Herbicidas inibidores da ACCase: mecanismos e modo de ação
Sumário
Herbicidas graminicidas: quem são, quais plantas controlam, seletividade, fitotoxicidade e casos de resistência.
No texto anterior você aprendeu sobre a classificação dos herbicidas. Uma das formas de classificação é de acordo com o mecanismo de ação.
Hoje você vai ver os herbicidas inibidores da ACCase, ou seja, os graminicidas. Vamos começar vendo quais são estes produtos. Desejamos uma ótima leitura!
Quem são os herbicidas inibidores da ACCase?
Os herbicidas desse mecanismo de ação inibem a enzima acetil-coenzima A carboxilase (ACCase). São conhecidos, também, por graminicidas, por causa do seu espectro de controle, sendo utilizados para controlar gramíneas anuais e perenes.
Os produtos desse mecanismo de ação são divididos em três grupos químicos: ciclohexanodionas (DIMs), ariloxifenoxipropionatos (FOPs) e fenilpirazolinas (DEN).
Na tabela abaixo você pode ver todos os ingredientes ativos desse mecanismo de ação registrados no mundo.
Épocas de plantio e colheita da safra e safrinha de milho (Fonte: CONAB)
Os graminicidas estão no grupo A da classificação do HRAC (Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas) e no grupo 1 na WSSA (Weed Science Society of America).
No Brasil, os herbicidas registrados são: clodinafop, cyhalofop, fenoxaprop, fluazifop, haloxyfop, propaquizafop, quizalofop, clethodim, profoxydim, sethoxydim e tepraloxydim.
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Agora que você já viu quais são os ingredientes ativos inibidores da ACCase, vamos ver quais são as características gerais desse mecanismo de ação.
Características gerais dos herbicidas inibidores da ACCase
Os herbicidas graminicidas possuem algumas características em comum. São herbicidas usados em aplicações em pós-emergência. Usados também em pós-emergência, pois sua absorção ocorre pelas folhas.
Nas doses utilizadas, os graminicidas não tem ação no solo para o controle em pré-emergência. O único ingrediente ativo do grupo que tem ação no solo é o diclofop. Controlam as plantas monocotiledôneas poáceas, ou seja, as gramíneas (anuais e perenes).
As plantas que não são gramíneas, ou seja, monocotiledôneas de outras famílias botânicas e as eudicotiledôneas (folhas largas) são tolerantes aos graminicidas. São produtos sistêmicos, pois translocam pelo floema e xilema. Por translocarem pelo floema, conseguem controlar plantas perenes.
Para a maior eficácia de controle há necessidade de adição de adjuvantes (sempre verificar a bula para ver se precisa do adjuvante).
A aplicação não deve ser feita sobre plantas estressadas por déficit hídrico. Plantas que estão passando por esse déficit hídrico reduzem a absorção e translocação dos produtos, pois estão com o metabolismo menos ativo.
As plantas mais suscetíveis são as jovens, que estão em fase de rápido crescimento. Plantas adultas e perenizadas são mais difíceis de controlar, o que requer aplicações sequenciais. A ação destes herbicidas na planta é lenta, levando uma semana ou mais para a morte das plantas daninhas.
Agora que você viu as características em comum destes herbicidas vamos ver como eles agem nas plantas.
Mecanismo e modo de ação dos herbicidas inibidores da ACCase
A enzima ACCase está localizada no estroma dos plastídeos. Ela é responsável por converter acetil-coenzima A (acetil-CoA) em malonil-coenzima A (malonil-CoA). Essa conversão é necessária no início da produção de lipídios pelas plantas. Sem lipídeos ocorre a despolarização da membrana celular.
Fonte: HRAC
Seletividade dos herbicidas inibidores da ACCase
Os herbicidas inibidores da ACCase são classificados como seletivos, controlando apenas as monocotiledôneas gramíneas (poáceas).
A seletividade de herbicidas nesse mecanismo de ação ocorre por diferenças fisiológicas entre as plantas. A enzima ACCase ocorre em plantas em duas formas: a procariótica e a eucariótica:
- A enzima ACCase na forma procariótica é insensível aos graminicidas e é encontrada nos plastídeos das plantas eudicotiledôneas.
