Cigarrinha-do-milho: impactos e manejo eficiente dessa praga
Sumário
O milho (Zea mays) é um dos principais cereais cultivados no mundo. O Brasil é o terceiro maior produtor do grão ficando atrás somente da China e dos Estados Unidos da América.
Um inseto que ganha importância cada vez mais nas lavouras brasileiras é a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), que não provoca apenas prejuízos diretos, mas principalmente indiretos, transmitindo doenças com alto potencial de danos à lavoura.
Que tal aprender um pouquinho mais sobre essa praga? Desejamos uma boa leitura!
Identificação da cigarrinha-do-milho
Esse inseto tem a cor branco-palha, podendo apresentar-se levemente acinzentado. O adulto da cigarrinha mede em torno de 3,5 a 4,5 mm de comprimento, possui duas pequenas manchas pretas na parte dorsal da cabeça e asas semitransparentes.
Já os ovos possuem coloração esbranquiçada, quase transparente, medindo em torno de 1 mm de comprimento. Adultos e ninfas vivem em colônias no cartucho e em folhas jovens do milho, onde se alimentam, sugando a seiva da planta.
Cada fêmea pode pôr de 400 a 600 ovos. A temperatura ideal para incubação é em torno de 26° a 28°C, e dura de 8 a 10 dias.
A longevidade dos adultos pode chegar a 8 semanas. O ciclo de vida da cigarrinha dura em torno de 25 a 30 dias, considerando uma temperatura média de 25°C.
Cigarrinha-do-milho. Fonte: Mais Soja
Danos, sintomatologia e impactos da cigarrinha do milho
A cigarrinha-do-milho transmite para as plantas de milho os agentes causais do enfezamento-vermelho (fitoplasma) e do enfezamento pálido (espiroplasma). Na qual, adquire os patógenos quando se alimenta de plantas infectadas, transmitindo esses patógenos às plantas sadias.
Os sintomas decorrentes dos enfezamentos ocasionados pelos molicutes (fitoplasma e espiroplasma) incluem a redução do porte das plantas (redução de entrenós) e da área foliar, multiespigamento, redução da altura de inserção da espiga e má-formação de espigas e grãos, que afeta diretamente a produtividade da cultura (VI-LANOVA, 2021).
Os sintomas de enfezamento-vermelho incluem o avermelhamento a partir das margens e do ápice das folhas seguido de seca, enquanto o enfezamento-pálido apresenta estrias cloróticas localizadas, principalmente, na base das folhas.
Os sintomas da virose-da-risca, por sua vez, se caracterizam por lesões na forma de pequenos pontos cloróticos alinhados, acompanhados de menor desenvolvimento e porte da planta (WORDELL FILHO et al., 2016).
Vale destacar que a expressão de tais sintomas é variável de acordo com o genótipo do milho.
Plantas com sintomas de enfezamento-vermelho. Fonte: Samira Fredi, maio de 2023 Cruz Alta, RS
Planta com sintoma de enfezamento-pálido. Fonte: sementes biomatrix
Há relatos de que a planta altamente suscetível a enfezamentos, associada à época de infecção e a condições ambientais favoráveis, pode enfraquecer e tombar em condições de campo, em decorrência da má distribuição de nutrientes na planta infectada e do enfraquecimento do colmo (JUNQUEIRA et al., 2004).
Sendo assim, a correta diagnose dos enfezamentos por meio do reconhecimento dos sintomas é essencial para que eles não sejam confundidos com outros problemas fitossanitários, tais como podridões fúngicas, ataques de outros insetos e deficiências nutricionais.
A deficiência nutricional de potássio, que pode ser confundida com enfezamento-vermelho por causa da coloração típica, pode ser diferenciada pelo tom predominantemente purpúreo em decorrência da falta do nutriente, enquanto a deficiência de manganês, que provoca uma clorose sem uma delimitação clara ao longo de todo o limbo foliar entre as nervuras, se confunde com a clorose ocasionada pelo enfezamento-pálido, que se caracteriza por se iniciar na base da folha e com delimitação mais evidente.
Armadilha de monitoramento em produtor, Cruz Alta, RS, 2022. Fonte: Samira Fredi
Cigarrinha-do-milho no cartucho, fevereiro de 2023, Cruz Alta, RS. Fonte: Samira Fredi.
Apesar de utilizar outras espécies de plantas como abrigo na entressafra, D.maidis somente se reproduz no milho, no teosinto e em espécies do gênero Tripsacum. Oliveira et al. (2020) verificaram a presença de D. maidis em 17 espécies de plantas (93,8% Poaceae) na entressafra (agosto-setembro) em Planaltina, DF. Contudo, a longevidade de adultos em hospedeiros alternativos é significativamente reduzida.
