Quais são as plantas daninhas nocivas toleradas e proibidas?

Picão-preto (Bidens pilosa e Bidens subalternans)

Plantas daninhas nocivas toleradas e proibidas: quais são elas e quais os prejuízos.

O manejo de plantas daninhas em áreas agrícolas é um dos principais investimentos que o produtor precisa fazer. Isso porque, como já vimos em outros textos, as plantas daninhas reduzem a produtividade da cultura, pois competem por água, luz e nutrientes.

Além disso, as plantas daninhas causam prejuízos indiretos, uma vez que são hospedeiras de pragas, doenças e nematoides, e atrapalham os tratos culturais, como a colheita. Mas, os danos podem ir além, pois algumas espécies de plantas daninhas não podem estar presentes em campos de produção de sementes.

No texto de hoje, vamos ver algumas dessas espécies que não podem estar presentes em lotes de sementes, pois acabam inviabilizando a comercialização.

Sementes nocivas proibidas x toleradas

As sementes nocivas proibidas são aquelas que representam risco para a cultura, não sendo permitidas no lote de sementes.  Já, as sementes de espécies nocivas toleradas são aquelas cuja presença junto às da amostra é permitida, porém, dentro de limites máximos. 

Nos campos de produção de sementes são feitas vistorias para fiscalizar a presença dessas espécies. Por isso, as práticas de controle são muito importantes.

Quais são as sementes nocivas proibidas e toleradas?

As espécies nocivas toleradas e proibidas estão dispostas na Instrução Normativa nº 46, de 24 de setembro de 2013.

Essa Instrução Normativa traz a “relação de espécies de sementes nocivas toleradas e proibidas na produção, na comercialização e no transporte de sementes nacionais e importadas de grandes culturas, forrageiras, olerícolas, flores, ornamentais, medicinais, condimentares, ambientais e florestais, a partir da safra 2013/2014”.

As espécies são apresentadas pelo nome científico, família botânica e nomes comuns. Vamos ver abaixo a relação de espécies nocivas toleradas e proibidas.

Sementes nocivas toleradas

Família Asteraceae:

  • Carrapicho-rasteiro (Acanthospermum australe);
  • Carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum);
Carrapicho-de-carneiro

Carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

  • Ambrosia, artemisia (Ambrosia artemisiifolia);
  • Macela-fétida (Anthemis cotula);
  • Losna-brava (Artemisia vulgaris);
  • Picão-preto (Bidens pilosa e Bidens subalternans);
  • Cardo-amarelo (Centaurea melitensis
  • Cardo-amarelo, diabinho (Centaurea solstitialis);
  • Cardo, cardo-negro (Cirsium vulgare);
  • Buva, voadeira, rabo-de-foguete, avoadinha peluda (Conyza bonariensis);
  • Bananinha (Picris echioides);
  • Maria-mole (Senecio brasiliensis);
  • Cardo-branco (Silybum marianum);
  • Carrapicho (Xanthium spp.).

Família Fabaceae:

  •  Angiquinho (Aeschynomene rudis);
  • Anileira (Indigofera hirsuta);
  • Fedegoso, fedegoso-branco, mata-pasto-liso (Senna obtusifolia);
Fedegoso (Senna obtusifolia). Foto: Ana Ligia Giraldeli

Fedegoso (Senna obtusifolia). Foto: Ana Ligia Giraldelli

  • Fedegoso, manjeriroba, mamangá (Senna occidentalis).

Família Amaranthaceae:

  • Caruru, bredo (Amaranthus spp.);
  • Ançarinha-branca, erva-de-santa-maria, erva-formigueira, ambrósia, mastruço (Chenopodium spp.).

Família Apiaceae:

  • Cicuta negra (Ammi majus);
  • Ammi (Ammi visnaga);
  • Torilis, Salsinha-de-cabeça-rente (Torilis nodosa).

Família Poaceae:

  • Aveia-barbada (Avena barbata);
  • Aveia-selvagem (Avena fatua);
  • Capim-marmelada, papuã (Urochloa plantaginea);
  • Capim-amoroso, capim-carrapicho, timbete (Cenchrus echinatus);
  • Capim-amargoso (Digitaria insularis);
  • Capim-arroz (Echinochloa colona e Echinochloa crus-galli);
  • Capim-custódio (Pennisetum setosum);
  • Piptoquecium (Piptochaetium bicolor e Piptochaetium montevidense).

Família Brassicaceae:

  • Mostarda-negra (Brassica nigra);
  • Mostarda-silvestre (Brassica rapa);
  • Nabiça (Raphanus raphanistrum);
  • Mostarda-comum (Rapistrum rugosum);
  • Mostarda (Sinapis arvensis).

Família Sapindaceae:

  • Chumbinho, saco-de-padre, balãozinho (Cardiospermum halicacabum).
Chumbinho (Cardiospermum halicacabum).

Chumbinho (Cardiospermum halicacabum). Foto: Ana Ligia Giraldelli

Família Commelinaceae:

Família Convolvulaceae:

  • Campainha, corda-de-viola, corriola (Ipomoea spp.);
  • Amarra-amarra, corda-de-viola, jitirana (Merremia cissoides).

Família Euphorbiaceae:

  • Gervão (Croton glandulosus e Croton lundianus);
  • Leiteira, amendoim-bravo, adeus-brasil (Euphorbia heterophylla).

Leiteira (Euphorbia heterophylla). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Família Cyperaceae:

  • Tiririca (Cyperus spp.).

