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Psilídeo dos citros: como manejear o principal problema da citricultura?

Adulto do psilídeo dos citros (Diaphorina citri).

Sumário

Tida como a pior doença da citricultura atual, o greening (HLB/huanglongbing) é causado pela bactéria Candidatus Liberibacter, e que por sua vez, possui como vetor justamente o psilídeo (Diaphorina citri).

Tendo sua origem no continente asiático, o psilídeo foi identificado pela primeira vez no Brasil na década de 1940, sendo considerado na época uma praga secundária. No entanto, quando o greening foi identificado em 2004 em território brasileiro, o psilídeo passou então de coadjuvante para a principal ameaça à citricultura brasileira.

Hoje presente em todas as regiões citrícolas brasileiras, o psilídeo exige um manejo extremamente planejado e executado à risca. Diante disso, é importante que os citricultores tenham em mãos as informações necessárias para que o manejo seja eficiente.

Continue a leitura deste artigo para saber mais sobre esta importantíssima praga da citricultura, bem como as estratégias empregadas para o seu manejo eficiente.

Identificação e comportamento da praga

Pertencente à ordem Hemiptera, o psilídeo é um inseto sugador e de características muito parecidas com cigarrinhas (Figura 1).

Infestação de psilídeo dos citros (Diaphorina citri).

Figura 1. Adulto do psilídeo dos citros (Diaphorina citri). (Fonte: Canva)

O ciclo de vida do psilídeo é separado em 3 fases distintas: ovo, ninfa e adulto (figura 2). As fêmeas podem colocar até 800 ovos e estes ficam aderidos às folhas das brotações.

Se considerarmos a postura no verão, o ciclo de ovo a adulto dura cerca de 15 dias. Já no inverno este ciclo dura em média 40 dias. A postura é normalmente feita nas brotações, porém, podem ser realizadas também em folhas maduras.

Fases de desenvolvimento do psilídeo dos citros.

Figura 2. Fases de desenvolvimento do psilídeo dos citros. (Fonte: Canva)

A fase ninfal é dividida em 5 instares, tendo como característica ninfas achatadas e de coloração amarelo-alaranjada (primeiros instares), tornando-se marrom acinzentadas. Estas alimentam-se das brotações e, durante este processo, liberam substâncias brancas em grandes quantidades.

Quanto adulto, como ilustrado na figura 1, o psilídeo pode medir de 2 a 3 mm, com asas transparentes e de bordas escuras. Estes também se alimentam nas brotações, onde fazem a postura para a continuação de seu ciclo de vida.

Quais os danos causados pelo psilídeo dos citros?

Os danos causados pelo psilídeo na lavoura citrícola podem ser de ordem direta e indireta.

Por ser um inseto sugador, quando em alta infestação, seu ataque pode causar crescimento anormal (enrolamento de folhas e retorcimento de brotos), seca de ramos e a redução na produção.

De forma indireta, com a transmissão do greening, o HLB (figura 3) faz com que plantas jovens nem cheguem a produzir. Plantas adultas sofrem grande queda de frutos durante o ciclo produtivo e definham com o tempo.

Os frutos que chegam à colheita apresentam maturação irregular, são deformados e possuem redução no tamanho. Também é comum a ocorrência de abortamento de sementes, que ficam pequenas, mal formadas e de coloração escura.

Sintomas do HLB na plantação de laranja
Sintomas do HLB no laranja

Figura 3. Sintomas do HLB em folhas e frutos de citros. (Fonte: Canva)

Como manejar e controlar o psilídeo dos citros?

O psilídeo está presente nos pomares o ano todo, portanto, o primeiro passo para um manejo e controle eficiente é o monitoramento

Exatamente por se alimentar das brotações, o pico populacional ocorre nos meses de mais chuvosos e de maior crescimento vegetativo (verão e primavera). Em anos muito chuvosos podem ocorrer altas populações em meses do outono e inverno.

Por ser um inseto que migra de uma lavoura para outra, é normal encontrar uma maior concentração de adultos, ninfas e ovos nas bordas das lavouras e em carreadores.

Sendo assim, recomenda-se o uso de armadilhas adesivas amarelas para monitorar o trânsito de adultos nos pomares. Estas devem ser posicionadas em locais estratégicos: bordaduras de talhões e na periferia da propriedade rural como um todo.

