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Inoculação da soja: como aumentar a fixação biológica de nitrogênio?

Raízes de soja com nódulos ativos após inoculação, mostrando boa fixação de nitrogênio no campo

Sumário

Entenda como a coinoculação e inoculação da soja pode elevar a eficiência da fixação biológica de nitrogênio (FBN), reduzindo ou eliminando a necessidade de nitrogênio mineral, e veja quais práticas agronômicas, microbiológicas e nutricionais promovem esse efeito no contexto brasileiro.

A cultura da soja (Glycine max) ocupa posição estratégica no agronegócio brasileiro e global. No Brasil, a soja responde por parcela substancial da área cultivada, além de impulsionar exportações e compor sistemas de rotação e sucessão.

Para viabilizar produtividades elevadas, muitas vezes superiores a 100 sacas por hectare, em plantios sem adubação nitrogenada, a parceria simbiótica entre a soja e bactérias fixadoras de nitrogênio torna-se decisiva.

Esse processo, conhecido como fixação biológica de nitrogênio (FBN), permite à soja captar o N atmosférico e converter-se em amônia para assimilação, suprindo uma importante demanda nutricional da planta.

Conforme a Embrapa, trata-se de “o processo biológico mais importante para as plantas” à margem da fotossíntese.

No artigo, exploraremos os fundamentos fisiológicos da inoculação, os fatores que limitam ou favorecem a FBN na soja, os métodos operacionais de inoculação e coinoculação, e as variáveis nutricionais e de manejo que podem maximizar essa tecnologia.

Boa leitura!

Relevância da inoculação da soja para o Brasil e para o mundo

Cenário global e nacional da soja

A soja configura-se como uma das principais commodities agrícolas do planeta, sendo utilizada para grãos, farelo e óleo.

No Brasil, essa cultura envolve milhões de hectares e gera impacto sobre exportações, cadeias agroindustriais e emprego rural.

Nesse contexto, a disponibilidade de nitrogênio torna-se um fator limitante no rendimento da soja, estimativas apontam consumo entre 250 e 400 kg N/ha para lavouras de alta produtividade (> 4 000 kg/ha) no Brasil.

Dada essa elevada demanda nutricional de N, a utilização de fertilizantes nitrogenados em larga escala implicaria custos elevados, emissões de gases de efeito estufa e riscos ambientais (lixiviação, volatilização).

A tecnologia de inoculação da soja com rizóbios fixadores de N aparece como alternativa que reduz a dependência de nitrogênio mineral e melhora a competitividade do produto brasileiro.

Avaliação da inoculação de soja em campo

Avaliação da inoculação de soja em campo. Fonte: Murilo Zandonadi.

De fato, segundo estimativa da Embrapa e outros órgãos, a FBN na soja gerou uma economia global de fertilizantes de cerca de US$ 13 bilhões em determinada safra no Brasil.

Essa integração entre microbiologia, nutrição de solo e manejo agronômico confere ao Brasil um diferencial competitivo: a cultura de soja pode se desenvolver economicamente em solos de clima tropical, muitas vezes com limitação de N disponível e condições adversas.

Importância da FBN no sistema produtivo

A FBN, no contexto da soja, significa que o microrganismo (normalmente do gênero Bradyrhizobium) estabelece uma relação simbiótica com a raiz da planta, formando nódulos onde ocorre a fixação de N atmosférico em NH.

Essa transformação permite que a soja absorva N-amoniacal ou ureica resultante dessa simbiose, reduzindo ou mesmo eliminando a necessidade de adubação nitrogenada. Em muitos sistemas brasileiros, observa-se que a soja “dispensa totalmente” fertilizante de N, graças à inoculação e coinoculação bem executadas.

Além disso, a FBN atua em sinergia com outros processos: melhora da dinâmica de carbono no solo, aumento de biomassa microbiana, redução da emissão de gases de efeito estufa, e melhoria da fertilidade nas camadas profundas da rizosfera.

Resultados práticos no Brasil

Experimentos conduzidos pela Embrapa e parceiros reportam que a inoculação da soja pode levar a ganhos de rendimento de até 16% quando comparada a testemunhas sem inoculante, especialmente em condições de baixa densidade de rizóbios no solo.

Em termos econômicos, a coinoculação e inoculação conjunta permitiram aos produtores brasileiros uma economia estimada de US$ 15,2 bilhões em fertilizantes de N na safra 2019/20.

Tais valores ressaltam que, mais do que uma prática técnica, a inoculação representa um fator de escala na competitividade da soja nacional.

