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Milho safrinha: tudo que você precisa saber

Sumário

A safrinha de milho tem se destacado e assumido o protagonismo da cultura no país e aqui trazemos um aspecto geral desse plantio desafiador e de grande potencial. 

O Brasil se destaca no cenário agrícola mundial por muitas razões, mas uma das principais é a singularidade de nossa agricultura propiciar, pelo menos, duas safras dentro do mesmo ano agrícola.

Isso acontece pelo fato de alguns fatores climáticos necessários para a agricultura se manterem por períodos longos do ano, como: horas de sol, temperatura e pluviosidade. Essas condições naturais combinadas a avanços tecnológicos em diversas áreas como genética, maquinário e agroquímicos, permitem uma maior produção agrícola ao longo de um mesmo ano.

Porém, existem condições importantes que devem ser observadas e controladas para que a viabilidade econômica da segunda safra seja alcançada, como datas de plantio, ciclo do material genético, combinação de espécies e manejo de lavouras.

Nesse artigo traremos informações importantes sobre as especificidades da safrinha, com foco especial no milho, de forma a manter o profissional agrícola atento aos detalhes que são necessários para a maximização do uso de recursos e do retorno do negócio rural. Boa leitura!

O que é safrinha?

A safrinha é o cultivo que acontece após a safra e, hoje em dia, tem sido mais comumente chamado de segunda safra. Isso se deve ao fato de que o termo safrinha tem se tornado obsoleto, uma vez que o diminutivo se referia a uma safra com menor área, produção e investimento do que na primeira safra, o que já não é mais uma realidade, principalmente na cultura do milho.

A safra principal, também chamada de safra de verão, ocorre normalmente na janela compreendida entre o início da primavera e o fim do verão, sendo que a safrinha se inicia no final do verão, se estendendo pelo outono e início do inverno.

Quando se iniciou a prática da safrinha no Brasil?

Em muitas partes do país, após uma primeira safra – normalmente de soja – era comum a entrada de plantios de culturas de inverno – principalmente o trigo – para ocupar as áreas que seriam novamente semeadas com a cultura principal na primavera do ano agrícola seguinte.

Entre o fim dos anos 70 e início dos anos 80, agricultores do Paraná iniciaram o plantio do milho após a primeira safra de soja, em substituição a culturas de inverno, dando início à prática da safrinha. Isso aconteceu principalmente pela diminuição do apoio à cultura do trigo.

Desde então a safrinha do milho se expandiu por vários estados do Brasil, cresceu em área, tecnologia e produtividade e assumiu o protagonismo da produção desse cereal.

Qual a importância agronômica e econômica da safrinha?

Em termos agronômicos, a utilização da safrinha tem diversos impactos benéficos, principalmente pensando na safra seguinte. Dentre eles, podemos citar:

  • Evitar área em pousio, potencializando reprodução de plantas daninhas;
  • Gerar palhada para safra posterior;
  • Melhorar estrutura do solo e reciclagem de nutrientes;
  • Quebrar ciclos de pragas, patógenos e nematóides;
  • Evitar erosão do solo;
  • Manter matéria orgânica do solo.

Em termos econômicos, a safrinha tem sua principal vantagem na produção de produtos agrícolas que geram lucro ao produtor, potencializando a produção no mesmo ano agrícola.

É importante ressaltar que, no caso do milho, a safrinha só vem aumentando em importância desde que se iniciou esse tipo de plantio, no final da década de 70. Hoje em dia, a safrinha, ou segunda safra, representa 77% da área total de milho semeada no país ao longo do ano agrícola, respondendo por 38% da produção total deste cereal.

A terceira safra já é uma realidade, principalmente em áreas do Norte-Nordeste, mas ainda sem maior representatividade.

Porcentagem de área e produção de milho entre as safras (Fonte: CONAB)

Quando as épocas de plantio/colheita da safrinha em cada área do país?

A época de plantio da safrinha de milho varia ao longo do país, principalmente por diferenças climáticas de cada local, pela latitude e pelas datas de plantio e colheita da safra.

No Centro-Sul, o mais comum é que a safra se inicie entre outubro e dezembro e a safrinha seja plantada entre janeiro e março, com colheita prevista entre maio e setembro.

Já no Norte-Nordeste há maior variação nas datas de plantio e colheita, sendo que o padrão é que seja atrasada em relação ao Centro/Sul e com colheita mais tardia também.

Verifique abaixo a safra do milho para o 1° semestre:

Safra do milho para o 2° semestre:

Épocas de plantio e colheita da safra e safrinha de milho (Fonte: CONAB)

Quando as diferenças principais entre o milho safra e safrinha?

Além da época de plantio e colheita e da duração do ciclo da cultura no campo, há outras diferenças características entre a safra e a safrinha de milho.

Potencial produtivo

A primeira diferença é no potencial produtivo, sendo que o potencial de produção na safra é maior que na safra. Isso explica o fato de que, atualmente, a safrinha representa quase 80% da área plantada de milho no país, no ano agrícola, mas apenas 40% da produção total.

Condições climáticas

Essa diferença de potencial produtivo se deve, principalmente, aos fatores climáticos. Na safra, as condições hídricas e de temperatura, bem como o fotoperíodo e horas de sol, são ideais para a cultura do milho.

