Semeadura da soja: o que há de novo para a safra 2025/26?
 
													Sumário
Tudo sobre a semeadura da soja para a safra 2025/26: novo ZARC, vazio sanitário, como melhorar o estande com sementes de alta qualidade e integrar bioinsumos.
A soja (Glycine max L.) é destaque no agronegócio brasileiro, não apenas pela área cultivada, mas pela posição do país como maior exportador mundial da oleaginosa.
Com mais de 47 milhões de hectares semeados em 2024/25 e expectativa de chegar a 49 milhões de hectares em 2025/26 (USDA, 2025), cada detalhe técnico do processo de implantação da lavoura influencia diretamente os resultados econômicos e a competitividade do Brasil no mercado internacional.
Diante desse cenário, compreender as novidades que impactam a semeadura da soja na safra 2025/26 é indispensável para produtores, consultores e gestores agrícolas.
Entre as atualizações estão: o novo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), ajustes no vazio sanitário e no calendário de plantio, avanços nas tecnologias de semeadoras, maior valorização da qualidade fisiológica das sementes e uso consolidado de bioinsumos e condicionadores de solo aplicados no sulco.
Vamos responder às suas principais dúvidas, te mostrar o panorama técnico aprofundado sobre o que muda para a safra 2025/2026, trazendo informações oficiais, exemplos práticos e recomendações para orientar o manejo da semeadura.
Boa leitura!
O que mudou no zoneamento agrícola (ZARC) em 2025?
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) é uma ferramenta científica que relaciona clima, solo e ciclo da cultura para definir as janelas seguras de semeadura em cada município brasileiro.
Ele utiliza séries históricas de pelo menos 15 anos de dados meteorológicos, aplicando modelos de balanço hídrico climatológico e considerando parâmetros como capacidade de água disponível do solo, evapotranspiração e exigência hídrica da cultura em cada fase fenológica.
Em 2025, o MAPA publicou as Portarias SPA/MAPA nº 363 a 382, que definem as datas de plantio da soja em cada estado para a safra 2025/26.
A principal novidade foi a revisão de janelas em regiões de maior instabilidade climática, especialmente no MATOPIBA e em áreas de transição entre Cerrado e Amazônia.
Nessas regiões, o risco de estiagens curtas no início do ciclo levou à antecipação ou encurtamento das datas seguras de plantio.
Além disso, o ZARC agora integra de forma mais refinada os cenários de mudança climática, ajustando o risco climático de 20% para 25% em algumas localidades, reconhecendo a variabilidade interanual crescente observada nos últimos ciclos.
Para o produtor, a consulta ao ZARC não é apenas uma recomendação técnica: é critério obrigatório para acesso a seguro rural e ao Proagro.
Assim, semear fora das datas estabelecidas aumenta a exposição a riscos produtivos e inviabiliza o acesso a mecanismos oficiais de mitigação de perdas.
 
													Figura 1. Zoneamento agrícola de risco climático (ZARC) para a cultura da soja. Fonte: Adobe Stock e Agro Estadão (2025).
Vazio sanitário e calendário de semeadura da soja
Outro ponto determinante para a safra 2025/26 é o respeito ao vazio sanitário da soja, período mínimo de 90 dias no qual é proibido manter plantas vivas da cultura no campo.
Essa prática foi estabelecida para reduzir o inóculo inicial de Phakopsora pachyrhizi, fungo causador da ferrugem-asiática da soja, doença mais destrutiva da cultura no Brasil.
 
													Figura 2. Doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Fonte: Agrolink (2025).
A Portaria SDA/MAPA nº 1.271/2025 consolidou os períodos de vazio sanitário e de calendário de plantio em todos os estados produtores.
Por exemplo:
- Mato Grosso: vazio de 6 de junho a 6 de setembro; semeadura liberada de 7 de setembro a 7 de janeiro.
- Minas Gerais: vazio até 30 de setembro; semeadura permitida de 1º de outubro a 8 de janeiro.
- Bahia (oeste): vazio até 15 de setembro; plantio autorizado de 16 de setembro a 31 de janeiro.
Essas datas têm impacto direto no planejamento operacional, exigindo sincronização entre aquisição de sementes, preparo de máquinas e logística de insumos.
Plantar fora dessas janelas significa não apenas sanções legais, mas também maior pressão de doenças, maior necessidade de aplicações de fungicidas e elevação nos custos de produção.
 
													Figura 3. Qualidade de sementes para a semeadura da soja. Fonte: Canva.
Tratamento e qualidade das sementes de soja
A semeadura da soja em 2025/26 contará com maior difusão de semeadoras de precisão, equipadas com sensores de profundidade, atuadores elétricos para taxa variável e sistemas de desligamento linha a linha.
Tais dispositivos permitem reduzir sobreposição de sementes e aumentar a uniformidade do estande.
O uso de telemetria e agricultura digital também se fortaleceu. Monitoramentos em tempo real permitem ajustar a pressão de discos, a velocidade de plantio e até o fluxo de sementes com base na compactação do solo e na umidade do perfil.
Quanto à qualidade fisiológica da semente, a recomendação dos especialistas é não se limitar ao valor de germinação em laboratório, mas também avaliar o vigor por meio de testes como tetrazólio, condutividade elétrica e emergência em areia.
A diferença entre 90% de germinação em papel e 80% de emergência em campo pode significar até 20 mil plantas/ha a menos em populações alvo de 300 mil plantas/ha.
 
