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Terceira safra: mais sustentabilidade e produtividade no campo

plantação de soja

Após avançar para uma safrinha cada vez mais produtiva, o agronegócio brasileiro consolida a terceira safra, aumenta a sustentabilidade e produtividade no campo

Sumário

A combinação de tecnologia, clima e manejo tem permitido ao agronegócio brasileiro se expandir de modo inovador em muitas áreas, se comparado aos sistemas de produção de outros países.

Um dos grandes avanços foi a entrada da segunda safra (ou safrinha) a partir da década de 80, aumentando a produção nacional, a produtividade por área ao longo do ano agrícola, a integração de sistemas agrícolas e o lucro dos produtores.

Hoje a realidade já é a terceira safra, que se faz de maneira diferente em partes do território nacional, mas que já tem dado maior flexibilidade ao agronegócio e permitido o aumento da sustentabilidade e eficiência do uso de recursos.

Nesse artigo, traremos informações sobre os fatores que limitam e os que permitem essa inovação agrícola, bem como suas vantagens ao produtor e ao ambiente agrícola em geral.

Definição de terceira safra

A terceira safra é a prática de se semear e colher (ou reaproveitar) três culturas em um mesmo ano agrícola. O ano agrícola é definido, na maior parte do país, como o período entre setembro de um ano e agosto do ano seguinte.

Esse manejo normalmente é usado em culturas de grãos e plantas de cobertura. Na maioria dos casos, a terceira safra inclui duas culturas de grãos e uma de plantas de cobertura, mas há variações ao longo do território.

Essas variações são definidas principalmente pelas condições climáticas e a infraestrutura da região e dos produtores, bem como pelas necessidades específicas de manejo dos maiores limitadores da produção, como plantas daninhas e ciclagem de nutrientes.

Fatores mais limitantes para uma terceira safra

Os fatores que limitam o número de safras no Brasil normalmente são relacionados às condições climáticas, às janelas de plantio e colheita, aos vazios sanitários, à pressão de doenças e à duração do ciclo das culturas.

Por exemplo, hoje já não se é comum a entrada de soja em segunda safra pela pressão da ferrugem e diminuição do fotoperíodo ao final do ciclo.

No mesmo sentido, a diminuição do milho em primeira safra tem ocorrido devido à manutenção de material vegetal para o ciclo da cigarrinha, que é vetor dos enfezamentos.

Porém, em geral, os fatores mais comuns ao se decidir o número de safras e as culturas a serem usada é a pluviosidade acumulada no período, o fotoperíodo e a temperatura.

O que permite a terceira safra no Brasil?

A terceira safra tem sido cada vez mais utilizadas devido a avanços em diversas frentes que superam ou diminuem o impacto das limitações acima citadas. Abaixo listamos as mais importantes:


Plantio direto:

O uso do plantio direto, além de auxiliar na manutenção da umidade no solo, diminuindo a necessidade hídrica proveniente apenas da pluviosidade natural, permite uma aceleração na implantação das culturas.

A não-necessidade de revolvimento do solo e a aplicação dos fertilizantes no sulco de plantio, junto com a semente, diminui o tempo de preparo de solo e agiliza a reação dos fertilizantes.

Esse avanço pode ser visto em áreas em que as colheitadeiras da soja de primeira safra entram no campo ao mesmo tempo que as plantadeiras de milho de segunda safra, prática muito comum em áreas do Mato Grosso, por exemplo.

Exemplo de área com colheita da soja e plantio do milho simultâneos. (Fonte: Portal do Agronegócio)

Melhoramento genético de cultivares:

A evolução do melhoramento genético tem permitido o lançamento de cultivares com características importantes para superar as principais limitações climáticas impostas aos cultivos agrícolas.

Por exemplo, plantas mais resistentes à seca permitem que o ciclo da cultura se estenda a meses em que a pluviosidade seja diminuída. Além disso, cultivares de ciclo mais curto permitem a colheita mais cedo e a entrada de outra safra na mesma área.

Além disso, plantas mais tolerantes a doenças permitem o plantio em épocas que o clima propicie o aumento da pressão de doenças e pragas, o que limitaria a produção de cultivares não-melhorados para essas condições.

Irrigação:

O uso da irrigação é provavelmente o fator mais importante para a possibilidade de uma terceira safra, pois permite que a limitação hídrica seja facilmente superada.

Em regiões em que a temporada de chuvas é mais curta, o uso de irrigação já é necessário até para a segunda safra.

