Lagartas do milho: saiba como diferenciar as 5 principais espécies!
Sumário
As lagartas constituem um dos principais complexos de pragas que atacam o milho, comprometendo o desenvolvimento das plantas e a produtividade da cultura. Conheça neste artigo as principais espécies de lagartas do milho e saiba como controlá-las!
A importância econômica do milho para o Brasil é tão expressiva que a cultura é considerada um pilar do agronegócio brasileiro, além de ser um elemento fundamental da agricultura familiar.
O milho está presente em vários setores da economia no nosso país, para além da agricultura, é importante para a indústria, alimentação e geração de recursos energéticos. É, ainda, uma commodity de exportação valiosa para a balança comercial e impulsiona o crescimento econômico.
Recentemente, o Brasil assumiu a liderança e se tornou o maior exportador de milho do mundo no ano de 2023. É também o terceiro maior produtor mundial deste cereal. Contudo, na última projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é estimada uma redução de mais de 21 milhões de toneladas em relação ao volume produzido na safra anterior.
Isto se deve a uma série de dificuldades que os produtores de milho têm enfrentado: alterações climáticas e fatores bióticos como o ataque de pragas e a incidência de doenças sobre a cultura. Dentre as pragas, o complexo de lagartas se destaca por dificultar a produção, reduzindo a parte aérea da planta e o rendimento de grãos.
O primeiro passo para o manejo deste grupo de pragas é realizar a identificação correta das espécies de lagartas que estão causando danos no milharal para, assim, posicionar o controle de forma eficiente. Confira neste artigo como reconhecer as 5 principais lagartas do milho!
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Conheça as principais lagartas do milho
O monitoramento é essencial para determinar quais espécies de insetos-praga estão causando danos ao longo do desenvolvimento das plantas de milho. Além disso, a identificação das espécies presentes no milharal será o ponto de partida para se estabelecer um programa de manejo integrado de pragas efetivo.
Após a coleta de informações acerca das espécies de lagartas presentes na área e das porcentagens de dano e plantas infestadas, é possível, também, constatar o funcionamento da tecnologia Bt e demais métodos de controle já adotados. Desta forma, as decisões de manejo podem ser ajustadas ou modificadas.
Conheça a seguir as principais espécies de lagartas que causam danos à cultura do milho:
1 - Lagarta-do-cartucho
A espécie de lepidóptero-praga Spodoptera frugiperda, popularmente conhecida como lagarta-do-cartucho, é provavelmente a lagarta mais “famosa” do milharal. Ocorre durante todo o ciclo da cultura e possui alto potencial destrutivo, sendo considerada, muitas vezes, a principal praga do milho.
A ciclo de vida da lagarta-do-cartucho varia de 30 a 35 dias. Assim como todos os lepidópteros, trata-se de um inseto holometábolo, ou seja, possui metamorfose completa, compreendendo as fases de ovo, lagarta, pupa e mariposa.
Os ovos de S. frugiperda são ovipositados em camadas, sobre as folhas de milho, formando uma “massa de ovos” que pode chegar a apresentar até 300 ovos por postura. A coloração dos ovos varia do branco ao bege escuro, quando estão próximos da eclosão.
As lagartas, ao eclodirem possuem coloração bege clara e se alimentam, primeiramente da casca do ovo e, em seguida, já iniciam a raspagem das folhas. Este é um sinal bastante característico do início do ataque. Quando mais desenvolvidas, se alojam no cartucho da planta, destruindo-o, deixando seus excrementos, e causando o sintoma de “coração morto” do milho. Também podem causar a mortalidade de plântulas e, ainda, atacar as espigas.
Com o passar do ciclo de desenvolvimento, as lagartas passam por 6 estágios, os chamados ínstares, aumentando de tamanho e evidenciando certas características que facilitam a identificação da espécie, como: coloração mais escura, 4 pontuações pretas no final do abdômen, 3 listras claras no dorso e o “Y invertido” na cápsula cefálica (Figura 1).
Figura 1. Lagarta de Spodoptera frugiperda. Fonte: Basf.
As mariposas de S. frugiperda medem cerda de 3,5 cm, e as fêmeas possuem asas posteriores mais escuras. Os machos da espécie apresentam coloração mais clara e mais detalhes nas asas.
