Manejo da cultura do milho: como fazer para não ter problemas na safra da soja

manejo da cultura do milho

Plantas daninhas no milho: controle, herbicidas residuais e o que fazer para reduzir a mato-competição na soja.

Já vimos em outros textos que o manejo de plantas daninhas precisa ser pensado a nível de sistema. Isso significa que os manejos que adotamos na cultura que está no campo vão influenciar na próxima cultura que virá em sucessão.

No manejo de plantas daninhas, o controle bem-feito que fazemos na cultura que está no campo irá ajudar a reduzir a mato-competição na próxima cultura.

Por isso, tudo o que fazemos para o controle de plantas daninhas no milho irá influenciar no manejo dentro da cultura da soja.

Manejo de plantas daninhas na cultura milho

Diversas plantas daninhas que estão presentes nas lavouras de milho também competirão pelos recursos do ambiente com a cultura da soja na próxima safra.

Exemplos de plantas daninhas que ocorrem nas duas culturas são o capim-amargoso, a buva, o capim-pé-de-galinha entre outras, a depender da região do Brasil.

Na cultura do milho abrimos uma janela para usar herbicidas diferentes daqueles utilizados na lavoura de soja.

Isso ajuda a reduzir a pressão de seleção de plantas daninhas resistentes aos herbicidas. 

Herbicidas para controle de plantas daninhas no milho

Para o controle de plantas daninhas no milho temos opções de diferentes herbicidas como, por exemplo, atrazine, terbuthylazine, nicosulfuron, tembotrione e mesotrione.

São opções de herbicidas que não são utilizados na cultura da soja e, por isso, ajuda na prevenção e manejo da resistência.

O herbicida atrazine, é uma ótima opção para controle de buva no milho, usado na dose cheia, de acordo com a textura do solo, irá reduzir a infestação de buva na lavoura de soja. 

A terbuthylazine, é do mesmo mecanismo de ação da atrazine (Inibidores do Fotossistema II – FSII), sendo uma boa opção para controle de plantas daninhas de folhas largas e algumas gramíneas. 

O nicosulfuron (Inibidor da ALS) é uma boa opção para controle de leiteiro, corda-de-viola, trapoeraba, caruru e picão-preto na cultura do milho.

Um cuidado que devemos ter é em procurar se o híbrido é sensível ao nicosulfuron, pois há alguns que não toleram o produto ou sofrem com mais injúrias.

O mesotrione é um herbicida inibidor da síntese de carotenoides, usado na cultura do milho para o controle de plantas daninhas de folhas largas.

Veja que na cultura do milho conseguimos fazer um bom manejo das plantas daninhas de folhas largas, o que não é possível na soja.

E o mesmo acontece com o controle de plantas daninhas de folhas estreitas na soja.

É só pensarmos que sempre será mais difícil controlar uma planta daninha de folha estreita na cultura do milho, que também é uma folha estreita. Isso vale para soja, na qual é mais difícil o controle de plantas daninhas de folhas largas.

Além destes herbicidas, também é possível usar o glufosinate (em milho LL) e o glyphosate (em milho RR).

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Cuidados com carryover

Alguns herbicidas podem causar um problema que conhecemos por carryover.

O carryover é quando o residual de um herbicida no solo causa fitotoxidade na cultura em sucessão.

Isso acontece porque o residual foi mais longo que o ciclo da cultura.

Por isso, é importante ficar atento ao tempo de meia-vida do herbicida, para garantir que ele não cause fitotoxidade na próxima cultura. 

O tempo de meia-vida é o tempo necessário para que ocorra a dissipação de 50% da quantidade inicial do herbicida aplicado.

Por exemplo: se você aplicar 100 gramas de ingrediente ativo de um determinado herbicida e, supondo que o tempo de meia-vida seja de 80 dias, significa que daqui 80 dias você ainda terá 50 gramas de ingrediente ativo no solo. 

Se continuarmos com essa conta, daqui 80 dias ainda teremos 25 gramas do ingrediente ativo no solo e assim, até que não tenha mais residual do produto. 

