Como controlar o capim-pé-de-galinha?

Foto de flor do capim-pé-de-galinha

Capim-pé-de-galinha: dificuldades de controle, casos de resistência e herbicidas para o manejo.

O capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) também é conhecido pelos nomes de capim-da-cidade, capim-de-burro, capim-d’ouro, capim-de-coroa-d’ouro, capim-de-pomar, capim-fubá, flor-de-grama, grama-de-coradouro, grama-sapo, pé-de-galinha ou pé-de-papagaio.

É uma planta que pode ser encontrada em todo o país, que produz muitas sementes, é facilmente dispersada e, que precisa ser monitorada devido aos casos de resistência a herbicidas.

Por que é difícil de controlar o capim-pé-de-galinha?

O capim-pé-de-galinha é uma gramínea anual e entouceirada, que tem como meio de propagação as sementes.

Uma planta de capim-pé-de-galinha pode produzir até 120 mil sementes. Essas sementes são pequenas e facilmente dispersadas.

A planta tem crescimento inicial lento até os 38 dias após a emergência, mas após esse período, o crescimento passa a ser rápido. Por isso, é muito importante fazer o manejo antes desse período, quando as plantas são pequenas.

Capim-pé-de-galinha resistente a herbicidas

A dificuldade de controle também é associada aos casos de resistência a herbicidas. No Brasil há três relatos de casos de capim-pé-de-galinha resistente a herbicida.

O primeiro caso foi em 2003, em lavouras de soja, onde foi relatado o capim-pé-de-galinha resistente aos graminicidas cyhalofop, fenoxaprop e sethoxydim (herbicidas inibidores da enzima ACCase).

Esse primeiro relato é um caso de resistência cruzada, pois o capim-pé-de-galinha é resistente a dois ou mais herbicidas, do mesmo mecanismo de ação, porém de grupos químicos diferentes (ariloxifenoxipropionatos e ciclohexanodionas).

O segundo relato foi em 2016, em lavouras de soja, milho e trigo, ao herbicida glyphosate (herbicida inibidor da enzima EPSPs).

O terceiro caso foi em 2017, em Mato Grosso, em lavouras de soja, milho, algodão e feijão, aos herbicidas glyphosate, haloxyfop e fenoxaprop, ou seja, um caso de resistência múltipla.

A resistência múltipla é quando aquela espécie é resistente a dois ou mais herbicidas de diferentes mecanismos de ação. Quando a espécie apresenta casos de resistência o controle se torna mais difícil, pois há uma redução nas opções de herbicidas, ficando ainda mais limitado quando há casos de resistência cruzada e múltipla.

O glyphosate e os graminicidas são muito usados para o controle de gramíneas em pós-emergência das culturas eudicotiledôneas (folhas largas), como a soja, o que acabou selecionando biótipos resistentes.

Um bom manejo integrado de plantas daninhas utiliza, também, herbicidas em pré-emergência para o controle dessas espécies. Assim, é possível realizar um manejo preventivo ao invés de reativo.

O manejo preventivo utiliza boas práticas agronômicas, como a rotação de culturas e de mecanismos de ação de herbicidas.

Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) em lavoura de soja. Fotos: Ana Ligia Giraldeli.

O que controla capim-pé-de-galinha resistente?

Fazer a dessecação quando as plantas estiverem pequenas, ou seja, antes dos 38 dias após a emergência.

O controle de plantas daninhas pequenas é mais fácil do que plantas adultas, há mais opções de herbicidas, podendo ser utilizados produtos de contato ou sistêmicos.

Em plantas pequenas, herbicidas de contato ou de baixa translocação conseguem ter boa eficácia de controle. Por exemplo, o herbicida glufosinate consegue controlar o capim-pé-de-galinha em plantas que ainda não perfilharam. 

Controlar as plantas daninhas antes que elas produzam sementes evita que elas sejam dispersadas e voltem ao banco de sementes do solo. Por isso, é importante que a dessecação pré-semeadura seja bem-feita.

No geral, a dessecação pré-semeadura é realizada com uma primeira aplicação com herbicidas sistêmicos, como glifosato e graminicidas, e, a segunda aplicação com um herbicida de contato, como o glufosinate.

O glifosato é mantido nas aplicações, pois ele tem espectro de controle sob outras plantas daninhas que não resistentes. Já, em relação aos graminicidas é importante rotacionar os grupos químicos.

Planta de capim-pé-de-galinha (Eleusine indica). Foto: Ana Ligia Giraldeli.

Uso de misturas de herbicidas

As associações de herbicidas aumentam o espectro de controle de plantas daninhas.

As misturas, quando são de diferentes mecanismos de ação, ajudam a prevenir a seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas.

