar as condições de produção e manter a boa qualidade de fibras até o momento da colheita.

A combinação de alto valor agregado e a necessidade de qualidade fazem com que os produtores normalmente optem por um manejo bastante intenso, principalmente no que diz respeito às aplicações de defensivos por pulverização.

Nesse artigo discutiremos o manejo fitossanitário e produtivo do algodão visando alta produtividade e qualidade de fibra, como foco nas boas práticas recomendadas para a cultura.

Estádios de desenvolvimento do algodão

Antes de entrarmos no manejo fitossanitário do algodão, é importante conhecermos os estádios de desenvolvimento, ou, a escala fenológica da cultura. O algodão se diferencia de culturas de grãos e tem um crescimento e desenvolvimento um pouco mais complexo. Abaixo detalhamos os principais estádios de desenvolvimento da cultura.

  • Germinação e emergência (V0): fase posterior à semeadura em que há a germinação das sementes, emergência das plantas e crescimento inicial. É uma fase importante para a definição do estande de plantas;
  • Vegetativo (V1-Vn): crescimento vegetativo em que o estádio é definido pelo número de folhas;
  • Botão florais (B1-Bn): é a fase de surgimento dos botões florais a partir do primeiro ramo reprodutivo. Mesmo que haja surgimento de novas folhas, o estádio passa a ser marcado como B e não mais como V;
  • Florescimento (F1-Fn): esse estádio se inicia na abertura do primeiro botão floral e vai até a abertura dos capulhos;

Capulhos (C1-Cn): neste estádio há a abertura dos capulhos e a exposição da fibra.

Estádios fenologicos do algodão

Fenologia do algodão (Fonte: Sensix)

Pulverizações em algodão

No meio agrícola é senso comum que a cultura do algodão é das que mais recebe entradas de pulverizações durante o seu ciclo, com aplicações semanais em alguns casos. Isso se deve à diversos fatores como:

  • o alto impacto de pragas, doenças e plantas daninhas na produtividade e qualidade de fibra;
  • o valor agregado à cultura, que permite o investimento em produtos fitossanitários;
  • a necessidade de dessecação da cultura para homogeneização pré-colheita;
  • o controle de “tiguera” para quebra do ciclo de doenças e pragas.

Na sequência trazemos informações sobre os principais desafios e as principais etapas do manejo convencional de algodão no Brasil. Ressalta-se que as informações aqui presentes podem variar de região para região no país e de acordo com o uso de variedades com eventos transgênicos ou tolerância a pragas, doenças ou estresses abióticos.

É importante que o profissional de campo atuante na cultura do algodão se mantenha informado sobre as principais pragas, doenças e plantas daninhas presentes na região e seus métodos de controle, bem como, os produtos regulamentados para uso.

Doenças

A seguir apresentamos as principais doenças do algodoeiro, seus causadores e a época de maior incidência e necessidade de controle em dias após a semeadura (DAS).

  • Tombamento (diversos) – 0 a 35 DAS;
  • Mela (Rhizoctonia solani) – 0 a 35 DAS;
  • Mancha angular (Xanthomonas citri) – 15 a 150 DAS;
  • Mancha de ramulária (Ramularia areola) – 15 a 155 DAS;
  • Ramulose (Colletotrichum gossypii) – 15 a 155 DAS;
  • Mancha de alternária (Alternaria macrospora) – 20 a 120 DAS;
  • Doença azul (Cotton leafroll dwarf virus) – 30 a 155 DAS;
  • Virose atípica (Cotton leafroll dwarf virus) – 30 a 155 DAS;
  • Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) – 40 a 155 DAS;
  • Mancha-alvo (Corynespora cassiicola) – 60 a 120 DAS;
  • Mancha de fusarium (Fusarium oxysporum) – 55 a 160 DAS;
  • Mancha de mirotécio (Myrothecium roridum) – 60 a 155 DAS;
  • Apodrecimento das maçãs (diversos) – 105 a 155 DAS;
  • Nematóide de galhas (Meloidogyne incognita) – ciclo todo;
  • Nematóide reniforme (Rotylenchulus reniformis) – ciclo todo;
  • Nematóide de galhas (Pratylenchus brachyurus) – ciclo todo;
Estádios fenológicos e principais doenças na cultura do algodão

Principais doenças do algodão (Fonte: Casa do Algodão)

Pragas

A seguir apresentamos as principais pragas do algodoeiro, seus causadores e a época de maior incidência e necessidade de controle em dias após a semeadura (DAS).

  • Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) – 0 a 20 DAS;
  • Lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus) – 0 a 20 DAS;
  • Lagarta das maçãs (Heliothis virescens) – 70 a 170 DAS;
  • Cigarrinha (Agallia albidula) – 0 a 30 DAS;
  • Tripes (Frankliniella schultzei) – 0 a 40 DAS;
  • Spodoptera (Spodoptera spp.) – ciclo todo;
  • Curuquerê (Alabama argilácea) – 0 a 40 e 80 a 130 DAS;
  • Percevejo castanho (Scaptocoris castânea) – 0 a 40 DAS;
  • Ácaros branco (Polyphagotarsonemus latus) e rajado (Tetranychus urticae) – 60 a 170 DAS;
  • Percevejo rajado (Horciasoides nobilellus) – 60 a 170 DAS;
  • Broca da raiz (Eutinobothrus brasiliensis) – 0 a 55 DAS;
  • Broca da haste (Conotrachelus denieri) – 80 a 130 DAS;
  • Mosca branca (Bemisia tabaci) – 0 a 170 DAS;
  • Pulgão do algodoeiro (Aphis gossypii) – 0 a 170 DAS;
  • Lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) – 0 a 130 DAS;
  • Bicudo (Anthonomus grandis) – 30 a 170 DAS.
Estádios fenológicos e principais plantas daninhas na cultura do algodão

Principais pragas do algodão (Fonte: Casa do Algodão)

Plantas Daninhas e controle de tiguera

A seguir apresentamos as principais plantas daninhas do algodoeiro, porém, recordando que diferentes espécies podem ter mais importância de acordo com a área geográfica de plantio.