Limitações e contexto de implantação

Contudo, a inoculação não funciona isoladamente. Como apontam os estudos da Embrapa, fatores como correção de acidez, disponibilidade de fósforo e molibdênio no solo, histórico de rotação de culturas e manejo de sementes tratadas influenciam fortemente a eficiência da fixação.

Em solos com baixo índice de rizóbios, ou em primeiros cultivos de soja, a dose do inoculante deve ser ajustada, e a coinoculação pode adquirir maior relevância.

Assim, a prática de inoculação da soja se insere em um contexto de manejo integrado, envolvendo microbiologia, solo, nutrição vegetal e operação de campo, e não apenas como “aplicar bactérias nas sementes”.

Fundamentos fisiológicos e microbiológicos da inoculação

Mecanismo da fixação biológica de nitrogênio

A fixação de N atmosférico ocorre em nódulos radiculares formados pela interação entre a soja e cepas específicas de Bradyrhizobium. Dentro dos nódulos, a enzima nitrogenase reduz o N a NH, processo que requer ATP e ambiente com baixos níveis de oxigênio.

A presença da leghemoglobina nas células do nódulo facilita o controle de O livre, evitando a inativação da nitrogenase. Esse conjunto fornece à planta uma fonte de nitrogênio “gratuita” do ar ambiente.

Para cada tonelada de grãos de soja, a estimativa é de aproximadamente 80 kg de N requeridos.

A inoculação eficaz garante que a maioria desse N seja fixada biologicamente, sem aplicação de fertilizante nitrogenado.

Esse mecanismo exige alta densidade de bactérias viáveis no inoculante (geralmente ≥ 1 × 10⁹ células/g ou ml) e compatibilidade entre cepa e cultivar, solo e ambiente de plantio.

Microrganismos utilizados e coinoculação

Na soja, o principal gênero utilizado é Bradyrhizobium (ex: B. japonicum, B. elkanii). Experiências de coinoculação combinam essas cepas com Azospirillum brasilense, microrganismos promotores de crescimento vegetal (PGPB) que sintetizam fito-hormônios (auxinas, citocininas, giberelinas) e podem ampliar o sistema radicular da soja.

Esses efeitos somados melhoram a absorção de água e nutrientes e podem aumentar a infectividade dos rizóbios.

Representação da formação dos nódulos radiculares. Fonte: Batista (2021) e Hungria et al., (2021).

Em experimentos de coinoculação via sulco em solos arenosos e argilosos, observou-se incremento na nodulação inicial e produtividade da soja em comparação à inoculação padrão.

Apesar disso, os resultados variam conforme o solo, histórico da área e doses aplicadas. É importante destacar que a coinoculação exige controle rigoroso de doses: em alguns casos, doses elevadas de Azospirillum resultaram em efeitos não lineares ou até negativos, provavelmente por desequilíbrio hormonal.

A adoção de inoculação e coinoculação requer, portanto, não apenas a aplicação do produto, mas o entendimento da microbiologia envolvida, da compatibilidade de cepas e do manejo agronômico para extrair o máximo benefício.

Relação solo-planta-microrganismo

A inoculação eficaz demanda uma interação viável entre solo, planta e microrganismo. Para isso, o ambiente da rizosfera, incluindo textura, acidez, umidade, teor de fósforo, disponibilidade de molibdênio e cobalto, exerce impacto direto sobre a formação de nódulos e atividade da nitrogenase.

Por exemplo, solos com pH ácido ou baixos teores de Mo ou Co prejudicam a FBN.
A planta hospedeira deve estar em estádio vegetativo adequado, com sistema radicular ativo, nutrição equilibrada de macro e micronutrientes, de modo que possa fornecer substrato (carboidratos) ao rizóbio e formar nódulos eficazes.

A nutrição de P, K, Ca, Mg, S também influencia indiretamente a nodulação.
A microbiologia do solo (população nativa de rizóbios, competição com outros microrganismos, histórico de inoculação) define o potencial de resposta. Em solos com população de rizóbios estabelecida, o retorno da inoculação pode ser menor, exigindo estratégias de reinoculação ou coinoculação.

Práticas operacionais da inoculação e coinoculação

Métodos de aplicação em campo

Existem diversos métodos operacionais para aplicar inoculantes em soja: (1) inoculação nas sementes (padrão), (2) inoculação via sulco de semeadura, (3) inoculação por pulverização (pós-semeadura) e (4) sementes pré-inoculadas. Cada método apresenta vantagens, limitações e recomendações específicas.

