Deriva de defensivos agrícolas: como evitar?

A deriva de defensivos agrícolas, sejam eles químicos ou biológicos, é um fator de grande diminuição na eficiência de aplicação e uso de produtos na propriedade agrícola.

Ela acarreta perdas econômicas pelo desperdício de produto, de eficiência pela necessidade de retrabalho, além de poder impactar outras plantas, o ambiente e os operadores.

O planejamento da aplicação bem como o uso de técnicas e equipamentos adequados são meios muito eficientes de se evitar a deriva de defensivos agrícolas e suas consequências.

Nesse artigo iremos descrever e explorar as técnicas de aplicação e os principais pontos a serem avaliados para evitar a deriva na aplicação dos defensivos.

O que é a deriva de defensivos agrícolas e como ela acontece?

Pode-se definir a deriva de defensivos agrícolas como o desvio de partículas da calda ou pó que deveriam atingir o alvo, mas são desviadas e atingem outro ponto, que não o alvo.

Por exemplo, um fungicida ou inseticida tem como alvo as partes da planta de interesse afetadas por uma doença ou praga; um herbicida tem como alvo as plantas daninhas que competem com a cultura de interesse; um nematicida pode ter como alvo o solo contaminado com nematoides, no sulco de plantio.

A deriva acontece, na maioria dos casos, por aplicação de produtos em condições climáticas não-ideais, por erros na escolha ou regulagem de equipamentos. Esses pontos são discutidos no próximo item.

Equipamento faz aplicação de defensivo em lavoura.

Tipos de perdas na aplicação de defensivos

Existem 3 tipos principais de perdas de defensivos durante e logo após a aplicação:

  • Volatilização: ocorre por meio de evaporação da calda e do próprio produto misturado nela, normalmente em altas temperaturas;
  • Deriva: a deriva ocorre quando a calda não atinge o alvo no momento da aplicação;
  • Carreamento superficial: ocorre quando o produto atinge o alvo, mas não é retido nele, escorrendo e atingindo outro ponto, como, por exemplo, o solo.

Todas essas perdas têm capacidade de diminuir a eficiência de aplicação, porém a de maior impacto é a deriva.

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Quais as principais causas da deriva na aplicação de defensivos?

As principais causas da deriva são:

  1. Condições climáticas: o vento é o principal fator climático que influencia na deriva. A velocidade ideal do vento para aplicação depende do tamanho e peso da gota, porém, via de regra, o ideal é uma brisa leve, entre 3 e 7 km/h. Velocidades menores podem dificultar a penetração do produto no dossel, principalmente com gotas pequenas. Velocidades mais altas, por exemplo, acima de 10 km/h podem causar grande deriva. A temperatura e a umidade do ar e da superfície da folha também podem influenciar, porém, afetam mais a volatilização e o carreamento superficial.

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Plataforma AgroReceita – Previsão do tempo (Fonte: AgroReceita)

2. Altura de barra do pulverizador: o pulverizador é o equipamento mais usado para aplicação de defensivos agrícolas. A escolha da altura de barra correta é crucial para diminuir a deriva. Ela pode variar de acordo com o tipo de cultura, mas, em média, a barra deve estar cerca de 50 cm acima do dossel;

3. Tamanho de gota: esse parâmetro é fundamental para o cálculo da deriva, sendo que gotas menores e mais leves são mais facilmente desviadas por condições como vento. Porém, gotas grandes têm menor espalhamento, então há de haver um balanço para a escolha correta desse parâmetro. O tamanho de gota é influenciado por diversos fatores como pressão e vazão, tipo de bico, discutidos abaixo;

4. Pressão e vazão de aplicação: a pressão e a vazão têm grande influência no tamanho de gota. A vazão tem uma relação direta, ou seja, maior vazão gera gotas maiores sob mesma pressão. Já a pressão tem uma relação inversa com o tamanho de gota, sendo que maiores pressões, sob mesma vazão, geram gotas menores;

5. Tipo de bico: o tipo de bico utilizado também influencia o tamanho de gota, no espalhamento da calda e na penetração dela no dossel. Existem alguns tipos de bicos, sendo que os mais comuns são os de tipo cone, leque, de impacto e de indução a ar;

6. Velocidade de aplicação: a velocidade da máquina também influência na deriva, sendo que velocidades mais altas que a recomendada, principalmente em combinação com vento moderado, podem aumentar grandemente a deriva de produtos.

