Como controlar o capim-amargoso?

Infestação de capim-amargoso na lavoura

Capim-amargoso: biologia, dificuldades de controle, casos de resistência e herbicidas para o manejo.

O capim-amargoso (Digitaria insularis) também é conhecido pelos nomes de capim-açu, capim-pororó, capim-flecha, milheto gigante e vassourinha.

Pode ser encontrado em diversas regiões do Brasil, sendo as principais o Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Continue a leitura deste artigo e saiba mais!

Por que é difícil de controlar o capim-amargoso?

Algumas características do capim-amargoso fazem com que ele seja difícil de controlar. É uma gramínea perene, entouceirada e rizomatosa, características essas que dificultam o manejo.

Isso porque será preciso pensar em manejos que cheguem até o sistema radicular para que haja eficácia de controle.

A reprodução do capim-amargoso acontece pelas sementes (reprodução sexuada) e pelo rizoma (reprodução assexuada).

A produção de sementes pela planta é alta, podendo passar de 50 mil sementes por ano.

A touceira vai formar um rizoma curto, que é o colmo subterrâneo que irá armazenar reserva de energia para a planta. A formação destes curtos rizomas vai dificultar o controle, pois após a aplicação do herbicida teremos visualmente um controle, porém a planta irá rebrotar.

Por serem leves, as sementes acabam sendo facilmente dispersadas pelo vento e pelas máquinas colhedoras.

Capim-amargoso resistente a herbicidas

A dificuldade de controle também é associada aos casos de resistência a herbicidas. No Brasil há três relatos de casos de capim-amargoso resistente a herbicidas.

O primeiro caso foi em 2008, no Paraná, em lavouras de soja e milho, onde foi relatado o capim-amargoso resistente ao glyphosate (herbicida inibidor da enzima EPSPs).

O segundo relato foi em 2016, em lavouras de soja, aos herbicidas graminicidas fenoxaprop e haloxyfop (herbicidas inibidores da enzima ACCase).

O terceiro caso foi em 2020, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em lavouras de soja, aos herbicidas glyphosate, haloxyfop e fenoxaprop, ou seja, um caso de resistência múltipla.

A resistência múltipla é quando aquela espécie é resistente a dois ou mais herbicidas de diferentes mecanismos de ação. Quando a espécie apresenta casos de resistência o controle se torna mais difícil, pois há uma redução nas opções de herbicidas.

Nesse caso o glyphosate e os graminicidas são muito usados em pós-emergência, o que acabou selecionando biótipos resistentes. Um bom manejo integrado de plantas daninhas utiliza também herbicidas em pré-emergência.

O que controla o capim-amargoso resistente?

1 - Fazer a dessecação quando as plantas estiverem pequenas.

Sempre será mais fácil controlar plantas jovens do que plantas adultas perenizadas. A planta pequena ainda não formou rizomas, o que facilita o controle.

Além disso, a distância para o herbicida translocar dentro da planta é menor do que em plantas adultas.

Controlar as plantas ainda pequenas evita a formação de sementes, que serão dispersadas e voltarão ao banco de sementes do solo.

2 - Uso de herbicidas sistêmicos.

Quando a planta estiver em estádio mais avançado, provavelmente você precisará usar herbicidas sistêmicos. Pode ser que sejam necessárias duas aplicações sequenciais para que o controle seja eficaz.

O glufosinate, por exemplo, é um herbicida de contato que pode ser usado em aplicações sequenciais ou em plantas jovens.

3 - Uso de misturas de herbicidas.

O uso de misturas de herbicidas aumenta o espectro de controle de plantas daninhas. As misturas, quando são de diferentes mecanismos de ação, ajudam a prevenir a seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas.

No controle de capim-amargoso algumas misturas tem potencial alto, como a associação de glufosinate com herbicidas inibidores da enzima PROTOX e, associação de inibidores da PROTOX com inibidores da ACCase.

4 - Palha

O solo coberto com palha ajuda a reduzir os fluxos de germinação do capim-amargoso, mesmo sendo uma semente fotoblástica neutra (germinação na presença ou ausência de luz).

Além disso, a germinação e emergência de sementes pequenas é mais difícil quando se tem uma camada de palha.