Na inoculação nas sementes, o produto (líquido ou turfoso) é misturado às sementes antes da semeadura, com uso de adesivo (ex: solução de açúcar a 10 %) para garantir aderência, seguida de semeadura preferencialmente no mesmo dia. Este método exige distribuição uniforme para garantir que cada semente receba cepas viáveis.

Na inoculação via sulco, o inoculante líquido é aplicado diretamente no sulco durante a semeadura, o que reduz o contato com produtos químicos de tratamento de sementes e a exposição direta ao sol. Este método pode resultar em melhor sobrevivência dos rizóbios e melhor eficiência da FBN.

A inoculação por pulverização pós-semeadura é considerada prática complementar e não substitui os métodos principais. É usada quando a nodulação inicial foi prejudicada ou em condições adversas, mas apresenta eficiência inferior comparada à aplicação nas sementes ou via sulco.

Método

Vantagens

Atenção principal

Inoculação nas sementes

Facilidade operacional, uniformidade

Mistura correta, semeadura rápida, tratamento químico compatível

Inoculação via sulco

Melhor sobrevivência de rizóbios

Ajuste de dose, equipamento e sincronização

Pulverização pós-semeadura

Correção de falha de nodulação

Eficiência menor, depende de umidade e estádio da planta

Sementes pré-inoculadas

Menos trabalho no campo

Estabilidade das cepas, armazenamento, custo

Comparação de diferentes modos de aplicação. Fonte: Câmara (2020)

Doses recomendadas e histórico de área

A definição da dose de inoculante depende do histórico de cultivo, população de rizóbios no solo e tipo do inoculante (n.º de unidades formadoras de colônia ou células viáveis). Em áreas que nunca foram inoculadas (áreas novas de soja ou sob pastejo), recomenda-se “inoculação de correção” com 2 a 4 doses/saca via tratamento de sementes ou 6 a 8 doses/ha via sulco.

Em áreas já cultivadas com soja e inoculadas previamente, a reinoculação anual é altamente recomendada, com 1 a 2 doses/saca ou 3 a 4 doses/ha via sulco. Isso porque a população de rizóbios remanescente pode perder vigor ao longo de entressafras.

Por exemplo, se um lote de soja destina-se a produzir 4,5 t/ha (≈ 75 sacas/ha), assumindo média de 80 kg N/t de grãos, a demanda estimada seria ~360 kg N/ha. Se a FBN cobre ~90% dessa demanda, o sistema deve fixar cerca de 324 kg N/ha, o que exige boa inoculação, nutrição e nodulação ativa.

Essas doses e cálculos evidenciam que o investimento em inoculantes é modesto em comparação ao custo de fertilizante nitrogenado e que o manejo correto da inoculação torna-se uma prática de alto retorno.

Diante dessa exigência elevada de nitrogênio para atingir altas produtividades, é fundamental que o manejo seja apoiado por informações confiáveis sobre os produtos utilizados na cultura. Nesse sentido, consultar os produtos fitossanitários, incluindo defensivos agrícolas e biológicos é essencial para otimizar os resultados nas lavouras! Acesse o Compêndio Agrícola Online da AgroReceita: preencha o formulário abaixo e libere seu acesso gratuito e ilimitado!

Cuidados operacionais e compatibilidades

Para garantir a eficácia da inoculação, devem-se observar os seguintes pontos:

  • O inoculante deve estar registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e possuir número de registro e viabilidade mínima de ≥ 1 × 10⁹ células/g ou ml.
  • O inoculante deve ser armazenado em local fresco e protegido da luz solar direta; atraso entre inoculação e semeadura reduz a viabilidade das bactérias.
  • Quando as sementes passam por tratamento químico (fungicidas, inseticidas, nematicidas) ou estão sob altas temperaturas (> 30 °C), deve-se aplicar o inoculante após o tratamento ou optar pela via de sulco. A Embrapa aponta que o uso conjunto de produtos pode comprometer a nodulação.
  • O solo e a semente devem estar em condições adequadas (umidade, germinação, semear em solo não excessivamente seco) para evitar mortalidade das bactérias e falhas de nodulação.

Atendendo essas recomendações, o produtor maximiza a probabilidade de formação de nódulos, boa infectividade e eficiência da FBN, refletindo-se em maior rendimento e menor custo.

Fatores nutricionais e de manejo que influenciam a fixação de N₂

Macro e micronutrientes críticos para nodulação

A eficiência da FBN não depende apenas dos rizóbios: nutrientes como fósforo (P), cálcio (Ca), potássio (K), magnésio (Mg), enxofre (S), bem como os micronutrientes ferro (Fe), cobalto (Co), níquel (Ni), boro (B), zinco (Zn), molibdênio (Mo) e cobre (Cu), têm papel direto nos mecanismos de nodulação e fixação.