- A forma eucariótica da enzima ACCase é a sensível aos graminicidas e é encontrada no citoplasma de todas as plantas e, também nos plastídeos das gramíneas.
Nas gramíneas, a forma procariótica (insensível aos graminicidas) é perdida e, no lugar dela há uma forma eucariótica (sensível).
Por isso, as eudicotiledôneas conseguem continuar produzindo lipídeos após a exposição a herbicidas graminicidas por meio da enzima ACCase na sua forma procariótica.
Além da seletividade dos graminicidas ocorrer por meio das diferenças fisiológicas, há também a seletividade por metabolização. O trigo, por exemplo, consegue degradar metabolicamente o herbicida diclofop.
A seletividade dos herbicidas depende de fatores ligados às plantas, ao herbicida e ao ambiente. Em relação ao herbicida, a seletividade pode ocorrer devido a estrutura molecular, dose, formulação e modo de aplicação.
O haloxyfop, por exemplo, caso seja misturado com outro herbicidas que controlam eudicotiledôneas e que tenham adjuvante na formulação, não se deve adicionar mais adjuvante, pois isso pode quebrar a seletividade e levar a injúrias na cultura.
Seletividade dos herbicidas inibidores da ACCase
Os sintomas de injúrias nas plantas suscetíveis são:
- o crescimento das raízes e parte aérea é paralisado;
- troca de pigmento nas folhas;
- clorose seguida de necrose;
- necrose do ponto de crescimento.
Os sintomas iniciam nas regiões meristemáticas e se espalham para o restante da planta.
Sintomas de herbicidas graminicidas. Foto: Ana Ligia Giraldeli.
Mistura de tanque de graminicidas com outros herbicidas
A mistura de herbicidas graminicidas com alguns latifolicidas pode ter efeito antagônico. Essas misturam acabam resultando em incompatibilidade química, que reduz a absorção foliar do herbicida.
O fluazifop, por exemplo, não pode ser misturado com herbicidas que controlam eudicotiledôneas, exceto com o fomesafen. É preciso esperar pelo menos cinco dias entre as aplicações.
O haloxyfop não é compatível com o 2,4-D, porém pode ser usado com outros herbicidas que controlam eudicotiledôneas como o lactofen, fomesafen e bentazon. Para usar o 2,4-D e o haloxyfop é preciso ao menos dez dias entre as aplicações.
Plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ACCase
No mundo há 50 relatos de espécies de plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ACCase.
A tabela abaixo mostra os casos de plantas daninhas resistentes aos graminicidas no Brasil. Em amarelo estão os casos de resistência múltipla, ou seja, quando a planta daninha é resistente a dois ou mais herbicidas de diferentes mecanismos de ação.
Fonte: Heap, I. The International Herbicide-Resistant Weed Database.
Para controlar plantas daninhas resistentes aos graminicidas é preciso:
- usar herbicidas em pré-emergência;
- realizar um bom manejo de entressafra;
- fazer uma boa dessecação pré-semeadura;
- controlar os escapes;
- rotacionar mecanismos de ação;
- usar outros métodos de controle além do químico;
- manter a palha sobre o solo.
A mistura de glyphosate com graminicida ainda pode ser utilizada, porém o ideal é usar um graminicida diferente. A maior eficácia de controle é alcançada em plantas pequenas, com vigor vegetativo e sem estresse hídrico.
Conclusão
Os herbicidas inibidores da ACCase controlam gramíneas anuais e perenes.São herbicidas sistêmicos, utilizados em pós-emergência e que impedem a síntese de lipídeos por meio da inibição da enzima ACCase. Há casos de resistência simples, cruzada e múltipla aos herbicidas desse mecanismo de ação.
Sobre o Autor
Ana Lígia Giraldeli
Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. Mestra em Agricultura e Ambiente (UFSCar), Doutora em Fitotecnia (Esalq-USP) e especialista em Agronegócios.
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