Mas, não é só o tempo de meia-vida do herbicida que devemos levar em consideração, outros fatores vão interferir nesse processo.

Persistência do herbicida no ambiente

A persistência de um herbicida depende de quatro fatores:

  • Solo (teor de carbono orgânico, textura e pH);
  • População de microrganismos;
  • Ambiente (temperatura e precipitação);
  • Práticas culturais (sistemas de plantio e doses aplicadas).

Quanto mais argiloso o solo ou maior o teor de matéria orgânica, mais produto ficará retido no solo, demorando mais para dissipar.

As doses de herbicida residuais, aplicados em pré-emergência, consideram o teor de argila do solo e, deveriam também usar o teor de carbono orgânico.

Isso porque quanto maior o teor de argila e matéria orgânica, maior é a dose aplicada, portanto, maior será a persistência do produto.

Em relação ao ambiente, quanto maior for a temperatura e a precipitação, mais rápido o herbicida vai degradar.

Portanto, o tempo de meia-vida pode ser alterado: doses mais altas, condições ambientais (seca e frio) e aplicações repetidas do herbicida podem prolongar a persistência do herbicida.

Herbicida residual e a sucessão soja-milho

Se analisarmos a sucessão soja-milho, é importante observar o residual de produtos utilizados nas culturas.

O herbicida atrazine, por exemplo, muito utilizado na cultura do milho, tem um tempo entre a aplicação e o plantio da soja, assim como outros herbicidas.

É preciso um intervalo de 90 dias entre a aplicação de atrazine e mesotrione no milho e o plantio de soja.

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Sintomas do herbicida mesotrione em soja. Fonte: arquivo pessoal da autora.

O intervalo entre o uso de isoxaflutole no milho e o plantio de soja na sequência é de ao menos 70 dias.

Uma das vantagens do uso do isoxaflutole é o tempo que ele pode permanecer no solo até as primeiras chuvas, ficando por 80 dias em condições de seca.

Quando volta a ter umidade no solo, o herbicida é ativado e assim terá efeito no controle de plantas daninhas.

Para o uso de nicosulfuron em milho e o plantio de soja devemos esperar pelo menos 30 dias.

E para o tembotrione é preciso esperar 65 dias da aplicação no milho e o plantio da soja.

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Sintomas de chlorimuron em milho. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Para termos sucesso no controle de plantas daninhas, tanto na soja como no milho, é importante pensarmos em sistema.

A boa dessecação pré-semeadura das culturas vai garantir a cultura a dianteira competitiva.

O uso de herbicidas pré-emergentes residuais vai controlar os fluxos de germinação e emergência de plantas daninhas até o final do PCPI (Período Crítico de Prevenção à Interferência).

É importante que o herbicida cubra esse período, pois é nele que acontece a competição pelos recursos do meio, e se nada for feito para controlar as plantas daninhas haverá queda de produtividade.

O bom manejo de plantas daninhas no milho ajuda a reduzir a infestação futura de plantas daninhas na soja.

Checklist do bom manejo de plantas daninhas

✅ Faça uma boa dessecação pré-semeadura, se for preciso faça aplicações sequenciais;

✅ Use herbicidas residuais em pré-emergência da soja e do milho;

✅ Controle os escapes de plantas daninhas nas lavouras de soja e milho;

✅ Rotacione os ingredientes ativos usados na cultura da soja e do milho;

✅ Faça um bom manejo de entressafra, seja com palha, culturas de cobertura ou aplicação de herbicidas;

✅ Escolha os herbicidas residuais de acordo com o tempo de meia-vida e cultura em sucessão.

Conclusão

O manejo de plantas daninhas no milho vai ajudar a reduzir a infestação na cultura da soja.

Devemos pensar em manejo de sistemas para a sucessão soja-milho, rotacionando herbicidas e controlando as plantas daninhas de difícil controle.

Os herbicidas residuais são uma importante ferramenta no manejo de plantas daninhas, pois controlam os fluxos de germinação, mas devemos estar atentos ao período residual para evitar fitotoxicidade na cultura em sucessão.

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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