Defensivos químicos e biológicos: tudo o que você precisa saber
Sumário
As principais diferenças entre defensivos químicos e biológicos, suas vantagens e desvantagens, e como decidir quando fazer a recomendação de cada tipo.
A agricultura mundial vem passando por um processo de modernização muito grande nos últimos anos. Um dos pontos mais desafiadores para a produção agrícola moderna é manter a atividade financeiramente rentável com o menor impacto possível ao meio ambiente.
Do ponto de vista ambiental, a sustentabilidade pode ser definida como a utilização dos recursos naturais de forma equilibrada de maneira que eles não sejam limitantes para a execução das mesmas atividades por gerações futuras.
O uso indiscriminado de produtos químicos é um dos pontos que mais atrai a atenção quando se fala em produção sustentável, apesar de haver bastante engano nas informações veiculadas sobre uso de agroquímicos.
O que é fato é que há um grande apelo para o uso de soluções que diminuam o uso de produtos químicos nas lavouras e o uso de produtos biológicos é uma das soluções mais promissoras para auxiliar na redução do uso de produtos químicos.
Nesse artigo informaremos sobre a definição e tipos de produtos biológicos, sua comparação aos produtos químicos, os mitos relativos aos dois tipos de produtos e as recomendações de uso deles.
Definição de defensivos químicos e biológicos
Os produtos mais comumente utilizados nas lavouras ao redor do mundo são os chamados agroquímicos, ou agrotóxicos. Esses produtos são baseados em moléculas sintéticas, ou seja, produzidas artificialmente, que têm uma função específica no metabolismo de algum ser vivo.
Normalmente os agroquímicos são utilizados com o intuito de controlar uma população de seres vivos que esteja em desbalanço no ambiente e que influencie a produção agrícola. Os agroquímicos mais usados são os herbicidas, inseticidas, fungicidas, acaricidas e nematicidas.
Já a definição de produtos biológicos ainda é um pouco mais complexa e hoje já há o consentimento da nomenclatura de produtos bioracionais. De acordo com a EMBRAPA, produtos biológicos são aqueles produzidos a partir de moléculas naturais que tenham uma função no desenvolvimento vegetal.
Esses produtos podem ser baseados em extratos de plantas ou algas, metabólitos secundários, enzimas, hormônios, micro e macroorganismos.
Tipos de produtos biológicos
Os produtos biológicos podem atuar de várias maneiras dentro da planta ou no sistema solo-planta-atmosfera e são normalmente classificados de acordo com sua função do crescimento e desenvolvimento vegetal.
São exemplos de produtos biológicos:
- Indutores de resistência: potencializam os sistemas naturais de defesas das plantas contra patógenos ou pragas fazendo com que o reconhecimento da infestação e defesa da planta seja muito mais rápido e eficaz, diminuindo os impactos na produção;
- Inimigos naturais: são micro ou macroorganismos que predam e controlam naturalmente populações de insetos, fungos, bactérias, ácaros ou nematóides que podem influenciar negativamente o ciclo de vida das plantas;
- Reguladores de crescimento: são produtos normalmente baseados em hormônios que modulam o crescimento vegetal permitindo um investimento mais eficiente de biomassa em órgãos produtivos, aumentando o potencial de produção;
- Mitigadores de estresses bióticos: aumentam o potencial de resiliência da planta frente a estresses como seca, altas temperaturas, dentre outros, por meio de diversos mecanismos de ação, evitando perdas e/ou potencializando a produção;
- Potencializadores de processos naturais: podem auxiliar potencializando processos naturais da planta como a fixação ode nitrogênio ou outros nutrientes do solo, o controle transpiratório, a fotossíntese e o enchimento de órgãos de interesse.
Comparação das duas tecnologias
É muito comum que o surgimento de novas tecnologias diminua grandemente ou exclua o uso de soluções anteriormente utilizadas. Porém, no caso de produtos químicos e biológicos, esse não parece ser o caso.
Levando em conta que o potencial de dano e impacto aos seres vivos e meio ambiente de alguns produtos químicos é elevado, hoje é cada vez mais motivado o seu uso racional. Dessa forma, o futuro irá no sentido de um manejo integrado de múltiplas soluções que seja ao mesmo tempo eficiente à produção agrícola, de baixo impacto ambiental e rentável ao produtor.