Por outro lado, a safrinha já apresenta limitações hídricas pelo início da estação mais seca, além de haver riscos de geadas, de outono ou inverno, na parte final do ciclo. O uso de irrigação em milho safrinha é uma solução em áreas em que há possibilidade de uso dessa técnica.

Híbridos

Os materiais genéticos utilizados na safra e na safrinha podem ser os mesmos. Porém, dependendo da época de plantio da safrinha, pode haver a necessidade da escolha de um híbrido de ciclo mais curto, visando evitar a limitação hídrica e as baixas temperaturas no final do ciclo.

Doenças

Algumas doenças podem ser mais comuns na safrinha do que na safra. As principais doenças do milho safrinha são a cercosporiose (Cercospora zeae-maydis), a mancha branca (Phaeosphaeria maydis) e as ferrugens polisora (Puccinia polysora) e tropical (Physopella zeae). O complexo do enfezamento tem assumido papel de importância nos estresses bióticos que causam perdas em milho safrinha.

Investimento

Em muitas áreas no Brasil, o milho safrinha ainda é relegado a um cultivo pouco tecnológico e de baixo investimento. Isso se deve ao potencial produtivo que pode ser mais baixo que na safra, levando o produtor a decidir não investir em adubação e aplicações de defensivos agrícolas.

Isso se deve também ao fato de que a cultura do milho tem menor valor agregado, apesar das altas de preço dessa comodity nos últimos anos.

Por que a safrinha de milho tem crescido tanto?

Alguns fatores têm contribuído para o aumento da área de safrinha no Brasil. Abaixo listamos os mais importantes:

 Expansão da soja safra para outras áreas do país.

A expansão da soja para áreas onde anteriormente não era cultivada fez com que as áreas de milho safra fossem diminuídas. Isso se deu pelo desenvolvimento de cultivares de soja adaptados a condições específicas dessas regiões.

O produtor normalmente decide utilizar a soja por ser uma cultura de maior valor agregado e com maior preço de venda do que o milho.

Aumento da produtividade do milho safrinha

O aumento da produtividade do milho safrinha deu maior liberdade e confiança ao produtor para deslocar essa cultura para a segunda safra, sem maiores perdas de rendimento, apesar de um maior risco, devido, principalmente, ao clima.

Além disso, o desenvolvimento de híbridos mais adequados para as condições da safrinha, auxiliam na produtividade. Dentre as características estão a precocidade do ciclo, maior potencial produtivo e tolerância à seca.

O complexo do enfezamento

O grande impacto do enfezamento nas lavouras de milho é mais um fator relevante para a migração do milho da safra para a safrinha. A cigarrinha, responsável pela transmissão dos vírus causadores do enfezamento, normalmente mantém seu ciclo entre a safra e a safrinha no milho tiguera que brota após a colheita da safra.

Ao se evitar a safra, espera-se que a pressão da cigarrinha e do enfezamento na safrinha seja menor do que em casos de se fazer milho safra e milho safrinha em seguida.

Cigarrinha do milho

Quais os principais cuidados a se tomar na safrinha?

A safrinha requer alguns cuidados e planejamentos especiais devido ao maior risco que essa prática envolve e às limitações climáticas. Dentre esses cuidados, devemos citar:

  • Planejamento antes do início da safra;
  • Atenção à data de semeadura;
  • Escolha do híbrido mais adequado;
  • Uso de sementes de alta qualidade;
  • Tratamento de sementes com inseticidas;
  • Cuidados com efeitos residuais de dessecantes, no caso de plantio após safra de soja;
  • Controle do milho tiguera para evitar manutenção do ciclo da cigarrinha.

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A safrinha é só de milho?

Apesar do milho ser o principal produto agrícola brasileiro para a segunda safra, há outras opções recomendadas para esse cultivo. Dentre as outras culturas recomendadas e de uso mais comum estão: o sorgo, o feijão, o algodão, o trigo, o milheto, o arroz e o girassol.

A soja também pode ser usada em safrinha, mas isso é cada vez menos comum, principalmente devido ao maior potencial de incidência de doenças nessa época (como a ferrugem) e condições de luminosidade e fotoperíodo não ideais.

Hoje em dia, a combinação mais utilizada no Brasil é a safra de soja, seguido da safrinha de milho. Essa combinação apresenta efeitos sinérgicos, principalmente levando em conta a quebra do ciclo de patógenos, a manutenção de altos teores de nitrogênio no solo pela soja, que será utilizado pelo milho e a produção de palhada de milho que será benéfica ao plantio direto da soja.

Conclusão

A safrinha tem, cada vez mais, assumido o protagonismo na produção brasileira de grãos, principalmente para a cultura do milho. Isso se deve principalmente à expansão da safra de soja e à evolução técnica da cultura do milho.

Hoje em dia o produtor se sente mais seguro em investir mais na safrinha de milho, mesmo com os riscos dessa atividade, pelo maior preço de venda do cereal e pelo avanço da produtividade da cultura na segunda safra.

A safrinha requer cuidados especiais, que já se iniciam mesmo antes da safra, mas que se observados podem contribuir para resultados econômicos muito satisfatórios, além dos demais pontos positivos da rotação de culturas entre milho e soja.

Sobre o Autor

João Paulo Pennacchi

João Paulo Pennacchi

Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e Doutor em Fisiologia de Plantas pela Lancaster University.

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