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Plantas daninhas da soja: manejo e casos de resistência

Plantas daninhas da soja

Sumário

Principais espécies de plantas daninhas na cultura da soja: quais são, problemas de manejo e casos de resistência.

A produtividade das culturas agrícolas pode ser afetada por diversos fatores. O potencial de rendimento de uma cultura é definido por fatores como a radiação solar, temperatura, espécie, cultivar e CO2.

Dentro dos fatores determinantes do rendimento dos cultivos, temos os limitantes ou promotores, como água e nutrientes. Ainda temos os fatores que podem ser redutores ou protetores, como as plantas daninhas, pragas, doenças, geadas e granizo.

No texto de hoje você verá algumas das principais espécies de plantas daninhas que atrapalham o crescimento e desenvolvimento da soja.

Principais espécies de plantas daninhas da soja

As plantas daninhas estão entre os principais fatores que reduzem a produtividade das culturas. Na cultura da soja, algumas delas estão mais presentes. 

Dessa forma, o controle de plantas daninhas é um fator essencial para proteger as culturas da redução da produtividade. Vejamos abaixo as principais delas:

Buva (Conyza spp.)

As espécies de buva que podem ocorrer em soja são a Conyza sumatrensis, Conyza bonariensis e Conyza canadensis.

As plantas do gênero Conyza têm elevada capacidade de adaptação e estão presentes em mais de 40 culturas. São espécies com alta produção de sementes sendo, em torno de 375 mil plantas em C. bonariensis, 200 mil em C. canadensis e cerca de 60 mil em C. sumatrensis.

São facilmente dispersas pelo vento, com capacidade para construir bancos de sementes no solo em curto período.

As sementes são fotoblásticas positivas, portanto, precisam de luz para iniciar o processo de germinação. Por isso, camadas de palha na superfície do solo ajudam a controlar os fluxos de germinação.

Um dos principais problemas da buva é a dificuldade de controle. Isso porque, há casos de resistência aos herbicidas, como ao glyphosate, na qual as três espécies têm casos de resistência.

Para consultar os herbicidas, a AgroReceita disponibiliza o Compêndio Agrícola. Preencha o formulário abaixo para realizar a consulta fitossanitária dos defensivos registrados no Brasil de forma gratuita e ilimitada. Cadastre-se no formulário abaixo e comece já a sua pesquisa.

Também há biótipos de buva (C. sumatrensis) resistentes ao chlorimuron (herbicida Inibidor da ALS), além da resistência múltipla ao glyphosate e chlorimuron.

buva

Área com diversas espécies de plantas daninhas, com predominância da buva. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Entre os manejos para a buva estão os herbicidas auxínicos em dessecação pré-semeadura e o uso de pré-emergentes.

Capim-amargoso (Digitaria insularis)

O capimamargoso é uma gramínea, da família Poaceae. É uma planta daninha com grande produção de sementes, que são leves e facilmente levadas pelo vento.  Em estádio mais avançado de desenvolvimento, o capim-amargoso, pode perenizar, o que dificulta o controle dessa espécie.

A convivência de 8 plantas/m² de capim-amargoso com a cultura da soja pode reduzir a produtividade em 80% (Gazziero et al., 2019). Além disso, há casos de biótipos resistentes ao glyphosate, ao fenoxaprop e haloxyfop (graminicidas, Inibidores da ACCase) e com resistência múltipla ao glyphosate, haloxyfop e fenoxaprop.

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)

O capim-pé-de-galinha é uma gramínea, da família Poaceae. É uma planta daninha com reprodução por meio de sementes, que são pequenas e leves.

A dificuldade de controle também está nos casos de resistência aos principais herbicidas usados na cultura da soja:

  • glyphosate;
  • cyhalofop, fenoxaprop e sethoxydim;
  • fenoxaprop, glyphosate e haloxyfop.

No caso do manejo das gramíneas, com o capim-pé-de-galinha e o capim-amargoso, o ideal é investir em herbicidas pré-emergentes. O controle feito apenas com glyphosate e graminicidas em pós-emergência da soja simplificou o sistema, e como você viu, selecionou biótipos resistentes.

Vassourinha-de-botão (Spermacoce verticillata)

A vassourinha-de-botão é uma planta da família Rubiaceae que vem se destacando pela dificuldade de controle na região centro-oeste do Brasil. Não há casos de resistência aos herbicidas, porém há uma certa dificuldade de controle devido à tolerância.

O manejo feito com a planta ainda pequena é facilitado, porém, quando a planta está grande e perenizada, há grande dificuldade de controle.

Vassourinha-de-botão

Vassourinha-de-botão. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Picão-preto (Bidens pilosa e Bidens subalternans)

O picão-preto é uma planta daninha da família Asteraceae e a principal dificuldade de controle está nos casos de resistência. O mais recente deles é o picão-preto (B. subalternans) resistente ao glyphosate.  Além desse caso há outros:

  • B. pilosa: chlorimuron, imazaquin, imazethapyr, nicosulfuron e pyrithiobac;
  • B. subalternans: chlorimuron, imazethapyr e nicosulfuron;
  • B. subalternans: atrazine, foramsulfuron e iodosulfuron;
  • B. pilosa: atrazine e imazethapyr.
Picão-preto (Bidens spp.)

Picão-preto (Bidens spp.). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Carurus (Amaranthus spp.)