Por exemplo, o fósforo investe no ATP necessário à nitrogenase; o cálcio favorece o crescimento radicular e formação de nódulos; o cobre e o cobalto são ativadores enzimáticos; o molibdênio integra a molibdato-ferro-proteína da nitrogenase.

Se o solo estiver deficiente em qualquer desses nutrientes, o processo de nodulação ou a atividade da nitrogenase poderá ser reduzido, e a FBN não alcançará seu potencial. Assim, além da inoculação, a correção do solo e a adubação equilibrada são pré-requisitos para o sucesso da tecnologia.

Exemplo prático: em rotina de manejo, aplicar 12 a 25 g/ha de Mo e 2 a 3 g/ha de Co via foliar ou no TS (tratamento de sementes) pode elevar a eficiência da FBN e a produtividade da soja. Mesmo com uma excelente inoculação, se a disponibilidade desses nutrientes estiver comprometida, o sistema de nodulação não se instalará plenamente.

Manejo do solo e histórico da área

Solos com acidez elevada (pH < 5,5), baixos teores de P ou Mg, ou áreas que foram intensivamente manejadas sem rotação de culturas ou sem retorno de matéria orgânica podem apresentar redução da resposta à inoculação. A Embrapa observa que a cultura da soja em sistema de plantio direto exige consideração especial para a FBN.

Além disso, áreas com histórico de pastejo ou monocultura por diversos anos, em que a população de rizóbios pode ter se tornado menos vigorosa, recomendam-se reinoculação anual ou coinoculação para garantir alta resposta.

Outro fator: a condição de umidade no momento da semeadura e nos estádios iniciais da cultura. Investigações da Embrapa indicam que stress hídrico nos estádios iniciais reduz a formação de nódulos ou retarda a fixação.

Portanto, o manejo do solo (calagem, fosfatagem, correção de K e Mg), a escolha da cultivar adaptada, o bom preparo da semente e a janela de semeadura são fatores de suporte à tecnologia de inoculação.

Exemplos numéricos de produtividade e economia

Para ilustrar o potencial técnico-econômico da inoculação, considere os seguintes dados reais:

  • Em estudo da Embrapa, a inoculação da soja permitiu ganhos de rendimento de até 16% em condições favoráveis. Em outra estimativa, a economia com fertilizantes nitrogenados pela FBN da soja no Brasil foi de US$ 15,2 bilhões na safra 2019/20.
  • Tomando-se uma lavoura de soja com produtividade de 4,0 t/ha (≈ 66 sacas/ha) e demanda de ~80 kg N/t de grãos, temos ~320 kg N/ha. Se a FBN cobre 90% desse N, o sistema fixa ~288 kg N/ha. Considerando ureia (46% N) a ~US$ 0,60/kg de N aplicado, a economia por hectare pode ultrapassar US$ 172 (≈ R$ 900) apenas em fertilizante N.

Esse tipo de cálculo técnico permite aos consultores e produtores quantificar o retorno da tecnologia de inoculação e justificar o investimento em inoculantes, adesivos, preparo e monitoramento.

Estratégias para maximizar a fixação biológica de N na soja

Seleção de cultivar, cepa e dose ideal

Para alcançar alta eficiência da inoculação, é importante selecionar cultivar de soja adaptada à região, com boa sanidade radicular e alta capacidade de nodulação. Igualmente essencial é utilizar inoculantes com cepas comprovadas de Bradyrhizobium compatíveis com a cultivar e o solo, com título mínimo conforme regulamentação (≥ 1 × 10⁹ células/g ou ml).

A dose do inoculante varia conforme histórico da área: em áreas novas recomenda-se 2-4 doses/saca ou 6-8 doses/ha via sulco; em áreas consolidadas 1-2 doses/saca ou 3-4 doses/ha via sulco. Essa diferenciação é importante para garantir elevado número de bactérias viáveis por semente ou por hectare.

Ainda, a coinoculação com Azospirillum pode intensificar o sistema radicular e a infectividade dos rizóbios, mas exige dose adequada e compatibilidade técnico-operacional. Estudos demonstram que a combinação pode aumentar a produtividade em condições de solo limite.

Essa seleção cuidadosa (cultivar + cepa + dose) compõe a base técnica para a máxima expressão da FBN na soja.

Integração com nutrição e correção do solo

Mesmo com excelente inoculação, se os nutrientes críticos para nodulação não estiverem disponíveis, a FBN será subótima. Logo, recomenda-se acertar calagem, gessagem (em solos ácidos ou com Al³ elevado), fosfatagem (geralmente P abaixo do leito de semeadura), e monitorar teores de Mo, Co, B, Zn, Ni, Cu para garantir eficiência.

