Plantas daninhas no café: como fazer o controle e manejo?
Sumário
O manejo fitossanitário de lavouras cafeeiras, tanto em formação quanto em produção, é de suma importância para o sucesso desta importante cultura agrícola.
Presente no Brasil desde o século XVIII, a cafeicultura nacional se destaca há anos como a principal produtora de café a nível mundial. A prática, além de vital para a economia nacional, é importantíssima para a sociedade, empregando milhares de pessoas.
Mas, como todos os outros cultivos, é necessário que o manejo de doenças, pragas e plantas daninhas seja o mais eficaz possível para evitar a redução da produtividade de nossas lavouras.
Diante disto, você, consultor, conhece as principais plantas daninhas que interferem na cultura cafeeira? Conhece os métodos de controle e práticas para uma cafeicultura sustentável e rentável para o produtor?
Abaixo você encontrará as principais informações para uma melhor recomendação de manejo, principalmente na prescrição correta de defensivos agrícolas recomendados no manejo de plantas daninhas no café.
Manejo de plantas daninhas no café
Plantas daninhas são consideradas todas as plantas presentes na área de cultivo que de alguma forma impedem o desenvolvimento pleno das espécies cultivadas, trazendo prejuízos ao agricultor.
Esta interação ocorre tanto de forma direta (competição por luz, água, nutrientes, espaço), quanto indiretamente (produção de substâncias alelopáticas e, por conta de as plantas daninhas serem hospedeiras de pragas e doenças).
Dentre todas as plantas invasoras catalogadas nas culturas agrícolas, podemos elencar 14 delas mais encontradas na cafeicultura. Dentre elas:
- Caruru (Amaranthus spp);
- Buva (Conyza spp);
- Picão-preto (Bidens pilosa);
- Capim marmelada (Urochloa plantaginea);
- Trapoeraba (Commelina benghalensis);
- Tiririca (Cyperus rotundus);
- Guanxuma (Sida spp.);
- Poaia branca (Richardia brasiliensis);
- Capim amargoso (Digitaria insularis);
- Capim pé de galinha (Eleusine indica);
- Corda de viola (Ipomoea spp);
- Erva quente (Spermacoce latifolia);
- Capim de burro (Cynodon dactylon);
- Maria pretinha (Solanum americanum).
No entanto, é importante frisar que a aplicação de métodos de controle (principalmente o químico), sem o devido conhecimento técnico, pode acarretar efeitos negativos para a produção cafeeira.
A prescrição incorreta e consequente uso inadequado de herbicidas no controle de plantas daninhas no café pode causar: erosão do solo, redução de matéria orgânica e seleção de espécies de plantas invasoras resistentes aos herbicidas.
A seleção de espécies de plantas invasoras resistentes é um tema bastante delicado atualmente, haja visto que hoje existem diversas espécies resistentes aos principais herbicidas utilizados na agricultura.
Diante disto, temos exemplos claros como os do capim amargoso e da buva, as quais possuem resistência pronunciada a vários herbicidas. Além destas, a corda de viola e a trapoeraba possuem resistência ao glifosato, herbicida amplamente utilizado.
Fialho e colaboradores (2011) realizaram um trabalho para estudar a interferência do capim marmelada na cafeicultura. Neste estudo, os cafeeiros cultivados com interferência da planta daninha tiveram seu crescimento reduzidos.
O trabalho de Ronchi e colaboradores (2003) foi elaborado de modo a estudar a interferência de outra planta invasora importante: o picão-preto. O resultado encontrado mostrou uma redução drástica de nutrientes nos cafeeiros, decorrentes da competição exercida pela planta daninha.
De modo a controlar e tornar a cafeicultura mais sustentável e rentável possível, existem diversos métodos de manejo, dentre eles: manejo preventivo, controle químico, controle cultural, controle mecânico, controle físico e, o controle biológico.
Manejo preventivo de plantas daninhas
Como o próprio nome diz, o manejo preventivo tem como objetivo principal evitar a entrada, o estabelecimento e a disseminação de determinadas plantas daninhas em áreas que não ainda não possuem sua presença.
Deste modo, deve-se tomar o cuidado de limpar bem máquinas e implementos antes de trocar de uma área para outra.
Controle cultural
O controle cultural se baseia em métodos que impeçam a planta invasora de se desenvolver e ainda favoreça o desenvolvimento da lavoura cafeeira. Uma prática muito utilizada é o cultivo de espécies de plantas na entrelinha do café.
Nas mais variadas regiões cafeeiras do país, a planta de cobertura mais utilizada neste processo é o capim braquiária.