Como evitar a deriva na aplicação de defensivos?

Muitas das técnicas para diminuir a deriva estão relacionadas a evitar os principais agentes causadores acima citados. Porém, existem outros meios adicionais. Abaixo citamos os principais:

  • Verificar condições de vento: por vezes o cálculo da velocidade do vento para a definição de aplicação de defensivos, não é trivial, principalmente quando em condições próximas ao limite recomendável. Um anemômetro ou mesmo uma estação meteorológica na fazenda auxiliam grandemente nessa decisão;
  • Boa regulagem do equipamento: a escolha de parâmetros como vazão, pressão, altura da barra, velocidade da máquina e tamanho de gota são decisivos na diminuição da deriva. Eles devem ser considerados de acordo com o tipo de produto utilizado e com as condições climáticas;
  • Uso de adjuvantes: apesar da principal função de adjuvantes estar relacionada com a maior retenção das gotas nas folhas da planta, diminuindo carreamento superficial, ele também pode ajudar a diminuir a deriva por afetar na formação e estabilidade da gota;
  • Manutenção do equipamento: verificar a posição e orientação dos bicos, o formato de jato e a vazão e pressão individualmente é crucial para evitar deriva. Bicos tortos, muito abertos e com vazão e pressão não ideais aumentam a possibilidade de deriva;
  • Buscar recomendações confiáveis: a deriva pode ser reduzida através de boas práticas de aplicação que são, geralmente, recomendadas pelo responsável técnica pelo receituário agronômico. Uma recomendação cuidadosa feita por profissional capacitado aumenta as chances de sucesso da aplicação.

São várias maneiras de se evitar a deriva na aplicação de defensivos, sendo que várias delas dependem da emissão correta do receituário agronômico.

O receituário deve ser emitido de acordo com as informações constantes nas bulas dos produtos, seguindo as recomendações técnicas dos fabricantes e das legislações dos órgãos competentes. 

Quais as consequências da deriva de defensivos?

As consequências da deriva dependem muito do tipo de produto utilizado. Porém, de maneira geral, as principais são:

  • Perda econômica e de eficiência: caso haja deriva, a ação de controle do produto pode não ser alcançada. Além do desperdício de produto, também pode haver necessidade de retrabalho, aumentando gastos com mão-de-obra e combustível;
  • Perdas agronômicas da cultura alvo: ao não se aplicar corretamente o produto, pode haver perdas de produtividade devido ao não-controle de doenças ou pragas que deveriam ter sido eliminadas pela aplicação do defensivo agrícola. Além disso, a deriva de um herbicida sobre a cultura de interesse pode causar morte de plantas ou perda de tecido foliar, diminuindo a produtividade da área;
  • Danos a outras culturas: a deriva pode levar a cada para áreas mais distantes, atingindo talhões vizinhos. Caso a cultura atingida pela deriva não seja tolerante ao produto ou tenha respostas inadequadas a ele, isso pode causar perdas;
  • Impacto ao meio ambiente e ao operador: caso o produto atinja o solo ou cursos de água ou mesmo o operador da máquina ou outras pessoas na área, ela pode causar danos ao ambiente ou à saúde de humanos e animais.

Conclusões

A deriva de defensivos agrícolas é um processo que só causa problemas ao produtor, seja do ponto de vista econômico ou ambiental

Além de verificar as melhores condições de aplicação é fundamental que os especialistas pelas lavouras tenham em mãos informações sobre o uso correto dos defensivos. 

O Agroreceita disponibiliza um banco de dados das bulas dos agroquímicos com atualização online facilitando o preenchimento das informações na emissão do receituário agronômico e auxiliando os profissionais técnicos na prescrição correta desses produtos. 

Esse artigo é fonte de informações importantíssimas para o manejo e aplicação de defensivos agrícolas. Aqui discutimos as principais causas e consequências da deriva e como evitá-la nas atividades dentro da fazenda.

Sobre o Autor

João Paulo Pennacchi
João Paulo Pennacchi
 

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e Doutor em Fisiologia de Plantas pela Lancaster University.

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