Seletividade de herbicidas: fatores relacionados a planta
Sumário
Seletividade de herbicidas: fatores relacionados a planta, estádio, absorção, translocação e metabolização do herbicida.
A seletividade do herbicida para a cultura depende de vários fatores. Você já viu nos textos anteriores que ela depende de fatores relacionados ao herbicida e ao ambiente. Lembrando que quem é seletivo é o herbicida, as culturas e as plantas daninhas são suscetíveis, tolerantes ou resistentes.
No texto de hoje veremos quais fatores afetam a seletividade do herbicida e que são relacionados com as plantas. Os fatores inerentes às plantas que influenciam a seletividade de herbicidas são:
- Estágio de desenvolvimento;
- Mecanismos de absorção diferencial;
- Mecanismos de translocação diferencial;
- Metabolismo diferencial.
É importante conhecer sobre o que pode influenciar a seletividade, pois nos ajuda a compreender melhor o posicionamento de bula dos herbicidas.
Seletividade de herbicidas e o estágio de desenvolvimento
A idade da planta daninha ou da cultura influenciam na seletividade de herbicidas. As plantas jovens têm maior quantidade de tecidos pouco desenvolvidos e menor quantidade de tecidos especializados. Por terem menor quantidade de tecidos especializados, a absorção e a translocação do herbicida é maior.
Isso ocorre devido ao maior número de tecidos meristemáticos, menor número de tecidos especializados e maior atividade enzimática, o que favorece a absorção e translocação do herbicida.
Assim, plantas mais jovens acabam sendo mais suscetíveis aos herbicidas. O herbicida, em plantas jovens, chega mais rápido ao sítio de ação e em quantidade suficiente para que não seja seletivo a planta.
Com o crescimento e desenvolvimento da planta surgem os tecidos especializados e a translocação fica mais difícil. O tamanho da semente ou a estrutura de propagação vegetativa também influenciam na seletividade de herbicidas.
Na cultura do alho, por exemplo, é possível observar diferença na seletividade de ametryn e oxyfluorfen em bulbilhos pequenos e grandes.
Canteiros de alho plantados com bulbilhos pequenos possuem tolerância menor a herbicidas aplicados em pré-emergência quando comparados à mesma variedade que foi plantada com bulbilhos maiores. Isso pode acontecer devido a maior quantidade de reservas, possibilitando uma recuperação da planta.
A seletividade do herbicida também pode variar em função das cultivares, por exemplo, na cultura da cebola é verificado diferença na seletividade de oxyfluorfen devido a diferenças na quantidade de ceras presentes na folha. A absorção do herbicida é menor em folhas com quantidades maiores de ceras, pois a retenção foliar é menor.
Os híbridos de milho também podem diferir em relação à seletividade do herbicida nicosulfuron. O nicosulfuron é um herbicida inibidor da enzima ALS (acetolactato sintase) e, alguns híbridos podem ser mais sensíveis que outros, por isso é importante verificar essa informação antes de utilizar o produto.
Sintomas do herbicida atrazine não seletivo para soja e feijão. Fotos: Ana Ligia Giraldeli.
Seletividade de herbicidas e os mecanismos de absorção diferencial
A absorção do herbicida pode ocorrer pelas raízes, caules ou folhas, dependendo da espécie e do herbicida. O processo de absorção pelas raízes é mais fácil que pelas folhas. Isso porque nas há poucas raízes ou nenhuma cutina. A cutina faz parte da cutícula, que é umas das principais barreiras que o herbicida precisa atravessar.
Plantas com raízes profundas tem menor contato com a camada de herbicidas, o que acaba sendo seletivo devido à menor absorção. Esse tipo de seletividade é o que chamamos de seletividade por posição no espaço ou seletividade toponômica. Assim, as culturas perenes com raízes profundas (frutíferas, cana-de-açúcar e café) ficam mais longe da camada de solo com herbicida.
Em gramíneas os herbicidas pré-emergentes (aplicados ao solo) são absorvidos pelo coleóptilo e pelas radículas, assim as plantas podem até conseguir germinar, mas não conseguem emergir, dependendo do herbicida. A diferença entre gramíneas (folhas estreitas) e eudicotiledôneas (folhas largas) também ocorre nas aplicações de herbicidas em pós-emergência.