Os danos causados pela lagarta-do-cartucho são mais críticos durante as fases de lagarta, compreendendo cerca de 20 dias do seu ciclo. Nesta fase, o controle é geralmente intensificado, visando controlar a intensidade dos danos. Contudo, nas fases de ovo e pupa, ainda é possível controlar esta praga, a partir da liberação de parasitoides, como as microvespas das espécies Trichogramma spp., Telenomus remus e Chelonus insularis, e preservação dos demais inimigos naturais que já habitam o milharal.
As mariposas da espécie possuem hábito noturno e podem ser facilmente capturadas por armadilhas luminosas instaladas na área de cultivo. Estas podem, também, ser capturadas com o auxílio de armadilhas, geralmente do tipo delta, contendo feromônios específicos.
Por se tratar de uma espécie polífaga, ou seja, que ataca uma grande diversidade de plantas, o manejo desta praga deve ser realizado em outras culturas, cultivadas em áreas vizinhas, além de se realizar o controle das plantas daninhas no milharal.
O controle químico da lagarta-do-cartucho tem sido realizado a partir da aplicação de inseticidas sistêmicos com efeito residual (como o tiodicarb, carbofuran e o imidacloprid) no tratamento de sementes.
É válido ressaltar que existem diversos métodos disponíveis para o controle de S. frugiperda, mas a integração dos métodos biológico, varietal, cultural, comportamental e químico é a chave para a eficiência do manejo
2 - Lagarta-da-espiga-do-milho
Helicoverpa zea, conhecida como a lagarta-da-espiga-do-milho, é responsável por causar danos econômicos expressivos ao se alimentar diretamente da espiga. Além de se alimentar dos grãos em formação, a lagarta come também os estilo-estigmas, conhecidos como “cabelo do milho”, impedindo que ocorra a fertilização.
O ataque de H. zea também acarreta em danos indiretos: ao atacarem as pontas das espigas, acabam facilitando a “entrada” de patógenos causadores de podridões no milho. Diferem-se da lagarta-do-cartucho do milho, também, por se limitarem às pontas das espigas.
Mas como identificar esta espécie tão destrutiva? Ao contrário de S. frugiperda, os ovos são esféricos, medindo cerca de 1 mm de diâmetro, de coloração branca a amarela e possuem saliências na lateral. Próximo à eclosão das lagartas, tornam-se amarronzados. A mariposa oviposita os ovos, individualmente, sobre o “cabelo de milho” ou sobre as folhas, em caso de ataque durante o estágio vegetativo da cultura.
Após 3 a 4 dias, as lagartas eclodem e começam a se alimentar do estilo-estigma e dos grãos, ainda em formação. Estas medem cerca de 3,5 cm e possuem o hábito de curvar a cabeça em direção ao próprio corpo ao serem tocadas. Além disso, é possível notar a presença de protuberâncias em “formato de cela” no seu dorso e inúmeras cerdas ao longo de seu corpo.
Possuem uma coloração que pode variar entre o verde, rosa, marrom, e, até mesmo, preto. Apresentam faixas longitudinais escuras e claras, que se alternam ao longo do corpo, cabeça amarelo-amarronzada, espiráculos evidentes e bastante escuros (Figura 2).
Figura 2. Lagarta de Helicoverpa zea. Fonte: Agrolink.
As pupas da espécie são marrons e medem cerca de 2,0 cm. Ao emergirem, os adultos possuem uma envergadura de asas de 4,0 cm asas anteriores de coloração amarelo-parda com uma faixa transversal escura, e manchas escuras dispersas. Cada fêmea oviposita até 1000 ovos. O ciclo de vida varia de 40 a 45 dias e a praga passa por 6 estágios larvais. A espécie possui hábito noturno, movimentando-se a partir do entardecer.
O controle deve ser posicionado quando a praga atinge o nível de controle, o que geralmente ocorre no início do período reprodutivo da cultura. Os métodos de controle são similares aos utilizados para S. frugiperda: liberação de Trichogramma spp. e uso de inseticidas seletivos.
3 - Lagarta-elasmo
A lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus, ataca várias culturas, preferencialmente, nas fases iniciais, causando danos, também, às raízes das plantas. São, inicialmente, verde-azuladas com estrias purpúreas ou pardas e, ao longo de seu desenvolvimento, se tornam amarronzadas. Medem cerca de 1,5 cm (Figura 3).
Figura 3. Lagarta-elasmo. Foto: Viana (2009).