Família Solanaceae:

  • Trombeteira (Datura stramonium);
Trombeteira (Datura stramonium).

Trombeteira (Datura stramonium). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

  • Joá, juá, arrebenta-cavalo, erva-moura, maria-pretinha, fumo-bravo (Solanum spp.).

Família Rubiaceae:

  • Poaia-do-campo, mata-pasto (Diodia teres);
  • Galium (Galium aparine);
  • Poaia-do-campo (Spermacoce alata).

Família Boraginaceae:

  • Borrago, flor-roxa (Echium plantagineum).

Família Polygonaceae:

  • Cipó-de-veado, enredadeira (Fallopia convolvulus);
  • Erva-pessegueira (Persicaria spp.);
  • Sanguinária, erva-de-nó, gramade-capacho (Polygonum aviculare);
  • Sanguinária (Polygonum arenastrum);
  • Língua-de-vaca (Rumex spp.).

Família Iridaceae:

  • Bibi, lírio-azul (Herbetia pulchella).

Família Lamiaceae:

  • Mata-pasto, fazendeiro (Hyptis suaveolens).

Família Plantaginaceae:

  • Tanchagem (Plantago spp.).

Família Malvaceae:

  • Guanxuma, tupitixá, vassourinha (Sida spp.).

Família Caryophyllaceae:

  • Alfinete-da-terra, Flor-roxa (Silene gallica);
  • Espérgula, gorga (Spergula arvensis)
  • Esparguta, Erva-de-passarinho (Stelaria media).

Veja que há muitas espécies de plantas cujas sementes são nocivas toleradas, ou seja, podem estar presentes até determinado limite, que depende de cada espécie.

Agora vamos ver as nocivas proibidas, estas não podem estar presentes, pois são muito prejudiciais.

Sementes nocivas proibidas

Família Cyperaceae:

  • Tiririca-vermelha, junça-aromática (Cyperus rotundus).

A espécie Cyperus rotundus é uma das espécies mais problemáticas, pois é muito difícil de ser controlada.

A dificuldade de controle deve-se à forma de reprodução da espécie, que é constituída por sementes, bulbos, tubérculos e rizomas.

Com isso, a espécie tem reprodução sexuada (por sementes) e assexuada (por propagação vegetativa).

Família Convolvulaceae:

  • Cuscuta, fios-de-ovos (Cuscuta spp.).

    A espécie Cuscuta é uma planta parasita.

Família Asteraceae:

  • Margarida, margaridão, mal-me-quer (Wedelia glauca).

Família Polygonaceae:

  • Azedinha, Língua-de-vaca (Rumex acetosella).

Família Poaceae:

  • Rabo-de-lagarto, capim-camalote (Rottboelia exaltata);
  • Sorgo-de-alepo, capim-massambará (Sorghum halepense);
  • Capim-anonni (Eragrotis plana).

Família Campanulaceae:

  • Arrebenta-boi, arrebenta-cavalo, cega-olho, jasmim-da-italia (Hippobroma longiflora).

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Cuidados para evitar sementes nocivas toleradas e proibidas

Por serem espécies problemáticas, as sementes nocivas proibidas não têm tolerância quanto a presença em lotes de sementes.

Assim, em campos de produção de sementes, as vistorias são fundamentais para verificar a presença da espécie.

Cuidados nos campos de produção de sementes:

Em campos de produção de sementes alguns cuidados precisam ser tomados para não haver problemas.

Entre os cuidados tem-se:

  • Origem da semente;

A semente precisa ter origem conhecida, alta pureza genética, alta qualidade sanitária (livre de doenças), boa qualidade fisiológica, livre de sementes de plantas daninhas e livre de sementes de outras espécies e material inerte.

  • Escolha da área (cultivo anterior e espécies de plantas daninhas);

O campo de produção de sementes não deve ser cultivado com a mesma espécie da safra anterior, pois as sementes podem sobreviver por mais de um ano. O cultivo pode ser da mesma espécie caso sejam a mesma cultivar.

Além de problemas com contaminação varietal, pode haver problemas com pragas e doenças que sobreviveram nos restos culturais.

As plantas daninhas causam diversos problemas e, como vimos, podem ser nocivas e serem difíceis de serem separadas da cultura durante o beneficiamento.

Alguns exemplos de presença de sementes de plantas daninhas que condenam os lotes são:

Arroz vermelho ou preto em campos de produção de sementes de arroz;

Fedegoso em campo de produção de sementes de soja.

Outras medidas para se adotar em campos de produção de sementes são:

  • Escolha da cultivar;
  • Semeadura (época de semeadura e densidade de semeadura);
  • Preparo do solo;
  • Manejo da cultura: isolamento do campo, espaço, época de semeadura, barreiras, roguing.

O roguing também é chamado de purificação ou erradicação.

É o procedimento que diferencia um campo de produção de sementes de um de produção de grãos. 

O roguing consiste em remover as plantas indesejáveis para preservar a pureza genética, varietal e física. 

Assim, quando falamos em sementes nocivas toleradas e proibidas estamos falando daquelas de difícil controle ou ainda que são difíceis de serem separadas durante o beneficiamento.

Conclusão

Algumas sementes são classificadas como nocivas, toleradas e proibidas. São espécies que podem prejudicar o lote de sementes para a comercialização.

As sementes nocivas proibidas não podem ocorrer no lote. O principal cuidado é em campos de produção de sementes.

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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