													Figura 4. Representação da composição do tratamento de polímero, inseticida e fungicida. Fonte: CIMMYT (2022).
O tratamento industrial de sementes (TSI) é outro diferencial!
Além dos fungicidas e inseticidas convencionais, cresce a aplicação de bioestimulantes e inoculantes de Bradyrhizobium diretamente no processo industrial, garantindo maior padronização e redução de falhas operacionais no campo.
Manejo técnico da população de plantas
Definir corretamente a população de plantas é um dos fatores mais críticos da semeadura da soja. Recomenda-se calcular a densidade a partir da fórmula:
 
													Exemplo: para atingir 14 plantas/m com emergência esperada de 80%, deve-se regular a semeadora para depositar 18 sementes/m.
A velocidade operacional não deve ultrapassar 6 km/h, pois acima desse limite aumentam falhas de deposição e profundidade irregular.
A profundidade ideal varia de 3 a 5 cm, dependendo da umidade e textura do solo. Solos argilosos e úmidos exigem profundidade menor, enquanto solos mais leves e secos permitem deposição ligeiramente mais profunda.
 
													Figura 5. Profundidade ideal de semeadura da soja (3–5 cm). Fonte: CIMMYT (2022).
Uso de bioinsumos e condicionadores de solo
Para integração de bioinsumos ao processo de semeadura da soja tornou-se prática consolidada.
Os principais produtos utilizados incluem:
- Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii: responsáveis pela fixação biológica de nitrogênio.
- Azospirillum brasilense: coinoculação que potencializa o crescimento radicular e aumenta a absorção de nutrientes.
- Trichoderma spp. e Bacillus spp.: biofungicidas aplicados no sulco para proteção inicial contra patógenos de solo.
- Bioestimulantes à base de algas: favorecem arranque inicial e uniformidade.
Além dos bioinsumos, é frequente o uso de gesso agrícola em áreas com alumínio tóxico e de calcário de aplicação localizada, melhorando a disponibilidade de cálcio e magnésio na camada de 0–20 cm.
Essas práticas resultam em maior nodulação, aumento do teor de matéria orgânica e maior resiliência do estande inicial a estresses hídricos.
Perspectivas para a safra 2025/2026
As projeções do USDA e da CONAB indicam que a produção de soja no Brasil em 2025/26 pode alcançar 176 milhões de toneladas, consolidando o país como líder global.
Esse avanço é sustentado por:
- Expansão de área em regiões de fronteira agrícola (especialmente Matopiba).
- Adoção crescente de tecnologias digitais.
- Integração de bioinsumos no manejo.
- Melhoria na gestão de risco climático com uso do ZARC.
Do ponto de vista climático, há expectativa de neutralidade de El Niño/La Niña no início da safra, mas a variabilidade intraestacional exige monitoramento constante.
O uso de aplicativos como Zarc Plantio Certo permite ao produtor ajustar seu planejamento em tempo real.
Como se preparar para uma semeadura da soja técnica e segura em 2025
A implantação da lavoura de soja é uma etapa crítica, pois define a uniformidade do estande e influencia diretamente a expressão do potencial produtivo da cultivar escolhida.
Para a safra 2025/26, alguns cuidados técnicos devem ser priorizados:
1 - Planejamento prévio: aquisição antecipada de sementes de alta qualidade
O primeiro passo é assegurar a compra de sementes certificadas, com laudo oficial de germinação e pureza.
A aquisição antecipada evita gargalos logísticos e reduz o risco de receber lotes com baixo vigor fisiológico próximo ao plantio.
Além da germinação, é imprescindível observar parâmetros como peso de mil sementes (PMS), que interfere no cálculo da densidade, e a uniformidade de tamanho dos grãos, fator que garante deposição mais regular no sulco.
Estudos da Embrapa Soja demonstram que sementes com PMS padronizado reduzem em até 12% as falhas de estande em condições de campo heterogêneas.
2 - Análise de vigor: testes de emergência em campo e laboratório
A germinação em papel ou rolo é apenas indicativa do potencial máximo da semente em condições ideais. No entanto, o que realmente define a qualidade é o vigor, isto é, a capacidade da semente de emergir sob condições adversas.
Testes como tetrazólio, condutividade elétrica e envelhecimento acelerado devem ser utilizados em laboratório para estimar a robustez fisiológica. No campo, o teste de emergência em areia ou canteiro simula situações reais de solo, oferecendo parâmetros mais próximos da realidade operacional.
Uma semente com 90% de germinação, mas vigor inferior a 70%, pode comprometer seriamente o estande final.
3 - Calibração da semeadora: velocidade, profundidade e pressão dos discos
A regulagem correta da semeadora é determinante para a uniformidade de deposição.
A velocidade ideal situa-se entre 4 e 6 km/h; valores acima dessa faixa resultam em distribuição irregular e profundidade variável, comprometendo a emergência.
A profundidade de deposição deve respeitar 3 a 5 cm, ajustada conforme textura do solo e umidade disponível. Em solos argilosos úmidos, recomenda-se menor profundidade para evitar compactação da camada superficial.
A pressão dos discos de corte deve ser calibrada de acordo com a resistência mecânica do solo, evitando tanto a deposição superficial (sementes expostas) quanto a deposição profunda (dificuldade de emergência).
Ensaios demonstram que a má regulagem da semeadora pode reduzir em até 18% a população final de plantas, mesmo com sementes de alta qualidade.
4 - Consulta ao ZARC e respeito ao vazio sanitário
Semear dentro das janelas recomendadas pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) é pré-condição para acesso ao seguro rural e ao Proagro, além de reduzir o risco de perdas por estiagens ou excesso hídrico.
O vazio sanitário, por sua vez, é medida fitossanitária obrigatória que interrompe o ciclo da ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi).
Plantar fora dessas normas implica não apenas riscos de autuação, mas também pressão epidemiológica mais intensa, exigindo maior número de aplicações fungicidas. Isso eleva custos, favorece resistência de patógenos e compromete a sustentabilidade do sistema produtivo.
O uso de aplicativos oficiais como Zarc Plantio Certo auxilia na consulta personalizada das janelas por município.
5 - Uso de bioinsumos e condicionadores no sulco de plantio
A coinoculação com Bradyrhizobium japonicum e Azospirillum brasilense é prática consolidada que aumenta a nodulação, a fixação biológica de nitrogênio e o desenvolvimento radicular.
 