  • Leiteiro (Euphorbia heterophylla);
  • Picão-preto (Bidens subalternans e Bidens pilosa);
  • Caruru (Amaranthus spp.);
  • Trapoeraba (Commelina benghalensis);
  • Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);
  • Corda-de-viola (Ipomoea triloba);
  • Capim-colchão (Digitaria horizontalis);
  • Capim-amargoso (Digitaria insularis);
  • Buva (Conyza spp.);
  • Capim-carrapicho (Cenchrus echinatus);
  • Joá-bravo (Solanum viarum);
  • Vassoura-de-botão (Borreria verticillata);
  • Joá-de-capote (Nicandra physaloides);
  • Maria-pretinha (Solanum americanum);
  • Apaga-fogo (Alternanthera tenella);
  • Mentrasto (Ageratum conyzoides);
  • Carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum).

Além dos cuidados com qualidade de sementes para evitar a entrada de sementes indesejáveis na área, o controle de plantas daninhas pode ser feito utilizando diversas técnicas na cultura do algodão, como: dessecação pré-plantio, aplicação de herbicida em pós-plantio e pré-emergência, aplicação de herbicidas seletivos e não-seletivos, com uso de jato dirigido, em pós-emergência.

O controle de tiguera no período de vazio sanitário da cultura é uma prática importante para a quebra de ciclo de doenças e pragas, que podem manter inóculos nas plantas tiguera. O uso de herbicidas específicos pode auxiliar na dessecação das plantas de algodão que surgem após a colheita.

Desfolha e abertura de capulhos

O processo de maturação da cultura de algodão pode ser heterogêneo em um mesmo campo o que pode dificultar a colheita. Considerando o impacto de pragas, doenças e do clima na qualidade da fibra do algodão, fazer a colheita logo que a planta atinja o ponto ideal é crucial.

Para isso, produtores utilizam produtos que são pulverizados ao final do ciclo visando a abertura homogênea dos capulhos e a dessecação e desfolha da planta. Isso permite facilitar a colheita e homogeneizar o produto colhido.

Normalmente, o momento de aplicação de produtos para desfolha é quando há abertura de capulhos entre 60 e 80%. Os principais produtos são baseados em moléculas conhecidas, como: diurom, tidiazurom, etefon, dentre outras.

Boas práticas agrícolas na cultura do algodão

Por ser uma cultura que reconhecidamente tem um grande número de aplicações de defensivos agrícolas, há uma grande necessidade e oportunidade para uso de técnicas de manejo integrado da lavoura.

São diversas as técnicas que podem auxiliar o produtor a reduzir as entradas na lavoura e poupar com produtos químicos. Abaixo destacamos algumas delas:

  • Uso de variedades modernas: há uma gama de novos materiais genéticos que facilitam grandemente o manejo da cultura. A tecnologia embarcada na semente pode aumentar a resistência a pragas e doenças, a tolerância a estresse abióticos, além de facilitar o manejo de plantas daninhas pela resistência a herbicidas;
  • Monitoramento: um bom monitoramento do clima e da incidência de doenças e pragas auxilia na tomada de decisão da entrada de aplicações de defensivos de maneira preventiva, reduzindo o potencial de dano à lavoura;
  • Manejo integrado de pragas e doenças: o uso de métodos que controlem naturalmente as populações de pragas, patógenos e plantas daninhas, além do uso racional e combinado de produtos químicos e biológicos é uma técnica que aumenta a eficiência do manejo na cultura do algodão;
  • Uso racional de químicos: o uso de doses recomendadas em bulas, respeito ao intervalo entre aplicações e rotação de princípios ativos de produtos químicos diminui a chance de aquisição de resistência, além de aumentar a eficiência dos produtos no controle de pragas, patógenos e plantas daninhas;
  • Tecnologia de aplicação: maquinário com boa tecnologia de aplicação aumentam a eficiência do produto aplicado e diminuem o retrabalho e o impacto ambiental da atividade;

Rotação de culturas e vazio sanitário: a rotação e o respeito ao período de vazio diminuem a pressão de doenças, patógenos e plantas daninhas, facilitando o manejo, diminuindo pulverização e aumentando a sustentabilidade da produção.

A importância do Receituário Agronômico

Em meio a tantas entradas para aplicações de produtos fitossanitários na cultura do algodão, o responsável técnico deve estar muito atento à recomendação correta do manejo à cultura. Como o manejo químico ainda é a ferramenta mais utilizada, cabe ao responsável técnico a responsabilidade de fazer o receituário agronômico de maneira correta.

 

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Conclusão

A cultura do algodão é reconhecida pelos diversos desafios na sua condução e na manutenção da qualidade da produção. A influência de pragas, doenças e plantas daninhas é de grande importância e o controle químico ainda é a maior solução.

Algumas técnicas como o melhoramento genético tradicional, o advento de plantas transgênicas e produtos químicos e biológicos de alta qualidade, têm sido grandes aliados do aumento e manutenção da produtividade e da qualidade da produção.

Porém, é importante sempre estar atento às especificidades de cada região produtora e aos desafios individuais de cada safra de algodão.

João Paulo Pennacchi

João Paulo Pennacchi

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e Doutor em Fisiologia de Plantas pela Lancaster University.

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