Dessa forma, espera-se que haja um aumento na descoberta e uso de soluções bioracionais e que estas venham a integrar o manejo de culturas agrícolas, potencializando a eficiência de produtos químicos. Assim também, espera-se a evolução do mercado de agroquímicos, sendo que há estimativas de crescimento de até 20% no valor de mercado de agroquímicos até 2030.
Projeção do valor de mercado de agroquímicos até 2030 (Fonte: Statista)
Mitos sobre produtos biológicos e químicos
Hoje a internet nos trouxe uma quantidade exagerada de informação à palma da mão. Porém, nem tudo que está escrito é verdade e há muito interesse por trás de notícias, principalmente relacionadas ao agro. Muitos mitos são levantados e alguns passam a ser acreditados.
Normalmente se diz que “não há agricultura sustentável com o uso de químicos”. Isso é um mito pois qualquer produto agroquímico é largamente testado antes de ser liberado para uso, além de terem sua venda regulamentada. Além disso, o uso racional de produtos químicos evita a necessidade de intervenções maiores que impossibilitariam a agricultura como conhecemos e causariam ainda mais danos ao meio ambiente.
Para consultar os defensivos químicos e biológicos, o AgroReceita disponibiliza o Compêndio Agrícola. Você pode realizar a consulta fitossanitária dos defensivos registrados no Brasil de forma gratuita e ilimitada. Cadastre-se no formulário abaixo e comece já a sua pesquisa.
Outro mito é o de que “produtos biológicos são mais caros”. Na realidade eles até podem ser mais caros por litro do que alguns produtos químicos, porém há que se avaliar o seu rendimento e o retorno do investimento. O produto biológico pode diminuir a necessidade do uso do agroquímico, diminuir as perdas e aumentar produtividade, gerando maior renda por litro aplicado, atenuando seu custo.
Sustentabilidade
Essa é a palavra da vez no agronegócio e todo produtor que quiser se manter na atividade terá que, não só se acostumar com ela, como adequar seu manejo a essa nova realidade.
O uso combinado de soluções que hoje são uma realidade no agronegócio é o caminho para a sustentabilidade. As novas tecnologias de aplicação, o monitoramento em tempo real das lavouras, os maquinários autônomos e o aumento na variedade de produtos para o manejo de plantas são o presente e o futuro da atividade agrícola.
O que hoje chamamos de manejo integrado (seja de pragas, doenças, plantas daninhas, estresses bióticos) está sendo, aos poucos, substituído por um manejo ecológico do agrossistema. Dessa forma, o processo produtivo através do sistema solo-planta-atmosfera, e tudo que se relaciona a ele, será cada vez mais eficiente e seguro.
A combinação de produtos biológicos que potencializem processos naturais e o uso de produtos químicos cada vez mais seletivos e com menor potencial nocivo irão aumentar a eficiência do controle de doenças, pragas e plantas daninhas, potencializando a produtividade, diminuindo o impacto ambiental e aumentando lucros.
Conclusão
Os produtos biológicos sozinhos não são e nem serão a solução da agricultura mundial. O seu papel é de melhorar alguns processos que hoje são falhos e pouco eficientes através do uso de produtos químicos.
A baixa seletividade de produtos químicos, a rápida adaptação e tolerância de microrganismos às moléculas hoje usadas, as excessivas aplicações de produto de múltiplo espectro são realidades que podem ser grandemente melhoradas pela combinação dessas tecnologias aos produtos biológicos.
É importante que o técnico responsável pela recomendação de produtos químicos e biológicos esteja atualizado com o conhecimento das regulamentações e necessidades de receituário agronômico para quaisquer desses produtos, bem como de suas recomendações, doses e formas de aplicação.
O AgroReceita prioriza uma agricultura sustentável por meio do uso de técnicas eficientes de produção e aplicação racional de produtos químicos e biológicos à lavoura, oferecendo ferramentas que auxiliam nas decisões no campo.
Sobre o Autor
João Paulo Pennacchi
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Lavras e Doutor em Fisiologia de Plantas pela Lancaster University.
Leia também:
Se inscreva em nossa newsletter.