													Figura 6. Fixação biológica de nitrogênio em soja (Glycine max) e formação de nódulos radiculares. Fonte: Alasteir Ong e Mark R. O’Brian (2024).
A aplicação de Trichoderma spp. e Bacillus subtilis no sulco reduz a incidência de patógenos de solo e promove maior uniformidade de emergência.
Além disso, condicionadores como gesso agrícola favorecem a lixiviação do alumínio tóxico e aprofundam a penetração radicular, enquanto o calcário localizado corrige microáreas de acidez e melhora a disponibilidade de cálcio e magnésio.
Ensaios recentes da Embrapa Soja evidenciam que a integração de bioinsumos e corretivos no sulco pode incrementar em até 8% o estande inicial, reduzindo a necessidade de replantio.
6 - Monitoramento climático em tempo real
O acompanhamento meteorológico, antes e após a semeadura da soja, é essencial para evitar plantios em condições de déficit hídrico inicial.
A instalação de estações meteorológicas automáticas na propriedade, aliadas a aplicativos de previsão de curto prazo, possibilita maior assertividade. Dados de umidade do solo, temperatura e probabilidade de precipitação devem nortear a decisão final de entrada da semeadora.
Além disso, ferramentas digitais integradas ao ZARC permitem simular cenários de risco hídrico e ajustar o calendário de acordo com as condições regionais.
Como a AgroReceita pode ajudar a sua empresa?
Ao utilizar a plataforma digital da AgroReceita, você tem acesso automatizado às bulas atualizadas dos produtos fitossanitários registrados no Brasil, com informações específicas por estado.
Essa atualização ocorre de forma contínua, sempre que há novas publicações oficiais pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Além da simples consulta, o sistema permite visualizar as dosagens recomendadas, o volume de calda, o cálculo da área tratada, bem como selecionar a cultura e o alvo biológico (praga ou doença), proporcionando maior precisão no diagnóstico e favorecendo o aumento da produtividade da lavoura.
Com a AgroReceita, o profissional ganha agilidade e segurança: todo o processo é digital, incluindo a emissão e assinatura eletrônica do receituário agronômico, eliminando a necessidade de impressões e reduzindo riscos de erros operacionais.
Outro diferencial da plataforma é a integração com os sistemas ERPs de revendas, cooperativas e lojas agropecuárias, o que facilita o controle e rastreabilidade dos receituários agronômicos emitidos, além de fornecer dados valiosos sobre o comportamento de compra e uso dos produtos no campo.
Preencha o formulário abaixo, teste grátis todas as funcionalidades do Plano Pro e veja como otimizar a safra da soja:
Conclusão
A safra 2025/2026 de soja no Brasil será marcada pela integração entre ciência e tecnologia na fase de semeadura.
O respeito ao ZARC e vazio sanitário, aliado ao uso de sementes de alta qualidade, semeadoras de precisão e bioinsumos, define o sucesso da implantação da lavoura.
Ao produtor, cabe alinhar planejamento técnico, regulagem adequada das máquinas e observância dos marcos legais.
A semeadura da soja deixou de ser apenas o início do ciclo: ela é o ponto de decisão que determina uniformidade, eficiência e competitividade da cultura em um mercado global cada vez mais exigente.
Sobre o Autor
 
													Alasse Oliveira
Engenheiro Agrônomo, Mestre e Especialista em Produção Vegetal e, Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)
 
								 
								 
								 
								 
								 
								 
								