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Anomalias da soja: quebra da haste e podridão de vagens e grãos

Plantação de soja

Sumário

Um panorama da extensão, dos impactos e métodos preventivos e paliativos para o controle e diminuição do impacto de duas anomalias de importância atual na cultura da soja

A agricultura tropical apresenta diversos desafios, sendo que um dos maiores é a combinação de condições climáticas de altas temperaturas e umidade. Essa condição propicia a sobrevivência e dispersão de vários agentes patogênicos, principalmente fúngicos. Além disso, outros eventos extremos do clima podem acarretar condições, como o déficit hídrico.

A combinação de fatores bióticos (doenças e pragas) e abióticos (principalmente do clima) podem causar diversos danos às lavouras, impactando grandemente na produtividade.

Além das perdas normalmente causadas por diminuição de crescimento, baixa assimilação de carbono e enchimento de grãos, a combinação de fatores bióticos e abióticos podem levar a uma maior incidência de anomalias e doenças.

Nas últimas safras tem-se observado o aumento da importância de duas anomalias em soja, com alto potencial de dano e de perda de produtividade: o quebramento de haste e a podridão dos grãos e vagens de soja.

Nesse artigo falaremos sobre as características dessas anomalias/doenças, suas causas e os métodos de prevenção e controle, informações cruciais para os engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, responsáveis pela assistência técnica, e, principalmente, recomendação de agroquímicos na cultura da soja.

Doença ou anomalia da soja?

Nesse artigo trataremos os dois casos como anomalias e não doenças. Isso se dá ao fato de que as suas causas não são completamente conhecidas e não se pode afirmar serem apenas causadas por agente bióticos patogênicos, apesar de haver a possibilidade de presença de fungos oportunistas.

Esse tema será explorado ao longo do texto e por isso é importante fazermos essa definição de nomenclatura.

Identificação, sintomas e causas da anomalia da soja

A maior incidência dessas anomalias foi observada no estado do Mato Grosso, principalmente na safra 2022/23, porém, com casos já reportados desde a safra 2018/19. Dentre as anomalias aqui discutidas, encontramos basicamente três menções principais, além das comumente já presentes nas safras anteriores:

Identificação

A primeira anomalia reportada com maior importância é a quebra da base da haste da soja (QBAS), com presença maior no início do estágio reprodutivo. As outras duas aparecem mais tarde no ciclo, durante o enchimento de grãos, e estão relacionadas: a abertura de vagens imaturas da soja (AVIS), que evolui para a podridão de vagens e grãos de soja (PVGS).

Sintomas

  • QBAS: alongamento do caule entre a folha cotiledonar e as folhas primárias, seguido de um estreitamento e quebra do mesmo.
  • EVIS: rompimento do invólucro na vagem da soja no sentido do comprimento, gerando uma fenda e o aborto das sementes.
  • PVGS: germinação e apodrecimento das sementes e da vagem por ação de fungos oportunistas após a abertura da vagem.
Sintomas de QBHS, AVIS e PVGS (Fonte: Anomalias da cultura da soja – Editora Line)

Milho semeado no limpo após dessecação pré-semeadura e uso de herbicida pré-emergente. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Causas

  • Múltiplos estudos têm apresentado possíveis causas para as anomalias da soja, porém ainda não há um consenso. Abaixo citamos os principais atualmente conhecidos:

    • QBAS: as causas podem ser múltiplas, desde um desbalanço hormonal e nutricional que leve a um alongamento da haste, sendo a quebra uma questão física. Porém, isolados de hastes que apresentaram quebra, mostraram a presença principal de fungos das espécies Colletotrichum spp e Diaporthe spp e, secundariamente, de Macrophomina phaseolina e do complexo Fusarium incarnatum-equiseti.
    • AVIS e PVGS: a causa da abertura de vagens pode ter relação com déficit hídrico nas fases de enchimento de grãos, sendo que a influência de fungos pode ser mais uma consequência do que sua causa. Estudos mostram a ausência de isolados de fungos até 4 dias após a abertura e em vagens não-abertas. Porém, em estados mais desenvolvidos e com podridão, nota-se a presença de fungos do complexo Fusarium incarnatum-equiseti.