Cabe ressaltar, no entanto, que estudos demonstraram o alto potencial de migração e dispersão de D. maidis (TAYLOR et al., 1993), geralmente de 30km em voos ativos (3h de duração) e distâncias ainda maiores (500 – 1.000km) em voos passivos favorecidos por correntes de vento. A eliminação de tigueras é de suma importância para diminuir a população de D. maidis no período de entressafra.
Período Crítico
Os danos decorrentes do complexo de enfezamentos são maiores quando a infecção dos patógenos acontece nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura. Assim, o período crítico compreende da emergência (VE) até 30-40 dias após (V8), sendo o período de VE-V5 (“período supercrítico”) aquele que requer maior atenção na adoção de medidas de manejo, uma vez que compreende o período de migração do inseto para a lavoura e a disseminação primária da doença (primeiras infecções).
Salienta-se, no entanto, que, quanto mais cedo as plantas forem infectadas, mais cedo os sintomas dos enfezamentos e da virose-da-risca aparecem. Contudo, tais sintomas tornam-se mais perceptíveis no período reprodutivo da cultura, especialmente dos enfezamentos causados por molicutes.
Estratégia de manejo
Apenas o controle químico do inseto-vetor na pós-emergência da cultura não tem sido suficiente para a redução dos danos ocasionados pelas doenças transmitidas pela cigarrinha-do-milho. Dessa forma, é necessário adotar outras estratégias de manejo de forma integrada (COTA et al., 2021), incluindo:
- eliminação de plantas voluntárias de milho (guaxas ou tigueras) no período de entressafra;
- evitar semeaduras fora do zoneamento agroclimático da cultura e cultivos sucessivos com milho na mesma área ou em áreas próximas;
- evitar o escalonamento da semeadura de milho para reduzir a migração do inseto entre cultivos;
- diversificar as variedades e/ou híbridos cultivados, porque existem diferenças na tolerância aos patógenos transmitidos pela cigarrinha-do-milho;
- evitar o cultivo de outras espécies de plantas hospedeiras nas proximidades das lavouras de milho que podem servir de abrigo para sobrevivência da praga;
- utilizar sementes tratadas com inseticidas sistêmicos (neonicotinoides) para proteger as plantas nas fases iniciais de desenvolvimento, especialmente até o estágio V2.
Embora os níveis de eficácia dos produtos registrados não sejam totalmente satisfatórios, o manejo em pós-emergência da cultura é imprescindível na constatação da presença da praga no período crítico da cultura (nível de controle = presença do inseto vetor).
Assim, recomenda-se, inicialmente, associar o manejo de cigarrinha-do-milho com aplicações direcionadas para o manejo de percevejos, com duas aplicações sequenciais de inseticidas com intervalos de 5-7 dias, iniciando na fase de “milho palito”.
Feito isso, recomenda-se o monitoramento constante da presença e da distribuição da cigarrinha-do-milho na lavoura como subsídio para tomada de decisão quanto à necessidade de aplicações complementares.
Todavia, as condições climáticas (temperatura inferior a 30°C, umidade relativa do ar superior a 60% e ventos com velocidade entre 3 e 6,5km/h), necessárias para uma boa aplicação, de verão ser criteriosamente respeitadas, buscando posicionar as aplicações ao final do dia ou à noite, momento em que as cigarrinhas apresentam menor mobilidade.
Devido ao grande número de pulverizações a serem empregadas no manejo de D. maidis na fase inicial da cultura, recomenda-se a rotação de inseticidas com diferentes modos de ação, de modo a retardar a evolução de populações resistentes.
Além disso, a combinação de inseticidas sintéticos com produtos biológicos à base de fungos entomopatogênicos (Isaria fumosorosea e Beauveria bassiana) é uma medida importante para o manejo da resistência e também aumentar a eficácia das pulverizações e incrementar o período residual. Todavia, as condições ambientais favoráveis para os fungos incitarem a doença na população deverão ser respeitadas.
Os inseticidas registrados no Brasil para o controle da praga, constam no Compêndio Agrícola Online do AgroReceita, permitindo realizar a consulta fitossanitária gratuita e ilimitada, descobrindo o produto mais indicado para o alvo.
Conclusão
Tomada de decisão é presença ou ausência. Manter a população de cigarrinha-do-milho baixa até o pendoamento da cultura.
A eliminação de milho tiguera em período entressafra é uma estratégia de manejo de suma importância. Em altas populações reduzir o intervalo de aplicações, sempre rotacionando ativos
Espero que esse artigo tenha sido útil para você!
Sobre o Autor
Samira Fredi
Técnica em Agronegócio (SENAR-RS)
Graduanda em Agronomia (Unicruz-RS)
Atua na pesquisa em manejo de insetos-praga na Intagro
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