O cultivo deste capim, além de suprimir o crescimento de plantas invasoras, reduz risco de erosão, aumenta o teor de matéria orgânica, reduz a amplitude térmica do solo e, pode ser utilizado como quebra vento em lavoura novas.
Além disto, o manejo de mato na entrelinha do café promove uma redução no uso de herbicidas, fazendo com que o cafeicultor utilize defensivos agrícolas na projeção da saia do café (em jato dirigido para não intoxicar a lavoura).
Esta braquiária deve ser manejada também para não se tornar um problema, sendo recomendada a roçada antes do florescimento dela. As braquiárias mais indicadas para o manejo são Urochloa decumbens e Urochloa ruziziensis.
Manejo de capim braquiária na entrelinha do café. Fonte: Guy Carvalho, 2019.
Controle mecânico
O controle mecânico é bastante simples. Pode ser realizado tanto de forma manual quanto mecanizada. De forma manual seria a utilização de enxadas. Já para o mecanizado, o cafeicultor pode utilizar roçadeiras e, até mesmo grades e arados.
Controle mecânico (manual de plantas daninhas no café). Fonte: CaféPoint, 2016.
Controle físico
Este método de controle se baseia na utilização de técnicas que impeçam fisicamente o crescimento de plantas daninhas. Diante disto, a utilização de palhada tem sido amplamente utilizada na cafeicultura.
A palhada mais utilizada vem do cultivo de braquiária, fazendo com que a prática torne a lavoura mais sustentável. Aliado a isto, o cafeicultor pode utilizar a casca do café também, subproduto da safra anterior.
Muito utilizado na horticultura, algumas áreas cafeeiras estão aderindo à utilização do Mulching em suas lavouras. O mulching se trata de um plástico utilizado para cobrir o solo. Pode ser tanto sintético quanto orgânico.
Em um trabalho realizado na Universidade Federal de Lavras, Castanheira (2018) e Voltolini (2019) constataram que além de auxiliar no manejo de plantas daninhas do café, o mulching promoveu a otimização de recursos hídricos e nutrientes.
Mulching na cultura do café. Fonte: CaféPoint, 2018.
Controle biológico
A utilização do método pode ser feita por meio de duas vertentes: bioherbicidas e por meio de compostos alelopáticos. No entanto, o controle biológico por bioherbicidas ainda é um entrave por conta da especificidade destes produtos.
Portanto, a técnica utilizada na cafeicultura é por meio da utilização da alelopatia. Neste sentido, a inibição do crescimento de plantas invasoras se dá por meio da exsudação de compostos químicos por outra planta, seja ela viva ou por meio de sua palhada.
Controle químico
Por fim, o controle químico é o mais utilizado e o mais problemático destes acima. Isso se dá por conta da prescrição incorreta de herbicidas e pelo uso muitas vezes incorreto do agricultor.
Para um controle químico eficiente, deve-se identificar as plantas daninhas presentes no local para maior eficiência do herbicida. Além disto, deve-se também fazer a rotação de mecanismos de ação e ingredientes ativos, de modo a não selecionar plantas daninhas resistentes.
Os mecanismos de ação que temos no mercado são:
- inibidores de ACCase;
- inibidores de ALS;
- inibidores de EPSPs (mais utilizado na cafeicultura);
- mimetizadores de auxina (mais utilizado é o 2,4 D)
- inibidores do FS I;
- inibidores do FS II;
- inibidores da PROTOX;
- inibidores da biossíntese de carotenoides;
- inibidores do crescimento inicial;
- inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa.
Lembrando que cada grupo de mecanismo de ação deve ser utilizado de acordo com as plantas daninhas presentes na área.
Para identificar corretamente a presença de plantas daninhas na área, a escolha do herbicida com base nas espécies dominantes é fundamental. Essa escolha, pode ser feita em quatro passos:
- Passo 1: Identificação das plantas daninhas;
- Passo 2: Como Escolher o herbicida mais indicado;
- Passo 3: Escolher o herbicida com base nas condições ambientais;
- Passo 4: Escolha da dose do herbicida.
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Conclusão
Para uma melhor eficácia do controle de plantas daninhas no café, deve-se adotar o que chamamos de Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD). Com isso, o cafeicultor irá combinar os diversos tipos de controle acima.
Se eficiente e feito de maneira correta, o MIPD irá promover um controle adequado de plantas invasoras, tornando a prática da cafeicultura economicamente e ambientalmente sustentável.
Sendo assim, planeje antecipadamente junto ao produtor as técnicas que serão utilizadas, sempre monitorando o aparecimento de plantas daninhas em sua área.
Sobre o Autor
Cássio Honda
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fisiologia Vegetal e Doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras.
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