Os carurus pertencem à família Amaranthaceae e, há várias espécies que pode ocorrer em soja entre elas:

  • caruru-roxo (Amaranthus hybridus);
  • caruru-gigante (Amaranthus retroflexus);
  • caruru-palmeri (Amaranthus palmeri);
  • caruru-de-espinho (Amaranthus spinosus);
  • caruru-de-mancha (Amaranthus viridis);
  • caruru-rasteiro (Amaranthus deflexus).

São plantas anuais que produzem muitas sementes, que são pequenas. 

O caruru-de-mancha é uma planta de porte intermediário, com inflorescência terminal, com manchas roxo-prateadas nas folhas.

caruru-roxo

O caruru-roxo é uma planta com maior crescimento vertical, pigmentada, com inflorescência terminal, com panícula verde ou púrpura.

Amaranthus hybridus var. paniculatus

Amaranthus hybridus var. paniculatus (inflorescência roxa) e Amaranthus hybridus var. patulus (inflorescência verde). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

O caruru-gigante é uma planta com grande crescimento vertical, inflorescência terminal verde, caule grosso e anguloso, com raízes avermelhadas.

Caruru-gigante (Amaranthus retroflexus)

Caruru-gigante (Amaranthus retroflexus). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

O caruru-de-espinho, como o próprio nome diz, tem a presença de espinhos, sendo uma planta de crescimento vertical ou prostrado (rente ao solo).

Caruru-de-espinho (Amaranthus spinosus)

Caruru-de-espinho (Amaranthus spinosus). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

O caruru-rasteiro é uma planta glabra (sem pilosidade), de hábito prostrado, ramos decumbentes, com ramificações secundárias com inflorescências dispersas.

Caruru-rasteiro (Amaranthus deflexus).

Caruru-rasteiro (Amaranthus deflexus). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

O caruru-palmeri pode ter inflorescências terminais ou axilares. É a única entre estas que é dióica, ou seja, tem plantas femininas e masculinas separadas. As folhas possuem pecíolo longo, na ponta da folha há uma pequena reentrância, onde pode ser encontrado um espinho. 

Nos casos dos carurus a dificuldade de controle são a elevada produção de sementes e o rápido desenvolvimento, competindo com a cultura da soja. Por ser uma espécie de folha larga (eudicotiledônea) temos mais dificuldade de manejá-la dentro da soja, além de alguns casos de resistência como:

  • caruru-gigante: atrazine, prometryn e trifloxysulfuron;
  • caruru-de-mancha: atrazine, prometryn e trifloxysulfuron;
  • caruru-gigante: pyrithiobac e trifloxysulfuron;
  • caruru-gigante: fomesafen;
  • caruru-palmeri: glyphosate;
  • caruru-palmeri: chlorimuron, cloransulam, glyphosate e imazethapyr;
  • caruru-roxo: chlorimuron e glyphosate.

Na cultura da soja os dois principais são o caruru-roxo e o caruru-palmeri. No caso do caruru-palmeri os casos estão sendo contidos na região centro-oeste, com esforços para impedir que avance para outras regiões.

Leiteiro (Euphorbia heterophylla)

O leiteiro, também conhecido por amendoim-bravo, pertence à família Euphorbiaceae. É uma planta que, se comparada com as demais, produz menos quantidade de sementes: 478 a 488 sementes/plantas (Santos et al., 2002), 110 a 125 sementes/planta (Hassanpour-Bourkheili et al., 2020).

Porém, as sementes são grandes, com muita reserva, com capacidade de emergir sob diferentes condições de luminosidade e sob palha. Além disso, a dificuldade de controle também se deve aos casos de resistência aos herbicidas:

  • chlorimuron, cloransulam, imazamox, imazaquin e imazethapyr;
  • acifluorfen, cloransulam, diclosulam, flumetsulam, flumiclorac, fomesafen, imazethapyr, lactofen, metsulfuron, nicosulfuron e saflufenacil;
  • glyphosate.

Veja que há casos de resistência aos inibidores da EPSPs, ALS e PROTOX.

Leiteiro/amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla)

Leiteiro/amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla)

Há muitas outras espécies que aparecem com frequência na cultura da soja, como o fedegoso (Senna obtusifolia) que pode inviabilizar a comercialização de lotes e, as cordas-de-viola (Ipomoea spp.), que atrapalham a colheita. O manejo das plantas daninhas na cultura da soja deve levar em consideração todo o sistema.

Considerando somente a soja, teremos algumas possibilidades de controle na dessecação pré-semeadura, na pré-emergência, em pós-emergência e na dessecação da cultura. Para ver o manejo das espécies de plantas daninhas que vamos mostrar aqui, você pode consultar o artigo escrito por mim no #blogAgroReceita: “Herbicidas pré-emergentes para a cultura da soja. 

Dessa forma, o controle de plantas daninhas é um fator essencial para proteger as culturas da redução da produtividade.

Conclusão

Muitos fatores interferem na produtividade da cultura da soja e, as plantas daninhas estão entre elas. As principais espécies que encontramos na soja são a buva, capim-amargoso, capim-pé-de-galinha, leiteiro, carurus, cordas-de-viola, fedegoso, vassourinha-de-botão e picão-preto.

Conhecer a biologia e saber identificar corretamente nos ajuda a entender a dinâmica dessas plantas no ambiente e a selecionar os métodos de controle mais adequados.

Sobre o Autor

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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