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Doenças da espiga do milho: como se preparar para a próxima safra

Espiga de milho no milharal pronta para ser colhida

Sumário

Doenças da espiga do milho: quais são as principais, como identificá-las, quando e como acontecem os danos causados à cultura.

A cultura do milho (Zea mays) é uma das principais commodities agrícolas cultivadas e comercializadas mundialmente. Dentre os principais produtores, o Brasil se destaca sendo o 3º maior com uma estimativa de colheita de 118,5 milhões de toneladas para a safra de 2023/24.

Porém, como todo o cultivo de alto rendimento, as plantas de milho são acometidas por danos causados por fungos, bactérias, vírus e nematóides. Assim, o produtor deve ter em mãos o conhecimento para lidar com esses problemas da melhor forma.

Pensando no produto final, a espiga do milho, algumas doenças são apontadas como as principais causadoras de perdas nas lavouras comerciais de milho, como: Podridão branca da espiga, Podridão rosada da espiga e a Podridão Rosada da Ponta da Espiga.

Continue a leitura deste artigo para saber mais sobre estas doenças, de modo a traçar uma boa estratégia para as próximas safras e não ser pego de surpresa.

Doenças da espiga do milho: quais são e suas características principais

As doenças que afetam a espiga do milho não apenas comprometem a produtividade das lavouras, mas também demandam atenção especial dos agricultores e pesquisadores. Vamos explorar agora quais são as principais doenças e suas características.

Podridão Branca da Espiga

Conhecida como Podridão-Branca-da-Espiga, esta doença é causada por fungos do gênero Stenocarpella spp ou Diplodia spp. Composto por duas espécies patogênicas (S. maydis e S. macrospora), elas atacam todas as partes da planta de milho. Sendo assim, ambas são capazes de acometer espigas, colmos e, no caso de folhas, a S. macrospora é conhecida por se manifestar como a Mancha-de-Diplodia

Como fonte de inóculo dessa doença destacam-se sementes e restos culturais infectados. As sementes constituem a principal fonte de inóculo para podridão de raízes e raízes. Já os restos culturais são a fonte de inóculo para as podridões do colmo e espiga.

Os esporos de Stenocarpella spp. são dispersos pelo vento e se depositam nas folhas, sendo levados para as axilas pela água da chuva. O pedúnculo é o principal sítio de infecção, embora possam ocorrer infecções na extremidade da espiga do milho.

Para a sobrevivência no solo, o fungo produz estruturas de sobrevivência chamados de picnídeos, nos quais são formados os conídeos que irão germinar em contato com o milho.

Em cultivos de plantio direto, onde a palhada fica de uma estação para outra, as condições para o desenvolvimento deste fungo são extremamente favoráveis. Portanto, uma das formas de amenizar os danos para as próximas safras é sempre fazer rotação de cultivos.

Trabalhos foram realizados pela EMBRAPA Milho e Sorgo, onde os pesquisadores mostraram que a disseminação descontrolada da doença em condições de campo pode acarretar perdas médias de 70% da produção final (Figura 1).

Doença na espiga do milho sendo comparada em estudo cientifico na Embrapa

Figura 1. Comparação de espigas inoculadas e não-inoculadas com Stenocarpella maydis (=Diplodia). Fonte: Embrapa.

As condições favoráveis para o desenvolvimento da doença são áreas localizadas em altitudes acima de 700 metros, temperaturas moderadas e ambiente úmido. A infecção acontece de duas a três semanas após a polinização. Os sintomas se iniciam na base da espiga logo após a fecundação (Figura 2). Após isso, ela progride em direção à ponta podendo cobrir toda a espiga (Figura 2).

Início de infecção na base da espiga do milho
espiga de milho totalmente colonizada

Figura 2. Início de infecção na base da espiga (esquerda) e espiga totalmente colonizada (direita). Fonte: Embrapa.

Como estratégias de manejo, devem ser realizadas ações de modo a reduzir a quantidade de inóculo na sua fonte primária. Lembre-se os fungos descritos acima infectam exclusivamente plantas de milho e apresentam conídeos dispersados a curtas distâncias. Portanto, procure sempre sementes de qualidade e tratadas com fungicidas; não renuncie à rotação de cultivos e busque cultivares resistentes no mercado. 