Palha ou plantas de cobertura

Um bom controle de plantas daninhas sempre começa com um bom manejo de entressafra.

Durante a entressafra o uso de plantas de cobertura ou a manutenção de palha sobre o solo é essencial para reduzir os fluxos de germinação.

Sementes pequenas, como as do capim-pé-de-galinha, tem dificuldade de emergir em solos cobertos por palha.

Quais as alternativas de controle químico para capim-pé-de-galinha?

Como vimos até aqui é preciso repensar os manejos para evitar a seleção de plantas resistentes e, também a dispersão das sementes dentro das lavouras.

Para o capim-pé-de-galinha há algumas opções de herbicidas em pré ou pós-emergência.

  • Inibidores do Fotossistema II (FSII): ametryn, atrazine, metribuzin, tebuthiuron, prometryn e amicarbazone;
  • Inibidores da Biossíntese de Carotenoides (Inibe a DOXP-sintase): clomazone;
  • Inibidores da Biossíntese de Carotenoides (Inibe a síntese de caroteno): isoxaflutole;
  • Inibidores da Biossíntese de Celulose: indaziflam;
  • Inibidores da enzima PROTOX: oxadiazon, oxyfluorfen e sulfentrazone;
  • Inibidores da formação de microtúbulos: pendimethalin e trifluralin;
  • Inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia longa: s-metolachlor e pyroxasulfone;
  • Inibidores da glutamina sintetase (GS): glufosinate;
  • Inibidores da enzima ALS: nicosulfuron;
  • Inibidores da enzima EPSPs: glyphosate;
  • Inibidores da ACCase: cyalofop, fenoxaprop, fluazifop, quizalofop, propaquizafop, haloxyfop, clethodim, profoxydim, tepraloxydim e sethoxydim.

Destes herbicidas observe que muitos podem ser utilizados para controlar gramíneas em pré-emergência, como o s-metolachlor, o indaziflam, o trifluralin, o isoxaflutole, o pyroxasulfone e o clomazone.

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A escolha do herbicida pré-emergente será de acordo com a cultura que você irá instalar e a seletividade.

Lembre-se que a seletividade depende da dose, da cultura, do modo de aplicação e das condições edafoclimáticas.

O pyroxasulfone, por exemplo, é um herbicida seletivo para o controle de plantas daninhas poáceas e folhas largas com sementes pequenas, sendo usado em pré-emergência da soja, milho e trigo.

O trifluralin é um herbicida seletivo para o controle de poáceas e folhas largas com sementes pequenas. É usado em pré-semeadura incorporada ou em pré-emergência da cultura e das plantas daninhas. Recomendado para as culturas de trigo, cevada, soja, milho, arroz, feijão, amendoim, cana-de-açúcar e algodão, com a dose variando de acordo com a textura do solo.

A mistura pronta de flumioxazin + s-metolachlor é recomendada em pré-emergência da soja para o controle de monocotiledôneas (folhas estreitas) e eudicotiledôneas (folhas largas).

Quais as misturas de herbicidas registradas para controle do capim-pé-de-galinha?

Você também pode optar pelo uso de misturas prontas de fábrica.

A lista abaixo tem misturas registradas para o controle do capim-pé-de-galinha.

  • Isoxaflutole + thiencarbazone;
  • Diuron + hexazinone;
  • Ametryn + diuron + MCPA;
  • Atrazina + isoxaflutole;
  • Imazetapir + sulfentrazona;
  • Glifosato + imazetapir;
  • Imazapic + imazapyr;
  • Terbutilazina + tolpyralate;
  • Flumioxazin + S-metolacloro;
  • Sulfentrazona + tebuthiuron; 
  • Metribuzin + S-metolacloro;
  • Sulfentrazone + Tiafenacil;
  • Chlorimuron + flumioxazin;
  • Flumioxazin + pyroxasulfone.

O manejo de capim-pé-de-galinha deve ser pensado a nível de sistema.

Por exemplo, no sistema soja-milho, o manejo deve ser feito na soja e no milho.

No milho, há possibilidade usar a atrazine e a terbuthylazine, que deixam residual no solo e, combinações das triazinas com outros herbicidas como mesotrione, tolpyralate ou tembotrione.

Além disso, é possível usar glufosinate, caso o milho seja LL (tolerante ao glufosinate).

Conclusão

O manejo deve ser feito a nível de sistema e não pensando apenas na safra.

É uma planta daninha que exige monitoramento para identificar de naquela população o glyphosate e quais graminicidas ainda tem controle eficaz.

O uso de herbicidas pré-emergentes no sistema é essencial para controlar e prevenir a resistência.

Sobre o Autor:

Ana-Ligia

Ana Lígia Giraldeli

Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.

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