Os ovos de E. lignosellus possuem formato oval e são branco-leitosos, tornando-se vermelho-escuros um pouco antes da eclosão das lagartas. As pupas são amarelo-esverdeadas e tornam-se marrons ao longo do seu desenvolvimento. As mariposas são pequenas, possuindo uma envergadura de asas de até 2,5 cm. As fêmeas possuem asas anteriores escuras e asas posteriores claras, enquanto os machos possuem asas anteriores amareladas.
São mais comuns em solos arenosos e requerem um período prolongado de seca para se estabelecerem nas fases iniciais do milharal. O manejo da lagarta-elasmo é geralmente realizado a partir da aplicação de inseticidas sistêmicos no solo ou aumentando a umidade do solo através da irrigação do milharal.
4 - Lagarta-rosca
Agrotis ipsilon, conhecida como lagarta-rosca, é uma espécie de lepidóptero-praga que, como o próprio nome sugere, possui o hábito de se enroscar quando é tocada. Apresenta coloração que varia entre o cinza e o marrom, além de manchas pretas padronizadas e linhas no dorso. Também é possível se observar tubérculos nos segmentos do corpo destas lagartas (Figura 4).
Figura 4. Lagarta-rosca. Fonte: Blog Aegro.
As lagartas da espécie podem chegar a medir até 5 cm de comprimento. As mariposas de A. ipsilon também são grandes, medindo até 5 cm de envergadura de asas. Apresentam coloração escura, asas anteriores marrom-acinzentadas com manchas escuras e asas posteriores claras e translúcidas.
A espécie possui hábito noturno e, durante o dia, as lagartas se enterram no solo, ou ficam sob os restos culturais, próximos ao colo das plantas.
Assim como a lagarta-elasmo, a lagarta-rosca ataca os estágios iniciais de diversas culturas. Contudo, ocorrem mais em solos úmidos e com maior teor de matéria orgânica.
O manejo desta praga é comumente realizado a partir da aplicação de inseticidas. Também são recomendados o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos e a eliminação de plantas daninhas.
5 - Curuquerê-dos-capinzais
A espécie Mocis latipes, conhecida como a curuquerê-dos-capinzais, ataca o milharal, geralmente, em reboleiras. Apesar de, muitas vezes, ser considerada uma praga ocasional, pode causar desfolha acentuada em um curto período de tempo e, portanto, requer atenção.
Em apenas 24 horas, é possível notar a destruição da área foliar das plantas, restando apenas as nervuras centrais das folhas.
As lagartas de M. latipes chamam a atenção por sua coloração preta ou amarelada, com estrias longitudinais amarronzadas (Figura 5). A identificação é bastante facilitada por se locomover “medindo palmos”.
Figura 5. Lagarta de Mocis latipes. Fonte: Agrolink.
sta praga é sensível a muitos inseticidas utilizados no controle químico da lagarta-do-cartucho. Contudo, como infesta inicialmente as bordaduras das áreas de cultivo, podem ser realizadas pulverizações direcionadas de inseticidas sobre as áreas infestadas. Produtos biológicos à base de Bacillus thuringiensis também podem ser utilizados no manejo, de forma eficaz e seletiva aos inimigos naturais das lagartas.
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Conclusão
É de suma importância realizar a identificação das lagartas do milho ao longo da safra, a fim de se posicionar assertivamente os métodos de controle, integrando-os, sempre que possível.
Entretanto, um manejo integrado eficiente também requer monitoramento contínuo, atentando-se sempre aos níveis de controle de cada espécie de inseto-praga e ao momento ideal para iniciar o manejo.
Referências
CRUZ, I. Manejo de pragas da cultura do milho. 2008. Disponível em: <alice.cnptia.embrapa.br>. Acesso em: 15 out. 2024.
VIANA, P. A. Manejo de elasmo na cultura do milho. Embrapa Milho e Sorgo, Circular técnica 118. Sete Lagoas – MG, 2009. Disponível em: <https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/manejo-de-elasmo-na-cultura-do-milho.pdf/9ca5be8d-688e-4520-9ec7-4fd385c51e3e>. Acesso em: 14 out. 2024.
Sobre o Autor
Gabryele Silva Ramos
Engenheira Agrônoma (UFV), Mestre em Proteção de Plantas (UNESP/Botucatu), MBA em Marketing (USP/Esalq) e Doutoranda em Entomologia (Esalq/USP)
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