A logística de semente é outro ponto chave: sementes tratadas com produtos químicos devem receber o inoculante após o tratamento e devem ser semeadas o mais rápido possível, de preferência no mesmo dia, evitando mortalidade de rizóbios e perda de eficiência da nodulação.

No plantio direto ou em solos de textura arenosa, recomenda-se preferencialmente inoculação via sulco para proteger os rizóbios de estresses superficiais, como altas temperaturas ou exposição ao sol, e garantir melhor sustentação do processo de nodulação.

Número de nódulos totais em 10 plantas de soja.

Número de nódulos totais em 10 plantas de soja. Fonte: Câmara e ICL (2014).

Essas práticas de suporte nutricional e operacional são parte integrante da tecnologia de inoculação e devem ser implementadas como “pré-requisitos” para obter sucesso.

Monitoramento e indicadores de eficiência

Para avaliar se a inoculação está produzindo efeito, recomenda-se monitorar indicadores como: número de nódulos ativos por planta, massa seca radicular, teor de clorofila ou índice SPAD, rendimento real da lavoura e comparação com testemunha sem inoculação. Em trabalho realizado, por exemplo, com sementes pré-inoculadas, observou-se ganho de até 700 kg/ha quando comparadas à testemunha.

Também pode ser utilizado o cálculo do custo-benefício: dividir o custo adicional da inoculação (produto + adesivo + aplicação) pelo incremento de produtividade ou economia de fertilizante nitrogenado. Quando a economia supera o custo, a prática se justifica tecnicamente.

Outro indicador relevante: a fixação de N2 estimada como fração da demanda da cultura, se por exemplo a demanda for 300 kg N/ha e a FBN estiver estimada em ~270 kg N/ha (90 %), o sistema está em boa eficiência.

Esses dados permitem ajustes futuros de dose, método ou nutrição.

Desafios e direções futuras da tecnologia de inoculação da soja

Limitações e fatores de risco

Apesar dos benefícios comprovados, a inoculação da soja enfrenta desafios técnicos. Entre eles encontram-se a mortalidade dos rizóbios em sementes tratadas com fungicidas ou inseticidas; a competi­ção com microrganismos nativos de solo; condições ambientais adversas como temperaturas elevadas ou solo excessivamente seco no momento da semeadura; e solos com população nativa de rizóbios ineficientes ou escassa.

Em solos com alta densidade de rizóbios definida, os ganhos da inoculação ou coinoculação podem ser menores, exigindo análise técnica de custo-benefício antes da adoção.

Outro ponto: a logística de aplicação e o controle de qualidade dos inoculantes (viabilidade, título, registro, armazenamento), muitas vezes não recebem a atenção devida na fazenda, comprometendo os resultados.

Inovações e pesquisa aplicada

A pesquisa para o futuro da inoculação da soja está centrada em cepas mais eficientes de Bradyrhizobium, formulações “longa vida”, adaptação a tratamento de sementes industriais, coformulações com PGPB (como Azospirillum), e integração digital com sistemas de monitoramento da lavoura. A Embrapa destaca “estratégias inovadoras visando o incremento na eficiência do processo de FBN” como linha de pesquisa prioritária.

Além disso, o uso de inoculantes com múltiplas estirpes, veículos protetores contra estresse térmico e UV, e métodos de aplicação via sulco ou filme líquido ganham espaço. Estudos futuros também avaliam como essa tecnologia interage com sistemas de agricultura de baixo carbono, sequestro de carbono e mitigação de gases de efeito estufa.

Conclusão

A tecnologia de inoculação da soja, quando corretamente operada, representa um dos pilares de manejo nutricional que permite à cultura alcançar altas produtividades sem depender do nitrogênio mineral.

A conjugação entre microrganismos fixadores de nitrogênio, nutrição equilibrada do solo, métodos adequados de aplicação, monitoramento rigoroso e integração agronômica forma o que podemos chamar de sistema de alta eficiência da FBN na soja.

No contexto brasileiro, essa prática não só reduz custos e insumos, mas também reforça a posição competitiva da soja no mercado global, além de contribuir para metas de mitigação de emissões e melhorias de solo.

Em suma, a inoculação e a coinoculação são mais que “aplicar bactérias nas sementes”, constituem componente técnico integrado de manejo, que exige atenção operacional, investimento moderado e entregam retorno elevado, tanto técnico quanto econômico.

Sobre o Autor

Alasse Oliveira

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Especialista em Produção Vegetal e, Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)

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