As plantas de folhas largas têm pontos de crescimento em todas as ramificações, o que acaba expondo mais a planta ao herbicida. Em gramíneas, os pontos de crescimento ficam abaixo do solo ou protegidos pelas bainhas, ficando menos expostos ao herbicida.
Além disso, as folhas estreitas interceptam e retêm menor quantidade de gotas por serem verticais e estreitas (menor área foliar). Assim, a absorção do herbicida depende de características das folhas como o ângulo de inserção com o caule, a área foliar e presença de tricomas.
A maior quantidade de tricomas reduz o contato da gota pulverizada com a superfície foliar. Nesses casos a solução é o uso de adjuvantes.
Outro componente da folha que afeta a absorção dos herbicidas é a cutina. Herbicidas hidrofóbicos serão absorvidos mais rápidos que os hidrofílicos. Isso porque a cutina também tem substâncias hidrofóbicas (maior afinidade por lipídeos).
Assim, herbicidas hidrofílicos (maior afinidade pela água), como o glyphosate, precisam de adjuvantes que facilitem a absorção.
O dossel da cultura também interfere na absorção dos herbicidas, isso é característico do arranjo de plantas. Um dossel mais aberto ou com menor quantidade folhas interfere menos na interceptação da gota pulverizada.
Sintomas de herbicida mimetizador de auxinas (esquerda) e inibidor do fotossistema I (direita) não seletivos para a soja. Foto: Ana Ligia Giraldeli.
Seletividade de herbicidas e os mecanismos de translocação diferencial
Os herbicidas são classificados em herbicidas de contato ou sistêmicos. Os sistêmicos são aqueles que translocam pelo xilema, floema ou xilema e floema.
Os herbicidas absorvidos pelas raízes são translocados pelo xilema e depois pelo floema (dependendo do herbicida). Os herbicidas absorvidos pelas folhas são translocados pelo floema, também dependendo do herbicida.
A translocação do herbicida na planta depende de característica do herbicida, por exemplo, os ingredientes ativos inibidores do fotossistema II são translocados apenas pelo xilema.
O clomazone (inibidor da biossíntese de carotenoides), por exemplo, tem menor translocação na cultura da soja do que nas plantas daninhas e, isso garante a seletividade do herbicida para a cultura.
A translocação será maior em plantas jovens do que em adultas, assim como será maior em condições ambientais favoráveis.
Sintomas de herbicida inibidor da PROTOX, não seletivo para a cultura do algodão. Foto: Ana Ligia Giraldeli.
Seletividade e o metabolismo diferencial
Plantas tolerantes a herbicidas conseguem inativar a molécula por meio da metabolização, compartimentalização ou menor afinidade herbicida com a enzima-alvo.
A metabolização transforma a molécula em compostos sem a atividade herbicida ou com atividade reduzida. Muitos herbicidas inibidores da ALS do grupo químico das sulfonilureias e das imidazolinonas são metabolizados pelas culturas, o que garante a seletividade.
Os herbicidas do grupo químico das triazinas (inibidores do FSII), como a atrazine são metabolizadas pela cultura, garantindo a seletividade.
A seletividade também pode ocorrer pela compartimentalização do herbicida, ou seja, ele é impedido pela planta de translocar e é levado ao vacúolo da célula onde será metabolizado.
O glyphosate, por exemplo, não consegue ser metabolizado pelas plantas, por isso é classificado como não-seletivo, com amplo espectro de controle. A soja consegue metabolizar o imazethapyr por meio de reações de oxidação e conjugação, tornando a molécula inativa.
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Conclusão
A seletividade do herbicida depende de vários fatores e, um deles é relacionado a planta. Os mecanismos de absorção, translocação e metabolização influenciam na seletividade do herbicida.
Quanto mais jovem a planta mais herbicida é absorvido e translocado. Características como a presença e tricomas na folha atrapalham a absorção do herbicida.
No geral, temos a recomendação da adição de adjuvantes em aplicações de pós-emergência para facilitar a absorção e retenção dos herbicidas. É importante seguir a recomendação de bula e entender sobre os fatores que podem afetar a seletividade do herbicida.
Sobre o Autor
Ana Lígia Giraldeli
Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.
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