O espaçamento entre armadilhas deve respeitar no mínimo 100 metros e no máximo 250 metros. Estas devem ser instaladas no topo das plantas e, devem ser trocadas a cada 2 semanas.

Paralelamente às armadilhas, o citricultor deve realizar o monitoramento semanal de forma visual também. Esta estratégia consiste na vistoria de 1% das plantas de um talhão, onde inicia-se na inspeção de 3 a 5 ramos novos por planta, das bordas ao centro da área.

Por se tratar de um inseto vetor, a presença de 1 indivíduo já ativa o gatilho do nível de controle, o qual é feito essencialmente com inseticidas químicos. Porém, alguns produtos biológicos se apresentam como alternativa para a redução de defensivos agrícolas e manutenção da biodiversidade de inimigos naturais na área.

Para isso, o Fundecitrus elaborou uma lista de produtos que fazem parte do ProteCitrus (Produtos de Proteção à Citricultura) onde os responsáveis pelas lavouras encontram uma lista de defensivos em conformidade com a legislação internacional.

Além do ProteCitrus, o AgroReceita oferece o Compêndio Agrícola Online mais atualizado do mercado. Por meio do Compêndio da AgroReceita  é possível realizar a consulta fitossanitária dos agroquímicos utilizados na agricultura. Preencha o fomulário abaixo e comece já a sua consulta gratuita e ilimitada!

Em casos de implantação de lavouras novas, recomenda-se aplicar inseticidas sistêmicos nas mudas antes mesmo da sua saída do viveiro. A aplicação deve ocorrer de 1 a 5 dias antes da saída do viveiro, em volume de 50 mL por muda.

Já para pomares de até 3 anos, recomenda-se o manejo de inseticidas sistêmicos, via drench e/ou aplicação no tronco, e a aplicação foliar de inseticidas. Recomenda-se realizar estas aplicações na época de maior população do psilídeo.

A aplicação via drench e/ou tronco deve ser feita de 3 a 4 vezes ao ano. A 1ª aplicação normalmente é feita no início da primavera, enquanto a 2ª é feita no início do verão. A 3ª será feita próxima ao final do verão e, caso seja necessário, a 4ª aplicação é feita no outono.

Esta 4ª aplicação é feita no tronco principalmente por conta de o solo nesta época do ano estar com baixa umidade. A recomendação da aplicação no drench é de 100 a 500 mL de calda por planta (dependendo do tamanho da copa).

Para os inseticidas foliares a recomendação é espaçar as aplicações em um intervalo de 7 a 14 dias. Caso o produtor adote o intervalo de 7 dias, deve-se aplicar um volume de 25 mL de calda por m3 de copa. Caso opte por um intervalo maior, deve utilizar 40 mL.

Em pomares com idade acima de 3 anos, a aplicação de inseticidas via drench e tronco apresenta eficiência reduzida. Dessa forma, nestes pomares preconiza-se as aplicações foliares em intervalos de 14 a 28 dias, com atenção especial às bordas dos talhões.

Além do controle químico, alguns produtos de origem biológica têm mostrado bons resultados no manejo integrado do psilídeo.

Como macrobiológico, o parasitóide Tamarixia radiata é indicado como inimigo natural a ser utilizado. A vespa da Tamarixia faz a postura embaixo das ninfas do psilídeo, as quais servirão de alimento para as larvas em desenvolvimento.

Vale ressaltar que a liberação massal deste inimigo natural na área deve ser feita em pomares com baixos níveis de controle químico ou até mesmo cultivo orgânico.

Além do parasitóide, o produtor pode-se valer do fungo entomopatogênico Cordyceps javanica (antiga Isaria javanica).

Conclusão

Diante da importância econômica do psilídeo e do greening para o desenvolvimento sustentável da citricultura a nível nacional, entende-se que o manejo consciente e preciso é crucial durante todo o ciclo da cultura.

Como já enunciado, os produtores e responsáveis técnicos devem ter consciência do nível, local e época de infestação do psilídeo em sua lavoura. O monitoramento da lavoura e nos limites da propriedade é essencial para o início do manejo no momento correto.

Diante disto, o uso correto e consciente de defensivos agrícolas é de suma importância para o êxito no cultivo.

Sobre o Autor

Cássio

Cássio Honda

Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fisiologia Vegetal e Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras.

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