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Podridão Rosada da Espiga

A podridão rosada da espiga é causada pelos fungos Fusaium moliforme e F. subglutinans. Estes fungos são relatados em todas as áreas de cultivo de milho no Brasil, principalmente em regiões quentes e secas.

Diferentemente da podridão branca da espiga, a podridão rosada causada por Fusarium dispões de várias espécies comerciais como hospedeiras, como: arroz, algodão, cevada, feijão, soja, sorgo, trigo, etc. Portanto, são parasitas não especializados.

Os sintomas normalmente aparecem em grãos isolados ou em um grupo de grãos, podendo às vezes ocorrer em toda a espiga. Com o avanço da enfermidade, uma massa cotonosa avermelhada pode aparecer e recobrir os grãos infectados.

A infecção entra nos grãos por danos mecânicos causados por insetos e aves. Em condições de campo, os grãos infectados podem exibir uma descoloração denominada de grãos ardidos (Figura 3).

Espiga infectada pela podridão rosada.

Figura 3. Espiga infectada pela podridão rosada. Fonte: Embrapa Milho e Sorgo

As perdas causadas pelos grãos ardidos são responsáveis pela desvalorização do produto final e ameaçam a saúde de humanos e animais (micotoxinas). Como padrão industrial, tolera-se uma taxa de 6% de grãos ardidos em lotes comerciais de milho.

Embora estes patógenos sejam frequentemente isolados de sementes, a principal fonte de inóculo da podridão rosada é o solo. Isso se dá pelo fungo possuir a fase saprofítica ativa, sobrevivendo e se multiplicando na matéria orgânica.

Assim como na podridão branca, a podridão rosada causada por Fusarium é controlada por meio de prevenção de avanço da doença. Portanto, um conjunto de medidas é necessário para reduzir os danos que podem ser causados em futuras safras, como: 

  • Cultivares resistentes e com espigas decumbentes;
  • Rotação de cultivos;
  • Eliminar plantas hospedeiras de um ciclo para outro (tiguéras);
  • Utilização de sementes sadias e tratadas com fungicidas;
  • Evitar alto adensamento de plantas em áreas com histórico da doença;
  • Evitar colher espigas atacadas e de plantas acamadas;
  • Não atrasar a colheita.

Podridão Rosada da Ponta da Espiga

Causada pelo fungo Fusarium graminearum (ou Gibberella zeae) esta enfermidade também é conhecida como Podridão de Giberela. Diferentemente da Podridão Rosada da Espiga, esta doença se manifesta em locais de clima ameno e alta umidade relativa do ar.

Locais onde acontecem eventos de pluviosidade logo após a polinização estão sujeitos ao aparecimento da Podridão de Giberela. Portanto, caso a sua região tenha histórico da doença e passe por períodos chuvosos após a polinização, fique atento.

A doença é identificada por uma massa cotonosa avermelhada na ponta da espiga e pode progredir para a base (Figura 4). Ocasionalmente pode se iniciar na base, confundindo o técnico responsável com o sintoma da Podridão Rosada da Espiga.

Podridão na espiga do milho causada por Gibberella zeae.

Figura 4. Podridão da espiga causada por Gibberella zeae. Fonte: Embrapa.

Além disso, chuvas frequentes no final do ciclo em área com cultivares de espiga não decumbente (que não se dobram), aumenta a incidência dessa podridão. Este fungo sobrevive em sementes na forma de micélio dormente. Portanto, as estratégias de controle são as mesmas recomendadas para Fusarium moliniforme e F. subglutinans.

Conclusão

Em suma, são diversas doenças que acometem as plantas de milho e, infelizmente, as espigas não são exceções. O conhecimento dessas enfermidades e de como realizar a identificação e controle faz parte do planejamento agrícola de todas as unidades produtivas, garantindo maiores chances de sucesso nas práticas agrícolas.

Vimos que, neste caso, o método preventivo é sempre o mais adequado e que por meio de práticas sustentáveis de cultivo, pode-se alcançar níveis em que a doença não prejudica a produtividade das plantas de milho e a qualidade dos grãos colhidos.

Portanto, tanto os produtores, quanto os especialistas, agora que já sabem mais sobre as principais enfermidades da espiga do milho, podem se preparar melhor para as próximas safras.

Sobre o Autor:

Cássio

Cássio Honda

Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fisiologia Vegetal e Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras.

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