Alternativas de controle químico para capim-amargoso

De acordo com o Agrofit, os herbicidas registrados para o manejo de capim-amargoso são:

  • Inibidores da enzima glutamato sintase (GS): glufosinate;
  • Inibidores da enzima PROTOX: tiafenacil, flumioxazin e fomesafen;
  • Inibidores da enzima ACCase: clethodim, quizalofop, haloxyfop, sethoxydim, fenoxaprop e clodinafop;
  • Inibidores da enzima EPSPs: glyphosate;
  • Inibidores da biossíntese de celulose: indaziflam;
  • Inibidores da biossíntese de carotenoides: mesotrione, tolpyralate e clomazone;
  • Inibidores da enzima ALS: imazapyr, imazethapyr, imazamox, diclosulam e nicosulfuron;
  • Inibidores do Fotossistema II (FSII): diuron e terbutilazina;
  • Inibidores da formação de microtúbulos: pendimetalina e trifluralin;
  • Inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa: S-metolachlor e pyroxasulfone;
  • Desconhecido: MSMA;

Também há várias associações de fábrica:

  •  Isoxaflutole + thiencarbazone;
  • Clethodim + haloxyfop;  
  • Imazetapir + sulfentrazone;
  • Imazapic + imazapyr;
  • Terbutilazina + tolpyralate;
  • Flumioxazin + S-metolachlor;
  • Clethodim + fluroxipir;  
  • Metribuzin + S-metolachlor;
  • Glufosinate + haloxyfop;
  • Glufosinate + S-metolachlor;
  • Diquat + flumioxazin;
  • Atrazine + mesotrione;
  • Diuron + hexazinone;
  • Glyphosate + imazethapyr;
  • Fomesafen + S-metolachlor;
  • S-metolachlor + sulfentrazone;
  • Atrazine + mesotrione + S-metolachlor;  
  • Diuron + trifluralin; 
  • Flumioxazin + pyroxasulfone;
  • Metribuzin + pendimetalina;
  • Carfentrazone + glufosinate;
  • Chlorimuron + flumioxazin; 
  • Imazapic + imazapyr;
  • Clethodim + quizalofop;  
  • Diclosulam + halauxifen;    
  • Clethodim + fenoxaprop; 
  • Indaziflam + isoxaflutole;
  • Flumioxazin + imazetapir;
  • S-metolacloro + tiafenacil.

Lembre-se que a seletividade do herbicida para a cultura depende de fatores relacionados ao ambiente, cultura e ao herbicida.

Portanto, observe qual a modalidade de aplicação (pré ou pós-emergência), qual a dose, qual o estádio da cultura e da planta daninha.

Herbicidas pré-emergentes no controle de capim-amargoso

Como você viu acima, há diversos herbicidas registrados para o manejo do capim-amargoso. O uso de herbicidas pré-emergentes é recomendável para rotacionar mecanismos de ação e prevenir a seleção de biótipos resistentes.

Os casos de resistência do capim-amargoso a herbicidas estão ligados a herbicidas aplicados em pós-emergência, como o glyphosate e graminicidas.

A outra opção que temos para o controle em pós-emergência do capim-amargoso é o glufosinate, mas com eficácia apenas sobre plantas pequenas, pois em plantas grandes termos a rebrota, o que vai exigir novas aplicações.

Rebrota de capim-amargoso (Digitaria insularis)

Rebrota de capim-amargoso (Digitaria insularis).  Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Assim, é importante escolher um herbicida pré-emergente seletivo, para a cultura que você deseja semear, e com eficácia de controle do capim-amargoso.

Entre os herbicidas pré-emergentes tem-se boas opções que conseguem ter bons controles como os herbicidas inibidores do crescimento inicial, inibidores da biossíntese de carotenoides, alguns inibidores da ALS.

Controle cultural + controle químico de capim-amargoso

No caso do capim-amargoso, a roçada ajuda bastante e, pode ser uma das intervenções de controle. A roçada mecânica ajuda no controle, devendo ser feita o mais baixo possível, tirando a maior parte do colmo, que também armazena energia.

Uma roçada bem baixa, pode reduzir uma aplicação. Assim, as touceiras irão precisar de duas a três intervenções para o controle, podendo ser uma roçada e uma ou duas aplicações.

Nessas aplicações o glyphosate será utilizado em associações com os graminicidas, mesmo com os casos de resistência, a associação auxilia no controle e, principalmente, não atrapalha. Também é possível aqui associar com um inibidor da PROTOX, pois não há antagonismo.

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Nas aplicações sequenciais, o glufosinate acaba sendo a opção.

Capim-amargoso (Digitaria insularis) perenizado.

Capim-amargoso (Digitariainsularis) perenizado. Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Conclusão

O capim-amargoso produz muitas sementes e rizomas curtos, o que dificulta o controle. Há casos de resistência a glyphosate e graminicidas, o que reduz as opções de manejo.

O uso de herbicidas pré-emergentes é essencial para reduzir os bancos de sementes. A rotação de mecanismos de ação é fator importante no controle.

A roçada pode substituir uma das intervenções de controle no caso de capim-amargoso perenizado.

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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