Produtos químicos:

Produtos que permitam a aceleração do ciclo de uma cultura ou que propiciem um rápido desenvolvimento inicial das culturas no campo são cruciais para a viabilidade de três safras no mesmo ano agrícola.

Dessecadores de soja, hormônios vegetais reguladores de crescimento, herbicidas pré-emergentes são alguns desses produtos. Porém, o profissional deve atentar-se à recomendação destes de maneira assertiva.

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Quais plantas são mais utilizadas em terceira safra no Brasil?

Basicamente temos 3 tipos de terceira safra no Brasil, de acordo com as regiões produtoras. São elas:

Milho

O milho de primeira safra normalmente é uma cultura de verão, plantado no início da temporada úmida, entre setembro e dezembro, com colheita entre fevereiro e maio.

A segunda safra, bastante comum no Sudeste e Centro-Oeste vem, normalmente, após a soja, com plantio entre janeiro e março e colheita entre maio e setembro.

A terceira safra, também chamada de safra de inverno, tem sido uma realidade nos seguintes estados: Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Roraima. O plantio se estende entre abril e junho e a colheita entre agosto e novembro.

A terceira safra de milho já responde por cerca de 5% da produção total nacional, segundo dados da CONAB.

Cereais de inverno

Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste a prática do uso de cereais de inverno em terceira safra tem se tornado bastante comum. O uso de culturas como o trigo ou aveia permite uma colheita de grãos tardia, mesmo que a produtividade não atinja níveis muito altos.

Também é comum o uso de plantas de cobertura que serão utilizadas como palhada para o plantio posterior da soja, com impacto importante na ciclagem de nutrientes e em evitar áreas de pousio na entressafra.

Feijão

O feijão é uma das culturas que entra no ciclo para permitir a terceira safra. Em algumas regiões ela é plantada logo no início do período chuvoso, com um ciclo mais curto, por exemplo, entre setembro e dezembro. Isso ainda permite a entrada posterior da safra de soja e do milho na sequência.

Porém, o mais comum é o uso do feijão em terceira safra, com um manejo irrigado. O plantio varia nas diferentes áreas do país, variando entre março e junho, com a colheita entre agosto e dezembro.

Essa terceira safra responde por cerca de 10% da área plantada e de 20% do total da produção nacional. A área de maior plantio é no Planalto Central, com irrigação por aspersão em pivô central, o que permite altas produtividades.

Plantas resistentes a doenças são cruciais para esse tipo de manejo, devido às altas umidades causadas pelo sistema de irrigação.

Plantação de trigo

Benefícios da terceira safra

A terceira safra traz consigo alguns benefícios, não só em termos de aumento de produção. As principais vantagens são relacionadas a:

  • Produção: o incremento de produção da terceira safra garante lucro extra ao produtor e permite que ele dilua gastos fixos em mais uma colheita;
  • Ciclagem de nutrientes: o uso de plantas em terceira safra aumenta a ciclagem de nutrientes exportados para a parte aérea e disponibilizados através da decomposição da palhada na safra seguinte. Além disso, o uso de leguminosas aumenta a fixação de nitrogênio no solo;
  • Combate a plantas daninhas: o plantio da terceira safra aumenta a competição por recursos entre a cultura e as plantas daninhas. Com a área em pousio, as plantas germinadas através do banco de sementes do solo têm condições de se desenvolver e manter e renovar o estoque de sementes, aumentando a mato-competição nas safras posteriores;
  • Aumento da sustentabilidade: todos esses processos contribuem para um uso mais eficiente da terra e de recursos como água e nutrientes, também aumentando a formação de microbiota benéfica no solo. Além disso, contribuem para quebrar os ciclos de monocultivo, diminuindo inóculos de pragas, doenças e plantas daninhas, reduzindo a necessidade da aplicação de produtos químicos.

Conclusão

Os avanços tecnológicos no agronegócio brasileiro têm se destacado grandemente e permitido avanços nunca pensados. A terceira safra é uma realidade e tem trazido diversos benefícios aos produtores.

Para isso, várias tecnologias são necessárias e a organização do produtor passa por um manejo com alto nível de assertividade e busca de soluções inovadoras.

O aumento da sustentabilidade e da eficiência do uso de recursos, além da diluição de custos fixos, são vantagens competitivas dos agricultores brasileiros.

Sobre o Autor

João Paulo Pennacchi

João Paulo Pennacchi

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e Doutor em Fisiologia de Plantas pela Lancaster University.

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