Métodos de prevenção e controle

As decisões relacionadas aos métodos de prevenção e controle de anomalias ou doenças de plantas passam diretamente pela análise dos seus causadores. No caso das anomalias de soja, em que as causas ainda não são completamente definidas, fica difícil recomendar uma solução mais assertiva.

Porém, existem maneiras efetivas de se prevenir e controlar os impactos dessas anomalias. Abaixo citamos as principais:

  • Cultivares: a pesquisa por materiais genéticos com maior resistência a essas anomalias e doenças oportunistas pode resultar na recomendação e uso de cultivares com menor propensão a danos por QBHS e EVIS/PVGS;
  • Época de plantio: as janelas de plantio e época de semeadura variam de região para região, porém, devem ser escolhidas de maneira que diminuam a chance da ocorrência dos estresses abióticos relacionados às anomalias aqui discutidas;
  • Nutrição e Fisiologia: a manutenção de plantas com níveis nutricionais e hormonais próximos ao ideal para cada estádio de desenvolvimento evita o desbalanço que pode gerar deficiências e mudanças nos padrões de crescimento e desenvolvimento de plantas;
  • Fungicidas: o uso de fungicidas já é bastante comum na cultura da soja, com regiões tendo cerca de 4 pulverizações durante o ciclo. Ele pode ajudar no controle dos fungos oportunistas e diminuir o impacto das anomalias, por exemplo, com efeito protetivo após abertura da vagem da soja. Porém, o uso de fungicidas não deve ser a solução isolada.

A Embrapa Soja disponibilizou um estudo sobre a eficiência de fungicidas para o controle da podridão de grãos da soja, na safra 2022/2023.

No Compêndio Agrícola da AgroReceita, você poderá realizar a consulta dos fungicidas mais indicados para esse tipo de controle. Para isso, basta preencher o formulário abaixo e começar já a sua consulta fitossanitária gratuita e ilimitada. 

Dano econômico

O nível de dano econômico vai depender da porcentagem de ocorrência da anomalia na área de plantio.

Para a QBHS, normalmente a planta avariada não será capaz de produzir, devido ao tombamento da planta ainda na fase de florescimento e posterior morte da parte aérea. Dessa forma, uma porcentagem elevada de ocorrência dessa anomalia em uma lavoura pode causar danos bastante altos.

No caso de AVIS/PVGS, há uma correlação matemática bastante clara entre a incidência e a perda de produtividade, sendo dependente também do potencial produtivo da lavoura.

Estima-se que para uma lavoura com rendimento esperado de 70 sacas (4200 kg/ha) e 12% de incidência, a perda seria da ordem de 500 kg/ha, ou pouco mais de 8,4 sacas.

A Embrapa Soja orienta produtores, técnicos e pesquisadores sobre práticas de manejo responsável, que vão desde a semeadura até a pós-colheita da soja. No vídeo a seguir são apresentadas contribuições para melhorar a produtividade e a rentabilidade da lavoura da soja.

Conclusão

De forma geral, há um consenso de que as anomalias de soja QBHS e EVIS/PVGS, citadas neste artigo, parecem ser o resultado de diversos fatores, dentre eles: nutricionais, bióticos, abióticos e de manejo da cultura.

A época de semeadura da lavoura influencia nas condições climáticas observadas nos estádios de desenvolvimento em que as anomalias se desenvolvem. Já o balanço nutricional/fisiológico das plantas pode influenciar na capacidade de recuperação e nos padrões de crescimento e desenvolvimento.

Os primeiros sinais e sintomas das anomalias, como rachadura do caule ou abertura da vagem, dão espaço para a entrada de fungos patogênicos que levam a sintomas mais claros e causam maior dano. 

Técnicas como escolha de cultivares com maior resistência a esses problemas, nutrição ideal da lavoura e uso de fungicidas para controle da população dos fungos oportunistas são métodos que ajudam a prevenir e controlar essas anomalias, diminuindo seus impactos.

Em suma, o manejo de tais anomalias deve levar em conta os múltiplos fatores e os riscos na região de plantio.

Sobre o Autor

João Paulo Pennacchi

João Paulo Pennacchi

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e Doutor em Fisiologia de Plantas pela Lancaster University.

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